António Costa e o PS levaram toda a campanha eleitoral a
bramir argumentos contra a austeridade. E, se é certo que o povo português,
chamado a ir às urnas, e apesar de uma brutal taxa de abstenção, exprimiu um
vigoroso repúdio pelas políticas de traição nacional prosseguidas pelo governo
de Coelho e Portas, tutelado por Cavaco,
Não menos certo é que também manifestou uma profunda
desconfiança relativamente a um partido que nunca se dignou a fazer um
verdadeiro balanço das políticas prosseguidas por Sócrates e seu governo – no qual
se destacaram alguns ministros que agora fazem parte do actual executivo -,
precursor da entrada da tróica germano-imperialista no nosso país, animador do
Tratado de Lisboa onde foi consagrado o Tratado Orçamental que representa o
domínio colonial germânico sobre Portugal e outros países que fez com que o
José produzisse um sonante porreiro pá
ao seu cúmplice de traição, o famigerado Durão Barroso.
Derrotada a coligação PAF, uma aliança entre a direita e a
extrema-direita, e apoiado em duas muletas salvíficas – PCP/Verdes e BE –
ganhou forma e sustentabilidade, no parlamento, uma aliança que permitiu que
Costa visse consagrada a sua proposta de um novo
ciclo político, segundo o próprio tão
importante ou mais do que a queda do muro de Berlim, consubstanciada num
governo assente numa ampla plataforma ou
maioria de esquerda, catarse dos maus
momentos experenciados durante a fase do PREC.
Pura semântica! O que se pretendia escamotear era exactamente
o mesmo que levou a que, primeiro durante a campanha para as legislativas e,
mais recentemente, durante a campanha eleitoral presidencial fosse proibido de
ser analisado,discutido e denunciado pelo povo português, as questões
essenciais:
·
Qual a natureza da dívida, isto é, se ela
decorre – como PS, PSD e CDS sempre quiseram impor - do facto de o povo
português ter vivido acima das suas
possibilidades ou se, bem pelo contrário, ela está a servir para fazer o
povo pagar uma dívida privada, uma dívida sobretudo gerada pela banca –
nacional e internacional.
·
Quem deve pagar esta dívida? E como a vai pagar?
À custa do roubo dos salários, do trabalho, da degradação do SNS, da escola
pública e da segurança social, à custa da miséria e do desemprego, da perda de
qualidade de vida, da perda de dignidade e da perda de soberania nacional como
impõe o Memorando de Entendimento que PS, PSD e CDS assinaram com a tróica?
Apesar de Costa afirmar que a aliança que estabeleceu com
PCP, Verdes e BE representa um novo ciclo
na política em Portugal, mais importante do que o derrube do muro de Berlim e o
implodir do medo de uma maioria de
esquerda herdado dos idos do PREC, o que é certo é que a recente Lei do
Orçamento Geral do Estado para 2016 vem comprovar quem manda nisto tudo e neles todos!
É precisamente para escamotear esse facto que Costa decide produzir
uma autêntica televonela, mais rasca do que a mais pirosa das telenovelas
mexicanas, em episódios de minuto e meio, protagonizada pelo próprio e enviando
para o terreno, desdobrando-se em múltiplas sessões
de esclarecimento, alguns dos seus
ministros e secretários de estado. Uma telenovela com argumento do dramaturgo imperial, Schauble, e música
de Wagner, para explicar ao povo que
o orçamento que propõe, ao contrário da austeridade
má praticada pelo executivo de traição nacional protagonizado por Coelho,
Portas e Cavaco, contém uma austeridade
boa, geradora de emprego e crescimento.
Esperando não ter de ser confrontado com o facto de que todo
e qualquer orçamento, aprovado por este ou qualquer outro executivo, porque sujeito
às ordens e directizes de Berlim, nunca servirá os interesses da classe
operária, dos trabalhadores e do povo português. O simples facto de Portugal
ter sido forçado, por toda uma cambada de traidores, a aceitar o tratado
colonial que representa o Tratado Orçamental, dá para perceber que é uma charada
fingir-se que o governo actual, como o anterior, tem autonomia e independência
para implementar e impor uma lei de orçamento geral que sirva o povo e quem
trabalha.
O não repúdio da dívida, a permanência de Portugal no euro e na União Europeia, constituem as âncoras da nossa condição de protectorado ou colónia.
O não repúdio da dívida, a permanência de Portugal no euro e na União Europeia, constituem as âncoras da nossa condição de protectorado ou colónia.
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