Como se airma num artigo publicado pelo meu camarada Arnaldo Matos, a 06 de
Setembro do corrente ano, apesar de algumas insuficiências herdadas da linha
liquidacionista, anticomunista e revisionista do Bando dos Quatro, a campanha levada a cabo pelo PCTP/MRPP no
arquipélago dos Açores, conseguiu um extraordinário
sucesso político, ideológico e organizativo, pois em nenhuma outra campanha
eleitoral do Partido naquela Região Autónoma conseguiu o PCTP/MRPP elaborar e
apresentar um tão grande número de candidatos e de listas.

Documentos e escritos que o leitor poderá consultar no site do Órgão
Central do PCTP/MRPP, o Luta Popular Online, em http://www.lutapopularonline.org/.
As Eleições Regionais dos Açores
Realizar-se-ão no Domingo, dia 16 de Outubro de 2016, as eleições para a
Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Nesse dia, por sufrágio
directo, universal e secreto dos cidadãos inscritos no recenseamento eleitoral
do território regional, serão eleitos 57 deputados que formarão a próxima
assembleia legislativa da Região e que aprovarão o programa político do XII
governo regional dos Açores.
Por outro lado, terminou ontem o prazo legal para apresentação das listas
de candidatos pelos nove círculos eleitorais dos Açores, correspondendo um
círculo eleitoral a cada ilha do arquipélago, acrescido de um círculo eleitoral
de compensação para a Região inteira.
Nos últimos vinte anos, e enquanto esteve sob a direcção do Bando dos
Quatro – agora definitivamente escorraçado das nossas fileira – o Partido
abandonou a luta política, teórica, ideológica e organizativa do marxismo e do
comunismo também na Região Autónoma dos Açores, encarregando dessa tarefa
liquidacionista um energúmeno analfabeto, anticomunista e antimarxista
primário, secretário do arrivista e revisionista Garcia Pereira, vendedor de
automóveis na margem sul do Tejo.
Esse piolhoso membro do Bando dos Quatro, que desapareceu com os
dinheiros do Partido, não tinha a menor ideia de qual fossem as classes e as
lutas de classes nem naquela região, nem em parte nenhuma do mundo, mas
atrevia-se a dar instruções ao secretário regional dos Açores, o qual, apesar
da sua boa-vontade, não entendia uma palavra da linguagem absurda e caótica do
negociante de veículos.
Indo em apoio dos nossos camaradas açorianos abandonados pela quadrilha
anticomunista de Garcia Pereira, Conceição Franco e Domingos Bulhão, o nosso
Partido enviou aos Açores uma pequena brigada de agitação, propaganda e
organização destinada a ajudar os nossos camaradas locais a constituírem as
listas eleitorais do Partido, os quais, unidos como um só homem, conseguiram
elaborar listas em sete círculos eleitorais e no círculo compensatório, só
ficando de fora os círculos eleitorais da ilha das Flores e da ilha do Corvo,
às quais ilhas os nossos militantes da brigada e açorianos dos grupos ocidental
e central não puderam deslocar-se por causa da tempestade tropical Gaston,
que conduziu ao corte de todas as comunicações marítimas e aéreas com as duas
pequenas ilhas do grupo ocidental do arquipélago.
O nosso Partido e todos os nossos camaradas tiveram um acolhimento caloroso
em todas as ilhas por onde passaram, o que lhes permitiu formar listas em quase
todas com o limite máximo de candidatos efectivos e suplentes.
Esta campanha, que não deixou de manifestar algumas insuficiências herdadas
da linha liquidacionista, anticomunista e revisionista do Bando dos Quatro,
conseguiu um extraordinário sucesso político, ideológico e organizativo, pois
em nenhuma outra campanha eleitoral do Partido naquela Região Autónoma
conseguiu o PCTP/MRPP elaborar e apresentar um tão grande número de candidatos
e de listas.
Na verdade, apresentámos oito listas de candidatos numa Região onde nunca
havíamos apresentado mais de quatro. E só não apresentámos o total das dez
listas (incluindo Flores e Corvo) por causa de uma inesperada e súbita
tempestade tropical e alguns erros de planeamento e de liderança que bloquearam
os nossos camaradas em São Jorge por três dias.
Estão fundadas as bases para a retoma e desenvolvimento do trabalho
comunista do Partido na Região Autónoma dos Açores. Os nossos camaradas
açorianos e da pequena brigada auxiliar expedida de Lisboa estão conscientes da
importante vitória política, ideológica e organizativa que obtiveram nos Açores
e a concomitante derrota que impuseram à linha liquidacionista e traidora do
provocador Garcia Pereira.
A canalha liquidacionista sentiu tão fundo a estocada desta derrota que
pôs-se imediatamente a insultar e provocar alguns dos camaradas que mais
contribuíram para o sucesso regional do Partido e para a derrota do provocador
Garcia Pereira, agora lacaio e bufo das polícias com que convive.
As listas eleitorais do nosso Partido na Região Autónoma dos Açores têm um
total de 108 candidatos, 52 efectivos e 56 suplentes. Para que os nossos
leitores fiquem com uma ideia exacta do sucesso dos nossos camaradas no seu
trabalho político durante quatro semanas, lembramos que os números máximos de
candidatos para as nove ilhas são de 57 efectivos e 72 suplentes.
As listas eleitorais do PCTP/MRPP são constituídas por 64 homens e 44
mulheres. Pela primeira vez na vida do Partido, as mulheres representam 40% dos
nossos candidatos. Não temos conhecimento de nenhum partido nos Açores cujas
listas contenham maior percentagem de mulheres do que as nossas listas.
As listas do PCTP/MRPP contêm: 27 operários e operárias, 19 pescadores, 18
empregados e empregadas, 10 agricultores, 9 donas de casa, 5 reformados, 6
funcionários públicos, 5 desempregados e desempregadas, 2 estudantes, 2
cabeleireiras, 2 comerciantes, 1 vendedor ambulante, 1 professor e 1
controlador de tráfego aéreo.
Hoje, depois das 14H00, proceder-se-á nos tribunais competentes ao
sorteio das listas apresentadas.
O Partido pode orgulhar-se do grande passo em frente dado
na reestruturação política, ideológica e organizativa dos comunistas
açorianos. Notem o reforço da base proletária do Partido nas listas
apresentadas, um Partido de onde o Bando dos Quatro havia afastado todos
os operários.
Espero que os leitores me permitam apresentar aqui um abraço de parabéns a
todos os camaradas que contribuíram para este incontestável sucesso político do
nosso Partido nos Açores. Abraço de parabéns que é sobretudo endereçado às camaradas
e aos camaradas da Terceira cujo trabalho, conjuntamente com o trabalho da
brigada, foi exemplar.
06.09.2016
Arnaldo Matos
A Brigada dos Açores
RESOLUÇÃO
1. A justa decisão de o Partido se candidatar às eleições regionais dos
Açores assumida pelo Camarada Arnaldo Matos contra a linha capitulacionista
instalada no Partido, e a consequente apresentação de listas em sete círculos
eleitorais da Região Autónoma dos Açores: Santa Maria, São Miguel, Terceira,
Graciosa, São Jorge, Pico e Faial, mais o círculo regional de compensação,
integralmente asseguradas com açorianos num total de 108 candidatos, foi uma
importante vitória dos comunistas e da linha geral revolucionária do Partido e
constituiu uma estrondosa derrota para a burguesia e os liquidacionistas da
clique de Garcia Pereira/Franco.
2. Esta vitória deveu-se, acima de tudo, ao nível excepcional dos
documentos sábia, esclarecida e atempadamente elaborados pelo camarada Arnaldo
Matos, os quais constituíram um manancial decisivo para a brigada do PCTP/MRPP
estar como peixe na água entre as massas de cada uma das ilhas visitadas,
revendo-se aquelas neles, espontânea ou ponderadamente, nas suas expectativas,
necessidades e aspirações.
3. A luta política entre as duas linhas no seio da brigada foi intensa,
tendo sempre em vista combater os desvios à linha de massas na feitura das
listas e travada e conduzida sob a direcção e orientação firmes e oportunas do
camarada Arnaldo Matos.
4. Formadas as listas com operários, pescadores e demais elementos do povo
trabalhador e explorado da Região, partilhando na sua maioria integralmente o
programa do Partido, há agora que corresponder à confiança dada com um trabalho
correcto e persistente de mobilização e organização, com vista a levantar o
Partido na Região, onde a linha liquidacionista desprezou as massas durante
dezenas de anos.
Viva a classe operária e o Povo dos Açores!
Viva o Partido!
Fogo sobre o liquidacionismo!
5 Set
2016
A brigada do PCTP/MRPP na RAA
Aos Pescadores dos Açores
Camaradas!
Vêm aí umas novas eleições legislativas para a assembleia regional dos
Açores, no próximo dia 16 de Outubro de 2016. É pois a altura de, com o nosso
voto no Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP), exigirmos
à nova assembleia, e ao novo governo que dela haverá de sair, aquilo que eles
nunca nos deram, a nós, pescadores açorianos e às nossas famílias, apesar
daquele muito que sempre lhes temos dado ao longo das nossas vidas.
Na Região Autónoma dos Açores e no ano de 2006, as pescas – isto é, o nosso
trabalho – contribuiu com 40%, para o total das nossas exportações.
Tal significa que a fileira económica das pescas açorianas, que assenta nas
capturas marinhas exclusivamente provenientes da força, da arte e da
inteligência dos 2 831 pescadores registados, equivalente apenas a 5% do total
dos trabalhadores da Região, contribui para a exportação de um valor bruto
maior do que o valor da fileira da carne de vaca ou do sector dos lacticínios…
Ou seja, as pescas contribuem mais para o equilíbrio das contas públicas da
Região do que qualquer outro sector económico.
Mas mais importante do que tudo isso é que as pescas, com impacto apenas
nos nossos recursos marinhos, contribui mais do que toda a actividade
agro-pecuária e agro-florestal para a coesão territorial de cerca de 50
comunidades distribuídas pelo litoral das nove ilhas do arquipélago,
comunidades essas que, se não fora a actividade piscatória, teriam já
desaparecido, sorvidas pela emigração.
Acontece que mais de 90% do peixe descarregado em lota é produto da pesca
artesanal, baseada nas artes da linha e do anzol, que mantêm a sustentabilidade
dos recursos naturais e a perenidade dos eco-sistemas.
Considerando a linha limite das duzentas milhas marítimas em torno das nove
ilhas do arquipélago, o espaço marítimo interior abrange uma superfície de 954
496 km2, constituindo a zona económica exclusiva da Região Autónoma dos Açores a
maior do território português e a maior de toda a União Europeia.
Como o Estado português não dispõe nem de marinha de guerra adequada, nem
sequer de guarda costeira, as embarcações de pesca estrangeiras, designadamente
espanholas, francesas e japonesas delapidam como e quando querem os recursos
marinhos da zona económica exclusiva dos Açores.
Apenas 0,9% da área dessa zona, num total muito reduzido de 8 618 km2, tem uma profundidade inferior a 600
metros, a profundidade máxima a que podemos efectuar a nossa pesca artesanal.
Ora, essa profundidade máxima de 600 metros só se encontra, na zona económica
exclusiva – que, como se sabe, não tem plataforma continental – em torno das
ilhas, dos ilhéus e dos bancos submarinos do arquipélago.
A nossa zona marítima é muito grande – e ainda maior será, quando for
reconhecida pela Organização da Nações Unidas a pretensão da linha exterior do
limite da plataforma continental – mas para efeitos de pesca artesanal reduz-se
a nove mil quilómetros quadrados, números redondos.
Não obstante essa contrariedade, a nossa pesca artesanal só se dedica à
captura de 80 das 500 espécies marinhas dos nossos ecossistemas marítimos,
havendo pois todo um campo novo a explorar.
Nestes quarenta anos de regime autonómico, os governos regionais e os
governos centrais não têm prestado a devida atenção à enorme importância do
sector das pescas para a alimentação e sobrevivência do povo açoriano e para o
desenvolvimento económico dos Açores.
Ora, os pescadores açorianos e suas famílias devem exigir, nas próximas
eleições legislativas de 16 de Outubro, as seguintes medidas urgentes de
protecção, defesa e promoção do sector das pescas na nossa Região:
1º O governo regional e o governo central da República, invocando o
carácter ultra-periférico e a pobreza económica da Região Autónoma dos Açores,
devem resgatar para os Açores o direito exclusivo da pesca, nas águas açorianas
dentro das 200 milhas marítimas, às embarcações registadas nos portos
açorianos.
2º O governo regional deve exigir ao governo central da República a dotação
dos meios aéreos e navios para impor a proibição de pesca às embarcações
estrangeiras no interior da Zona Económica Exclusiva dos Açores.
3º O governo regional deve encarregar a Universidade dos Açores dos estudos
necessários à identificação e captura economicamente viável das espécies dos
nossos ecossistemas actualmente não capturadas, em número de 420.
4º Exigir ao governo regional a criação de uma Escola de Pesca com vista à
formação dos pescadores na pesca com artes e meios artesanais.
5º Exigir do governo regional um plano de requalificação de todos os portos
do arquipélago, para as diversas funções a que terão de estar sujeitos,
designadamente a pesca artesanal e a pesca de Turismo.
6º Exigir apoio financeiro a fundo perdido do governo regional, do governo
central e da União Europeia, destinado à requalificação das embarcações
açorianas de pesca, quanto a condições de segurança, de trabalho, de
operacionalidade, de habitabilidade dos pescadores e o acondicionamento e
conservação do pescado, que são ainda muito incipientes.
7º Reforço do Sistema de Socorros a Náufragos, que deve estar operacional
24 horas por dia, todos os dias do ano, como o impõem as leis internacionais
sobre a matéria.
Camaradas!
Deixámos para o fim, não por serem menos importantes, mas para não cair no
esquecimento, as reivindicações respeitantes aos pescadores propriamente ditos
e que são aliás iguais aos demais trabalhadores.
Assim,
8º Todo o pescador ou pescadora, que não seja armador ou armadora,
proprietário ou proprietária de embarcações de pesca, deve ter um contrato de
trabalho, que estabeleça a duração da jornada de trabalho, que não deve ser
superior a 35 horas semanais, que preveja o descanso semanal ao sábado e ao
domingo, ou o pagamento de horas extraordinárias se não puderem abandonar a
afaina nesses dias.
9º O contrato de trabalho do pescador e da pescadora têm de prever um período
de 25 dias úteis de férias pagas.
10º Nos Açores já há mulheres pescadoras e colectoras. Homens e mulheres
devem ter os mesmos direitos.
11º Os colectores e colectoras de algas e mariscos devem ter direitos
iguais aos pescadores, incluindo o contrato de trabalho.
12º Os pescadores e pescadoras devem beneficiar do regime geral da
Segurança Social, para todos os efeitos.
O Pescador é um Trabalhador!
O Pescador não é Escravo!
O Pescador tem direito:
A um Contrato de Trabalho;
A uma jornada de Trabalho de 35 horas;
Ao pagamento de horas extraordinárias;
À segurança social igual aos outros Trabalhadores.
Vivam os Pescadores dos Açores!
09.08.2016
Arnaldo Matos
Publicado em 13.08.2016
A Lotaçor não
Serve o Pescador
Como toda a gente sabe, a Lotaçor é, na Região Autónoma dos Açores,
a entidade credenciada para efectuar a primeira venda do pescado fresco ou
congelado nos portos do arquipélago.
Trata-se de uma sociedade anónima parasitária, que vive à custa do trabalho
dos pescadores açorianos. É uma sociedade podre de rica, que detém o monopólio
exclusivo de um serviço, de que cobra as taxas que entende aos armadores e aos
pescadores.
O pescado não pode ser vendido, em primeira venda, fora das lotas da Lotaçor.
E é precisamente aqui que o monopólio, dirigido por Cíntia Ricardo Reis
Machado, além de cobrar aos pescadores os impostos para o Estado e as taxas e
preços para a Lotaçor, pratica também um outro roubo ao serviço dos
grandes comerciantes do pescado e das indústrias transformadoras, nomeadamente as
conserveiras. É que a Lotaçor, vendendo embora o peixe em lota, toma o
pescado ao pescador mas não lhe paga imediatamente o peixe que lhe toma.
Em geral, a Lotaçor leva mais de três semanas a pagar o pescado aos
armadores e aos pescadores.
O pescador deixa a lota sem peixe e sem dinheiro, e chega a casa, depois
duma faina extenuante, sem dinheiro e sem peixe.
Ele, a mulher e os filhos do pescador chegam a ter de esperar mais de três
semanas pelo dinheiro a que têm direito!...
A Lotaçor tomou-lhes o pescado, mas não lhes paga imediatamente, que
é o que todos os comerciantes exigem ao pescador e às famílias dos pescadores.
Os gatunos da Lotaçor fizeram dos pescadores, além de escravos
capturadores de peixe, banqueiros dos grandes negociantes de pescado e dos
industriais da conserva.
Com efeito, a Lotaçor argumenta que não pode pagar imediatamente o
peixe tomado aos pescadores e armadores, porque resolveu conceder aos grandes
negociantes e às conserveiras prazos de pagamento a 30 e a 60 dias…
E o que é que tem o pescador a ver com isso?
Se a Lotaçor quer ser banqueira dos grandes negociantes e das
indústrias transformadoras de pescado que o seja com o dinheiro do monopólio da
Lotaçor e de D. Cíntia, mas não com o dinheiro do pobre pescador.
Exigimos à Lotaçor que pague aos pescadores o peixe que lhes toma no
próprio dia em que o toma!
Basta de parasitas a chupar o Pescador!
Fora com a Lotaçor!
Lotaçor: paga o que deves aos pescadores!
13.08.2016
A Ilha de
Santa Maria
Resumo das
suas Reivindicações Políticas
1º O regresso do Tribunal da Comarca

Em vez de uma Comarca, com o seu tribunal judiciário pleni-competente, onde
a justiça, boa ou má, sempre esteve próxima da população mariense, deixaram-nos
uma instância local destinada apenas a iludir o desaparecimento total da
Comarca e dos seus tribunais.
Se já pouco havia que retivesse a população na ilha de Diogo Silves, a
liquidação da comarca de Vila do Porto tocou o sino de rebate para o abandono
final da ilha.
Claro está que este abandono serve a classe da burguesia parasitária
açoriana concentrada em Ponta Delgada.
Os marienses devem levantar-se contra todas as medidas que levam ao despovoamento,
abandono e má-qualidade de vida da ilha de Santa Maria e exigir o regresso
da Comarca de Vila do Porto, com as suas competências, actividades, magistrados
e funcionários judiciais.
2º O Polo Universitário de Santa Maria
A experiência portuguesa com a criação de universidades e de polos
universitários é de uma enorme riqueza e demonstra como essa sábia estratégia
contribuiu para salvar pequenas cidades interiores que estavam a caminho do seu
desaparecimento total, por abandono populacional, como aconteceu com Bragança,
Viseu, Guarda, Castelo Branco, Caldas da Rainha, Portalegre e Évora, só para
citar algumas das pequenas cidades que já não existiriam hoje, se não fora a
criação da sua universidade ou do seu polo universitário locais.
Ora, há muitas matérias que indicam e fortalecem a possibilidade de um ou
mais polos universitários na ilha de Santa Maria.
Geologicamente, a ilha de Santa Maria é a mais antiga de todas as ilhas
açorianas, com formações que ultrapassam os oito milhões de anos. O carácter
singular da geologia mariense têm despertado o interesse da comunidade
científica internacional, que efectua viagens de estudo à ilha todos os anos e
ao longo de todo o ano.
Em 2002, a própria universidade dos Açores criou um grupo de investigação
dedicado, em exclusivo, ao estudo da paleontologia e do paleobiogeografia, que
podia servir de núcleo fundamental do Polo Universitário da Ilha de Santa
Maria.
Por outro lado, aproveitando o facto de Cristóvão Colombo, no regresso da
sua primeira viagem à América, ter escalado o Porto dos Anjos na ilha de Santa
Maria, o Polo Universitário poderia ter por fundamento o centro dos Estudos
Históricos do Atlântico Norte.
Finalmente, mas sem esgotar os assuntos, as rotas das diversas espécies de
atum (rabilo - Thunnus thynnus; bonito ou gaiado - Katsuwonus pelamis; patudo -
Thunnus obesus) que passam todos nas imediações da ilha de Santa Maria e do
ilhéu das Formigas, poderiam fazer da ilha um polo universitário do estudo
dessas espécies, e, designadamente, das suas formas de conservação.
E, é claro, a região do Porto dos Anjos poderia ou deveria ser o
local escolhido para a construção do Polo Universitário da Universidade dos
Açores em Santa Maria.
3º O Centro Hospitalar de Santa Maria
O problema das localizações e valências dos hospitais da Região Autónoma
dos Açores tem de ser reestudado, reequacionado e replaneado, pois tudo o que
se faz num arquipélago de nove ilhas, se não for devidamente pensado,
equivalerá sempre ao encerramento das ilhas mais pequenas, mediante a emigração
ou deslocação populacional interna.
Havia na Ilha de Santa Maria um antiquíssimo Centro de Saúde de Vila do
Porto que foi extinto pelo governo regional de Carlos César, em 2011, e
integrado, pelo Decreto Regulamentar Regional nº 5/2011/A, de 10 de Fevereiro,
na Unidade de Saúde da Ilha de Santa Maria.
Uma vez mais, os governos da região, invocando sempre o sacrossanto
princípio da racionalização dos recursos, optaram por um Hospital central em
São Miguel e postos de atendimento nas restantes ilhas.
Trate-se de governos do PSD ou do PS, os governos regionais, sediados em
Ponta Delgada, são governos visceralmente racistas: todas as ilhas são pretas e
só São Miguel é branca, mesmo assim um branco muito escurecido…
O certo é que a chamada Unidade de Saúde da Ilha de Santa Maria não
satisfaz as necessidades e exigências actuais da população mariense, nem, muito
menos, as suas exigências futuras.
Santa Maria precisa de um Hospital. O Hospital é uma exigência estratégica
do desenvolvimento económico de Santa Maria.
Tal como as coisas se apresentam actualmente, uma ilha como a de Santa
Maria está destinada, numa primeira fase, ao investimento e desenvolvimento
económico baseado no turismo.
Ora ninguém vai fazer turismo para uma ilha que tem como unidade de Saúde
um posto médico.
Decerto que será um hospital pequeno, mas que terá de estar apetrechado
para fazer face sozinho às principais valências médicas para os doentes e
acidentes que acometem a população local e os turistas.
Um Hospital desse tipo beneficia de apoios estruturais da União Europeia a
fundo perdido e deve ser negociado com o governo central da República dentro do
plano geral de dotação das unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde.
4º O Centro de Controlo Aéreo do Atlântico
Em Santa Maria funciona o Centro de Controlo Aéreo do Atlântico, que
administra a região de informação de voo oceânica portuguesa. Até agora tem
sido esta estrutura a sustentação económica da Ilha.
Santa Maria é um dos vértices do triângulo (os outros vértices são Lagos,
no Senegal, e Shannon, na Irlanda) que controla os voos aéreos em toda essa
vasta região aérea oceânica.
Os espanhóis têm feito múltiplas tentativas para desviar para as Canárias
esse serviço de operações internacionais, tentativas que estão presentemente a
ser feitas para retirar esses serviços para Madrid, para Paris e até para a
Bélgica…
Santa Maria, a Região Autónoma dos Açores e todo o País terão de mover
lutas muito sérias para manter essa estrutura na Ilha.
5º O Aeroporto de Santa Maria
Nenhum governo regional conseguiu aproveitar para o desenvolvimento
económico da Ilha de Santa Maria a estrutura mais importante existente no
território: um aeroporto civil com três pistas, uma das quais, com 3 048
metros de comprimento, é a segunda maior do País, só ultrapassada pela pista
das Lajes.
O governo de Mota Amaral foi quem pretendeu assinar a sentença de morte de
Santa Maria, quando, pela resolução nº 36/80, ao definir a política aérea da
Região Autónoma dos Açores, optou pela utilização da pista da Base Aérea das
Lajes como porta de entrada e de saída dos voos regulares para o arquipélago,
atribuindo ao aeroporto de Santa Maria as funções de um aeroporto alternativo.
O próximo governo regional deve alterar esta política aérea da Região, considerando
o aeroporto de Santa Maria o aeroporto prioritário para entrada e saída da zona
oriental, tanto mais que o aeroporto João Paulo II, em Pota Delgada, tem
condições bastante inferiores.
Seja como for, o governo regional açoriano já não pode inventar mais
nenhuma desculpa para manter inactivo o melhor conjunto de pistas de todos os
aeroportos dos Açores e do País.
Apesar das incompetências e sabotagens governamentais ao aeroporto de Santa
Maria, mesmo assim o movimento aeroportuário foi de 90 306 pessoas o ano
passado.
O governo pode, desde já, financiar e manter a Sata, companhia aérea
regional – –
que tem de ser financiada e reorganizada – com voos regulares atlânticos,
designadamente para a Madeira, Canárias, Portugal continental, Estados Unidos e
Canadá, com partidas e chegadas em Santa Maria.
6º O Turismo
Como se pode verificar este Verão, a Ilha de Santa Maria abarrota de
turistas por tudo o que é sítio, mas o governo regional não diz nem define o
seu plano para a Ilha de Santa Maria, relativamente aos investimentos e
objectivos futuros no sector do Turismo.
Nem investe ele próprio nas infraestruturas insubstituíveis para o
desenvolvimento dessa indústria, nomeadamente nos campos da saúde, da cultura,
dos transportes e da ocupação de tempos livres.
Santa Maria começou com um turismo caótico, que em breve destruirá todas as
belezas e recursos naturais da bela Ilha, se ninguém pré-organizar este caos.
7º O Estabelecimento das Relações da Ilha com os seus Emigrantes
Santa Maria tem três vezes mais emigrantes do que população residente. Mas
nem o governo regional nem o presidente da câmara municipal de Vila do Porto
mexem uma palha para estabelecer as relações afectivas, económicas e culturais
com os seus emigrantes.
Para uma ilha que precisa de apoios, a maneira como o governo e a câmara
tratam os seus emigrantes é a maior manifestação de racismo que se pode
encontrar em todos os Açores.
Os emigrantes
de Santa Maria têm não apenas o direito de voltar como o direito de participar
na vida e no futuro da ilha mãe.
15.08.2016
Arnaldo Matos
A.
M.
O Que a Ilha Graciosa Pretende
Como se sabe, depois da Ilha do Corvo, a Graciosa é a segunda mais pequena
ilha do arquipélago dos Açores. Apesar da autonomia que os açorianos souberam
conquistar para a sua Região com a revolução de Abril, os governos autonómicos,
do PSD ou do PS, nunca foram capazes de entender a autonomia como um amplo
movimento político, económico, social e cultural que, em vez de separar as nove
ilhas entre si, fosse capaz de as unir como um território único, implantado
numa área marítima contínua de quase 100 000 km2.
As ilhas são tratadas pelos sucessivos governos regionais não como unidades
geográficas integradas num todo regional, mas como pequenas unidades
administrativas emersas, eternamente separadas entre si.
O resultado de uma tal política é que apenas se desenvolveram as três ilhas
grandes do arquipélago, onde se concentram as elites regionais e a burguesia
capitalista compradora que se alimenta do sangue dos trabalhadores açorianos,
por meio da exportação e importação de mercadorias.
A monocultura agrícola e agro-pecuária introduziu vacas onde expulsou os
homens e as mulheres dos Açores, condenados, pela ausência de emprego, à
emigração.
Ora, a autonomia conquistada em Abril e consagrada na Constituição da
República deve ser entendida e praticada como a política de integração unitária
das ilhas dos Açores e do povo açoriano num só tronco e numa só alma.
Uma ilha – cada ilha – não pode continuar a ser vista e tratada como um município
ou conjunto de municípios emersos, mas antes como a parte integrante de um
todo, onde mar e terra se desenvolvem no sentido de uma única unidade
autonómica.
Assim, cada ilha deve ser constituída, não como um conjunto de entidades
administrativas – concelhos e freguesias –, mas como uma entidades de política
autónoma, integradas no congresso da Região, onde a sua autonomia e a sua
população possam desenvolver-se e crescer em igualdade política das ilhas umas
com as outras.
Como as coisas estão, dentro em breve as ilhas pequenas e médias acabarão
despovoadas, reconcentrando-se as populações à volta de Ponta Delgada.
Será esse o destino da Graciosa, enquanto não se reconhecer ao povo
graciosense os mesmos direitos e regalias de que gozam São Miguel e os micaelenses.
Assim:
1. O aeroporto
A estrutura aeroportuária da Graciosa é um apeadeiro aéreo com uma pista de
1 265 metros
de comprimento e uma caixa de descarga de passageiros e mercadorias que, apesar
de remodelada há pouco tempo, está longe de atrair passageiros regionais,
nacionais e internacionais para a Ilha.
A Graciosa tem duas únicas ligações aéreas, com pequenos aviões da SATA,
entre as Lajes e Ponta Delgada.
Com uma pista destas, um aeroporto destes e aviões destes, não haverá
remédio para os graciosenses senão utilizá-los, mas para os cidadãos que
queiram visitar a Graciosa nenhum desses meios e instrumentos é convidativo.
Ora, descontando a ilha do Corvo, que um dia haverá de ter uma pista sobre
o mar, não há razão para a Graciosa não ter um aeroporto em condições de atrair
os seus turistas em aviões cómodos e seguros, para uma aerogare moderna, e que
possa ligar a Graciosa a todas as ilhas dos Açores, e não apenas às Lajes e a
Ponta Delgada, as portas por onde a burguesia capitalista açoriana quer obrigar
os pobres graciosenses a emigrar.
A Graciosa, contudo, tem tanto direito a trazer à ilha os seus turistas
como as grandes ilhas do arquipélago.
2. A Comarca de Santa Cruz da Graciosa
Sem a oposição dos governos regionais socialistas de Carlos César e de
Vasco Cordeiro, o governo de traição nacional Coelho/Portas liquidou a velha
comarca de Santa Cruz da Graciosa, o que contribuiu para deixar os já
abandonados graciosenses afastados da proximidade de toda a justiça.
São estas medidas liquidacionistas que explicam como é que uma ilha, como a
Graciosa, que tinha uma população de 9 617 habitantes em 1951, só tem agora 4
391 habitantes.
Desde que o estatuto autonómico foi constitucionalmente conferido à Região,
a Graciosa perdeu 40% da sua população – 7 420 para 4 351.
É mais um exemplo para se ver como a autonomia, açambarcada pela burguesia
capitalista de Ponta Delgada, e só a ela beneficiando, está em vias de expulsar
o povo das ilhas pequenas e médias do arquipélago, se nada for feito para
impedir esta desertificação.
3. A exigência de Serviços Locais Hospitalares Mínimos
A Graciosa tem direito a ter na ilha o seu pequeno hospital, porque só com
ele se pode propor um serviço de saúde apropriado à população.
Hoje é possível dotar os pequenos e médios territórios insulares com
pequenos hospitais capazes de prestar todos os principais serviços de saúde,
designadamente a cirurgia, às populações locais insulares.
A qualidade desses pequenos hospitais decide mesmo do afluxo das correntes
turísticas nacionais e internacionais. Ninguém irá de férias para uma ilha onde
só pode contar com o apoio médico de um posto da Cruz Vermelha.
E não se diga, como é apanágio dos sucessivos governos regionais, que a
distância entre Santa Cruz da Graciosa e o hospital minimamente apetrechado
mais próximo é uma distância curta, por que não o é. A distância entre Santa
Cruz da Graciosa e Ponta Delgada, onde se pode encontrar um hospital mais ou
menos digno desse nome, é de 252,67 km em linha recta. E nem sempre as condições
climatéricas nessas paragens autorizam viagens marítimas ou aéreas entre tais
espaços, como recorda Nemésio no seu Mau Tempo no Canal.
4. A Universidade
Mas insistimos sempre num ponto: a localização dos Açores no centro do
Atlântico Norte, na confluência de três das maiores placas tectónicas da Terra,
impõe a criação de uma universidade de carácter e frequência internacionais,
distribuída pelas nove ilhas do arquipélago, com mestres e alunos de todos os
continentes, que haverá de ficar na História, se os governos regionais
compreenderem o que se está a passar no Mundo e o que devem fazer.
A Graciosa também aspira a servir de assento de um dos múltiplos ramos
dessa notável universidade.
5. A promoção e defesa do queijo da Graciosa
Os lacticínios e a indústria agro-pecuária passam um período crítico nos
Açores, agora que foram eliminadas as quotas leiteiras, obrigando a produção do
leite e a indústria dos lacticínios a competirem com o leite estrangeiro e luso
no interior dos próprios mercados açoriano e português.
A indústria dos lacticínios é uma forma de promover e assegurar a produção
do queijo, sobretudo com denominação e origem protegida (Queijo DOP).
É certo que o tratado de comércio agora em discussão entre os imperialistas
americanos, canadianos e da União Europeia, em vias de aprovação, elimina as
marcas de queijo DOP, razão por que a agro-pecuária, os lacticínios
portugueses, sobretudo os açorianos, devem obrigar o governo regional a lutar
para que o governo português se oponha à aprovação do tratado no âmbito da
União Europeia.
Nos Açores, há apenas dois tipos de queijo com denominação de origem
protegida o Queijo de São Jorge e o Queijo do Pico.
A Graciosa tem estado a produzir queijos de alta qualidade, todavia ainda
não salvaguardados pela designação DOP (Denominação de Origem Protegida).
Seria importante que o governo regional e o governo português se pusessem
de acordo para proteger o Queijo da Graciosa.
O Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) saberá
defender os interesses e direitos políticos e a liberdade do povo da Graciosa.
18.08.2016
Arnaldo Matos
A Defesa da Agricultura Açoriana
Nos últimos anos, a agricultura dos Açores tem sofrido ataques demolidores
provenientes das alterações unilaterais das regras e apoios da política
agrícola comum por parte da União Europeia, pelo embargo imperialista imposta
ao comércio com a Federação Russa e pelo saque levado a cabo pelo sector da
distribuição através das grandes superfícies, sem que os governos regionais de
Carlos César e de Vasco Cordeiro e os governos centrais de Coelho/Portas e de
António Costa tenham movido uma palha para defenderem a agricultura e os
agricultores do arquipélago.
Depois de um largo período de pesado esforço financeiro e de investimento
económico intenso para modernizar, electrificar e mecanizar o sector agrícola,
optando, nem sempre avisadamente, pela monocultura bovina em pastagem aberta, a
agricultura açoriana acabou por marcar a economia e por definir a própria
paisagem das ilhas da Região.
A economia do arquipélago dos Açores representa 2,1% da economia
portuguesa, em termos de produto acrescentado bruto. No entanto, o sector
primário regional açoriano (agricultura, silvicultura e pescas) representa 9,3%
do valor acrescentado bruto português. O sector agro-alimentar é, aliás, o
principal sector da indústria açoriana.
Em termos de trabalho, a agricultura, silvicultura e pescas, mais o sector
agro-alimentar, ocupam cerca de 15 mil trabalhadores, perto de 15% de todo o
emprego açoriano.
Todo o território dos Açores pode ser considerado como rural, pois 88% da
superfície agrícola útil, correspondente a 120 912 hectares e a 51,6% de todo o
território, são prados e pastagens para criação extensiva de gado bovino, e
mais 10% da mesma superfície agrícola útil são terras aráveis, destinadas ao
cultivo de milho forrageiro, para alimentação do mesmo gado.
Ou seja: 98% da superfície agrícola útil dos Açores é destinada à produção
de carne e leite de vaca.
O arquipélago açoriano tem uma população de 247 400 pessoas e uma manada de
267 000 bovinos…
Só 2% da superfície agrícola útil é usada para a produção de culturas
permanentes (vinhos, hortícolas e frutícolas).
É evidente que a monocultura da vaca não vai durar eternamente. O
desenvolvimento caótico e acelerado do turismo já em marcha irreversível,
varrerá à sua frente, e há-de ocupá-los através dos patos bravos, os terrenos
que actualmente constituem a paisagem de marca que os hoteleiros dos Açores
vendem aos olhos dos seus turistas.
Há hoje na região autónoma dos Açores 13 590 explorações agrícolas, cada
uma com a área média de 8,9 hectares, o que constitui, para ilhas, uma média
muito alta. A maior parte das explorações, todavia, não atinge os 2ha. Mas a
maior parte do solo agrícola útil entre os 20 e os 50 hectares está concentrado
nas mãos de apenas 39,5% dos produtores rurais.
Como o PCTP/MRPP sempre tem chamado a atenção, há um problema agrário muito
sério nos Açores, que tem de ser resolvido, porque ele está na base do
desemprego açoriano e da consequente emigração de uma boa parte do povo dos
Açores.
Das 89 000 vacas leiteiras actualmente registadas no arquipélago, as
entregas de leite à indústria ascendem a 250 milhões de litros por ano.
Para consumo directo, vendiam os produtores 58,6 milhões de litros de leite
líquido em média por ano.
O cancelamento das quotas de leite pela União Europeia veio criar um
problema muito sério aos proprietários açorianos. Os Açores têm que enfrentar
uma concorrência implacável com o leite dos países grande produtores e
exportadores no mercado interno e externo.
Tudo isto se agravará seriamente com a assinatura do já negociado – e
aceite pelo governo português, sem discussão interna ou externa – do chamado
TTIP, um acordo de parceria transatlântico de comércio e investimento entre os
imperialistas ianques e a União Europeia.
O leite americano, muito mais barato de péssima qualidade e injectado de
hormonas, liquidará no mercado europeu o leite açoriano. E até o queijo europeu
com denominação de origem protegida (DOP) será eliminado para permitir a
entrada de queijo americano.
Vamos passar todos a comer queijo limiano de origem americana…
Impõe-se pois que o governo regional do Açores e o governo central da
República defendam intransigentemente, nas instituições europeias, a rejeição
do TTIP, recusando-se Portugal a assinar esse instrumento da liquidação da
economia açoriana, mas também da economia de todo o País. E, desde já, devem
ser adoptadas na Região Autónoma dos Açores as seguinte medidas para defesa, salvaguarda
e desenvolvimento do sector agrícola:
1.
Reconhecimento
da Semana das 35 horas aos trabalhadores da agricultura, da agro-pecuária e da
agro-indústria, reivindicação que é comum a todos os trabalhadores dos sectores
públicos e privados.
2.
Exigir à
União Europeia a continuação e reforço dos apoios à agricultura, à
agro-pecuária e à agro-indústria dos Açores, como região ultra-periférica da
comunidade.
3.
Manutenção do
subsídio ao preço do gasóleo agrícola.
4.
Controlo e
Certificação da carne IGP (Indicação Geográfica Protegida) e do queijo DOP
(Denominação de Origem Protegida) para toda a carne açoriana e para os queijos
que já a possuem (Ilha e Pico) e ainda o queijo da Graciosa, em processo de
obtenção.
5.
Proibição da
comercialização de produtos geneticamente modificados.
6.
Manter as
medidas de apoios às produções locais dos Açores a cargo do POSEI (Programa de
Operações Específicas para o Afastamento e a Insularidade nas Regiões
Ultra-periféricas)
7.
Reforçar os
apoios à agricultura biológica e fomentar a sua expansão.
8.
Apoio à
produção de beterraba e construção de uma nova fábrica para a Sinaga.
9.
Transformar
num novo tipo de apoio à produção o subsídio para abandono da actividade
agrícola, com a qual a União Europeia pretende reformar à força os produtores
agrícolas dos Açores.
10.
Proteger a
Reserva Agrícola Regional do assalto da construção civil e dos patos bravos.
11.
Uma nova lei
do arrendamento rural que proteja a entrada dos jovens na actividade agrícola.
12.
Requalificar
toda a rede regional de Matadouros.
21.08.2016
Arnaldo Matos
Em Defesa do Povo e da Ilha do Pico!
Toda a gente sabe que a Ilha do Pico é, em termos de superfície, a segunda
maior ilha do arquipélago dos Açores, com 447 km2, mas que, em termos de população, é
apenas a quarta ilha, com 14 144 habitantes, e, em termos de riqueza produzida,
contribui para a riqueza da Região Autónoma com apenas 5,7% do produto interno
bruto, bem atrás da riqueza produzida por São Miguel, Terceira e Faial.
A segunda maior ilha dos Açores está a ficar despovoada por falta de rendimentos
e de emprego e pela consequente fuga da sua população para a emigração.
E ninguém põe cobro a isto: em quarenta anos de autonomia, nem os governos
regionais de Mota Amaral e do PSD, nem os governos regionais do PS, de Carlos
César e de Vascos Cordeiro, travaram este descalabro.
Mas isto tem solução!
O erro político que está a levar ao desemprego, ao empobrecimento e ao
despovoamento da segunda maior ilha dos Açores está na maneira como os
sucessivos governos regionais entenderam o regime autonómico e o aplicaram.
Tal como a entendem e a aplicam, a autonomia só tem servido para enriquecer
e fortalecer a grande burguesia açoriana exploradora, fixada sobretudo em Ponta
Delgada e em Angra. Todo o dinheiro que vem do orçamento da República e dos
subsídios da União Europeia vai bater aos bolsos da classe dominante
exploradora, não escapando nada, ou escapando muito pouco, para o povo açoriano
que vive nas outras sete ilhas dos Açores.
Politicamente, a Ilha do Pico não existe; a Ilha do Pico só existe administrativamente,
como um conjunto de três concelhos: Lajes do Pico, Madalena e São Roque do
Pico. Cada concelho toca o seu instrumento, mas a Ilha do Pico, no seu todo,
não tem nenhum instrumento nem orquestra para tocar a sua música. A divisão
administrativa da Ilha do Pico é a maneira que a classe dos capitalistas de
Ponta Delgada e da Terceira encontrou para reinar sobre o Pico e o seu povo.
O Pico tem falta de tudo! Senão, vejamos:
1. O Pico não tem Hospital!
O sistema do serviço nacional de saúde, na sua aplicação às nove ilhas da
Região Autónoma dos Açores, tem de ser totalmente modificado.
Compreende-se que exista um grande hospital para toda a Região, dotado de
todos os serviços e valências médicas e cirúrgicas, mas então um tal hospital
não deve estar centrado em Ponta Delgada, porque, em Ponta Delgada, serve
apenas a grande burguesia que lá reside.
Um tal hospital deve estar o mais aproximadamente possível estabelecido no
centro geográfico do arquipélago: Pico, São Jorge ou Terceira, nunca em São Miguel.
A constituição de um grande e bem apetrechado hospital para toda a Região
Autónoma dos Açores não isenta o governo regional e o governo da República da
obrigação de criar em cada ilha do arquipélago um pequeno hospital embora – e
não um simples posto médico, como é a ideia central do governo da Região.
Um pequeno hospital, todavia, apetrechado para acorrer e tratar com
capacidade, competência e sucesso, designadamente no campo cirúrgico, as
doenças mais comuns.
É evidente para todos que o futuro económico dos Açores passa
necessariamente pelo turismo. Em termos de turismo futuro, o governo regional
tem desde já de dotar todas as ilhas das infraestruturas necessárias ao
desenvolvimento do turismo em cada ilha, pois, de contrário, o turismo
limitar-se-á a São Miguel e à Terceira, liquidando definitivamente as outras
sete ilhas dos Açores.
Ora, o Pico é uma das ilhas açorianas que dispõe de maiores recursos
naturais para sustentar uma grande indústria turística, desde a pesca e
desportos marítimos até o turismo de natureza, de montanha e de neve.
Mas não terá nunca turistas em quantidade e qualidade se não dispuser de um
hospital – pequeno, embora – capaz de tratar os turistas nas doenças e
acidentes mais comuns. Para o futuro económico da Ilha do Pico, a existência de
um pequeno hospital, devidamente apetrechado nas principais valências médicas e
cirúrgicas, é uma exigência estratégica.
Contudo, o governo regional inaugurou há pouco no Pico uma unidade de
saúde insular, que todavia já não funciona, obrigando a população picuense
a ir tratar-se à cidade da Horta, do outro lado do canal…
O Pico precisa e exige o seu próprio hospital. Se há concelhos no
continente, fora de Lisboa, Porto e Coimbra, que têm o seu próprio hospital,
porque é que a ilha e o povo do Pico não hão-de ter também hospital próprio
seu? E porque terão de ir tratar-se à ilha mais próxima, ainda por cima numa unidade
de saúde que não merece sequer esse nome?
2. Os Agricultores do Pico não têm Ajuda!
Também sem a agricultura, a agro-pecuária e os lacticínios, não terá futuro
a economia da ilha do Pico. Nem só de turismo poderão viver os Açores.
Desde logo, precisam de ajuda governamental os viticultores, pois a própria
paisagem da vinha é uma área protegida do património mundial, cuja manutenção
custa caro aos proprietários das vinhas.
Acontece que os habitantes do Pico se dedicam a uma agricultura muito
especial (produtos hortícolas, fruta e cereais), que é cada vez mais rara nos
Açores de hoje, mas que se torna absolutamente necessária para a subsistência
da Região, a qual cada vez mais importa esse tipo de produtos agrícolas. Têm
pois os agricultores o direito a receber do governo regional os apoios
necessários que permitam a esses produtos resistir à concorrência de iguais
produtos externos, provenientes de países europeus como a Espanha e a França.
O Queijo do Pico - denominação de origem protegida adquirida há
vinte anos para o queijo português oriundo da Ilha do Pico – corre também
riscos muito sérios de sobrevivência, por várias ordens de razões.
Desde logo, porque foi retirado aos produtores de leite açorianos a quota
de produção a que tinham direito, podendo pois acontecer que os produtores de
leite de vaca da ilha do Pico sejam cilindrados pela concorrência de produtores
de leite mais barato e tenham de desistir da produção: a União Europeia está já
a estimular a desistência dos produtores açorianos, conferindo-lhes subsídios
de reforma para esse efeito.
Mas por outro lado, o TTIP – sigla inglesa pela qual é conhecido na Europa
o tratado dito de livre comércio entre os Estados Unidos da América e a União
Europeia (Transatlantic Trade and Investment Partnership) – põe
definitivamente termo às denominações dos queijos europeus de origem protegida
(DOP), como é o caso do Queijo do Pico.
Com efeito o Queijo do Pico é fabricado com leite de vaca cru da
Ilha do Pico, curado por um processo especial de esgotamento vagaroso da
coalhada de coalho animal. O governo da República, com a cobertura silenciosa
de um governo regional traidor dos açorianos, prepara-se para assinar com o
imperialismo ianque esse tratado de vende-pátrias que desferirá um golpe de
morte sobre o Queijo do Pico e o Queijo da Ilha, este último de
São Jorge e substancialmente diferente do do seu vizinho a sul.
Em matéria de queijos, o TTIP obrigará os europeus a comer unicamente
queijo limiano de tipo americano…
É preciso que os picuenses, em defesa do seu excelente queijo, se levantem
desde já contra a armadilha montada pelo governo regional de Vasco Cordeiro e
pelo governo central de António Costa.
3. Em defesa dos Pescadores do Pico!
Os pescadores do Pico estão, a vários títulos, descontentes com o governo
regional, o secretário regional das pescas e as instituições dependentes do
governo e relacionadas com as pescas.
Nos últimos cinco anos, registou-se uma diminuição substantiva da pesca e
do valor do pescado descarregado nas lotas dos Açores. A diminuição do peso do
pescado capturado deve-se, em parte, à diminuição unilateral das quotas de
pesca pelas instituições europeias, sem oposição eficaz da parte dos governos
central e regional e sem fiscalização competente da armada portuguesa, que tem
permitido a pesca ilegal de embarcações, sobretudo espanholas, na zona
económica exclusiva. Nestes cinco anos, entre 2010 e 2015, a diminuição do peso
do pescado descarregado nas lotas açorianas foi de 50% (18 344 toneladas em
2010, para 9 156 toneladas em 2014).
Diminuiu a pesca mas não só não aumentou como diminuiu também o valor do
pescado descarregado, em média 1,34 euros por quilograma, o que só pode
atribuir-se ao um funcionamento do mercado, manipulado pela Lotaçor.
Acontece, para piorar toda esta situação, que precisamente a Ilha do Pico
foi aquela das ilhas açorianas que viu crescer o número dos seus pescadores, e
a quantidade de embarcações de pesca, novas ou requalificadas, com mais de 12
metros de comprimento de fora a fora.
As comunidades piscatórias da ilha do Pico têm sofrido mais do que ninguém
com esta situação de crise.
Sendo ainda certo que a Lotaçor retém, por períodos quase nunca
inferiores a três semanas, o pagamento aos pescadores e armadores do pescado
vendido em lota, o que cria situações de ruptura económica extrema na vida das
famílias dos pescadores.
As comunidades piscatórias da Ilha do Pico têm passado um período muito mau
na sua vida.
Ora, os pescadores do Pico exigem:
O pagamento imediato pela Lotaçor do pescado vendido em lota.
A fiscalização permanente da Força Aérea e da Marinha Portuguesa sobre a
pesca ilegal das embarcações de pesca estrangeiras nas águas da zona económica
exclusiva dos Açores.
Uma firme e combativa renegociação das quotas de pesca pelo governo
regional e pelo governo central junto das entidades europeias.
A proibição de pescar nas águas dos Açores a embarcações de outros países,
com o respeito devido pelo estatuto de ultraperiferia e insularidade da
população dos Açores.
4. Porque é que a Universidade dos Açores não estabelece nenhum pólo
universitário na Ilha do Pico?!
Sabe-se como a existência de universidade ou de pólo universitário em duas ou
três ilhas dos Açores contribuiu para o desenvolvimento económico, cultural e
social dessas ilhas.
Não se compreende nem se aceita que a Universidade dos Açores esteja
limitada, como está ainda, à Terceira e a São Miguel. A Ilha do Pico, segunda
maior do arquipélago, tem todo o direito a ver instalado no seu território um
dos pólos específicos da Universidade dos Açores.
5. Contra o Isolamento da Ilha do Pico
Após quarenta anos de regime autonómico, a ilha do pico continua quase tão
isolada das restantes ilhas açorianas como o estava quando Gonçalo Velho chegou
pela primeira vez à ilha de Santa Maria, em 1431…
Com efeito, embora a ilha do Pico disponha, desde 1982, de um pequeno
aeroporto, com uma pista asfaltada de 1 760 metros, a verdade é que ainda hoje
não tem voos regulares diários para as outras ilhas do arquipélago. Os únicos
contactos directos que ainda hoje mantém, são os mesmos que já mantinha no
tempo de Gonçalo Velho: com o Faial, a ilha do sul, do outro lado do canal, a
oito quilómetros de distância.
Ora, o governo autonómico já teve mais que tempo suficiente para
estabelecer e estabilizar as ligações aéreas e marítimas diárias entre as ilhas
dos Açores. A estrutura básica para o desenvolvimento económico da Região
Autónoma dos Açores assenta nos transportes regulares diários entre cada ilha e
todos as outras ilhas do arquipélago, por mar e pelo ar.
A Sata, transportadora aérea açoriana, empresa pública regional, não
foi capaz de estabelecer até hoje uma rede de voos aéreos susceptível de ligar entre
si, como um único território nos seus 100 000 km2 de mar, as nove ilhas dos Açores.
O resultado desta errónea política da ausência de ligações e transportes
duplos – marítimos e aéreos – é que dentro de vinte anos, seis ilhas dos Açores
estarão completamente despovoadas.
Uma dessas ilhas será a do Pico. A menos que os picuenses arregacem as
mangas e resolvam por si os seus próprios problemas, jamais os deixando em mãos
das elites das classes capitalistas instaladas na Terceira e em São Miguel.
6. O Turismo
A ilha do Pico reúne condições privilegiadas para se constituir num dos
principais pólos de desenvolvimento da indústria turística.
O seu riquíssimo património paisagístico, marítimo, geológico e cultural
poderão transformar esta ilha na única capaz de competir, em igualdade de
circunstâncias de base, com a ilha de São Miguel.
7. Comunicações Modernas
O Pico carece totalmente de um sistema de comunicações modernas, base
absoluta de qualquer desenvolvimento económico, científico e cultural futuro.
A ilha do Pico não tem, como a maior parte das ilhas dos Açores, um sistema
de comunicação por cabo para televisão, telefone, internete e demais
componentes de comunicação digital.
Não dispõe ainda de um sistema de comunicação telefónico dentro da ilha e
entre as ilhas do arquipélago.
A internete não está acessível nem para comunicações regulares com o Pico
ou do Pico para o exterior. Neste domínio, o Pico permanece na idade média.
Hoje, o desenvolvimento é impossível sem investir devidamente no inadiável
sector das comunicações.
25.08.2016
Comité Regional dos Açores do PCTP/MRPP
É Preciso Salvar o Povo de São Jorge
Da incompetência e Opressão dos Governos Regionais
Atenção Jorgenses!
Vai haver eleições legislativas regionais este ano, em 16 de Outubro, e é
este ano que temos de começar a resolver por nós mesmos os nossos próprios
problemas, até agora entregues a terceiros que pouco ou nada têm que ver
connosco.
O nosso primeiro e principal problema é que, em consequência da errónea
aplicação do sistema autonómico pelos sucessivos governos regionais do PSD e do
PS, os Açores perderam, nos últimos quarenta anos, 42 351 habitantes.
Sete ilhas dos Açores estão em vias de ficar sem gente. E uma delas é
precisamente São Jorge! Qualquer dia, será mais difícil encontrar um Jorgense
do que um priolo.
Entre os últimos dois censos populacionais, que se realizaram em 2001 e
em2011, a população global dos Açores teve um pequeno acréscimo de 2,06%, mas
São Jorge continuou a descer, perdendo mais 7% da sua população, que hoje é de
apenas 8 997 pessoas.
O que cresce, cada vez mais, é a população de duas das nossas ilhas – São
Miguel e a Terceira – onde presentemente se concentra 80% dos açorianos.
A razão de ser deste descalabro, que levará inevitavelmente ao despovoamento
de sete das nossas ilhas, é o açambarcamento da autonomia
político-administrativa pela burguesia capitalista açoriana, estabelecida em
São Miguel e na Terceira. Todas as vantagens do sistema autonómico, pelas quais
lutaram, ao longo de séculos, as populações de todas as ilhas, ficaram nas mãos
da classe burguesa capitalista reaccionária dominante, concentrada em Ponta
Delgada e em Angra, e as outras ilhas ficaram ainda com menos poderes do que os
que tinham nos tempos dos três distritos autónomos de Ponta Delgada, Angra e
Horta.
Temos dois concelhos – Calheta e Velas – com competências meramente
administrativas, mas não temos uma ilha politicamente organizada e gerida como
um todo. Cada concelho toca a sua viola, mas São Jorge não tem instrumento nem
orquestra para tocar a música que convém a toda a ilha.
Em si, e sozinha, São Jorge tem, como ilha, um único direito, que é aliás
um dever: receber uma vez por ano a chamada visita estatutária do governo…
Para acabar com esta bandalheira que vai necessariamente conduzir ao
despovoamento de sete das nove ilhas dos Açores é preciso alterar o Estatuto da
Autonomia, conferindo poderes político-administrativos a cada ilha açoriana. E
cada uma dessas ilhas, em vez de um conselho corporativo salazarento destinado
a receber as visitas anuais do governo regional, deve ter um conselho político
da ilha, encarregado da respectiva direcção e escolhido por sufrágio eleitoral
directo.
Se os Jorgenses não tomarem a direcção da sua ilha em mão, ficarão
condenados a desaparecerem.
O Conselho de Ilha deve receber uma parte dos poderes autonómicos que hoje
se mostram açambarcadas pelo governo regional da burguesia capitalista
exploradora e opressora dos trabalhadores açorianos em Ponta Delgada e em
Angra.
Entretanto, há certos assuntos cuja resolução os Jorgenses devem exigir
imediatamente, Senão vejamos:
1. O Aeródromo Não Serve São Jorge
São Jorge é uma das mais belas ilhas dos Açores, e terá um grande futuro
económico, turístico, cultural e social, contanto que os Jorgenses repudiem as
políticas liquidacionistas dos sucessivos governos regionais e defendam, com
unhas e dentes, os interesses próprios.
São Jorge não tem um aeroporto, mas um aeródromo – um apeadeiro aéreo, para
sermos mais precisos – uma estrutura aeroportuária situada na Fajã do Queimado,
em Santo Amaro, a poucos quilómetros da vila de Velas, a capital da ilha.
A pista do Aeródromo, inaugurada há 33 anos, tem 1 555 metros de
comprimento, com as bizarras limitações e insuficiências de que, para aterrar,
só se podem usar 1 270 metros da pista e, para descolar, só se podem usar 1 412
metros!...
Ora, São Jorge precisa de um verdadeiro aeroporto que permita ligar a ilha,
por via aérea, com todas as outras ilhas do arquipélago e com o exterior,
nomeadamente, com a Região Autónoma da Madeira, com as Canárias e com o
continente português.
É a falta de uma autêntica infra-estrutura aeroportuária moderna,
susceptível de receber aviões a jacto de médio porte, que está a asfixiar a
economia e o progresso da ilha de São Jorge.
Note-se que, mesmo com o actual e ridículo apeadeiro aéreo, São Jorge
movimentou no ano passado 53 708 passageiros. Imagine-se quantos teria
movimentado, se dispusesse de um aeroporto de tipo médio, capaz de operar
aviões a jacto, com capacidade para 250/300 passageiros.
São Jorge exige ao governo regional um aeroporto médio, com essas
características, para poder desenvolver-se economicamente.
2. A Sata Prejudica São Jorge!
Mas se a estrutura aeroportuária, pelas suas insuficiências ténicas, de segurança
e de conforto, prejudica a população e a economia de São Jorge, a Sata
prejudica-os ainda muito mais.
A Sata, transportadora aérea açoriana, uma empresa de capitais
regionais gerida pelo governo local, é a única transportadora aérea a operar o
aeródromo de São Jorge.
A frequência dos voos da Sata de e para São Jorge é totalmente
insuficiente e, além disso, operados por aviões demasiado pequenos, que não dão
resposta ao volume da procura de viagens aéreas e de carga.
De mais a mais, a Sata não respeita os seus próprios horários de voo
e, seja por invocadas condições climatéricas, seja por alegadas ocorrências
operacionais, a Sata cancela um número inadmissivelmente elevado de
voos, asfixiando a vida económica dos Jorgenses.
Cidadãos que têm de deslocar-se a outras ilhas para efeitos de assistência
e tratamento médico-cirúrgico, nunca sabem quando podem sair e, muito menos,
quando podem voltar a São Jorge.
Pescadores que precisam, sempre com a urgência imposta pelo consumo fresco
do pescado, de expedir para as outras ilhas do arquipélago e para os mercados
do continente as suas capturas, veêm estragar-se o produto do seu trabalho pelo
cancelamento inapropriado dos voos aéreos ou pela incapacidade de transporte
dos pequenos aviões da Sata.
Os operadores turísticos da ilha, que não conseguem receber a tempo os seus
clientes nem garantir-lhe transporte para as outras ilhas do arquipélago, veêm
falir sem apelo nem agravo os seus investimentos.
Estudantes que nunca conseguem chegar a tempo de fazer as suas férias em
família nem regressar a tempo às universidades estão praticamente fechados na
ilha.
A Sata, com a colaboração do governo regional de Vasco Cordeiro,
está impunemente a asfixiar a liberdade e mobilidade da população e a
estrangular a economia da ilha de São Jorge.
A Sata e o governo regional, seu accionista e administrador, têm de
cumprir escrupulosamente os voos e horários fixados, e mais: têm de operar o
aeródromo de Santo Amaro, enquanto não for requalificado e transformado num
autêntico aeroporto – como também se exige – com aviões com maior capacidade de
carga e de passageiros, assim como estabelecer voos diários de e para todas as
ilhas dos Açores, sobretudo na metade do ano mais propícia às pesca e ao
turismo. E têm de garantir um voo diário que permita colocar no mercado
abastecedor de Lisboa, o pescado capturado pelos pescadores de São Jorge.
3. O Problema Nunca Resolvido dos Portos de São Jorge
Para além de uma infra-estrutura aeroportuária que terá de ser ampliada e
requalificada, São Jorge necessita de uma outra infra-estrutura vital, cuja
construção vem sendo muito prometida e sempre adiada nos últimos quarenta anos:
a infra-estrutura portuária, para portos de pesca e de passageiros.
A geomorfologia vulcânica da ilha, faz de São Jorge uma belíssima criação
da natureza. Mas sendo uma ilha comprida (55 quilómetros desde a Ponta dos
Rosais até ao ilhéu do Tojo) estreita (6,7 quilómetros na largura máxima) e
montanhosa (cordilheira central à altura dos oitocentos metros em média), exige
um sistema portuários não só para as ligações com as outras ilhas, como para as
suas próprias ligações com as comunidades ao longo da costa da ilha.
A ilha de São Jorge é a ilha das arribas, das falésias e das fajãs. Algumas
das comunidades que vivem nas oitenta e uma fajãs já contadas da ilha só podem
ser abordadas por mar ou por caminhos pedestres ao longo das arribas e
falésias.
A falta de portos transformou em ilhas as populações isoladas de algumas
das fajãs.
O porto de Velas, na costa sul da ilha, está actualmente apetrechado com uma
pequena marina e pode receber embarcações de pesca e de passageiros.
De qualquer modo, a sua cota média de profundidade, que roça os dez metros,
não permite a atracagem de paquetes nem de cargueiros, e, sem estes últimos, é
impossível o abastecimento regular da ilha.
O porto do Tojo, na extremidade oeste da ilha, faz parte das tais promessas
eleitorais sempre repetidas, - e o governo de Vasco Cordeiro voltou a
prometê-lo este ano – mas nunca cumpridas.
São Jorge não tem ainda um porto viável para o estabelecimento de ligações
marítimas com a vizinha do norte, a ilha Terceira.
Ou seja: os governos regionais da burguesia capitalista instalada em Ponta
Delgada, cortaram, nos últimos quarenta anos, o desenvolvimento económico da
talvez mais bela ilha dos Açores, asfixiando São Jorge por e mar e por terra.
4. O Governo Abandonou os Agricultores de São Jorge
A agro-pecuária e os laticínios têm constituído até agora a base dos
rendimentos da população e da economia de São Jorge. Mas, com a inesperada,
unilateral e violenta eliminação das quotas leiteiras pelos gestores da
política agrícola comum da União Europeia, sem uma clara, firme e decidida
oposição do governo regional e do governo central, os mercados europeus
fecharam-se ao leite e à carne açorianas.
O preço do leite desceu vertiginosamente para os 19 e 23 cêntimos por
litro, liquidando os rendimentos das agro-pecuárias e a estabilidade da nossa
economia.
O governo regional tarda em adoptar medidas que venham em socorro da
agricultora e da agro-pecuária dos Açores e, portanto, das suas ilhas mais
afectadas, como sucede precisamente com São Jorge.
Dentro em breve, não haverá em São Jorge leite para produzir o famoso Queijo
de São Jorge, que é o mais notável produto de marca da indústria dos
Açores.
Quanto ao Queijo de São Jorge, é dupla a ameaça que sobre ele
impende, pois para além do perigo proveniente da falta da matéria-prima – o
leite produzido nas pastagens da ilha – corre também o perigo de a União
Europeia, sem a mínima oposição e com toda a tolerância do governo regional e
do governo central da república, seus lacaios, vir a assinar com os Estados
Unidos da América o TTIP – tratado de comércio transatlântico – o qual elimina
todas as denominações de origem protegida (DOP), como aquela que até hoje sempre
consagrou a alta qualidade do nosso queijo.
Ora, para além de exigir aos governos regional e da república que o nosso
País não assine nem ratifique o tratado de comércio já negociado entre o
imperialismo ianque e o imperialismo europeu, os agricultores portugueses, em
geral, e os jorgenses, em particular, devem continuar a exigir os apoios que
sempre tiveram até agora para poderem continuar a sua produção.
5. A Lotaçor Não Serve o Pescador
Na Região Autónoma dos Açores, a entidade credenciada para efectuar a
primeira venda do pescado fresco ou congelado nos portos do arquipélago é a Lotaçor.
A Lotaçor é uma sociedade anónima de capitais públicos regionais.
Fixando taxas e preços de monopólio, a Lotaçor é uma sociedade
parasitária, que vive à custa do trabalho do pescador.
E não serve o pescador.
No caso dos pescadores de São Jorge, esse prejuízo exploratório imposto ao
pescador é obvio, pelo que não há um único pescador que tolere a Lotaçor.
Para estabelecer ferreamente o seu monopólio, a Lotaçor mantém uma
única lota em toda a ilha de São Jorge, no porto de Velas.
Com uma única lota para todo a ilha, e sendo a ilha geomorfologicamente uma
ilha comprida de 55 quilómetros e estreita de 6,7 km como largura máxima, os
pescadores jorgenses que estejam a pescar ao norte da ilha terão de navegar
setenta quilómetros ou mais para leiloar e vender as suas capturas.
Nalguns casos será mais económico ir vender o pescado à ilha do Pico do que
ao Porto de Velas. A Lotaçor devia abrir mais lotas noutros portos da
ilha de São Jorge, como aliás já houve.
A Lotaçor tem também o mau hábito, aliás absolutamente ilegal, de
pagar o pescado tomado em lota com, por vezes, três semanas de atraso ao
pescador e ao armador.
E não contente com toda esta prepotência, acontece que a Lotaçor é
useira e vezeira em demorar a entrada do peixe em lota, prejudicando assim o
preço de venda das capturas, o que faz propositadamente!
Toda a gente sabe que se a lota demora o pescado perde valor.
Todas estas manipulações ilegais da Lotaçor explicam por que é que
nos últimos cinco anos, apesar da diminuição de quase 40% da tonelagem das
capturas, o pescador, em vez de ver subir o preço do pescado vendido em lota,
perdeu em média 1,34 euros por quilograma.
Os pescadores de São Jorge, que são dos mais competentes pescadores do
arquipélago, exigem o fim da exploração pela Lotaçor, e desde já
reivindicam:
mais lotas em portos jorgenses;
pagamento a pronto do pescado vendido em lota;
abertura das lotas nunca depois das 07H00 (sete horas da manhã);
6. A Unidade das Operárias Conserveiras
Há nos Açores cinco grandes empresas de conserva de peixe:
2 da Cofaco, que fabricam o atum de conserva Bom Petisco, uma
no Pico e outra em São Miguel.
1 da Sociedade Correctora, em São Miguel
1 da Pescatum, na Terceira
1 da Conservas de Atum Santa Catarina, na Calheta, em São Jorge.
Em certas épocas do ano, as cinco conserveiras açorianas agrupam, no seu
conjunto, para cima de mil operários, mais de 90% dos quais são operárias.
O núcleo forte do proletariado açoriano está nestas cinco fábricas, e esse
proletariado é um proletariado de mulheres.
Uma dessas fábricas é de capitais públicos regionais, precisamente a Sociedade
de Conservas de Atum Santa Catarina.
Estas mulheres ganham abaixo do salário mínimo nacional e trabalham, no
mínimo, quarenta horas por semana, por turnos, sem pagamento de horas
extraordinárias e sem pagamento dos salários das horas extraordinárias.
As operárias e os operários conserveiros devem criar a sua Associação
Açoriana das Operárias Conserveiras, unindo todas as trabalhadoras das cinco
fábricas de conservas das ilhas dos Açores, numa única e poderosa organização.
E o PCTP/MRPP exige que o governo regional dos Açores lhes reconheça e aceite,
desde já na fábrica de Santa Catarina, que é uma fábrica de capitais
públicos regionais:
O salário mínimo de 600 € mensais;
A semana das 35 horas;
O pagamento das horas extraordinárias;
O descanso semanal ao sábado e ao domingo;
O pagamento do salário integral nos períodos em que não tiverem trabalho
por falta de matéria-prima.
Viva a Associação Açoriana das Operárias Conserveiras!
7. A Ilha das Fajãs
Estão contadas oitenta e uma fajãs na ilha de São Miguel, que é conhecida,
ela própria, como a ilha das arribas, das falésias e das fajãs.
A fajã é um acidente geológico que resulta de um desabamento de terras, de
rochas ou de lavas, em suma, um desabamento de detritos das arribas e falésias
da ilha, formando pequenas planícies naturais costeiras ou de meia encosta,
algumas delas habitadas e quase todas aproveitadas para a produção agrícola.
A algumas destas fajãs só se acede por mar; outras por caminhos
vertiginosos traçados nas próprias arribas e falésias.
Este espectáculo único da natureza – as falésias de São Jorge – foi
classificado no dia 19 de Março passado, em Lima, no Perú, como Reserva Mundial
da Biosfera e passou a integrar o património mundial.
Para preservar este património único serão necessários investimentos
colossais a obter dos orçamentos do governo regional, do governo da república e
dos fundos da União Europeia para protecção da natureza e do ambiente.
Os ecossistemas e paisagens das fajãs são de uma extrema vulnerabilidade e
a sua manutenção e conservação exigem grandes e contínuos investimento, que os
governos regional e central não parece terem pressa em garantir.
8. São Jorge não tem Hospital!
O sistema do serviço nacional de saúde, na sua aplicação às nove ilhas da
Região Autónoma dos Açores, tem de ser totalmente modificado.
Compreende-se que exista um grande hospital para toda a Região, dotado de
todos os serviços e valências médicas e cirúrgicas, mas então um tal hospital
não deve estar centrado em Ponta Delgada, porque, em Ponta Delgada, serve
apenas a grande burguesia que lá reside.
Um tal hospital deve estar, o mais aproximadamente possível, estabelecido
no centro geográfico do arquipélago: Pico, São Jorge ou Terceira, nunca em São
Miguel.
A constituição de um grande e bem apetrechado hospital para toda a Região
Autónoma dos Açores não isenta o governo regional e o governo da República da
obrigação de criar em cada ilha do arquipélago um pequeno hospital embora, e
não um simples posto médico, como é a ideia central do governo da Região.
Um pequeno hospital, todavia, apetrechado para acorrer e tratar com
capacidade, competência e sucesso, designadamente no campo cirúrgico, as
doenças mais comuns.

Ora, São Jorge é uma das ilhas açorianas que dispõe de maiores recursos
naturais para sustentar uma grande indústria turística, desde a pesca e
desportos marítimos até o turismo de natureza.
Mas não terá nunca turistas em quantidade e qualidade se não dispuser de um
hospital – pequeno embora – capaz de tratar os turistas nas doenças e acidentes
mais comuns. Para o futuro económico da Ilha de São Jorge, a existência de um
pequeno hospital, devidamente apetrechado nas principais valências médicas e
cirúrgicas, é uma exigência estratégica.
Trata-se de uma infra-estrutura urgentíssima, pois os Jorgenses de todas as
idades têm de deslocar-se às outras ilhas para todas as consultas de
especialidade
médico-
-cirúrgicas, e para os exames médicos complementares, sem
todavia ter um sistema de transportes marítimo e aéreo que lhes permita
satisfazer essas necessidades básicas.
São Jorge precisa e exige o seu próprio hospital. Se há concelhos no
continente, fora de Lisboa, Porto e Coimbra, que têm o seu próprio hospital,
porque é que a ilha e o povo de São Jorge não hão-de ter também hospital
próprio seu? E porque terão de ir tratar-se à ilha mais próxima, ainda por cima
em unidades de saúde que não merecem sequer esse nome?
9. Porque é que a Universidade dos Açores não estabelece nenhum pólo
universitário na Ilha de São Jorge?!
Sabe-se como a existência de universidade ou de pólo universitário em duas
ou três ilhas dos Açores contribuiu para o desenvolvimento económico, cultural
e social dessas ilhas.
Não se compreende nem se aceita que a Universidade dos Açores esteja
limitada, como está ainda, à Terceira e a São Miguel. A Ilha de São Jorge,
quarta maior do arquipélago, tem todo o direito a ver instalado no seu
território um dos pólos específicos da Universidade dos Açores.
10. O Turismo
A ilha de São Jorge reúne condições privilegiadas para se constituir num
dos principais pólos de desenvolvimento da indústria turística.
O seu riquíssimo património paisagístico, marítimo, geológico e cultural
poderão transformar esta ilha na única capaz de competir, em igualdade de
circunstâncias de base, com a ilha de São Miguel.
11. Comunicações Modernas
São Jorge carece totalmente de um sistema de comunicações modernas, base
absoluta de qualquer desenvolvimento económico, científico e cultural futuro.
A ilha de São Jorge não tem, como a maior parte das ilhas dos Açores, um
sistema de comunicação por cabo para televisão, telefone, internete e demais
componentes de comunicação digital.
Não dispõe ainda de um sistema de comunicação telefónico dentro da ilha e
entre as ilhas do arquipélago.
A internete não está acessível nem para comunicações regulares com São
Jorge ou de São Jorge para o exterior. Neste domínio, os Jorgenses permanecem
na idade média.
Hoje, o
desenvolvimento é impossível sem investir devidamente no inadiável sector das
comunicações.
29.08.2016
Arnaldo Matos
Um documento extraordinário de grande alcance patriótico e de verdadeira independência nacional proposto pela candidatura regional do PCTP/MRPP, assim o heroico povo açoriano o adopte.
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