Troca defesa dos inquilinos pela gestão dos interesses
dos senhorios!

Em mais do
que uma ocasião e em mais do que um forum – mormente o I Encontro de Inquilinos
que decorreu no cinema S. Jorge, em Lisboa, durante o governo Passos/Portas –
batemos-nos por que as associações de inquilinos de todo o país confrontassem o
provedor de justiça e os partidos de esquerda que se diziam opor a tal lei,
para que suscitassem, junto do Tribunal Constitucional, a fiscalização
sucessiva da Lei que passou a ser designada como NRAU.

É por isso
que a recente preocupação da Associação
de Inquilinos Lisbonenses (AIL), com o facto de os arrendatários idosos estarem
a ser pressionados por senhorios gananciosos e sem escrúpulos, a abandonarem as
suas casas para as poderem arrendar a turistas, não pode ser considerada senão
pura hipocrisia e oportunismo.
E, no que
concerne oportunismo e hipocrisia, não está só esta Associação que se arroga
defender os interesses dos inquilinos quando, simultaneamente, se presta a gerir os condomínios privados de
senhorios.
Para cúmulo
da hipocrisia e do oportunismo mais vesgo, num documento agora enviado ao
governo e aos partidos políticos, a direcção da AIL, escamoteando o facto de ser
a NRAU – ou, como é melhor conhecida, a lei dos despejos - que deve ser
revogada para que não se abatam sobre os inquilinos as ameaças e execuções de
ordens de despejo, enumera as alterações que devem ser introduzidas nessa lei iníqua.
Desde logo, pasme-se,
uma alteração ao actual regime jurídico do arrendamento para turistas,
apresentando um conjunto de propostas para restringir e regular a actividade do
arrendamento de curta duração!!! Isto é, uma regra que impossibilitasse a
utilização para alojamento local ou para outros
fins de casas ou apartamentos destinados a habitação...sem que, antes
disso, as câmaras municipais dessem consentimento a essa alteração de uso!!!
Ou seja, não
satisfeitos com o arbítrio que a NRAU instalou, abrem as portas a novas
arbitrariedades, conluios e corrupção, ao colocar nas mãos das vereações
camarárias a decisão de determinar quais as casas às quais não se poderia dar
outra utilização que não a de habitação, fazendo crer que, ao ser limitada essa
possibilidade a 50% do número de
apartamentos que, num mesmo prédio, podem ser destinados ao arrendamento para
turistas, tal pressuposto defenderia os interesses dos inquilinos que se
arroga representar.

Em matéria
de oportunismo não está a AIL só! Não! Nisso estão bem acompanhados! Desde
logo, pelo pai da Lei original do
arrendamento – o PS –, lei que, já antes das alterações formais introduzidas
pela Cristas e pelo governo de traição nacional PSD/CDS, possibilitava esta
hecatombe.
Depois,
pelas muletas do actual governo – PCP, BE e Os Verdes – que durante a vigência
do executivo Passos/Portas/Cavaco se opôs veementemente contra a fiscalização
sucessiva da Lei do Arrendamento pelo Tribunal Constitucional e que agora,
sobre a lei em causa, a vota ao mais sepulcral dos silêncios, quando não – pior
ainda – tenta dourar a pílula do despejo eminente e irreversível que ela dita,
com uma palhaçada a que chama extensão de
prazo.

Nada está
perdido! O que é necessário é que os inquilinos se organizem, quer nas suas
Comissões de Moradores – criando-as onde elas não existam ainda -, quer nas
suas associações – demitindo das suas direcções os oportunistas que as tem
conduzido a becos sem saída,
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