Mais uma campanha de caridadezinha burguesa decorre durante este primeiro fim de semana de Dezembro. Muito a
propósito durante a época natalícia que agora se inicia, acontece mais uma
acção de recolha de alimentos para o Banco
Alimentar que, segundo as
anunciadas previsões, baterá todos os recordes de anteriores recolhas.
Sendo importante para aqueles
milhares de pobres que, resultado desta campanha irão ver mitigados – mas não
resolvidos – os problemas de pobreza q ue enfrentam e lhe são impostos, quem
exulta de contentamento, cada vez que uma acção destas ocorre, são os proprietários
dos supermercados onde centenas de voluntários recolhem alimentos
pré-estabelecidos.
Isto possibilita aos gestores de tais
cadeias prevenir com antecedência a gestão de stock mais adequada à satisfação
desta procura excepcional e prever os lucros fabulosos que irão arrecadar. Sim,
porque, como dizia o outro, caridade, caridade...negócios à parte! Tão
caridosos que os Belmiros, os Jerónimos Martins e outros, são e, no entanto,
nem um descontozinho caridoso se dispõem a considerar.
Idêntica atitude caridosa,
aliás, tem o estado – esse gestor dos interesses dos capitalistas e da
burguesia em geral. Tratando-se de uma acção solidária e pretensamente caridosa
seria de esperar que António Costa e as suas muletas do PCP, BE, Verdes e,
agora, PAN, se dispusessem a suspender a cobrança de IVA para os produtos que
fossem adquiridos para uma campanha com esta natureza e fim. Mas, nada disso!
É cada vez mais claro que a caridadezinha burguesa em que
assentam iniciativas deste tipo, mas não só, para além de outros objectivos,
visam sobretudo adormecer e inebriar a consciência dos trabalhadores
e do povo quanto às verdadeiras causas das condições de fome e de miséria para
que foram atirados por um sistema que assenta na exploração do homem pelo homem
e no sacrossanto lucro.
Num momento em que, fruto das consequências decorrentes das
crises económicas e financeiras do capitalismo, em que a planificação económica
não se baseia nas necessidades do povo, mas tão só nos lucros que os detentores
do capital e dos meios de produção poderão obter – nem que para tal tenham de
morrer milhões de trabalhadores em todo o mundo –, logo aparece um batalhão de piedosas almas, as Jonets, as santas casas disto e daquilo, as caritas, muito afogueadas, a
organizar peditórios para tudo e mais alguma coisa, dizem eles que para aliviar o sofrimento dos pobres da terra.
Se é certo que milhares de voluntários se prestam a dar a sua
genuína e generosa solidariedade, participando activamente em todos esses
peditórios – desde os bancos
alimentares à recolha de
vestuário, passando por fundos para tudo e mais alguma coisa -, não menos certo
é que quem se apropria da direcção e destino do resultado dos mesmos tem
uma agenda ideológica que assenta no pressuposto de desculpabilizar o sistema que cria as condições de
fome e miséria pelas quais o povo está a passar.
Isto, para além de o controlo da esmola ser por si um
instrumento de poder e dominação.
E o que dizer, então, da suprema hipocrisia que é o facto de
campanhas como as do Banco
Alimentar contra a Fome, entre outras, serem ansiosamente aguardadas pelos Pingos Doce e Continentes do nosso descontentamento,
que vislumbram nas mesmas uma receita adicional para os seus já
abarrotados cofres e para as suas já gordas fortunas?!
Quer as grandes cadeias de supermercados – que, logicamente, se disponibilizam de imediato para aderir a estas
campanhas –, quer o estado que defende os seus interesses arrecadam, os
primeiros, fabulosos lucros pela venda dos produtos generosamente adquiridos
por quem, de facto, quer ser solidário, e os segundos, impostos directos como e
IVA e indirectos como o IRC. Contas feitas, neste negócio da caridadezinha,
ao destinatário da mesma, se chegarem uns míseros 20 ou 30% do
resultado das mesmas já estão com muita sorte,
enquanto o estado burguês e os grandes grupos económicos que exploram essas
grandes superfícies, abocanham mais de
80%!
Àqueles mais piedosos que, ainda assim, poderão dizer
que, então, se não organizarmos este tipo de campanhas é que milhares
ou centenas de milhar poderiam morrer à fome, nós respondemos que não é com
aspirinas que se curam cancros. O cancro do capitalismo que, ciclicamente,
provoca a destruição massiva das forças produtivas e atira para o desemprego, a
fome e a miséria, somente em Portugal, mais de 3 milhões de elementos do povo,
nunca será ultrapassado com este tipo de paliativo!
A solidariedade operária é bem diversa da caridadezinha burguesa. Assenta na solidariedade
militante e activa às lutas que em todo o mundo se organizam e desenrolam
precisamente para destruir um sistema que atira para a fome, a miséria e a
humilhação quem trabalha ou trabalhou toda uma vida.
A sua cura, em Portugal, passa por uma luta sem tréguas a todos
os governos que se dispuserem a ser meros obedientes serventuários dos ditames
do directório europeu dominado pela Alemanha imperialista . Passa pela
constituição de um governo de unidade democrática e patriótica que nacionalize
todas as empresas e sectores de importância estratégica para um novo paradigma
de economia, ao serviço do povo e de quem trabalha, um governo que recupere o
tecido produtivo que foi destruído à custa de uma política vende-pátrias levada
a cabo por sucessivos governos do PS e do PSD, por vezes acolitados pelo CDS, agora apoiado com veemência revolucionária por PCP, BE, Verdes e PAN!
Um governo que tenha a coragem de romper com a União Europeia e
todos os tratados que amarram Portugal ao garrote do euro e de uma condição de
sub-colónia do imperialismo germânico. Um governo que tenha a coragem de
colocar o sector bancário sob controlo do estado. Um governo que imponha sem hesitações a
recusa do pagamento da dívida e dos juros dela decorrentes, uma dívida que não
foi contraída pelo povo, nem o povo retirou dela qualquer benefício.
Natal
Agora que estamos chegados
Á festiva quadra natalícia
É ver agora certos senhores
Com ar de muito condoídos
Distribuir comida e sorrisos
Pelos mais desfavorecidos
Esquecendo durante o ano
Da fome que passam centenas
Ou milhares de sem abrigos
Com um ar de hipocrisia
Como lhes é característico
Com aquela cara de fingimento
Que mais parecem carpideiras
Distribuem umas prendas
Aos que tem uma vida de sofrimento
Depois da obrigação que fizeram
Para casa vão descansados
Dos mendigos que visitaram
Não se vão eles lembrar
Outros até põem faladura
Nos jornais e canais da TV
Quem os vê com aquele ar
De hipócritas que todos são
Artistas na arte do fingimento
Na arte da boa simulação
Vêem agora nesta quadra
Limpar as suas consciências
Dando apenas umas migalhas
Aos que não tem de comer
Sentem que com essa acção
Que podem dormir descansados
Agora que estamos chegados
A esta quadra natalícia
É de ver tanta simulação
De senhores e senhoras com ar fingido
A distribuir pequenas migalhas
Pelos milhares de mendigos
E outros tantos sem abrigos
De: António Candeias
É natal,é natal...é um fartote vilanagem!
ResponderEliminarNATAL DO RICO E DO POBRE
ResponderEliminarLauta mesa, iguarias deliciosas,
Linda árvore de natal iluminada.
Em apartamento ou em bela mansão
Gente rica ou bem pessoas famosas
Celebram Natal com ceia requintada.
Exibindo sua opulência e posição.
Logo ali ao lado, em parca habitação,
Vive família pobre, pai desempregado.
É Natal. A mesa está desguarnecida.
A mãe cozinhou na panela de feijão
Um pouco de carne tinha ganhado
Duma sua vizinha compadecida.
Gente rica, dirigentes desta nação,
Que estão festejando na opulência
Lembrem-se do pobre no dia de Natal.
Do rendimento façam melhor distribuição.
Eliminem deste país a carência.
Olhem que o ser humano é todo igual.
Enquanto nobreza esbanja riqueza
Pobreza nada tendo, tem de se virar,
Às vezes nem tem um teto que a cobre.
Vivendo nas ruas, nem sequer tem mesa.
Nem alimentos para poder cozinhar.
Este, meus Senhores, é o Natal do Pobre.
Victor Alexandre