domingo, 4 de dezembro de 2016

Caridade, caridade...negócios à parte!

Mais uma campanha de caridadezinha burguesa decorre durante este primeiro fim de semana de Dezembro. Muito a propósito durante a época natalícia que agora se inicia, acontece mais uma acção de recolha de alimentos para o Banco Alimentar que, segundo as anunciadas previsões, baterá todos os recordes de anteriores recolhas.

Sendo importante para aqueles milhares de pobres que, resultado desta campanha irão ver mitigados – mas não resolvidos – os problemas de pobreza que enfrentam e lhe são impostos, quem exulta de contentamento, cada vez que uma acção destas ocorre, são os proprietários dos supermercados onde centenas de voluntários recolhem alimentos pré-estabelecidos.

Isto possibilita aos gestores de tais cadeias prevenir com antecedência a gestão de stock mais adequada à satisfação desta procura excepcional e prever os lucros fabulosos que irão arrecadar. Sim, porque, como dizia o outro, caridade, caridade...negócios à parte! Tão caridosos que os Belmiros, os Jerónimos Martins e outros, são e, no entanto, nem um descontozinho caridoso se dispõem a considerar. 

Idêntica atitude caridosa, aliás, tem o estado – esse gestor dos interesses dos capitalistas e da burguesia em geral. Tratando-se de uma acção solidária e pretensamente caridosa seria de esperar que António Costa e as suas muletas do PCP, BE, Verdes e, agora, PAN, se dispusessem a suspender a cobrança de IVA para os produtos que fossem adquiridos para uma campanha com esta natureza e fim. Mas, nada disso!

É cada vez mais claro que a caridadezinha burguesa em que assentam iniciativas deste tipo, mas não só, para além de outros objectivos, visam sobretudo adormecer e inebriar a consciência dos trabalhadores e do povo quanto às verdadeiras causas das condições de fome e de miséria para que foram atirados por um sistema que assenta na exploração do homem pelo homem e no sacrossanto lucro.

Num momento em que, fruto das consequências decorrentes das crises económicas e financeiras do capitalismo, em que a planificação económica não se baseia nas necessidades do povo, mas tão só nos lucros que os detentores do capital e dos meios de produção poderão obter – nem que para tal tenham de morrer milhões de trabalhadores em todo o mundo –, logo aparece um batalhão de piedosas almas, as Jonets, as santas casas disto e daquilo, as caritas, muito afogueadas, a organizar peditórios para tudo e mais alguma coisa, dizem eles que para aliviar o sofrimento dos pobres da terra.
 
Se é certo que milhares de voluntários se prestam a dar a sua genuína e generosa solidariedade, participando activamente em todos esses peditórios – desde os bancos alimentares à recolha de vestuário, passando por fundos para tudo e mais alguma coisa -, não menos certo é que  quem se apropria da direcção e destino do resultado dos mesmos tem uma agenda ideológica que assenta no pressuposto de desculpabilizar o sistema que cria as condições de fome e miséria pelas quais o povo está a passar.

Isto, para além de o controlo da esmola ser por si um instrumento de poder e dominação.

E o que dizer, então, da suprema hipocrisia que é o facto de campanhas como as do Banco Alimentar contra a Fome, entre outras, serem ansiosamente aguardadas pelos Pingos Doce e Continentes do nosso descontentamento, que vislumbram nas mesmas uma receita adicional para os seus já abarrotados cofres e para as suas já gordas fortunas?!

Quer as grandes cadeias de supermercados – que, logicamente, se disponibilizam de imediato para aderir a estas campanhas –, quer o estado que defende os seus interesses arrecadam, os primeiros, fabulosos lucros pela venda dos produtos generosamente adquiridos por quem, de facto, quer ser solidário, e os segundos, impostos directos como e IVA e indirectos como o IRC. Contas feitas, neste negócio da caridadezinha, ao destinatário da mesma, se chegarem uns míseros 20 ou 30% do resultado das mesmas já estão com muita sorte, enquanto o estado burguês e os grandes grupos económicos que exploram essas grandes superfícies, abocanham  mais de 80%!

Àqueles mais piedosos que, ainda assim, poderão dizer que, então, se não organizarmos este tipo de campanhas é que milhares ou centenas de milhar poderiam morrer à fome, nós respondemos que não é com aspirinas que se curam cancros. O cancro do capitalismo que, ciclicamente, provoca a destruição massiva das forças produtivas e atira para o desemprego, a fome e a miséria, somente em Portugal, mais de 3 milhões de elementos do povo, nunca será ultrapassado com este tipo de paliativo!

A solidariedade operária é bem diversa da caridadezinha burguesa. Assenta na solidariedade militante e activa às lutas que em todo o mundo se organizam e desenrolam precisamente para destruir um sistema que atira para a fome, a miséria e a humilhação quem trabalha ou trabalhou toda uma vida.

A sua cura, em Portugal, passa por uma luta sem tréguas a todos os governos que se dispuserem a ser meros obedientes serventuários dos ditames do directório europeu dominado pela Alemanha imperialista . Passa pela constituição de um governo de unidade democrática e patriótica que nacionalize todas as empresas e sectores de importância estratégica para um novo paradigma de economia, ao serviço do povo e de quem trabalha, um governo que recupere o tecido produtivo que foi destruído à custa de uma política vende-pátrias levada a cabo por sucessivos governos do PS e do PSD, por vezes acolitados pelo CDS, agora apoiado com veemência revolucionária por PCP, BE, Verdes e PAN!

Um governo que tenha a coragem de romper com a União Europeia e todos os tratados que amarram Portugal ao garrote do euro e de uma condição de sub-colónia do imperialismo germânico. Um governo que tenha a coragem de colocar o sector bancário sob controlo do estado.  Um governo que imponha sem hesitações a recusa do pagamento da dívida e dos juros dela decorrentes, uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo retirou dela qualquer benefício.


3 comentários:


  1. Natal
    Agora que estamos chegados
    Á festiva quadra natalícia
    É ver agora certos senhores
    Com ar de muito condoídos
    Distribuir comida e sorrisos
    Pelos mais desfavorecidos
    Esquecendo durante o ano
    Da fome que passam centenas
    Ou milhares de sem abrigos
    Com um ar de hipocrisia
    Como lhes é característico
    Com aquela cara de fingimento
    Que mais parecem carpideiras
    Distribuem umas prendas
    Aos que tem uma vida de sofrimento
    Depois da obrigação que fizeram
    Para casa vão descansados
    Dos mendigos que visitaram
    Não se vão eles lembrar
    Outros até põem faladura
    Nos jornais e canais da TV
    Quem os vê com aquele ar
    De hipócritas que todos são
    Artistas na arte do fingimento
    Na arte da boa simulação
    Vêem agora nesta quadra
    Limpar as suas consciências
    Dando apenas umas migalhas
    Aos que não tem de comer
    Sentem que com essa acção
    Que podem dormir descansados
    Agora que estamos chegados
    A esta quadra natalícia
    É de ver tanta simulação
    De senhores e senhoras com ar fingido
    A distribuir pequenas migalhas
    Pelos milhares de mendigos
    E outros tantos sem abrigos

    De: António Candeias

    ResponderEliminar
  2. É natal,é natal...é um fartote vilanagem!

    ResponderEliminar
  3. NATAL DO RICO E DO POBRE
    Lauta mesa, iguarias deliciosas,
    Linda árvore de natal iluminada.
    Em apartamento ou em bela mansão
    Gente rica ou bem pessoas famosas
    Celebram Natal com ceia requintada.
    Exibindo sua opulência e posição.
    Logo ali ao lado, em parca habitação,
    Vive família pobre, pai desempregado.
    É Natal. A mesa está desguarnecida.
    A mãe cozinhou na panela de feijão
    Um pouco de carne tinha ganhado
    Duma sua vizinha compadecida.
    Gente rica, dirigentes desta nação,
    Que estão festejando na opulência
    Lembrem-se do pobre no dia de Natal.
    Do rendimento façam melhor distribuição.
    Eliminem deste país a carência.
    Olhem que o ser humano é todo igual.
    Enquanto nobreza esbanja riqueza
    Pobreza nada tendo, tem de se virar,
    Às vezes nem tem um teto que a cobre.
    Vivendo nas ruas, nem sequer tem mesa.
    Nem alimentos para poder cozinhar.
    Este, meus Senhores, é o Natal do Pobre.
    Victor Alexandre

    ResponderEliminar