quarta-feira, 3 de maio de 2017

“Concertação Social “– quando a “solução” é o problema!

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado no dia 1º de Maio deste ano e baseado numa exaustiva compilação de dados, que abrangem trabalhadores em regime de full  e part-time, a idade média do trabalhador, o montante mensal da sua remuneração e o sexo, quando se comparam tais dados com os dos restantes trabalhadores europeus – sobretudo com aqueles que trabalham no espaço da UE a 28 -, o trabalhador português trabalha mais horas, recebe cerca de metade do salário médio europeu e o seu nível de escolaridade é inferior.

O que o estudo escamoteia é que este quadro se deve a mais de 4 décadas de políticas de concertação social, durante as quais a conciliação, a hesitação e a traição miserável aos interesses dos trabalhadores– em nome de tornar conciliável algo que não o é, isto é, os interesses dos trabalhadores com os interesses do capital -, acompanhado de uma política de educação completamente alheia aos interesses de uma economia mais qualificada e virada para a satisfação das necessidades do povo e de quem trabalha, levaram a uma progressiva degradação, quer da distribuição dos rendimentos em relação a quem trabalha, quer da formação superior e técnica necessárias para uma economia mais moderna e eficiente.

Senão, vejamos! Segundos dados da Pordata, desde 1974 que os rendimentos do trabalho foram superiores aos rendimentos do capital. Esta tendência teve o seu auge entre 1975 e 1976, conforme se pode constatar pelo quadro anexo.


Foram os desvios oportunistas, operados pelas duas centrais sindicais – UGT e CGTP/Intersindical - , que amarraram os trabalhadores à armadilha da concertação social, sujeitando-os ao colete de forças de estruturas sindicais que se foram afastando dos operários e dos trabalhadores, privilegiando as lutas de gabinete, em vez das lutas nos locais de trabalho, demitindo-se de exercer uma direcção sindical revolucionária, que levou ao actual quadro.

Um quadro onde a parte dos rendimentos que se destina aos salários de operários e restantes trabalhadores caíram dos 68,9% de 1975 para os pouco mais de 33%, para grande gáudio de todos os capitalistas e da burguesia em geral!!! Não vale a pena vir-se carpir, como o faz Arménio Carlos da CGTP/Intersindical ,da situação e ficar-se pela constatação dos factos!


Há que perceber que, num quadro onde, para agravar este desequilíbrio, os sucessivos governos da burguesia – incluindo o actual governo de António Costa, apoiado pelas suas muletas PCP/BE/Verdes e PAN – com maior ou menor intensidade impõem aos trabalhadores o pagamento de uma dívida que não contraíram, nem dela retiraram qualquer benefício, num quadro onde o pagamento da dívida – e juros – compromete qualquer aposta no investimento da educação e de uma maior e mais eficiente especialização -seja em que área for da ciência, da indústria, do desenvolvimento ou da inovação -, só a ruptura com o colete de forças da concertação social, só impondo uma direcção adequada aos interesses dos trabalhadores na frente sindical, firme e musculada, será possível inverter este quadro.

2 comentários:

  1. Certeiro, desmascarado a traição praticada pelas duas centrais sindicais à luta dos operários e trabalhadores durantes estas últimas décadas.

    ResponderEliminar
  2. Quando se aprende, aprende-se e não se comenta.

    ResponderEliminar