Reflexões sobre uma política caótica
Lisboa ocupa
o 48º lugar entre as 58 cidades mais caras do mundo. Nada que nos surpreenda!
Desde 1 de Janeiro de 2002 – data da forçada adesão de Portugal ao marco
alemão, vulgo euro - , de arredondamento
em arredondamento,
o custo de vida sofreu aumentos muito maiores do que os salários.
Reféns de
uma estratégia imposta pelo directório europeu e pelo imperialismo germânico
que o comanda, os sucessivos governos, a sós ou coligados, de PS, PSD, CDS e,
agora, até do PCP e do BE – que se prestam a ser as muletas do actual governo
de António Costa -, levaram à destruição sucessiva e massiva do nosso tecido
produtivo.
Tal
estratégia foi acompanhada da venda a pataco – em nome do pagamento de uma dívida
ilegítima, ilegal e odiosa – de um conjunto importante de activos, essenciais
para que um país possa definir uma estratégia autónoma, independente e
favorável às necessidades e interesses do povo, como são, a título de exemplo, a TAP, os CTT, a EDP e os TLP/PT.
A dívida, o
euro, o tratado orçamental, a união bancária, constituem o garrote que
estrangula qualquer possibilidade de Portugal ter uma economia independente e
soberana, remetendo o país para uma condição humilhante de sub-colónia das
potências economicamente mais desenvolvidas, onde a Alemanha imperialista se
encontra à cabeça.
Quando era
ainda Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa fazia gala de
afirmar que o seu projecto para a capital do país era o de criar valor. Elegeu o sector do turismo como alavanca para essa nova estratégia. Os mais incautos
consideraram mesmo que foi determinante a sua acção como autarca para que
Lisboa reconquistasse para a sua população o acesso e fruição da sua frente
ribeirinha.
Volvidos
estes anos todos de crescendo de
valor, o que se verifica é o crescente aumento de espaço de acostagem para
grandes navios de cruzeiros, o surgimento dos pomposamente designados alojamentos locais, hotéis a surgirem
como cogumelos por toda a cidade.
Nunca
seremos contrários à ideia de acolher adequadamente todos quantos procuram
destinos de turismo, lazer ou cultura, no nosso país e, em particular nas
nossas cidades, entre as quais se destaca Lisboa.
Mas, seremos
determinados na denúncia de uma política de turismo caótica que pronuncia o
fenómeno de expulsão dos habitantes da cidade de Lisboa – superior a 10 mil por
ano -, e que está a levar a uma completa descaracterização dos bairros
populares da capital e de outras cidades do país.
O povo
trabalhador de Lisboa, os idosos reformados, as famílias com fracos
rendimentos, estão a ser as principais vítimas de um fenómeno que acompanha,
normalmente, um crescendo incontrolável e caótico do turismo, como sucede
agora. E sentem os seus efeitos quer quando pretendem aceder aos transportes,
quer quando precisam de ir a um supermercado ou aceder a um restaurante,
adquirir ou alugar uma habitação.
Restaurar
prédios devolutos, abandonados, e em acentuada degradação não passa por uma
política adequada de habitação, que sirva trabalhadores, reformados e
estudantes, mas sim para alimentar a fogueira
da especulação imobiliária, do turismo hoteleiro e da habitação temporária.
Os jovens,
sobretudo os mais de 120 mil estudantes que frequentam estabelecimentos de
ensino em Lisboa, mas vivem nos bairros periféricos, alguns deles na condição
de migrantes de outras regiões do
país, outros pertencendo a famílias que foram expulsas da capital, experimentam
uma cada vez maior dificuldade em suportar os custos das deslocações, da
alimentação, a par de outros custos.
Viver em
Lisboa, para estes jovens é, de todo em todo, uma miragem, uma utopia, que lhes é liminarmente negada
porque, estando os preços da habitação, da alimentação, etc., a serem alinhados
pelo poder de compra dos turistas que nos visitam, essa pretensão não pode
passar de uma miragem inatingível.
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