domingo, 14 de maio de 2017

Efeitos do turismo em Lisboa

Reflexões sobre uma política caótica

Lisboa ocupa o 48º lugar entre as 58 cidades mais caras do mundo. Nada que nos surpreenda! Desde 1 de Janeiro de 2002 – data da forçada adesão de Portugal ao marco alemão, vulgo euro - , de arredondamento em  arredondamento, o custo de vida sofreu aumentos muito maiores do que os salários.

Reféns de uma estratégia imposta pelo directório europeu e pelo imperialismo germânico que o comanda, os sucessivos governos, a sós ou coligados, de PS, PSD, CDS e, agora, até do PCP e do BE – que se prestam a ser as muletas do actual governo de António Costa -, levaram à destruição sucessiva e massiva do nosso tecido produtivo.

Tal estratégia foi acompanhada da venda a pataco – em nome do pagamento de uma dívida ilegítima, ilegal e odiosa – de um conjunto importante de activos, essenciais para que um país possa definir uma estratégia autónoma, independente e favorável às necessidades e interesses do povo, como são, a título de exemplo,  a TAP, os CTT, a EDP e os TLP/PT.

A dívida, o euro, o tratado orçamental, a união bancária, constituem o garrote que estrangula qualquer possibilidade de Portugal ter uma economia independente e soberana, remetendo o país para uma condição humilhante de sub-colónia das potências economicamente mais desenvolvidas, onde a Alemanha imperialista se encontra à cabeça.

Quando era ainda Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa fazia gala de afirmar que o seu projecto para a capital do país era o de criar valor. Elegeu o sector do turismo como alavanca para essa nova estratégia. Os mais incautos consideraram mesmo que foi determinante a sua acção como autarca para que Lisboa reconquistasse para a sua população o acesso e fruição da sua frente ribeirinha.

Volvidos estes anos todos de crescendo de valor, o que se verifica é o crescente aumento de espaço de acostagem para grandes navios de cruzeiros, o surgimento dos pomposamente designados alojamentos locais, hotéis a surgirem como cogumelos por toda a cidade.

Nunca seremos contrários à ideia de acolher adequadamente todos quantos procuram destinos de turismo, lazer ou cultura, no nosso país e, em particular nas nossas cidades, entre as quais se destaca Lisboa.

Mas, seremos determinados na denúncia de uma política de turismo caótica que pronuncia o fenómeno de expulsão dos habitantes da cidade de Lisboa – superior a 10 mil por ano -, e que está a levar a uma completa descaracterização dos bairros populares da capital e de outras cidades do país.

O povo trabalhador de Lisboa, os idosos reformados, as famílias com fracos rendimentos, estão a ser as principais vítimas de um fenómeno que acompanha, normalmente, um crescendo incontrolável e caótico do turismo, como sucede agora. E sentem os seus efeitos quer quando pretendem aceder aos transportes, quer quando precisam de ir a um supermercado ou aceder a um restaurante, adquirir ou alugar uma habitação.

Restaurar prédios devolutos, abandonados, e em acentuada degradação não passa por uma política adequada de habitação, que sirva trabalhadores, reformados e estudantes, mas sim para alimentar a fogueira da especulação imobiliária, do turismo hoteleiro e da habitação temporária.

Os jovens, sobretudo os mais de 120 mil estudantes que frequentam estabelecimentos de ensino em Lisboa, mas vivem nos bairros periféricos, alguns deles na condição de migrantes de outras regiões do país, outros pertencendo a famílias que foram expulsas da capital, experimentam uma cada vez maior dificuldade em suportar os custos das deslocações, da alimentação, a par de outros custos.

Viver em Lisboa, para estes jovens é, de todo em todo, uma miragem, uma utopia, que lhes é liminarmente negada porque, estando os preços da habitação, da alimentação, etc., a serem alinhados pelo poder de compra dos turistas que nos visitam, essa pretensão não pode passar de uma miragem inatingível.










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