Fim de um pesadelo, afirma o sector da burguesia europeia
que mais teria a perder com a saída da França da União Europeia e do euro.
Desengane-se o leitor incauto que julga que o nacionalismo
xenófobo do clã Le Pen é o único pesadelo com que os povos da Europa e do mundo
se confrontam.
A vitória de
Macron em França deveu-se aquilo que o próprio criticava na sua rival Marine Le
Pen. Isto é a utilização do medo como forma de paralisar e manipular a
consciência dos operários, trabalhadores e das massas populares francesas em
geral.
Mas, vejamos os factos e como se gerou, no tempo, esta onda Macron:
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Em Junho de 2016 o então 1º Ministro do governo
de François Holland, o neo-fascista Manuel Valls – militante do PSF -,
invocando o artigo 49-3 da constituição francesa que permite ao governo francês
aprovar qualquer texto sem votação se houver assunção de responsabilidade – um pouco à imagem do que a constituição
portuguesa considera ser o interesse
público -, faz aprovar uma lei proposta pelo então ministro da economia do
seu governo – Emmanuel Macron, igualmente militante do socialista PSF -, um projecto destinado a liberalizar o código do trabalho – isto é, facilitar os despedimentos
e desregular a carga horária do trabalho -, assim como alargar o trabalho ao
domingo.
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Uma lei cujo texto levou às ruas centenas de
milhar de operários e trabalhadores, num movimento revolucionário que só não se
consolidou e saiu vitorioso por causa da acção oportunista e traidora de centrais
sindicais que, à imagem do que fazem CGTP/Intersindical e UGT, em Portugal,
desarmam ideológicamente os operários e os trabalhadores e levam-nos para autênticos
becos sem saída à pala da política de concertação
social e paz social, como se a
luta de classes não fosse o motor da história e não fossem anatagónicos os
interesses que opõem operários e trabalhadores aos detentores do capital e dos
meios de produção.
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A provar que não há leis acima dos interesses de
classe e das classes, a chamada Lei
Macron mereceu, nessa altura, o acolhimento, aplauso e apoio por parte das
grandes empresas e empresários franceses – e não só -, que consideraram estar a
mesma na direcção certa, como afirmou
a Medef,
a federação dos empresarios e grandes patrões franceses.
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Uma lei que visa facilitar a exploração dos
trabalhadores, sobretudo aqueles que estão ligados às actividades de
transportes e de turismo, ao permitir que lhes seja imposto o trabalho a um
maior número de domingos durante o ano do que aqueles que os contratos
colectivos de trabalho permitiam, sem que haja qualquer compensação monetária
por esse facto.
Se este é o passado sombrio do enfant gatée do regime burguês em
França, nenhuma esperança pode haver, para os operários, para os trabalhadores,
para as massas populares francesas – mas também da Europa – que este personagem
vá inflectir nas políticas que ele e o seu antecessor foram impondo, quer em
França, quer no resto da Europa, quer no mundo:
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Isto porque Macron é o herdeiro dilecto das
políticas securitárias e persecutórias das comunidades árabes, sendo adepto –
como defende o seu programa político para as presidenciais que agora venceu –da manutenção do estado de emergência que Hollande impôs,
em nome da luta contra o terrorismo.
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Macron assegurará, ainda, a política de agressão
imperialista levada a cabo pela França contra os povos do norte de África,
mantendo as tropas coloniais em países como a República Centro-Africana e o
Mali, entre outros, e continuando a pilhar os recursos energéticos, as matérias
primas, os activos e as riquezas desses países, espoliando os seus povos de
toda a riqueza e assassinando milhares dos seus habitantes.
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Macron prosseguirá a história que faz da França
uma das antigas potências coloniais europeias que mais intervém nos assuntos africanos. Desde que se iniciou o chamado processo de descolonização, até à data
de hoje, os sucessivos presidentes e governos franceses já se envolveram em
mais de cinquenta intervenções militares em países africanos, promovendo
sucessivos golpes de estado que ajudaram a depor governantes ou levaram ao
poder governos que melhor defendessem os seus interesses nesses países ou
regiões.
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Trata-se,
portanto, de um país que pratica uma activa política intervencionista no
continente africano, sobretudo nos Estados que outrora estiveram sob o jugo do
colonialismo francês, e onde mantém ainda diversas bases militares.
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Para além disso, apoiou e continua a apoiar, de
forma aberta – quer enviando tropas e técnicos e
conselheiros militares, quer vendendo armas –, e em nome de obscuros direitos do homem, as chamadas primaveras árabes,a deposição de regimes
como o de Kadafi – que levou a um autêntico vazio de poder e caos na Líbia -,
com os mesmíssimos mercenários, logística
e armamento que depois enviou para a Síria e outros teatros da guerra
imposta pela aliança imperialista.
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Macron, como Hollande, criam com esta política
imperialista, assassina e rapace, quer as condições para uma reacção patriótica
dos povos vítimas da ocupação e pilhagem francesa, quer as condições para o
eclodir de uma guerra cívil em França, já que mais de 15% da população francesa
é, nos dias que correm, de origem árabe!
Porém, este pesadelo não se confina a França e aos
operários, trabalhadores e massas populares francesas. Sendo que a França
integra o eixo Paris-Berlim que tem imposto o euro, a política orçamental,
cambial e financeira, a política de segurança territorial, a união bancária, as
políticas de controle da inflação – favoráveis a economias superavitárias como
a da Alemanha -, Macron que, recorde-se, foi ministro da economia de um governo
tutelado por Hollande – que se prepara para uma reforma dourada -, já deixou
bem claro que deseja prosseguir na defesa do mesmo programa neo-liberal que tanto tem afectado outros
países europeus.
Sobretudo naqueles que, como Portugal, ostentam uma enorme
fragilidade e debilidade da sua economia, em grande medida devido ao facto de
terem aceite o que aquele eixo determinou e que levou à liquidação do seu tecido
produtivo – industrial, agrícola e não só.
Será possível transformar tal pesadelo numa saída revolucionária que sirva os interesses, tanto
dos operários, dos trabalhadores e do povo francês, como os de outros países,
como Portugal? Claro que sim! Desde logo, e prosseguindo a consigna
internacionalista marxista de Proletários de Todos os Países, Uni-vos!, os
povos alvo das agressões imperialistas e a classe operária e o povo que habitam
e trabalham nos países imperialistas, devem saber transformar as guerras
imperialistas de agressão em guerras revolucionárias populares. Ficou provado,
no passado recente, que o imperialismo é um tigre de papel quando os povos se
levantam e se lhe opõem!
Por outro lado, temos de contar com a sagacidade com que os
operários e os trabalhadores franceses saberão lidar – e tirar o devido
proveito -, das enormes e complexas contradições que existem entre os vários
sectores da burguesia em França.
Contradições que estão bem patentes quando vislumbramos o
panorama que se abre com a vitória de
Macron nas recentes eleições presidenciais francesas, que não encontrará
respaldo na composição da Assembleia Nacional que sairá das eleições
legislativas que vão ter lugar, em Junho próximo, naquele país.
Paradigmático deste quadro de contradições é o facto de que
mais de 46% daqueles que asseguraram, à 2ª volta das eleições, a vitória de Macron, revelarem que votaram
nele, não pelo programa que este apresentou ao país, mas por temerem que Marine
Le Pen e o seu partido nacionalista, xenófobo e fascista – que cresce na razão
directa da deriva de falsos socialistas, falsos democratas e falsos patriotas
-, chegasse ao poder.
Isto é, o valor
eleitoral de Macron, na perspectiva das eleições legislativas francesas,
não deverá chegar a 8% dos votos expresssos! Caso para dizer que Macron deu um
passo maior do que a perna e que ainda a procissão vai no adrio!
A solidariedade internacionalista não pode ser desviada, no entanto, para as soluções chauvinistas daqueles que advogam a política do mal menor para justificar o seu apoio a Macron, em França, ou a António Costa, em Portugal. Essa solidariedade internacionalista tem de estar presente na luta contra o euro e a união europeia que se tem traduzido num dramático empobrecimento dos povos – sobretudo nos chamados países periféricos – em nome do pagamento de uma dívida que não foi contraída por eles, nem eles dela retiraram qualquer benefício!
Boa análise!
ResponderEliminarNem mais, a luta contra o euro e a dita união europeia é o único caminho para os povos periféricos para recuperar e aprofundar a nossa soberania económica e política.
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