Um mercado
liberalizado à custa de burla?
Já ninguém terá dúvidas de que o muito rentável mercado da
electricidade e do gás é o eldorado para empresas multinacionais que lutam por
obter, a todo o custo, um quinhão do mesmo.
O consumidor paga duplamente. Quer através das fabulosas rendas que o estado contratualizou com a
EDP –, rendas que são pagas através dos
impostos de que quem trabalha -, quer através dos tarifários que esta empresa lhes
aplica.
Situação idêntica ocorre no mercado do gás, onde as tarifas praticadas
chegam a corresponder ao dobro do que se pratica na vizinha Espanha.
Sobretudo no caso da electricidade, onde a rede de distribuição
pertence à EDP e à sua associada REN, a empresa considera que não é atractivo para o
seu negócio e para a maximização dos seus lucros – leia-se, ganância ilimitada
-, permanecer prisioneira do mercado regulado.
Mercado onde é obrigada a respeitar os tarifários que o
regulador lhe impõe, alimentando, assim, o mercado liberalizado com o objectivo
de vir a aplicar tarifas que fujam ao controlo do regulador e proporcionem
maiores lucros e dividendos.
É neste contexto que os trabalhadores, o povo, os
consumidores em geral – quer da electricidade, quer do gás – têm sido alvo de
sucessivas vagas de agressivas campanhas comerciais por parte de novos operadores
que, utilizando a rede existente de distribuição, pertença da EDP, vêm prometer
tarifários mais competitivos do que aqueles que o mercado regulado pratica.
O bom senso levaria a que qualquer pessoa, abordada por
estas equipas, tivesse presente o princípio de que quando a esmola é muita...o pobre desconfia! E, não é caso para
menos. Quando alguns incautos se deixam enredar na teia das manipulações e
mentiras com que tais equipas os convencem
a aderir, na maior parte dos casos vê-se confrontado com aumentos dramáticos
dos tarifários de luz e gás.
Insaciáveis que são, estas empresas acabam de introduzir uma
nova táctica para arregimentar novos aderentes.
Enviam equipas – normalmente constituídas por dois elementos - , vestidos com
coletes cinzentos a exibir nas costas as palavras Electricidade e Gás, sem
nenhum logo identificativo da empresa para a qual afirmam trabalhar.
Colocam dentro de uma bolsa plástica, pendurada por uma mola
ao colete, um cartão híbrido, sem marca de água, com a foto do dito funcionário, bem como identificação
básica – mas não escrutinável – do dito, como nome, empresa que representam e função.
Estas equipas estão a apresentar-se como prestadora de
serviços para a EDP Distribuição,
solicitando aos incautos acesso aos contadores, de forma a registarem o número
de matriz exibidos nos mesmos e anunciando que tal se deve ao facto –
verdadeiro – de que, dentro em breve, esses contadores serão substituídos por
novos, com uma tecnologia mais avançada e uma calibração respeitadora das novas
regras impostas pelo regulador.
Consumada a burla, o cidadão ou cidadã, quando é
dramáticamente despertado para os efeitos da burla em que cairam – normalmente sob
a forma de facturas com valores exorbitantes – vêm-lhes ser negadas as
reclamações com base no argumento de que o número da matriz do seu contador só
pode ter revelado, de forma voluntária,
pelo próprio.
Contactada a EDP
Distribuição, esta nega ter contratualizado empresas externas – mormente a Endesa, que se tem revelado a mais
agressiva comercialmente – para implementar tal serviço, referindo que tal acção, a ocorrer, é sempre previamente
anunciada e nela só participam trabalhadores da própria empresa, devidamente
identificados e identificáveis.
Acresce que, revelaram, não fazer qualquer sentido a EDP Distribuição solicitar os números
de matriz dos contadores já que estão na posse da empresa o registo desses
dados.
Tal como aconteceu hoje, 4ª feira, dia 4 de Junho de 2018,
ao final da manhã, na zona de Arroios em Lisboa, as pessoas contactadas –
geralmente pessoas idosas, de fracos recursos ou fragilizadas – devem de
imediato denunciar estas práticas e, se necessário, recorrer a alguma
autoridade que faça abortar a burla em marcha.
Não há que ter piedade desta gente que, defendendo que estão
apenas a fazer o seu trabalho e que trabalhar
não é crime, não demonstram qualquer empatia por aqueles que, conscientemente,
estão a burlar. De facto, trabalhar não é crime mas, burlar, sim!
Vou partilhar em grande divulgação e terei o cuidado de ir informando com quem contacte. " É preciso avisar toda a gente ", diz a canção e é verdade.
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