No final do Ciclo de Conferências: Aqui Não
Há Palavras Proibidas, que teve lugar no passado dia 18 de Maio, na Rua do
Paraíso, na Cidade Invicta, no Auditório dos Fundadores da Cooperativa do Povo Portuense,
sob o tema Da Actualidade do Marxismo,
o meu camarada Arnaldo Matos foi cercado por jovens homens e mulheres que lhe
pediram a maneira de contactar com ele tendo, inclusivé, sido disponibilizado o
seu e-mail para que, todos quantos quisessem estabelecer contacto com ele, o
fizessem: arnaldomatos@sapo.pt.
Dada a importância da questão colocada por alguém
que se intitula como comunista do Porto e a profundidade, alcance e pedagogia
marxista da resposta dada pelo meu camarada Arnaldo Matos, reproduzo ambas –
questão colocada e respectiva resposta - nas páginas do meu blogue, esperando,
assim, dar o meu humilde contributo para que, todos os que acompanham este
espaço, possam tirar proveito do autêntico roteiro que devem seguir para melhor
compreender Marx e o marxismo.
Resposta
ao Camarada Francisco
Comunista
do Porto
“Olá!
Sou o Francisco, comunista do Porto. Tive a oportunidade de ver o camarada
Arnaldo Matos a discursar duas vezes, uma delas em Lisboa na sede do Partido
nas comemorações do bicentenário de Marx, e a segunda na minha cidade, na
Cooperativa do Povo Portuense.
Da
segunda vez, o camarada deu-me o seu endereço eletrónico e disse-me que eu o
poderia contactar, caso precisasse de algum esclarecimento. Ora, pois é isso
mesmo que eu estou a fazer agora.
Estou
a escrever este e-mail para saber a visão do camarada sobre a Comuna de Paris.
O que é que falhou nessa grande tentativa da instauração do poder popular? O
que é que faltava ao proletariado parisiense em 1871? Poderiam as coisas ter
acontecido de outra maneira?
Gostava
também que me recomendasse algumas leituras que considere adequadas sobre este
tema.”
Saudações Comunistas!
09JUN18
Francisco
Silva
Caro Camarada Francisco,
Grato
pela tua carta do passado dia 9 de Junho, com as minhas desculpas pelo atraso
na resposta.
Começando
pelo fim, aconselho-te a ler três pequenas grandes obras de Marx sobre a
França:
1. A Luta de Classes em França, de 1848 e 1850;
2. O 18 do Brumário de Luís Bonaparte;
3. A Guerra civil em França.
Qualquer
destas três obras foram traduzidas para português pelo MRPP nos anos 70 do
século passado.
Estão
absolutamente esgotadas, e não há um único exemplar na biblioteca do Partido,
biblioteca que aliás desapareceu sem deixar rasto. Para mal dos nossos pecados,
O 18 do
Brumário, editado pela Vento de
Leste, Editora do Partido, em Setembro de 1975, a tradução
portuguesa é muito má.
Temos
de voltar a traduzir e editar todas as obras fundamentais de Marx e Engels, mas
não sei onde irei arranjar forças e dinheiro para cumprir essa urgente e
ingente tarefa.
E
queria continuar a actividade da nossa nova Editora
Bandeira Vermelha, precisamente com os livros que te
aconselhei acima.
Com
péssimas traduções brasileiras, os livros estão publicados na WEB em língua portuguesa,
chamemos assim ao brasileiro. Mas vou meter mãos à obra para editar uma nova
colecção dos clássicos Marx e Engels, começando por esses três livros.
***
Todas
as tuas perguntas encontrarão uma resposta directa na obra de Marx A Guerra Civil em França, muito
melhor do que qualquer resposta que eu te pudesse dar.
A Guerra
Civil em França foi lida por Marx perante o Conselho
Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores no dia 30 de Maio de 1871,
dois dias depois do massacre das tropas de Versalhes que puseram termo à
experiência da Comuna de Paris. É absolutamente espantoso que Marx tenha, em dois dias, escrito a melhor de todas as
interpretações históricas da Comuna que foram publicadas até hoje.
A
Comuna de Paris é o primeiro governo proletário da
história, não o primeiro governo popular, como dizes na tua
carta. E não se diga que foi uma tentativa de governo, mas um verdadeiro e
autentico governo proletário, operário, uma
autêntica ditadura do proletariado.
Na
escrita dos comunistas, o adjectivo popular
reserva-se para caracterizar alianças de classes (mais do que uma classe,
plural) trabalhadoras, exploradas e oprimidas, e o adjectivo proletário reserva-se para caracterizar a natureza
de classe das instituições dos governos do proletariado ou sob a sua direcção.
Com A Guerra Civil em França, deves
ler mais duas mensagens, escritas por Marx, ao Conselho Geral da Internacional
(primeira e segunda mensagens) sobre a guerra franco-prussiana.
A
Comuna de Paris (cidade então operária por excelência) nasceu da resistência do
proletariado à vergonhosa capitulação da burguesia francesa ao ataque da
Prússia de Bismark, que prendeu o próprio imperador Napoleão III em Sedan.
Deves
também ler a Introdução de Engels à edição de 1891 (Vigésimo aniversário) de A Guerra Civil em França.
Diz-me
se tens estes documentos todos ao teu alcance. Se não tiveres, indica-me os que
não tens, para poder mandar-te cópias, enquanto o Partido não edita esses
livros absolutamente fundamentais. Estou a ver se faço uma colecta nacional de
fundos para editar esses livros, que são mais necessários do que o pão para a
boca dos operários portugueses.
O que é
que falhou na Comuna de Paris, perguntas tu?
Uma
falha essencial viu-a logo Marx: “Mas a
classe operária não pode apossar-se simplesmente da maquinaria do Estado já
pronta e fazê-la funcionar para os seus próprios objectivos.” Ou
seja: a ditadura do proletariado deve destruir pela força toda a ditadura – ou
Estado – da burguesia e substitui-lo pela ditadura – o novo Estado – do
proletariado. A ditadura do proletariado porá fim à existência de classes e
introduzirá o modo de produção comunista.
A outra
falha não vem expressamente nesse texto de A Guerra
Civil em França, mas ressalta desde logo de um texto
anterior a esse: o do Manifesto do Partido Comunista. Sem o
completo desenvolvimento do modo de produção capitalista, designadamente
chegado ao seu estado superior e último – o imperialismo – não é possível pôr
termo ao regime do salário e interpor o novo modo de produção comunista, sem
classes e luta de classes.
Perdoa
a demora. Saudações Comunistas,
Arnaldo Matos
Esta atitude por parte do camarada Arnaldo Matos, foi sempre uma postura que sempre teve, e que me lembro muito bem, de um verdadeiro comunista.
ResponderEliminarObrigado por seres aquilo que és...