sábado, 23 de junho de 2018

Da Actualidade do Marxismo



No final  do Ciclo de Conferências: Aqui Não Há Palavras Proibidas, que teve lugar no passado dia 18 de Maio, na Rua do Paraíso, na Cidade Invicta, no Auditório dos Fundadores da Cooperativa do Povo Portuense, sob o tema Da Actualidade do Marxismo, o meu camarada Arnaldo Matos foi cercado por jovens homens e mulheres que lhe pediram a maneira de contactar com ele tendo, inclusivé, sido disponibilizado o seu e-mail para que, todos quantos quisessem estabelecer contacto com ele, o fizessem: arnaldomatos@sapo.pt.

Dada a importância da questão colocada por alguém que se intitula como comunista do Porto e a profundidade, alcance e pedagogia marxista da resposta dada pelo meu camarada Arnaldo Matos, reproduzo ambas – questão colocada e respectiva resposta - nas páginas do meu blogue, esperando, assim, dar o meu humilde contributo para que, todos os que acompanham este espaço, possam tirar proveito do autêntico roteiro que devem seguir para melhor compreender Marx e o marxismo.


Resposta ao Camarada Francisco
Comunista do Porto

“Olá! Sou o Francisco, comunista do Porto. Tive a oportunidade de ver o camarada Arnaldo Matos a discursar duas vezes, uma delas em Lisboa na sede do Partido nas comemorações do bicentenário de Marx, e a segunda na minha cidade, na Cooperativa do Povo Portuense. 
Da segunda vez, o camarada deu-me o seu endereço eletrónico e disse-me que eu o poderia contactar, caso precisasse de algum esclarecimento. Ora, pois é isso mesmo que eu estou a fazer agora.

Estou a escrever este e-mail para saber a visão do camarada sobre a Comuna de Paris. O que é que falhou nessa grande tentativa da instauração do poder popular? O que é que faltava ao proletariado parisiense em 1871? Poderiam as coisas ter acontecido de outra maneira?
Gostava também que me recomendasse algumas leituras que considere adequadas sobre este tema.”
     Saudações Comunistas!
09JUN18
Francisco Silva




Caro Camarada Francisco,
 
Grato pela tua carta do passado dia 9 de Junho, com as minhas desculpas pelo atraso na resposta.

Começando pelo fim, aconselho-te a ler três pequenas grandes obras de Marx sobre a França:
1.      A Luta de Classes em França, de 1848 e 1850;
2.      O 18 do Brumário de Luís Bonaparte;
3.      A Guerra civil em França.

Qualquer destas três obras foram traduzidas para português pelo MRPP nos anos 70 do século passado. 

Estão absolutamente esgotadas, e não há um único exemplar na biblioteca do Partido, biblioteca que aliás desapareceu sem deixar rasto. Para mal dos nossos pecados,
O 18 do Brumário, editado pela Vento de Leste, Editora do Partido, em Setembro de 1975, a tradução portuguesa é muito má.

Temos de voltar a traduzir e editar todas as obras fundamentais de Marx e Engels, mas não sei onde irei arranjar forças e dinheiro para cumprir essa urgente e ingente tarefa.

E queria continuar a actividade da nossa nova Editora Bandeira Vermelha, precisamente com os livros que te aconselhei acima.

Com péssimas traduções brasileiras, os livros estão publicados na WEB em língua portuguesa, chamemos assim ao brasileiro. Mas vou meter mãos à obra para editar uma nova colecção dos clássicos Marx e Engels, começando por esses três livros.

***
Todas as tuas perguntas encontrarão uma resposta directa na obra de Marx A Guerra Civil em França, muito melhor do que qualquer resposta que eu te pudesse dar.

A Guerra Civil em França foi lida por Marx perante o Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores no dia 30 de Maio de 1871, dois dias depois do massacre das tropas de Versalhes que puseram termo à experiência da Comuna de Paris. É absolutamente espantoso que Marx tenha, em dois dias, escrito a melhor de todas as interpretações históricas da Comuna que foram publicadas até hoje.

A Comuna de Paris é o primeiro governo proletário da história, não o primeiro governo popular, como dizes na tua carta. E não se diga que foi uma tentativa de governo, mas um verdadeiro e autentico governo proletário, operário, uma autêntica ditadura do proletariado.

Na escrita dos comunistas, o adjectivo popular reserva-se para caracterizar alianças de classes (mais do que uma classe, plural) trabalhadoras, exploradas e oprimidas, e o adjectivo proletário reserva-se para caracterizar a natureza de classe das instituições dos governos do proletariado ou sob a sua direcção.

Com A Guerra Civil em França, deves ler mais duas mensagens, escritas por Marx, ao Conselho Geral da Internacional (primeira e segunda mensagens) sobre a guerra franco-prussiana.

A Comuna de Paris (cidade então operária por excelência) nasceu da resistência do proletariado à vergonhosa capitulação da burguesia francesa ao ataque da Prússia de Bismark, que prendeu o próprio imperador Napoleão III em Sedan.

Deves também ler a Introdução de Engels à edição de 1891 (Vigésimo aniversário) de A Guerra Civil em França.

Diz-me se tens estes documentos todos ao teu alcance. Se não tiveres, indica-me os que não tens, para poder mandar-te cópias, enquanto o Partido não edita esses livros absolutamente fundamentais. Estou a ver se faço uma colecta nacional de fundos para editar esses livros, que são mais necessários do que o pão para a boca dos operários portugueses.
O que é que falhou na Comuna de Paris, perguntas tu?

Uma falha essencial viu-a logo Marx: “Mas a classe operária não pode apossar-se simplesmente da maquinaria do Estado já pronta e fazê-la funcionar para os seus próprios objectivos.” Ou seja: a ditadura do proletariado deve destruir pela força toda a ditadura – ou Estado – da burguesia e substitui-lo pela ditadura – o novo Estado – do proletariado. A ditadura do proletariado porá fim à existência de classes e introduzirá o modo de produção comunista.

A outra falha não vem expressamente nesse texto de A Guerra Civil em França, mas ressalta desde logo de um texto anterior a esse: o do Manifesto do Partido Comunista. Sem o completo desenvolvimento do modo de produção capitalista, designadamente chegado ao seu estado superior e último – o imperialismo – não é possível pôr termo ao regime do salário e interpor o novo modo de produção comunista, sem classes e luta de classes.

Perdoa a demora. Saudações Comunistas,

                                                                             Arnaldo Matos


1 comentário:

  1. Esta atitude por parte do camarada Arnaldo Matos, foi sempre uma postura que sempre teve, e que me lembro muito bem, de um verdadeiro comunista.
    Obrigado por seres aquilo que és...

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