De motor da economia a indicador do seu colapso!
Tendo por objectivo escamotear que é o euro a principal
causa da crise da dívida e do déficite, o governo Coelho/Portas/Cavaco, a
tróica germano-imperialista que tão caninamente tem servido e toda a sorte de economistas, politólogos e opinadores ao seu serviço, começaram por
tentar transferir a responsabilidade dessa situação para os trabalhadores e o
povo, acusando-os de terem querido viver
acima das suas possibilidades!
Não há reforma do
estado, corte de gorduras ou programa de estabilização que resista, no entanto, a um facto cada vez mais
iniludível. É que é o euro que está, de facto, na origem da dívida e da sua
galopante progressão – desde 1999, data da adesão ao euro, que a dívida
progrediu de 50% do PIB para os actuais 130%, estimando-se que no final de 2014
se situe nos 140%!
Se a adesão de Portugal à CEE – hoje União Europeia –
promoveu a destruição do seu tecido produtivo e levou a uma cada ve maior
dependência do país do exterior, visto que passou a ter de importar mais de 80%
daquilo de que o país necessita para alimentar o seu povo e gerar economia, não
menos certo é que o euro, uma moeda propositadamente valorizada para manter o
valor do marco e os interesses da Alemanha provocou desequilíbrios externos
gravíssimos a Portugal e à sua frágil economia.
Desequilíbrios para os quais os partidos do Bloco Central – PS e PSD, com o CDS por
vezes pela trela – só encontraram uma solução: baixa contínua de salários,
constante subida de impostos, aumento da carga horária de trabalho sem aumento
da remuneração, redução drástica do número de trabalhadores empregados e
eliminando por completo os direitos laborais e sociais.
Ou seja, a entrada de Portugal no euro apresenta semelhanças
com os do comportamento do incendiário que lança gasolina ao incêndio que
ateou, afirmando que o seu propósito é o de combater o incêndio que ateou!
Os arautos da saída
limpa do programa cautelar
imposto pelo Memorando que PS, PSD e CDS subscreveram com o ocupante e colonizador
representado na tróica germano-imperialista, têm vindo a referir-se a um
autêntico milagre económico,
fixando-se particularmente num parâmetro – o das exportações – que consideram
paradigmático da boa performance do
governo de traição nacional e que confirmaria que estarão no bom caminho para a recuperação, a retoma
da economia e do emprego, enfim para a saída da crise.
Mas eis quando senão, é o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE) que vem agora revelar que
as perspectivas para as exportações totais de bens – apresentadas até agora
como muito promissoras – dão conta de uma travagem abrupta que se reflecte na
quebra de vendas ao exterior e, pior do que isso, de uma retoma forte das
importações no início do corrente ano de 2014.
O que revelam os dados do 1º trimestre de 2014 é que se
Portugal exportou 11,7 mil milhões de euros e fez aquisições ao estrangeiro
superiores a 14,4 mil milhões, sendo que o déficite comercial – a diferença
entre compras e vendas – aumentou 31,4%, num total de 2,6 mil milhões de euros!
As exportações, que eram – e são ainda – a principal
bandeira deste governo para o anunciado milagre
económico e para demonstrar a
fiabilidade do seu projecto – que mais não é do que aquele que lhe é imposto
pela Alemanha e pelo directório europeu, pelo BCE e pelo FMI, que aquela
potência controla -, face aos sinais de uma cada vez maior fragilidade nas
compras que a Europa vem assinalando, face ao cada vez mais inferior valor das
matérias-primas, mormente o petróleo, deixa de ser o tão anunciado motor da economia.
No auge do anúncio do milagre
económico, durante o qual as exportações eram anunciadas como a salvação nacional, o governo de
Coelho/Portas/Cavaco, escamoteou propositadamente que grande parte da performance exportadora de Portugal
estava a assentar na venda de excedentes de combustíveis – devidos à enorme
quebra do consumo interno – ao estrangeiro. Pois bem, agora é o próprio INE a
afirmar que o acréscimo nos bens de
consumo (+ 11,3%) e o decréscimo acentuado nos combustíveis e lubrificantes
(-30,3%), contribuíram para o aumento do déficite entre exportações e
importações revelado.
No que se refere às importações é de salientar o que revela
o relatório ontem divulgado pelo INE, isto é,
o aumento na quase totalidade das
categorias, mas sobretudo no material de transporte (+ 28,7%) e nas máquinas e
outros bens de capital (+ 10,6%), enquanto os combustíveis e lubrificantes registaram um decréscimo de 4,1%, em
resultado da evolução dos produtos primários (- 12,2%), dado que os produtos
transformados aumentaram ( 26,6%).
A importância desde último dado é tanto maior quando se sabe
agora que foi a flutuação do valor nas vendas de combustíveis que fez a
diferença, já que em 2013, as vendas destes produtos – tal como sempre o
denunciámos – tinham impulsionado sobremaneira as exportações estando, agora,
pelas razões acima descritas, a prejudicar os indicadores do comércio externo,
agravando os desequilíbrios.
Outra coisa não seria de esperar num país que, após a
destruição do tecido produtivo imposta pelos grandes grupos financeiros,
bancários e industriais europeus – liderados e representados pelo novo
imperialismo alemão -, desde que aderiu ao euro em 1999 e até ao final de 2013,
foi confrontado com uma quebra brutal de mais de 50% do investimento produtivo,
o que se reflectiu sobretudo na produção industrial, a qual representa hoje
apenas 13% do PIB, quando chegou a atingir, antes da entrada de Portugal na
CEE, uma percentagem de cerca de 40%!
Um bom artigo que vai na linha de outros bons artigos do autor , Luis Júdice.
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