O Banco do
meu avô
A paternidade do texto cuja leitura vos venho propôr
não é minha. Foi-me enviado por mão amiga, desconhecendo eu quem será o seu
autor. No entanto, a sucessão de eventos está encadeada de uma forma tão
coerente e próxima da realidade que suscita de imediato a seguinte conclusão e
questão: então não era claro e evidente que o desfecho da história só poderia
ser o que hoje se nos apresenta?!
Vamos IMAGINAR coisas…
Vamos
imaginar que o meu avô tinha criado um Banco num País retrógrado, a viver
debaixo de um regime ditatorial.
Depois, ocorreu uma revolução.
Foi nomeado um Primeiro-Ministro que, apesar de ser comunista, era filho do
dono de uma casa de câmbios. Por esta razão, o dito Primeiro-Ministro demorou
muito tempo a decidir a nacionalização da Banca (e, como tal, do Banco do meu
avô).
Durante esse período, que mediou entre a revolução e a nacionalização, a minha
família, tal como outras semelhantes, conseguiu retirar uma grande fortuna para
a América do Sul (e saímos todos livremente do País, apesar do envolvimento
direto no regime ditatorial).
Continuemos
a IMAGINAR coisas…
Após
um período de normal conturbação revolucionária, o País entrou num regime
democrático estável. Para acalmar os instintos revolucionários do povo, os
políticos, em vez de tentarem explicar a realidade às pessoas, preferiram ser eleitoralistas
e “torrar dinheiro”. Assim, endividaram o País até entrar em banca-rota, por
duas vezes (na década de 80).
Nessa
altura, perante uma enorme dívida pública, os políticos resolveram privatizar
uma parte significativa do património que tinha sido nacionalizado. Entre este,
estava o Banco do meu avô.
E,
continuando a IMAGINAR coisas…
A
minha família tinha investido o dinheiro que tinha tirado de Portugal em
propriedades na América do Sul. Como não acreditávamos nada em Portugal, nenhum
de nós quis vender qualquer das propriedades ou empatar qualquer das poupanças
da família. Mas, queríamos recomprar o Banco do meu avô.
Então,
viemos a Portugal e prometemos aos políticos que estavam no poder e na
oposição, que os iríamos recompensar (dinheiro, ofertas, empregos, etc…) por
muitos anos, se eles nos vendessem o Banco do meu avô muito barato. Assim,
conseguimos que eles fizessem um preço de (vamos imaginar uma quantia fácil
para fazer contas) 100 milhões, para um Banco que valia 150.
Como
não queríamos empatar o “nosso” dinheiro, pedimos (vamos imaginar uma quantia)
100 milhões emprestados aos nossos amigos franceses que já tinham ganho muito
dinheiro com o meu avô. Com os 100 milhões emprestados comprámos o Banco (o
nosso dinheiro, que tínhamos retirado de Portugal, esse ficou sempre guardado).
E
assim ficámos donos do Banco do meu avô. Mas tínhamos uma dívida enorme: os
tais 100 milhões. Como os franceses sabiam que o Banco valia 150, compraram 25%
do Banco por 30 milhões (que valiam 37,5 milhões) e nós ficámos só a dever 70
milhões (100-30=70). Mesmo assim era uma enorme dívida.
Continuemos
a IMAGINAR coisas…
Tal
como combinado, viemos para Portugal e começámos a cumprir o que tínhamos
prometido aos políticos (dinheiro para as campanhas eleitorais, ofertas de
vária espécie, convites para todo o tipo de eventos, empregos para os
familiares e para os próprios nos momentos em que estavam na oposição, etc…).
Como
ainda tínhamos uma grande dívida, resolvemos fazer crescer mais o Banco do meu
avô.
Assim,
fomos falar com uma nova geração de políticos e prometemos todo o tipo de
apoios (dinheiro, ofertas, empregos, etc…) se nos dessem os grandes negócios do
Estado.
E
eles assim fizeram. E o Banco do meu avô, que tinha sido vendido por 100,
quando valia 150, valia agora 200 (por passarem por ele os grandes negócios do
Estado).
Mas,
mesmo assim, nós ainda devíamos 70 milhões (e tínhamos de pagar, pelo menos uma
parte dessa dívida, caso contrário, os franceses ficavam com o Banco do meu
avô).
E,
continuando a IMAGINAR coisas…
O
meu tio, que era presidente do Banco do meu avô, reformou-se. Nessa altura a
família estava preparada para nomear um dos meus primos para presidente. Eu
queria ser presidente e prometi à família toda um futuro perpétuo de
prosperidade se me nomeassem a mim como presidente.
E
assim foi. Fui, finalmente, nomeado presidente do Banco do meu avô.
Mas
era preciso pagar uma parte da dívida aos franceses. Podíamos vender uma parte do
Banco em Bolsa, mas deixávamos de mandar (logo agora que eu era presidente –
não podia ser assim).
Então
desenhei um plano:
Criei
uma empresa, chamada “Grupo do meu avô” (em que a minha família tinha 100% do
capital) e passei os nossos 75% do Banco (25% eram dos franceses) para essa
nova empresa.
Assim,
a família era dona de 100% do “Grupo” que era dono de 75% do Banco.
Falei
com os franceses e combinei mudarmos os estatutos do Banco: quem tivesse 25%
mandava no Banco (e os franceses não se metiam, a não ser para decidir os
dividendos que queriam receber).
Assim,
como o Banco agora valia 200, vendemos 50% na Bolsa por 100 (metade dos 200).
Com 50 capitalizámos o Banco. Os restantes 50 tirámos para nós (37,5 para a
família e 12,5 para os franceses).
Demos
também os nossos 37,5 aos franceses e assim ficámos só a dever 32,5 milhões
(70-37,5). Ainda era uma grande dívida, mas continuávamos a mandar no Banco do
meu avô (apesar da nossa empresa “Grupo do meu avô” só ser dona de 25% – os
franceses tinham outros 25% e os restantes 50% estavam dispersos por muitos
accionistas).
Ainda
tínhamos uma enorme dívida de 32,5 milhões. Mas, a verdade é que continuávamos
a mandar no Banco do meu avô e tínhamos transformado uma dívida inicial de 100
em outra de 32,5 (sem termos gasto um tostão da família – o nosso dinheiro
continua, ainda hoje, guardado na América do Sul). Convenci-me, nessa altura,
que era um génio da finança!
Continuemos
a IMAGINAR coisas…
A
certa altura, o crédito tornou-se uma coisa muito barata. Eu sabia que tínhamos
um limite original de 100 milhões e já só devíamos 32,5 milhões. Assim, a
empresa “Grupo do meu avô” voltou a endividar-se: pediu mais 67,5 milhões
(voltámos a dever 100 milhões) e desatei a comprar tudo o que fosse possível
comprar.
Tornei-me
assim, o dono disto tudo (o Banco do meu avô, a Seguradora do meu avô, a Meu
avô saúde, a Meu avô hotéis, a Meu avô viagens, a Construtora do meu avô, a
Herdade do meu avô onde se brinca aos pobrezinhos, etc…).
Entretanto
fui pagando as minhas promessas aos políticos (dinheiro para as campanhas
eleitorais, ofertas de vária espécie, convites para todo o tipo de eventos,
empregos para os momentos em que estavam na oposição, etc…).
E,
continuando a IMAGINAR coisas…
Mas
havia agora uma nova geração de políticos. Fui falar com eles e garanti que os
apoiaria para o resto da vida (dinheiro, ofertas, empregos, etc…) se eles
continuassem a fazer passar os grandes negócios do Estado pelo Banco do meu
avô.
Mas,
tive azar: houve uma crise financeira internacional.
Deixou
de haver crédito. Os juros subiram. Os credores queriam que o Grupo do meu avô
pagasse a dívida.
E,
além disso tudo, deixou de haver os grandes negócios do Estado.
Mas
eu, que me achava um génio da finança e que já estava habituado a ser o dono
disto tudo, não queria perder a minha posição de presidente do Banco do meu
avô.
Tinha
de arranjar uma solução. Fui à procura, e encontrei em África, quem tinha
dinheiro sujo e não se importava de investir e deixar-me continuar a mandar e a
ser dono disto tudo.
Continuemos
a IMAGINAR coisas…
Resolvi
então criar uma nova empresa: a “Rio do meu Avô” que passou a ser dona de 100%
do capital da “Grupo do meu avô”, que era dona de 25% do “Banco do meu avô”. E
eu que era dono disto tudo passei a ser o presidente disto tudo.
Fiz
uns estatutos para o “Grupo do meu avô” que diziam que quem tivesse 25% mandava
na empresa. Vendi 20% aos Angolanos e 55% na Bolsa. A “Rio do meu avô” ficou
assim dona de 25% do “Grupo do meu avô” (mas mandava como se tivesse 100%). A “Grupo
do meu avô”, dona de 25% do “Banco do meu avô” (mandava como se tivesse 100%).
Assim,
a minha família já só tinha 5% (25% de 25%) do “Banco do meu avô” (mas eu
continuava a mandar como se tivéssemos 100%). Já não havia dúvidas: eu era
mesmo um génio da finança.
Com
os 75 milhões da venda do “Grupo do meu avô” (aos Angolanos e na Bolsa), paguei
uma parte da dívida. Mas, na verdade, ainda tínhamos uma dívida de 25 milhões
(e continuávamos a não querer mexer no nosso dinheiro – esse continua bem
guardado na América do Sul).
E,
continuando a IMAGINAR coisas…
Mas
as coisas continuaram a correr mal. Se calhar eu não sou assim tão grande génio
da finança. Todos os nossos negócios dão prejuízo (até mesmo o Banco do meu
avô). Raio de azar. Ainda por cima, a crise não acaba.
Fiz
então o meu último golpe de génio. Convenci todos os bons clientes a comprarem
ações do Banco do meu avô, para aumentar o capital sem ter de endividar mais a
“Rio do meu avô” (e sem ter de tocar no dinheirinho da família, que continua bem
guardado na América do Sul).
Mas
os franceses queriam o dinheiro deles. Então, como presidente do Banco do meu
avô, emprestei dinheiro deste ao Grupo do meu avô e à Rio do meu avô. Assim
pagámos aos franceses. Mas ficámos com um problema: o Banco do meu avô está
completamente arruinado.
Tinha
de arranjar uma solução!
Fui
falar com os novos políticos com uma proposta: reformo-me, dou lugares de
Administração a uma série de políticos do partido do Governo e eles que
resolvam o problema do Banco do meu avô.
Continuemos
a IMAGINAR coisas…
Os
políticos aceitaram a minha proposta (aceitam sempre que se fala de lugares de
Administração).
Finalmente
reformei-me. Ainda somos donos de 5% do Banco do meu avô e de uma série de
outros negócios (sustentados pelas dívidas ao Banco do meu avô).
Tudo
isto sem termos gasto um tostão (o dinheiro da família continua todo guardado
na América do Sul).
E,
tomei a última medida antes de me reformar: atribuí a mim próprio uma reforma
de um milhão de euros por ano (para as despesas correntes).
E,
assim, acabou a história IMAGINADA do Banco do meu avô.
**************
Se
alguém teve a paciência de ler este texto até ao fim, deixo uma pergunta: Se
esta história em vez de ser IMAGINADA, fosse verdadeira, que fariam ao neto?
Percebem agora porque é que está muito mal contada essa história do banco mau e do banco bom. Bom para quem?! Para os mesmos que pagaram a salvação do BPN? Estamos conversados!