domingo, 17 de agosto de 2014

Crónica de um futuro de capitulação

Uma ficção que só o povo tem a capacidade de contrariar!


Nos finais dos anos 80 do Século XX, a indústria representava em Portugal cerca de 40% do Produto Interno Bruto, sendo que a Agricultura e as Pescas eram responsáveis por cerca de 30%.
Veio, então, a época das promessas de um Portugal moderno e europeu, integrado numa Europa desenvolvida e solidária! Paulatinamente, foi-nos dito, e os governantes traidores foram aceitando, que não precisávamos mais de indústria, pois isso ficaria reservado aos alemães, não precisaríamos de nos preocupar com a agricultura, pois os franceses providenciariam maior diversidade de produtos, com maior qualidade e melhor preço e, quanto às pescas, bem que podíamos abater a nossa degradada frota, pois os espanhóis tomariam conta de nós e providenciariam as nossas necessidades de pescado.
O ritmo a que esta destruição foi imposta levou a que, no final da primeira década do Século XXI, a indústria passasse a representar 13% do PIB e a agricultura e as pescas não fossem responsáveis por mais do que 3%!
Foi por isso que os grandes grupos financeiros, bancários e industriais da Europa, com os alemães à cabeça, nesta mesma década, e não satisfeitos com a destruição que impuseram do tecido produtivo em vários países europeus, considerados os elos fracos da cadeia capitalista, na tal Europa da Modernidade, subsidiaridade e abundância, tal colonizador silencioso obrigaram esses países, incluindo Portugal, a adoptar o marco alemão como moeda única tendo, para mascarar tal manobra, alterado a sua designação para euro.
O resultado foi que uma moeda forte agindo sobre economias fracas redundou numa perda rápida, dramática e progressiva da independência orçamental, cambial, fiscal, económica e política dos países com uma economia mais debilitada e um reforço da superpotência emergente alemã.
Em 2015 poucos eram os que, em Portugal, articulavam qualquer palavra em alemão. Depois, progressivamente, durante as décadas 20 e 30 deste século, o inglês e o francês, que tinham sido durante várias décadas línguas obrigatórias no curriculum escolar, passaram a ser opcionais, tendo a língua de Goethe começado a ser considerada obrigatória.
A ditadura do colonizador impôs uma progressão da aprendizagem tão intensa e rápida do alemão que na década de 30 do Século XXI, já 10 em cada 1.000 portugueses dominavam a língua. Para, na década de 40 tal percentagem passar para metade da população e, no quarto final do Século XXI, apenas uma percentagem residual de portugueses falar a língua materna, a língua de Camões.
A mesma lógica que os colonizadores portugueses, espanhóis, holandeses e britânicos, em séculos anteriores, tinham aplicado a regiões, nações e países que sujeitaram ao seu poder colonial e imperialista. Primeiro roubando-lhes o trabalho e escravizando-os, depois os activos e matérias-primas, depois, amordaçando a cultura dos povos dominados, tentando impôr a religião, o sistema político, a língua e a moeda do colonizador.
Estamos em 2074, precisamente no ano em que se comemora o centésimo aniversário do 25 de Abril de 1974, ano em que se exponenciou um movimento revolucionário que, mercê de traições e oportunismos vários, foi derrotado pelo inimigo, a burguesia, sobretudo o sector parasitário que nos conduziu à condição, primeiro de protectorado e, agora, de colónia.
Para que esta abordagem fantasiosa da história não se converta numa realidade, o povo português só tem uma saída. Ousar lutar por expulsar do país os agentes do imperialismo germânico que tentam reduzir à condição de colónia uma nação milenar, derrubar os governos de serventuários que impõem as medidas que aqueles ditam e constituir um Governo de Unidade Democrática e Patriótica que force a saída de Portugal do euro e imponha o não pagamento de uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício.


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