Uma oposição oportunista e pífia!
A interpelação ao governo levada a cabo pelo PCP, esta 5ª
feira, na Assembleia da República, veio
comprovar – para quem ainda tivesse dúvidas – que este partido nunca poderá ser
uma oposição coerente, combativa e digna desse nome contra as políticas de
austeridade, de autêntico genocídio fiscal, levadas a cabo por um executivo que
implementa as medidas que melhor servem a estratégia imperial da Alemanha e da
sua tróica germano-imperialista.
Enredada em falácias e hesitações, nas malhas de uma
política de traição aos interesses do movimento operário e dos trabalhadores em
geral, consubstanciada na concertação
social cujos efeitos paralisantes alimentam, o PCP deixa-se facilmente
capturar e anular pelo discurso governamental de que é necessário impor disciplina orçamental para o país voltar
a beneficiar do investimento externo e da
retoma do emprego – armadilha na
qual, aliás, cai também a restante esquerda
parlamentar.
Essa incoerência e vesguice política permite a um governo de
traição nacional desviar o enfoque da caracterização da crise e da dívida para
questões formais como a contenção da
despesa, a disciplina orçamental , permite que o governo esconda os reais objectivos da sua agenda reformista, uma agenda que visa alterar,
diminuir ou anular os direitos dos trabalhadores e do povo no domínio das
relações e contratos colectivos de trabalho e o seu acesso à cultura, à
educação, ao ensino, aos transportes e a toda a sorte de subsídios, reformas e
pensões, que prolongadas carreiras contributivas lhes possibilitaram.
O PCP escamoteia, assim, que a crise e a dívida têm uma
génese. E ela funda-se na aceitação dos sucessivos governos do bloco central – PS, PSD, por vezes com o
CDS pela trela – das regras impostas,
primeiro pela CEE, agora pela União Europeia, que impuseram uma massiva
destruição do nosso tecido produtivo – desde a agricultura às pescas, passando
pela indústria média e pesada, até à exploração mineira.
O PCP tem sobre a questão do euro, e sobre o papel que esta
moeda, que mais não é do que o marco travestido, representa, uma atitude
oportunista e cobarde, defendendo recorrentemente a ideia de que o mal não está
no veneno, mas sim na forma como ele é ingerido ou nas doses em que é
administrado. É por isso que defende o pagamento da parte legítima de uma dívida que é ilegal, ilegítima e odiosa.
Escamoteia que é impossível resolver a questão da dívida, do
deficit e do genocídio fiscal a que este governo terrorista e fascista sujeita
o povo português, sem que Portugal saia do euro – uma moeda forte para uma
economia aberta e fraca como a nossa -, sem que o povo não seja mobilizado para
se opor, de forma firme, ao pagamento de uma dívida que não contraiu e da qual
não retirou qualquer benefício.
Dívida não é memória
dos deficits anteriores, como reclama Maria Luis Albuquerque. Dívida é um
processo através do qual um directório colonial, a mando dos grandes grupos
financeiros e bancários, liderado pelo imperialismo germânico, se utiliza das
burguesias serventuárias de alguns países – entre os quais Portugal – para assegurar
a sua dominação, transformando-os em autênticos
protectorados ou colónias.
A dívida tem sido um instrumento utilizado pelo grande
capital financeiro, bancário e industrial, mundial e europeu, para assegurar a
transferência de activos e empresas públicas – algumas de importância
estratégica vital para qualquer nação que se queira independente e livre – para
o sector privado.
O PCP escamoteia que, seja pagando parte, seja pagando a
totalidade da dívida – dívida que é da inteira responsabilidade da burguesia e
do grande capital e cuja gestão tem servido exclusivamente os seus interesses -,
fica comprometido o futuro independente e soberano e independente de Portugal,
fica comprometido qualquer plano de investimentos criteriosos que beneficiem e
correspondam aos interesses de quem trabalha.
Assim como escamoteia que a permanência no euro e o sequestro do país por
um Tratado Orçamental que lhe retira autonomia fiscal e orçamental, o
transforma, inexorávelmente, e apesar da tão reclamada mudança de políticas, num país colonizado e sem independência
política, financeira e económica.
É por isso que o PCP gosta muito de exibir e vangloriar os seus diagnósticos, mas é falho no que respeita a soluções que defendam, de forma coerente e eficaz, os interesses de quem trabalha.
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