quinta-feira, 9 de abril de 2015

Interpelação do PCP ao governo:

Uma oposição oportunista e pífia!


A interpelação ao governo levada a cabo pelo PCP, esta 5ª feira,  na Assembleia da República, veio comprovar – para quem ainda tivesse dúvidas – que este partido nunca poderá ser uma oposição coerente, combativa e digna desse nome contra as políticas de austeridade, de autêntico genocídio fiscal, levadas a cabo por um executivo que implementa as medidas que melhor servem a estratégia imperial da Alemanha e da sua tróica germano-imperialista.

Enredada em falácias e hesitações, nas malhas de uma política de traição aos interesses do movimento operário e dos trabalhadores em geral, consubstanciada na concertação social cujos efeitos paralisantes alimentam, o PCP deixa-se facilmente capturar e anular pelo discurso governamental de que é necessário impor disciplina orçamental para o país voltar a beneficiar do investimento externo e da retoma do emprego – armadilha na qual, aliás, cai também a restante esquerda parlamentar.

Essa incoerência e vesguice política permite a um governo de traição nacional desviar o enfoque da caracterização da crise e da dívida para questões formais como a contenção da despesa, a disciplina orçamental , permite que o governo esconda os reais objectivos da sua agenda reformista, uma agenda que visa alterar, diminuir ou anular os direitos dos trabalhadores e do povo no domínio das relações e contratos colectivos de trabalho e o seu acesso à cultura, à educação, ao ensino, aos transportes e a toda a sorte de subsídios, reformas e pensões, que prolongadas carreiras contributivas lhes possibilitaram.

O PCP escamoteia, assim, que a crise e a dívida têm uma génese. E ela funda-se na aceitação dos sucessivos governos do bloco central – PS, PSD, por vezes com o CDS pela trela – das regras impostas, primeiro pela CEE, agora pela União Europeia, que impuseram uma massiva destruição do nosso tecido produtivo – desde a agricultura às pescas, passando pela indústria média e pesada, até à exploração mineira.

O PCP tem sobre a questão do euro, e sobre o papel que esta moeda, que mais não é do que o marco travestido, representa, uma atitude oportunista e cobarde, defendendo recorrentemente a ideia de que o mal não está no veneno, mas sim na forma como ele é ingerido ou nas doses em que é administrado. É por isso que defende o pagamento da parte legítima de uma dívida que é ilegal, ilegítima e odiosa.

Escamoteia que é impossível resolver a questão da dívida, do deficit e do genocídio fiscal a que este governo terrorista e fascista sujeita o povo português, sem que Portugal saia do euro – uma moeda forte para uma economia aberta e fraca como a nossa -, sem que o povo não seja mobilizado para se opor, de forma firme, ao pagamento de uma dívida que não contraiu e da qual não retirou qualquer benefício.

Dívida não é memória dos deficits anteriores, como reclama Maria Luis Albuquerque. Dívida é um processo através do qual um directório colonial, a mando dos grandes grupos financeiros e bancários, liderado pelo imperialismo germânico, se utiliza das burguesias serventuárias de alguns países – entre os quais Portugal – para assegurar a sua dominação,  transformando-os em autênticos protectorados ou colónias.

A dívida tem sido um instrumento utilizado pelo grande capital financeiro, bancário e industrial, mundial e europeu, para assegurar a transferência de activos e empresas públicas – algumas de importância estratégica vital para qualquer nação que se queira independente e livre – para o sector privado.

O PCP escamoteia que, seja pagando parte, seja pagando a totalidade da dívida – dívida que é da inteira responsabilidade da burguesia e do grande capital e cuja gestão tem servido exclusivamente os seus interesses -, fica comprometido o futuro independente e soberano e independente de Portugal, fica comprometido qualquer plano de investimentos criteriosos que beneficiem e correspondam aos interesses de quem trabalha.

Assim como escamoteia que a permanência no euro e o sequestro do país por um Tratado Orçamental que lhe retira autonomia fiscal e orçamental, o transforma, inexorávelmente, e apesar da tão reclamada mudança de políticas, num país colonizado e sem independência política, financeira e económica.

É por isso que o PCP gosta muito de exibir e vangloriar os seus diagnósticos, mas é falho no que respeita a soluções que defendam, de forma coerente e eficaz, os interesses de quem trabalha.

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