
No princípio, quando se dirimiam argumentos sobre quem teria
sido o responsável por chamar a tróica para
resgatar
a dívida portuguesa e
salvar Portugal
da bancarrota, era o chorrilho propositadamente caótico de acusações entre os
diferentes sectores da burguesia que, à vez, sozinhos ou coligados,
protagonizando sempre a política de
bloco
central, tinham conduzido o país à massiva destruição do seu tecido produtivo
e transformado a
pátria amada com que
todos enchem a boca para a condição de protectorado.
Esgotado a lama e seco o lamaçal, viraram-se, então, para
outro capítulo: o de que, apesar de todos eles – PS, PSD e CDS – terem estado
de acordo em chamar a tróica germano-imperialista, existiriam antagonismos inconciliáveis entre os que,
como o PS, defenderiam uma política de
esquerda para a aplicação do Memorando da traição assinado por todos eles,
e os que, como PSD e CDS, defendiam e defendem uma visão de direita.
Tudo têm feito os subscritores daquele memorando da traição
com a tróica germano-imperialista para escamotear a origem do buraco orçamental e justificar o princípio de que a austeridade
era inevitável para um povo que teria
vivido acima das suas possibilidades. Para justificar a inevitabilidade
de chamar os credores para arrumar a casa!

Precisamente aqueles que tinham, através dos vendidos,
traidores e vende pátrias, que com eles haviam acordado em destruir a nossa
indústria, a nossa agricultura, as nossas pescas, entre muitos outros sectores
de produção, criado as condições para a cada vez maior dependência do país ao
exterior, a cada vez maior fragilização da sua já débil economia e um
endividamento progressivo, imparável e, sobretudo...IMPAGÁVEL!
E foi o que se viu. Durante o mandato dos traidores Passos e
Portas – patrocinados pelo palerma de Boliqueime – foi a destruição do que
restava do nosso tecido produtivo, a venda a pataco dos activos estratégicos
que ainda não tinham sido vendidos – EDP, REN, TLP, TAP, GALP, ANA, etc, etc,
etc. - , o roubo dos salários e do trabalho, com a imposição de mais horas de
trabalho, por menor salário, com a destruição massiva de postos de trabalho, o
roubo das pensões e reformas.

Foi a destruição sistemática do SNS, da Escola Pública, uma
miserável ataque à Contratação Colectiva, a política de despejos protagonizada
pela NRAU, ou Lei dos Despejos, a humilhação a que se sujeitaram os
desempregados, a fome e a miséria exponenciados, a drástica diminuição para o
orçamento da saúde, da educação e da solidariedade social, a expulsão de
centenas de milhar de portugueses do seu país – sobretudo jovens e qualificados
– à procura, lá fora, de um projecto de vida que lhes assegurasse a sua sobrevivência
e a da família.
E o PS, o lídimo representante da tal suposta ala esquerda dos adeptos da vinda da
tróica germano-imperialista para Portugal, sempre a defender uma oposição firme e violenta ao então
governo dos traidores nacionais Passos e Portas e seu patrono Cavaco, chegado ao
poder o que faz? Beneficiando da disponibilidade para serem suas muletas por
parte de PCP, Verdes e BE, eis António Costa e seus comparsas a apresentarem um
primeiro esboço de orçamento que mais
parecia um queijo gruyère, típico
pelos seus inúmeros buracos.
Buracos que se alargaram quando viemos a perceber, quer
durante as discussões preliminares, quer durante a apresentação da versão final – aprovada, com sérias reprimendas e dúvidas, pela
autoridade colonial que representa, nestes dias, a Comissão Europeia – que tal
lei do orçamento assenta, afinal, num
chorrilho de mentiras.

Desde logo, o rasgar de uma bandeira eminentemente
patriótica, como era o da reconquista da maioria do capital da TAP, vendida por
tuta e meia e às pressas, pelos traidores Passos e Portas, ao fura greves da
Barraqueiro e a um cowboy americano falido e mentiroso. Depois, o adiar – sabe-se lá para quando ou
se para sempre – da retoma da semana das 35 horas para os funcionários
públicos, o jogo de cintura em torno da redução da taxa do IVA, que já só
descerá de 23% para 13% na restauração, para os produtos alimentares e a cegada
em torno da eliminação da
sobretaxa
do IRS. E ainda a procissão vai no adro!
É por isso que, não fosse este orçamento, que reflecte a
política de um dos vários sectores da burguesia
que representa os interesses do imperialismo germânico, replicar mais do
mesmo no que concerne exploração, miséria e perda de soberania para a classe
operária, os trabalhadores e o povo português em geral, um drama, até
esboçaríamos um sorriso quando, os seus defensores nos vêm afirmar que, se é
certo que ele contém alguma
austeridade, ela distingue-se, no entanto, pela positiva, quando comparada com a austeridade imposta por Passos,
Portas e Cavaco.

Ou seja, para estes patifórios, tal como existiriam
troicanos de esquerda e
troicanos de direita, também agora
existirá uma
austeridade boa, em
contraponto a uma
austeridade má! A
esquerda, mesmo que formal, será responsável por iludir a questão de fundo. Que
o presente orçamento foi ditado por Berlim, com a chancela do seu instrumento político
operacional que é a Comissão Europeia.
Essa esquerda, mesmo que formal, em Portugal já é
responsável pelo facto de ter alimentado a ilusão junto da classe operária, dos
trabalhadores e do povo, de que, sem um firme repúdio do pagamento da dívida e
uma corajosa ruptura com o euro, sem promover a saída de Portugal da União
Europeia e da NATO, Portugal nunca será um país livre, democrático e próspero,
nunca será uma nação soberana.
Ou arrepia caminho ou a história remete-los-á para a mesma
galeria de traidores onde figuram já Passos, Portas e Cavaco.