O chamado poder
local democrático foi instituído pela Constituição de 1975, realizando-se
as primeiras eleições autárquicas do pós
25 de Abril de 1974 em Dezembro de 1976. Este evento, cujos 40 anos se
assinalam agora, nunca mereceu, da parte do MRPP, quaisquer ilusões quanto à
sua verdadeira natureza e objectivos.
Com efeito, tal como denunciámos logo nas primeiras
eleições autárquicas de 1976, num documento programático ainda hoje de grande actualidade
– o Mandato Popular –, as autarquias locais constituíram-se num dos
instrumentos mais penosos da exploração e opressão das massas trabalhadoras.
Nos anos das camarilhas salazarista e marcelista, os
regedores, as câmaras e as juntas foram para os operários, os camponeses e todo
o povo trabalhador os tentáculos dum polvo imenso que os manietava e sugava
através das licenças e do papel selado, dos impostos e dos fiscais, dos
polícias e dos caciques, dos calabouços e das multas.
Continuando a seguir o texto do Mandato Popular de 1976, e apesar de todas as esperanças e ilusões
propaladas pelos partidos representantes dos diversos sectores da burguesia
afirmarem o contrário, o papel das autarquias locais, relativamente ao povo,
não se alterou substancialmente depois do golpe de estado militar do 25 de
Abril de 1974. Os diversos partidos burgueses, do CDS ao PCP tomaram de assalto
juntas e câmaras, defenderam ferozmente a permanência desses instrumentos tais
como o fascismo os tinha deixado e passaram a servir-se deles em seu proveito e
contra o povo, continuando a rapiná-lo e a oprimi-lo.
E foi por isto que em muitos lugares o povo se pôs de
pé. Ao lado das câmaras e das juntas e contra elas, começou a surgir um outro
tipo de órgãos locais, embriões dum novo poder, popular, sem burocratas nem
parasitas, aptos a exprimir as reivindicações das massas: os órgãos de vontade
popular, materializados nas comissões de moradores, comissões de bairro, de
aldeia e assembleias populares.
Sem prejuízo desta posição política de fundo, o
PCTP/MRPP entendeu, e entende, que as assembleias municipais e de freguesia e
as câmaras municipais, se nas mãos do povo e dirigidas pelos seus genuínos
representantes, podem constituir-se em importantes alavancas no fortalecimento
da sua consciência e capacidade de luta, tudo estando em saber quais os
princípios, a política e o programa, qual o mandato popular que o povo deve
impor aos seus representantes e cujo cumprimento lhes deve escrupulosamente
exigir e permanentemente escrutinar.
Os órgãos autárquicos foram, ao longo destes 40 anos,
e regra geral, um pasto para as clientelas dos partidos do poder e antros de
corrupção, em que reinou sistematicamente a impunidade – tudo à custa de impostos
e derramas cada vez mais pesados sobre quem trabalha e a criação de milhares de
empresas municipais engordando um aparelho burocrático e parasitário para
distribuir mais uns quantos tachos.
Os partidos que assim se foram alapando democraticamente neste poder local eram e continuam a ser os
mesmos que, em altura de eleições, queriam e querem campanhas apolíticas e apartidárias, para se furtarem às suas responsabilidades e manterem os seus caciques no poleiro, como se
houvessem problemas nacionais que não tenham manifestações e reflexos directos
ao nível local, assim como não há problemas que possam ser resolvidos fora de
uma solução geral nacional.
E é nesse sentido que uma das coisas que os partidos
que estão no governo se apressam a pedir é que as autarquias não actuem como
contrapoder, quando é esse exactamente esse o papel que elas têm de assumir
quando se trata, designadamente, de combater as políticas que levam ao
desemprego e à miséria dos seus munícipes ou que as estrangulem
financeiramente.
Assistimos hoje também a mais uma descarada
manifestação de hipocrisia por parte dos partidos do poder, desde o PS ao CDS,
passando pelo PCP e BE, que tecem grandes loas ao chamado poder local
democrático, quando são eles próprios os responsáveis pelos maiores ataques a
esse poder, começando pela tentativa da regionalização que, apesar de derrotada
em referendo, se mantém latente, passando pela redução das dotações orçamentais
aos municípios por via das alterações da lei das finanças locais e culminando
recentemente pela demolidora e criminosa investida do anterior governo de
traição nacional Coelho/Portas, que extinguiu freguesias com ancestrais
tradições culturais, quase levando à falência municípios, sem contudo deixar de
premiar os corruptos – tudo isto é hoje escamoteado por uma santa aliança
reaccionária, mas que seguramente não será esquecido pelo povo.
Aliás, o que sobressai destas comemorações é até a
preocupante existência de um clima de bom entendimento entre António Costa e o figadal inimigo do poder local Passos
Coelho, saudada pelo presidente Marcelo, para a aprovação das medidas de
pseudo-descentralização, as quais até agora só têm prejudicado as autarquias
com maiores dificuldades por desacompanhadas de correspondentes compensações
financeiras.
No meio de tanto foguetório em redor do poder local e
de festejados autarcas que começaram a sua carreira tachista pelos Paços dos
concelhos, também seria bom não esquecer que António Costa, agora como chefe de
governo, acaba de meter na gaveta uma promessa feita como presidente da câmara
de Lisboa de criar uma Região especial nesta área metropolitana, dotada de um
governo próprio eleito por sufrágio directo, reivindicação pela primeira vez
feita pelo PCTP/MRPP há mais de 20 anos.
Para o PCTP/MRPP não há poder local democrático
enquanto nas autarquias não houver homens e mulheres que defendam
exclusivamente os interesses do povo e que façam desses órgãos alavancas para a
unidade do povo na luta por uma sociedade sem exploração nem opressão.
Recomenda-se, por
isso, a leitura do Mandato Popular
para as autarquias locais, publicado pelo PCTP/MRPP em 1976: https://drive.google.com/file/d/0B8qf4EMOlMBkc3FGMjVHM21TckU/view
40 ANOS DE ENGANOS E PROMESSAS
Os municípios ou concelhos portugueses tem origem na
organização política criada pelos romanos, tendo-se mantido ao longo dos
séculos como as estruturas básicas de organização local das populações.
·
Na grande reforma
dos concelhos, em 1835, foram criados 856 municípios.
No ano seguinte
foram reduzidos para 383.
Em 1898 eram cerca de 300.
·
Actualmente são
308.
·
Em 1950 existiam
cerca de 3.853 freguesias
·
Em 1954 eram 4.029
·
Actualmente são
4.260
·
57.445 Autarcas
foram eleitos (dados de 2011) sem contar com assessores, comissários políticos
etc..
·
Empregavam (em 2011)
132.000 funcionários. Sem contar com milhares trabalhadores que trabalham a
recibo verde. Ou que o fazem nas empresas municipais, etc.
Portugal, em toda a Europa, é o país com maior número
de Juntas de Freguesia. A sua criação no século XIX correspondeu à necessidade
dos caciques locais exercerem o seu poder junto dos governos.
Uma das formas mais expeditas que os autarcas
encontraram para subirem os seus ordenados, darem empregos aos membros dos
respectivos partidos que não foram eleitos, mas também para financiaram os
próprios partidos, foi a de criarem empresas municipais. Em 2010 calculava-se
que existissem em Portugal mais de 2.000 empresas municipais, a maioria das
quais totalmente endividadas. Estamos perante verdadeiros antros de corrupção de
que os autarcas não largam mão.
O crescente poder das autarquias, sobretudo a partir
de meados dos anos 80, tornou as câmaras municipais locais apetecíveis para
todo o tipo de corruptos. Muitos autarcas foram-se instalando no poder, criando
à sua volta vastas clientelas de dependentes. As autarquias entraram num
desnorte total.
Tornou-se uma prática corrente nas autarquias
consumirem-se rios de dinheiro em acções de propaganda, descurando as áreas
fundamentais para a qualidade de vida das populações, como a educação,
segurança, saúde, higiene, acessibilidades, etc.
O sistema político está-se nas tintas para a posição
dos pequenos partidos, bem como para os cidadãos com as suas manifestações de
oposição ao poder corrupto instalado.
A única coisa que de facto evoluíu nestes últimos 40
anos de poder autárquico em Portugal foi o número dos que não votam nos
partidos instalados no poder.
Todos nós sabemos;
·
Que os autarcas e
os seus partidos não são criminalizados pelas suas ligações corruptas com
negócios imobiliários e bancos,
·
Montaram uma
estrutura camarária que permite a autarcas corruptos e dinossauros, saltitar de
Câmara para Câmara e estarem eternamente em funções com as mordomias do cargo
de autarca como se fosse uma profissão.
·
Não existem
tomadas de decisão das populações sobre questões concretas e significativas. (Somente
a aldrabice dos orçamentos participativos e apenas onde o gangue local quiser
aplicar esses orçamentos)
·
Não existem
referendos locais, pois a classe é intocável, e presumem-se donas de todo o
saber.
·
A manutenção deste
poder autárquico está consignada nos 5 partidos Parlamentares, que o usam para
distribuir mordomias pelos seus apaniguados.
Face a este panorama é lógico que os autarcas em
Portugal, os grandes beneficiários desta administração local caótica,
perdulária, ineficiente e permeável à corrupção, estejam empenhados em que nada
mude. A mudança só será possível através de um forte movimento cívico que se
opunha a esta parasitagem que está a empobrecer Portugal.
Ninguém dúvida da importância das autarquias, assim como das suas virtualidades, mas agora estamos confrontados perante a necessidade de uma verdadeira revolução no seu funcionamento. O que existe não pode continuar É a própria democracia que está em causa.
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