sábado, 29 de junho de 2019

A preservação da natureza ou da vida passam longe da dinâmica do sistema capitalista!

Dada a sua actualidade, reedito o artigo cuja leitura e análise vos propus em 29 de Junho de 2019


Por todo o mundo se agita e engrandece um movimento contra a poluição e por uma política de ambiente que respeite a humanidade e o meio. São sobretudo os jovens a protagonizar esta onda de contestação e exigência de um mundo sustentável, onde a vida – para a humanidade, para os animais e as plantas – possa desenvolver-se de forma construtiva e sem que o caos e a destruição tenham lugar.

O papel dos marxistas nesta justa luta por um ambiente melhor e uma sustentabilidade ecológica é a de se inserir neste movimento, explicando aos jovens que a sua luta só sairá vitoriosa quando eles compreenderem que a poluição e os ataques demolidores ao ambiente e à sustentabilidade ecológica do planeta estão directamente relacionados com o sistema capitalista.

Situação que se agravou na razão directa do estadio imperialista a que o sistema capitalista se elevou. Aos jovens tem de ser explicado que é a desenfreada e ilimitada acumulação do capital que coloca em risco a vida no planeta.

O desastre climático, bem como a poluição maciça em marcha, que já eram denunciadas por Marx e Engels em várias das suas obras, não se compadecem com a utopia de imaginar que é possível sobreviver a uma política agressora do ambiente e geradora da actual  poluição caótica e crescente, coexistindo com o capital, o mercado capitalista e a exploração capitalista.

Marx considerava que existe uma interdependência entre as relações de trabalho, as relações de produção e o modo de produção capitalista e a relação com a natureza. Em várias das suas obras se manifestava a sua preocupação com a ecologia e o ambiente. Problema que ganha, nos nossos tempos, contornos absolutamente catastróficos. Para além de outros factores, como o da exploração do homem pelo homem, torna-se insustentável a continuidade do capitalismo, considerando, até, os seus custos sócio-ambientais e humanos.

Desde os seus Manuscritos económico-filosóficos, de 1844, que Karl Marx entendia que o sistema de propriedade privada opunha o homem à natureza de duas formas: a propriedade usada para explorar o outro e a capacidade desta deteriorar a relação da sociedade com a natureza. Nos supracitados Manuscritos, Marx chegou mesmo a falar na “poluição universal das grandes cidades”.

Poluição que só pode ser entendida no quadro de um sistema que assenta no princípio da sacrossanta propriedade e cujo fim último é o lucro. Marx entendeu que as contradições do processo produtivo, das relações de produção capitalistas, só poderiam redundar na destruição das condições naturais da vida humana, incluindo o empobrecimento dos solos pela agricultura capitalista.

Sistema capitalista que exponenciou a separação campo-cidade e concentrou a indústria em torno de grandes pólos urbanos. Essa concentração e uma planificação industrial baseada apenas e tão só no lucro, são a génese e a razão da poluição e dos crescentes ataques e degradação do meio ambiente que ocorrem por todo o planeta.

Não perceber esta relação de interdependência directa entre a poluição e o ataque ao ambiente e as relações de produção capitalistas, levarão à derrota – ainda que temporária – destes movimentos contra a poluição e por um ambiente melhor. A generosidade, o dinamismo, o empenho desta juventude sairá frustrado porque, não tendo logrado obter qualquer vitória no quadro do capitalismo, correrá o sério risco de cair numa profunda desmotivação, desilusão e desmobilização.

Para combater este risco, os marxistas têm, pois, de se empenhar mais nesta luta pelo ambiente e contra a poluição, contextualizando esta luta na luta mais geral contra o capitalismo.  

Têm de fazer ver a estes jovens – e não só – que, como dizia Marx, quanto mais um país aposta no seu desenvolvimento a partir da grande indústria, tanto mais rápido será o processo de destruição. Isto porque a produção capitalista somente desenvolve a técnica e a combinação do processo de produção social à custa da destruição das fontes de toda a riqueza – a terra e os trabalhadores.
 
Em O Capital, Marx explicava com muito rigor como é que a agricultura capitalista rompe a relação orgânica do trabalhador com a terra, sendo o trabalho o pai e a mãe a terra. Explicava como, sendo a relação capitalista com o solo puramente mercantilista e predatória, a terra não está conectada com as necessidades das gerações futuras.

Era pois simultaneamente social e, digamos, ecológico, o pensamento de Marx, já que assentava na premissa de que a indústria capitalista somente produz valor de uso na condição de mercadorias, logo, na condição de proporcionarem acumulação do capital. Ora, nesta perspectiva, a preservação da natureza ou da vida passam ao lado da dinâmica do sistema capitalista.


Pelo caminho, os marxistas terão de desmascarar todos aqueles partidos e movimentos que, afirmando-se verdes e ecologistas,  lhes tentam passar a ideia de que a solução para o fim da poluição e por uma política ambiental respeitadora da natureza , da raça humana, dos animais e do mundo vegetal, pode passar por reformas assentes na boa vontade  e boa consciência de políticos que mais não são do que gestores dos interesses do grande capital.




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