
Este é um resultado
directo de duas políticas urbanas que se começaram a desenhar e a impor nos
grandes centros urbanos, a partir da primeira metade dos anos 90 do século XX,
com o famigerado Plano Director Municipal de Jorge Sampaio, então presidente da
Câmara Municipal de Lisboa:
1. A alteração do conceito de municipalização dos
solos para o de liberalização dos solos
2. O premiar, fiscal e não só, de empresas
designadas por fundos imobiliários,
3. Que
tomaram de assalto a cidade de Lisboa e outras grandes urbes, a pretexto de um plano de recuperação e reabilitação urbanos.
Esta políticas, combinadas com a famigerada e
fascista Lei das Rendas de Assunção Cristas, levaram à expulsão da cidade de
Lisboa – e continuam a levar – de cerca de 10 mil habitantes por ano!

Estas
famílias são a parte visível do iceberg que
são os chamados danos colaterais que
o PCTP/MRPP sempre denunciou que iriam suceder, provocados por:
1. Sucessivas leis das rendas, desde a que foi elaborada e aprovada
durante os governos de Sócrates, até ao refinado NRAU proposto pela fascista Cristas e aprovada pelo governo
de coligação da direita com a extrema-direita – do PSD/CDS-PP;
2. Pelos sucessivos Planos Directores Municipais (PDM) – o mais
elaborado dos quais foi o primeiro PDM de Lisboa proposto por Jorge Sampaio -,
que privilegiaram a liberalização dos solos, ao invés de implementarem e consolidarem a sua municipalização;
3. Benefícios fiscais – promovendo, inclusive, a isenção de impostos
para os chamados fundos imobiliários, com a
premissa de que tais fundos ajudariam à reabilitação urbana e ao restauro de prédios degradados, sobretudo nos grandes
centros urbanos;
4. Liquidação, esbulho e roubo das principais plataformas e
organismos com capacidade para se constituírem como reguladores do mercado
imobiliário – o caso mais paradigmático é o da EPUL, em Lisboa, cujo património
foi saqueado pela Câmara Municipal de Lisboa, quando António Costa presidia ao
seu executivo, o que lhe proporcionou, com a verba extorquida, limpar o resultado negativo que o orçamento camarário então
apresentava.

Sempre
que o governo ou os executivos camarários responsáveis pela execução de leis
como a das rendas ou da gestão
dos solos urbanos vierem propalar que a sua preocupação
foi a de acrescentar valor às
cidades, afirmando que tal foi conseguido, em poucos anos, com a reabilitação
de prédios urbanos degradados, o que estas famílias de operários, trabalhadores
e outros elementos do povo têm de questionar é o seguinte:
1. Acrescentar
valor para quem?
2. Reabilitar edifícios urbanos para servir que interesses?
E, na
resposta, só conseguirão identificar os fundos
imobiliários e a especulação imobiliária como
principais destinatários dos tão elogiados benefícios.
Sem que
seja levada a cabo uma política de municipalização dos solos, em que caiba a
cada município decidir sobre o destino a dar a cada uma das parcelas, isto é:
1. O que em cada uma delas deve ser construído;
2. Que interesse social deve servir;
3. Quais os custos e margens que quem aceitar os cadernos
de encargos deve esperar.
Sem
esta política, o que continuaremos a assistir é ao agravamento da dimensão
destas listas de espera, é ao
agravamento das condições de acesso dos trabalhadores e suas famílias a uma
habitação condigna e a preços condicentes com os seus baixíssimos rendimentos.
O que os fundos imobiliários nos trouxeram, a reboque da reabilitação urbana, foi a transformação de milhares de casas degradadas e devolutas em alojamentos locais, hostels e hotéis, e não à sua disponibilização para o mercado do arrendamento a preços acessíveis para os rendimentos dos trabalhadores.
É
impossível e insustentável para uma família com rendimentos médios como o
daquelas que integram as famigeradas listas de espera, aceder a qualquer
habitação, que um qualquer fundo imobiliário tenha reabilitado, pois o preço
por metro quadrado em cidades como Lisboa ou Porto, atingiram níveis
absolutamente galácticos, ao nível das capitais europeias mais caras.
Aliás,
por efeito desta especulação nos grandes centros urbanos, a pressão imobiliária
já se começa a fazer sentir nas suas periferias, o que vai agravar a situação e
atirar um número crescente de elementos do povo para a potencial condição de
sem abrigo.
Para
uma classe política tão enérgica a defender os interesses do grande capital
financeiro e imobiliário que passa a vida a justificar as medidas que se enunciam
com as melhores práticas que se
observam em outros países do espaço da União Europeia, a denúncia é simples de
articular e demonstra que não é necessária nenhuma revolução operária e
comunista para que alguma justiça seja praticada em matéria de acesso à
habitação por parte dos trabalhadores pobres e suas famílias, nem que estes
terão de ser expulsos das cidades onde nasceram, cresceram e criaram os seus
laços, culturais e sociais.
A
Holanda e a Suécia são dois exemplos paradigmáticos. Apesar de, quer os
executivos governamentais, quer os camarários, estarem na sua maioria nas mãos
de partidos conservadores e de direita, nestes países prevalece o princípio da
municipalização dos solos que acima se descreve. Em Berlim, capital do
imperialismo germânico, uma petição lançada em 1990, não só garantiu um preço
justo por m2, como o direito de preferência para o inquilino, caso o senhorio
pretendesse vender a casa onde ele habitava.
Outro
exemplo paradigmático é o de Viena de Áustria onde, como em Berlim, mais de 80%
dos habitantes são inquilinos mas, apesar do custo de vida ser elevado na
antiga capital de Habsburgo, a renda média praticada é de apenas 9,60 euros por
metro quadrado. Motivo: 60% dos habitantes vivem em apartamentos pertencentes à
cidade ou a promotores de interesse público, devido à política de municipalização
dos solos praticada naquela e noutras cidades austríacas.
A cada
dia que passa torna-se cada vez mais clara para o povo a traição miserável de
PS, PCP, BE e Verdes, e cada vez se torna mais evidente porque é que, ainda
durante a vigência do governo Coelho/Portas, tutelado por Cavaco, não mexeram
uma palha, não tomaram qualquer iniciativa, para suscitar a fiscalização
sucessiva do NRAU (Lei dos Despejos de
Cristas), junto do Tribunal Constitucional, por manifesta inconstitucionalidade
da mesma.
Traição
que prosseguiu durante a vigência do actual governo de coligação do PS com as
muletas do PCP/BE/Verdes que, face a uma Lei das Rendas absolutamente fascista,
a única solução que apresentam não passa de pura cosmética! Como, aliás, está à
vista!
Nenhuma
medida foi tomada para, de raiz, resolver o tremendo problema da habitação que
existe nos principais centros urbanos do país, e que se prende com a
desenfreada especulação imobiliária que serve os famigerados fundos imobiliários e toda a sorte de proprietários sem
escrúpulos.
Artigo publicado na edição do Luta Popular online de 03 de Junho de 2019:
http://www.lutapopularonline.org/index.php/partido/2529-por-uma-politica-de-habitacao-ao-servico-de-quem-trabalha
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