Uma saga sem fim à vista?!
A detenção de José Sócrates e posterior medida de
prisão preventiva a que o juiz Carlos Alexandre o sujeitou, despertou nos
eternos ingénuos da política – para além
dos profissionais do golpe e do oportunismo político – uma onda de alegria pelo
facto, presumem, de a justiça finalmente estar a funcionar!
Nada de mais falacioso. Para além de que legislação
promovida e aprovada por bandidos nunca poder servir para os julgar e muito
menos condenar, o contexto em que sucessivos eventos ocorrem, como são o caso
GES/BES, a detenção e posterior medida de impôr uma caução de 3 milhões de
euros ao pobrezinho banqueiro do
regime, Ricardo Salgado, as cirúrgicas fugas
de informação que redundaram no abortar da operação
Labirinto – na qual estão envolvidas figuras gradas do regime ligadas ao
PSD – e a recente operação Marquês que
levou à detenção e posterior medida de prisão preventiva de Sócrates,
demonstram à exaustão que a componente criminal invocada serve para escamotear
a componente política que determina a existência de um regime e de um bloco
central de interesses que configura uma autêntica associação criminosa.
Os trabalhadores e o povo português têm vindo a
assistir - e a sofrer as consequências - de uma ópera bufa representada, à vez
ou em simultâneo, por PS e PSD, por vezes com a colaboração de um compère de ocasião como é o inefável Paulo
Portas e o seu cão amestrado CDS, a
que se convencionou chamar Bloco Central !
Não terá sido mera coincidência o facto desta operação justicialista que culminou com o encarceramento de José Sócrates em
Évora ocorrer nas vésperas do Congresso do PS destinado a aclamar o seu novo
líder, António Costa, e a moção programática que defende – herdeira do programa
de Sócrates - como alternativa ao governo
de traição nacional de Coelho e Portas, e do seu tutor Cavaco.
Só tolos poderiam aceitar essa coincidência! Para mais num momento em que António Costa e a actual
direcção do PS se esforçam por assegurar que em próximas eleições legislativas,
caso venham a obter uma maioria absoluta, prosseguirão a mesma política de PSD
e CDS, mas com uma cara lavada. Tal
como fez Hollande do PS francês, que prometeu acabar com a austeridade e opor-se à chancelerina Merkel , mas que no dia seguinte
às eleições, o seu primeiro acto político foi meter-se num avião e ir a Berlim
prestar-lhe vassalagem, prosseguindo e agravando as medidas políticas
terroristas e fascistas que o seu antecessor, o saltapocinhas Sarkozy levara a cabo.
São, pois, muitos, diversificados e caricatos os casos
em que ministros, ex-ministros e figuras do topo da hierarquia do estado
ligados ao bloco central são alvo da justiça
– não da justiça popular que um dia se fará, mas do arremedo de justiça que o
sistema burguês possibilita – e a fazer com que a velha máxima de que à mulher
de César não lhe basta ser séria…tem de o parecer, nunca como agora teve tanta
razão de ser.
As contas deste rosário parecem nunca mais acabar.
Sucedem-se casos como os submarinos, a Portucale, as PPP’s, os SWAP’s, o BPN, o
grupo GES/BES, os golden visa, enfim,
para todos os gostos e tipo de corruptos e corruptores. Tudo bons rapazes…está de ver! Assim como está para se
ver quantos mais episódios desta guerra
entre parceiros de bandidagem conhecerão a luz do dia, à medida que os períodos
eleitorais ditarem que se inicie a lavagem de roupa suja.
Apesar de se sucederem a um ritmo estonteante os
episódios de corrupção ou de suspeita da sua prática, será pedagógico
perceber-se o como e o porquê deste caldo
a que se chama BLOCO CENTRAL se ter transformado numa verdadeira escola de
formação de criminosos.
O processo explica-se em poucas linhas:
·
Primeiro, fruto das políticas levadas a
cabo pelo centralão – PS e PSD (com o
CDS sempre à espreita e a reboque) – liquida-se o nosso tecido produtivo em
troca de subsídios supostamente destinados a fazer entrar o povo português no
paraíso de leite e mel, no céu da abundância e da riqueza solidária dos países desenvolvidos do norte do continente europeu;
·
Os subsídios começam a fluir, como começa
a fluir todo um exército de especialistas,
políticos de carreira, consultores jurídicos e financeiros, a
arrogar-se detentores da VERDADE
sobre qual a aplicação a dar aos abundantes fundos que começavam a entrar nos
cofres do estado e a merecer o apetite vampiresco daqueles que, rapidamente, os
queriam transferir para os seus cofres privados;
·
Mas, cedo a classe política se apercebeu
que tal roubo não poderia ser feito às claras, de forma ostensiva e descarada.
Logo, uma vez mais, um exército de políticos
de carreira, de consultores
jurídicos e financeiros, lançaram a artimanha jurídico-legal que corporiza as
PARCERIA PÚBLICO PRIVADAS e das Empresas Públicas com gestão privada, que se
encarrega de consumar o roubo, mas sob a capa da legalidade;
·
Numa intrincada teia de
promiscuidades onde alguns advogados e outros jurídicos repartem as suas
funções de deputados com as de consultadoria ao grupos parlamentares dos partidos
da burguesia, através dos grandes gabinetes de advocacia aos quais continuam
ligados, o edifício jurídico vai sendo montado à medida dos interesses do
saqueio desses fundos que tão generosamente
davam entrada no país;
·
Daí até às regras de adjudicação, à rede
de influências e às troca de favores
foi um pequeno passo. Passo, aliás, que mais não seria do que a consequência
lógica do processo tão laboriosamente montado;
·
Desses fundos públicos, agora em mãos
privadas, à custa de desvios de dinheiro, obras adjudicadas por um montante e
terminadas em montantes escandalosamente superiores, de luvas devidas a trocas
de favores, políticos, económicos e financeiros, surgiram novas corporações
financeiras, novos grupos económicos que, temerosos, como é apanágio de um
ladrão que se preze, de que alguém lhes viesse roubar aquilo que tinham acumulado com tanto sacrifício, se apressaram a colocar as mais-valias em offshores e, não contentes, a criar a sua própria
offshore na Madeira, assegurando uma gigantesca lavagem de dinheiro, ocultando
a origem fraudulenta do dinheiro roubado.
Tudo isto foi sendo praticado ao longo das últimas
três décadas de forma impune. As leis tinham sido criteriosamente produzidas de
modo a assegurar a impunidade dos criminosos.
Seria fastidioso elencar as personagens que ao longo
destas três décadas se locupletaram com verbas faraónicas. Eles pertencem aos
vários partidos do arco do poder,
numa intrincada teia que vai desde o poder central ao chamado poder
local. E, em nome do sacrossanto princípio político eleitoral que
convenientemente montaram, asseguraram que a rotatividade entre o PS e o PSD – a famosa e famigerada
bipolaridade – garantiria que todos eles haveriam, como diz o povo, comer da gamela.
A contrapartida aos fundos tão generosamente colocados à disposição do nosso país pelo directório
europeu, dominado pelo imperialismo germânico, era o de que abandonássemos a
agricultura, porque os franceses produziam mais, melhor e mais barato;
abandonássemos as pescas, porque os espanhóis tinham melhor frota e venderiam o
pescado a preços mais atractivos; destruíssemos a nossa indústria naval,
metalomecânica/metalúrgica, siderurgia, etc., porque os alemães tinham melhor know-how e a preços muito mais
competitivos.
Não serviram, portanto, esses fundos para equipar a
nossa frota pesqueira, para mecanizar e modernizar a nossa agricultura ou para
robotizar e tornar mais especializada e inovadora a nossa indústria. Nada
disso! Serviram para implementarmos, a par do compadrio e da corrupção, a famigerada
política do betão, levada a cabo
pelos sucessivos governos do proeminente
economista Cavaco, que assegurou as auto estradas do desenvolvimento, isto é, as vias que assegurariam o escoamentoa
massiço dos produtos oriundos dos países daqueles que tão generosamente nos tinham atribuído tais fundos.
Serviram, isso sim, para que do ponto de vista
político e económico Portugal ficasse refém dos grandes grupos financeiros,
bancários e industriais – particularmente os alemães – e que, forçado a
integrar um sistema monetário e uma moeda forte como o euro – o marco
travestido -, com uma economia totalmente fragilizada, os sucessivos governos
vende-pátrias tivessem sujeitado o país à total perda de soberania política,
económica, fiscal, orçamental e cambial, isto é, transformado Portugal numa
autêntica sub-colónia ou protectorado do imperialismo germânico.
Claro está que um país como Portugal que, mercê da
destruição sistemática do seu tecido produtivo, se vê obrigado a importar mais
de 80% daquilo que necessita para alimentar o povo e para que a sua economia se
desenvolva, a fórmula que o capitalismo encontra para equilibrar as coisas a contento dos seus interesses de rapina é a
de emprestar dinheiro, estimular o
crédito – ao estado e aos particulares - com juros faraónicos, esperando que a
espiral de endividamento que tal política irá, necessariamente, provocar lhes
permita arrogar-se o direito de exigir ao estado português, como pessoa de bem que supostamente deve ser,
que pague a factura.
Como o estado não é pessoa de bem porque foi minado por toda a sorte de bandidos sem
escrúpulos, e o dinheiro que teria para supostamente pagar a dívida se esvaiu em contas na Suíça ou
em offshores espalhados por esse
mundo fora, e se entreteve a destruir o tecido produtivo do país, resta-lhe uma
garantia ou moeda de troca para pagar essa dívida
que os abutres do FMI, do directório europeu, a mando do imperialismo
germânico, agora reclamam: embaratecer
os custos salariais, empobrecer o
povo, destruir todo o tipo de políticas
sociais – desde o acesso à saúde até ao acesso à educação, passando pelas
mais variadas prestações sociais – para tornar Portugal a Malásia da Europa, com mão de obra intensiva, não especializada e
baratinha e vender a preços de saldo todos os activos e empresas estratégicas
para qualquer economia que se deseje independente e ao serviço dos
trabalhadores e do povo.
O ambiente de sublevação que se está a manifestar por
todo o país tem de se agigantar, romper com o medo que este governo fascista e
vende-pátrias, com as suas medidas terroristas, está a querer induzir sobre os
trabalhadores e o povo português, pois, se não o fizer, está a alimentar os
algozes da sua própria morte, miséria, fome, desemprego e precariedade.
Aos trabalhadores e ao povo português nada mais resta
do que derrubar este governo serventuário dos interesses dos grandes grupos
financeiros e bancários, do imperialismo germânico, correr com o FMI e restante
tróica de Portugal e edificar um Governo de unidade Democrática e Patriótica que prepare a saída
de Portugal do euro e se recuse a pagar uma dívida que não foi contraída pelo
povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício.
Sem comentários:
Enviar um comentário