sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Dinheiros públicos estão a pagar vícios privados!

Apesar de todos os esforços no sentido de culpabilizar os trabalhadores e o povo português pelo, défice e pela dívida, repetindo até à nauseabunda exaustão a tese destilada pelo chefe do gang da família Espírito Santo, Ricardo Salgado, de que estes andaram a viver acima das suas possibilidades, é paradigmático o facto de o governo de traição nacional liderado por Coelho, Portas e Cavaco, face aos recentes acontecimentos que levaram ao autêntico golpe de estado que constituiu a falência do Grupo Ges/BES –uma morte há muito anunciada – virem agora afirmar que dívidas privadas não podem ser pagas por dinheiros públicos!

É preciso descaramento, tanto mais que por detrás destas declarações não existe nenhuma intenção de repudiar uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício. Como sempre o denunciámos, e o mais recente caso do BES o comprova. E, recorde-se, Ricardo Salgado, o brilhante timoneiro deste banco falido, era um dos que repetia ad nauseum a tese advogada pelo executivo de serventuários ao serviço da tróica germano-imperialista a cujo banquete esta corja sôfrega quer aceder, nem que seja aos restos!

Há uns tempos atrás, aliás, um parasita da índole de Ricardo Salgado, o banqueiro Fernando Ulrich, viu o seu banco sobreviver graças à política terrorista e fascista deste governo. O dito afirmava provocatóriamente que o povo português “ai aguenta…aguenta!” o roubo do seu trabalho e dos seus salários, o inaudito aumento da carga fiscal, os cortes nas chamadas prestações sociais, a crescente denegação do direito à justiça, da educação, da saúde, o aumento de todos os bens e serviços essenciais, para pagar uma dívida que não havia contraído e da qual não havia retirado qualquer benefício.

Para não perder o pé nesta autêntica parada da imbecilidade nazi, pela mesma altura, o ministro da destruição do que resta da educação pública,  Nuno Crato, numa autêntica campanha para convencer os trabalhadores e o povo a aderirem ao agravamento do genocídio fiscal que representa a aplicação da Lei Geral do Orçamento de Estado para 2014, não querendo ficar atrás do imbecil Ulrich, defendeu que o povo teria de trabalhar um ano sem comer, para que fosse paga na totalidade essa dívida! Esta gente não tem cura. Há uns tempos atrás, era Manuela Ferreira Leite a defender a suspensão da democracia, desejo prontamente satisfeito por Passos, Portas e Cavaco!

Podem alguns considerar haver algum humor (seguramente negro) nestas declarações de Crato. O que é certo é que o governo que integra já implementa um conjunto de medidas, a mando da tróica germano-imperialista, que nem sequer, como é tradicional num modelo de sociedade em que o capital explora o trabalho, asseguram o mínimo suficiente de subsistência para que os trabalhadores e suas famílias reproduzam a força de trabalho necessária à prossecução de um sistema que assenta na exploração do homem pelo homem.

E depois, vem o Passos Coelho e todos os opinólogos ao seu serviço destacar a preocupante redução da natalidade, tendo o PSD criado, inclusive, uma Comissão dita independente para produzir um relatório que, escamoteando claramente que essa redução está intimamente associada à promoção institucional da emigração, aos cortes nas prestações sociais, ao crescente nível de desemprego e precariedade que, primeiro o deposto governo de Sócrates, e agora o governo de traição nacional que integra, aceitaram implementar quando assinaram o Memorando de Entendimento com os grupos financeiros e bancários, sobretudo alemães, que beneficiam lautamente com o negócio da dívida.

Para que os incautos possam uma vez mais ser enganados, a dita Comissão chega, inclusive, a propor alterações e reduções a alguns escalões do IRS para beneficiar famílias numerosas! Santa hipocrisia, quando foi este e o anterior governo que se encarregaram de praticamente eliminar o chamado abono de família, agravando com essa medida as condições de vida de uma parte considerável dos trabalhadores e do povo português.

A inteligência criminosa do actual ministro da saúde, Paulo Macedo, que começou a revelar-se aquando da sua passagem pelo BCP/Millenium onde, como gestor, foi co-responsável pela criminosa política de casino especulativo em que aquela entidade bancária privada se envolveu, mormente a arriscada e desastrosa compra de dívida pública de outros países e a adesão a fundos de alto risco que estiveram na base do estrondoso rebentamento da famigerada bolha imobiliária, está agora cada vez mais refinada, sucedendo-se as mentiras que, tantas vezes repetidas, está em crer que serão aceites como verdade.

Como a burguesia valoriza quem ostenta esta criminosa inteligência que consegue justificar que os vícios privados têm de ser pagos com dinheiros públicos, isto é, à custa do aumento de impostos, logo vislumbrou em Paulo Macedo, um excelente director geral das Finanças – leia-se, para optimizar o assalto, via impostos, a quem trabalha. E, como em matéria de defender os interesses da burguesia, tanto faz que seja o PS, como o PSD a fazê-lo, eis Paulo Macedo – naquilo que se pode considerar a expressão de uma verdadeira entente do bloco central – a aceitar tais funções no quadro de um governo PS, mormente o que foi presidido pelo em boa hora escorraçado Sócrates.

Tantos e tão valorosos foram os préstimos de Paulo Macedo, nomeadamente em criar as condições para que a tese de que o povo esteve a viver acima das suas possibilidades, que quando Passos Coelho anunciou a formação deste governo de traição PSD/CDS, lá vinha o personagem indicado como Ministro da Saúde. Claro que tivemos de imediato a consciência de que a sua tarefa seria a de tratar da saúde aos trabalhadores e ao povo português.

E tão diligentemente o está a fazer que, seguindo os planos – e aprofundando-os, até – iniciados no governo de Sócrates, encerrou centros de saúde, maternidades, serviços de urgência, etc., e pretende encerrar hospitais de referência como o de Santa Cruz para transferir activos públicos de grande especialização para o sector privado – mormente para a Cruz Vermelha, mas também para os Grupos Melo, Champalimaud e BES, entre outros - , aumentou para o dobro as taxas moderadoras para as consultas médicas e para os que recorrem às urgências hospitalares e caucionou um dramático aumento dos custos de transporte em ambulâncias.

Pois é, tal como no passado se gabava dos fabulosos lucros que ajudou o BCP a ensacar – e que agora os trabalhadores e o povo português estão a ser obrigados a pagar -, tal como no passado se orgulhava de ter posto na ordem o serviço de colecta de impostos, Paulo Macedo vem anunciar, todo ufano, uma grande redução do recurso a consultas médicas e aos serviços de urgência hospitalar.

Isto é, aumenta-se para o dobro o valor das taxas moderadoras, reduzem-se os actos médicos, quer os decorrentes das consultas médicas, quer os das urgências e internamentos hospitalares (nos quais se incluem as intervenções cirúrgicas), despedem-se centenas de enfermeiros, auxiliares e médicos, para se chegar à conclusão de que, do ponto de vista financeiro, o resultado líquido não só torna mais exequível o SNS, como permite gerar poupança para o erário público.

Pois é, estas acções estão agora a revelar as consequências que prevíramos e denunciámos. Um impacto criminoso cujos efeitos poderemos desde já elencar:

·         maior índice de mortalidade,
·         quebra dramática da esperança média de vida,
·         baixa abrupta do índice de natalidade,
·         rápido e progressivo agravamento do envelhecimento da população com as implicações que tais fenómenos sociais terão nos fundos da segurança social e na política de prestações sociais que são da responsabilidade do Estado.

Bem pode Passos Coelho e o seu governo vende pátrias vir agora chorar lágrimas de crocodilo e afirmar-se apreensivo com a dramática quebra dos índices de natalidade que, a não ser derrubado este governo e constituído um governo de unidade democrática e patriótica que faça Portugal sair do euro, repudie a dívida e ponha em marcha um programa de recuperação do tecido produtivo e um plano de investimentos criteriosos, e em algumas décadas será a própria sustentabilidade de Portugal como nação independente que estará comprometida.



2 comentários:

  1. Hoje ouvi um comentário em que diziam que ao contrário do que se esperava o PS ainda ia ter mais votos por causa do Sócrates, algo do tipo as pessoas estarem com pena do coitadinho ... esta mentalidade é-me intelectualmente assustadora na medida em que de facto o povo pode ser por vezes contraditoriamente estúpido ...

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    1. Muitos intelectuais que se reclamam de esquerda ainda não compreenderam que os piores inimigos da classe operária, dos camponeses, dos trabalhadores em geral, os piores inimigos do povo são aqueles que se insinuam no seu seio, com uma linguagem aparentemente de esquerda - até com "preocupações" sociais - para os desviar do seu rumo que é o de acabar com a sociedade que sobrevive à custa da exploração do homem pelo homem.

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