Num frenesim a raiar o patético, a comunicação social dá conta de um crescendo de opiniões favoráveis, quer à renegociação, quer ao perdão da dívida
ou, mesmo, à combinação das duas, chegando a anunciar que mais de 300
economistas de todo o mundo – incluindo o prémio Nobel da economia Joseph Stiglitz – apelam a que se respeite a decisão do povo
grego e se chegue a um acordo entre a União Europeia e o governo legítimo da
Grécia, sufragado pelo seu povo, que escolheu recentemente o programa do Syriza
para governar o país.

Ora, é aqui que a porca torce, precisamente, o rabo. De que
modelo de crescimento económico estamos a falar? Não estando em causa, em
nenhuma dessas opiniões, que deva ocorrer a saída de Portugal – ou de outros
países com o mesmo tipo de problemas que o nosso enfrenta – do euro, o que se
nos oferece dizer é que o que estes fazedores
de opinião advogam é que venha mais do mesmo por mais tempo.
Senão, vejamos! Destruído que foi o tecido produtivo
português que levou ao desmantelamento da indústria, da agricultura, das pescas, do
sector mineiro e está a impedir Portugal de tirar partido das vantagens de
partida da sua posição geo-estratégica de entrada e saída do essencial das
mercadorias de e para a Europa, temos a combinação articulada de uma moeda
forte – o euro, que nada mais é do que o marco travestido – com uma economia
fraca, melhor dito, propositada e antecipadamente fragilizada.
Frágil ao ponto de ter agravado o seu déficite comercial, a
sua balança de pagamentos e a dívida
que decorre desses desequilíbrios. Frágil porque vende numa moeda forte, o que
torna pouco competitiva a sua economia e os produtos que pretende vender para o
exterior e faz com que se torne mais barato
comprar no exterior, a países com moeda e soberania cambial muito mais
favoráveis em relação ao euro que, por virtude dos interesses económicos
específicos dos grandes grupos financeiros, bancários e industriais alemães é
sistematicamente impedido de ser sujeito
a qualquer depreciação ou desvalorização.
É, pois, a este modelo de crescimento económico que estes opinadores
de pacotilha e outras eminências pardas
se referem. Ou seja, esgotado o modelo austeritário
que levou a induzir a desvalorização
do euro, não através de uma medida cambial, mas do roubo dos salários e do
trabalho e do corte nas despesas e gorduras do estado – leia-se, toda a sorte de subsídios, benefícios sociais , entre os quais se incluem
o acesso à saúde, à educação, a habitação e os transportes- e verificando-se
que a contestação social decorrente da aplicação deste modelo está a colocar em
causa, não só o próprio modelo, mas o sistema político que o aplica, levanta-se
este coro afinado de vozes pela reestruturação e pelo perdão da dívida.

Mas, sempre e sempre, tendo em mente que o negócio será
gerar mais dívida, apenas que, agora, desejavelmente de forma…mais sustentável! O que estas propostas
e estes modelos tentam escamotear – por detrás da promessa de crescimento económico – é que, a
manter-se o euro, a manter-se o modelo de divisão de trabalho imposta pela
potência imperial alemã a todos os países da chamada Europa comunitária, a manter-se um tratado orçamental que retira a
soberania orçamental, fiscal, cambial a países como Portugal, o perdão ou reestruturação das dívidas funcionam como os placebos paliativos
que se administram a um paciente que padeça de um cancro, isto é, podem até
aliviar alguns dos efeitos secundários da doença, mas nunca eliminar as suas
causas.
Pior, adiar a solução, que passa pelo derrube deste governo
de traição nacional e pela constituição de um Governo de Unidade Democrática e
Patriótica que imponha a saída de Portugal do euro e o não pagamento de uma
dívida ilegítima,ilegal e odiosa, só agravará o quadro de desemprego, miséria e
perda de liberdade e democracia a que os trabalhadores e o povo português estão
a ser sujeitos.
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