sábado, 7 de fevereiro de 2015

Quando o perdão da dívida se pode tornar um bom negócio para o capital!

Num frenesim a raiar o patético, a comunicação social dá conta de um crescendo de opiniões favoráveis, quer à renegociação, quer ao perdão da dívida ou, mesmo, à combinação das duas, chegando a anunciar que mais de 300 economistas de todo o mundo – incluindo o prémio Nobel da economia Joseph Stiglitz – apelam a que se respeite a decisão do povo grego e se chegue a um acordo entre a União Europeia e o governo legítimo da Grécia, sufragado pelo seu povo, que escolheu recentemente o programa do Syriza para governar o país.

Frenesim que culmina uma campanha alegre iniciada por Hollande – e aplaudida pelos basbaques dirigentes socialistas em Portugal – quando este prometeu, durante as eleições presidenciais francesas, um modelo de crescimento em alternativa à austeridade imposta pela chancelerina Merkel, para logo após a sua eleição ir prestar vassalagem à nova fuher alemã, um frenesim que até mereceu a concordância de um consultor residente do FMI no protectorado de Portugal e do insuspeito Instituto Económico Alemão, todos eles a defender que o alívio da dívida é essencial para o crescimento económico.

Ora, é aqui que a porca torce, precisamente, o rabo. De que modelo de crescimento económico estamos a falar? Não estando em causa, em nenhuma dessas opiniões, que deva ocorrer a saída de Portugal – ou de outros países com o mesmo tipo de problemas que o nosso enfrenta – do euro, o que se nos oferece dizer é que o que estes fazedores de opinião advogam é que venha mais do mesmo por mais tempo.

Senão, vejamos! Destruído que foi o tecido produtivo português que levou ao desmantelamento  da indústria, da agricultura, das pescas, do sector mineiro e está a impedir Portugal de tirar partido das vantagens de partida da sua posição geo-estratégica de entrada e saída do essencial das mercadorias de e para a Europa, temos a combinação articulada de uma moeda forte – o euro, que nada mais é do que o marco travestido – com uma economia fraca, melhor dito, propositada e antecipadamente fragilizada.

Frágil ao ponto de ter agravado o seu déficite comercial, a sua balança de pagamentos e a dívida que decorre desses desequilíbrios. Frágil porque vende numa moeda forte, o que torna pouco competitiva a sua economia e os produtos que pretende vender para o exterior e faz com que se torne mais barato comprar no exterior, a países com moeda e soberania cambial muito mais favoráveis em relação ao euro que, por virtude dos interesses económicos específicos dos grandes grupos financeiros, bancários e industriais alemães é sistematicamente impedido de ser  sujeito a qualquer depreciação ou desvalorização.

É, pois, a este modelo de crescimento económico que estes opinadores de pacotilha e outras eminências pardas se referem. Ou seja, esgotado o modelo austeritário que levou a induzir a desvalorização do euro, não através de uma medida cambial, mas do roubo dos salários e do trabalho e do corte nas despesas e gorduras do estado – leia-se, toda a sorte de subsídios,  benefícios sociais , entre os quais se incluem o acesso à saúde, à educação, a habitação e os transportes- e verificando-se que a contestação social decorrente da aplicação deste modelo está a colocar em causa, não só o próprio modelo, mas o sistema político que o aplica, levanta-se este coro afinado de vozes pela reestruturação e pelo perdão da dívida.

Estes opinadores escamoteiam criminosamente que meia dúzia de países, sobretudo da chamada zona euro, com a Alemanha à cabeça, têm beneficiado da crise e da dívida, como o demonstra o facto  - assinalado pelas próprias instituições europeias -  de o PNB (Produto Nacional Bruto) dos mesmos ser bastante superior ao PIB (Produto Interno Bruto) que geram, ao contrário do que se passa nos países intervencionados pela tróica germano-imperialista, onde o PNB é manifestamente inferior ao seu PIB, em virtude de lhes estar a ser imposto o pagamento de juros agiotas sobre uma dívida que os povos, não só não contraíram, como dela não retiraram qualquer benefício!

Mas, sempre e sempre, tendo em mente que o negócio será gerar mais dívida, apenas que, agora, desejavelmente de forma…mais sustentável! O que estas propostas e estes modelos tentam escamotear – por detrás da promessa de crescimento económico – é que, a manter-se o euro, a manter-se o modelo de divisão de trabalho imposta pela potência imperial alemã a todos os países da chamada Europa comunitária, a manter-se um tratado orçamental que retira a soberania orçamental, fiscal, cambial a países como Portugal, o perdão ou reestruturação das dívidas funcionam como os placebos paliativos que se administram a um paciente que padeça de um cancro, isto é, podem até aliviar alguns dos efeitos secundários da doença, mas nunca eliminar as suas causas.


Pior, adiar a solução, que passa pelo derrube deste governo de traição nacional e pela constituição de um Governo de Unidade Democrática e Patriótica que imponha a saída de Portugal do euro e o não pagamento de uma dívida ilegítima,ilegal e odiosa, só agravará o quadro de desemprego, miséria e perda de liberdade e democracia a que os trabalhadores e o povo português estão a ser sujeitos.



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