Só com luta dura e
prolongada os estudantes, pais e professores vencerão!
O Conservatório para a Música criado em Lisboa nasce de um
projecto proposto pelo compositor português João Domingos Bomtempo (1775-1842),
um pedagogo de reconhecido mérito na sua época. A sua pretensão era colocar em
marcha a reforma do ensino musical em Portugal, contando para tal com as
experiências e contactos que tinha acumulado, particularmente em França e na
Inglaterra.
Apesar de o projecto inicial, que seguia o modelo
parisiense, ter sido proposto em Junho de 1834, só quase um ano depois, por
decreto de Junho de 1835, o Conservatório de Música, então como anexo à Casa
Pia, foi concretizado, sendo atribuída a sua direcção ao próprio João Domingos
Bomtempo.
Uma luta dura e prolongada contra os velhos do Restelo que naquela época, como hoje, vêm na cultura uma
ameaça e um alvo a abater, pois contribui para elevar a consciência daqueles
que a ela têm acesso.
Tanto o actual governo PSD/CDS, como o anterior, liderado
por Sócrates e pelo PS, seguiram nesta matéria – isto é, na frente cultural – a
mesma política que Goebels, antigo ministro de Hitler. Quem se atrevesse a
falar de cultura ao pé de si era liminarmente abatido a tiro.
Só assim se compreende o estado de abandono, desprezo e
destruição a que estes governos do chamado bloco
central votaram a cultura e, no caso em concreto, o Conservatório Nacional.
Há cerca de 75 anos que o edifício não é sujeito a qualquer obra de restauro,
ampliação, conservação ou, muito menos, modernização. Está, pois, a cair aos
bocados e ameaça tornar-se, muito rapidamente, mais uma das ruínas e destroços
que abundam na capital.
A Escola de Música do Conservatório Nacional (EMCN), que
representa uma parte significativa e significante da actividade desta
instituição de ensino secular ocupa cerca de 50 salas. Na sequência de uma
vistoria levada a cabo, e por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, esta
tomou a decisão de mandar encerrar e selar 10 dessas salas, isto é, um quinto
do espaço disponível para as suas actividades.
Hoje, segundo dia da concentração frente ao Conservatório
Nacional para impôr o financiamento e realização de obras imediatas, este vigoroso processo de luta obrigou a que
a DGESTE (Direcção-Geral dos Estabelecimentos de Ensino, organismo tutelado
pelo Ministério da Educação) se sentasse esta manhã com uma Comissão composta
por representantes de professores, alunos e pais da EMCN.
Durante a supracitada reunião, a DGEST assumiu o compromisso
de libertar as verbas necessárias à
concretização urgente e imediata de obras de conservação e restauro que
permitam a reabertura das salas encerradas e a prática do ensino com qualidade
e segurança em toda a escola.
Como actualmente têm de contar com a generosidade de outras instituições de ensino vizinhas – como é o
caso do Passos Manuel – que cedem salas para poderem leccionar as matérias
curriculares ou , pura e simplesmente, praticar e ensaiar, professores, alunos
e pais estão preocupados com a possibilidade de poderem surgir comportamentos
de desânimo e abandono escolar, decorrentes do desconforto e insegurança que a
situação que vimos a descrever provoca.
Para além disso, professores, alunos e pais revelam a sua
preocupação em preservar um riquíssimo espólio, sobretudo de instrumentos
musicais, mas não só, com grande valor histórico, que se degrada todos os dias,
sujeitos que estão à humidade, à chuva, à queda de tectos e paredes, ao pó,
etc.
Esta tarde decorreu uma Assembleia Geral onde professores,
alunos e pais se congratularam pelo alegado compromisso
que impuseram à DGEST e ao MEC. Mas, demonstrando ter consciência de que palavras leva-as o vento e de que de promessas têm um saco cheio, decidiram
não baixar os braços, nem aliviar a pressão e a luta até que as obras, para
cuja execução se exigia financiamento, estejam concluídas.
A consciência da necessidade de unir todas as forças e
sectores do Conservatório Nacional – mesmo aqueles que, alegadamente, acreditam
não estar a ser afectados pela presente situação – esteve bem patente no cordão
humano que hoje envolveu todo o quarteirão onde se situa o edifício do
Conservatório Nacional.
Para que professores, alunos e pais da Escola de Música do
Conservatório Nacional possam vencer esta luta, essa unidade tem de ser
aprofundada, alargada e cultivada todos os dias. Para ousar vencer, há que
ousar lutar, há que ousar unir!
Sem comentários:
Enviar um comentário