Ou subsídio para a
explicação duma tragédia futura que irá destruir o sector dos transportes em
Portugal com a conivência do bloco central.
Ou Subsídios para uma História diferente.
Ou Subsídios para uma História diferente.
Com a devida
autorização do próprio e depois de algum trabalho de edição e revisão, é com
enorme prazer que publico nas páginas do meu blogue um artigo escrito pelo meu
amigo das redes sociais José Biern Boyd
Perfeito, um artigo cuja leitura – quer pela sua qualidade, quer pela sua
actualidade – recomendo vivamente.
A comunicação social, uma vez mais, embandeirou
em arco com as notícias da suposta privatização da TAP, ou de apenas 60% do seu
capital, ao grupo Gateway, consórcio de capital Americano, mas que se apoia no
testa de ferro Humberto Pedrosa como forma de ultrapassar a legislação Europeia
sobre a protecção de capitais não originários da União Europeia.
E tanto que embandeirou em arco que as
histórias do self-made-man Humberto
Pedrosa e do grupo Barraqueiro hoje incluem já quase uma mística que relembra
os contos do António Ferro sobre as famílias em que o regime do Estado Novo
estava sustentado. O “patrão porreiro, acessível, gajo que anda no meio do
pessoal, que sabe como ninguém da função de cada um porque já a fez...” que
agora se junta ao Americano Mormon, apenas reflecte a tentativa de mais uma vez
branquear a história e criar mitos para controlar os mais incautos. Mas na
realidade não é nada assim tão liquido.
Vamos ver!
1. Uma história conturbada, uma empresa eucalipto
A Barraqueiro, que tem sido apresentada
como a maior invenção desde a pólvora, tem uma história muito diferente daquela
que tem sido publicamente apresentada e, tal como o seu dono, não está isenta
de reparos nem de pequenos truques do ofício. Isto para ser generoso.
Após a criação inicial da empresa,
depois de os Pedrosas terem obtido o controlo, depressa chegaram á conclusão de
que não havia muito espaço para expandir. Numa altura em que o automóvel
particular começou a crescer a taxas impressionantes, a Barraqueiro definhava
passo a passo, encaminhando-se, no final dos anos 60, para uma aquisição
forçada pelos tubarões do sector ou até mesmo para o seu encerramento.
É certo que a zona onde operava estava
também em grande desenvolvimento, o corredor de Loures. Mas, se olharmos para
as mais recentes aquisições da Bucelense, da Viação e Comércio de Alenquer, do
Palhinhas, pela Viação Sernache do Vaz Serra, tudo fazia crer que a Barraqueiro
e a Henrique Leonardo Mota se seguiriam na lista.
Não é demais referir que, nessa época,
duas das empresas mais importantes da área, a Eduardo Jorge, (que a aquisição
dos Gaspares na Ericeira mostrou ser desastrosa) e a Arboricultura de Caneças,
passavam por diversas dificuldades.
Num panorama geral, o sector dos
transportes rodoviários de passageiros em Portugal entrou, na década de 70,
cheio de dívidas e numa situação de autofagia, com a venda das empresas de
menor dimensão aos grandes grupos que adquiriam apenas por competitividade, sem
qualquer estratégia ou plano rodoviário.
Neste campo o governo de Caetano também
não tinha grande ideia do que fazer, legislava-se para proteger os grandes
grupos: Claras, Belos, Sernache, na expectativa que o sector reavivasse
miraculosamente.
Nesta altura a Barraqueiro sobrevivia
muito silenciosamente, sem grandes ondas, apanhando tudo o que fosse possível
no corredor tão estreito onde a competição era aguerrida.
Não tinha uma grande frota, não tinha
grande influência e era apenas mais um pequeno operador na cintura urbana de
Lisboa com uma ligação privilegiada com a Malveira, onde a empresa sobrevivia
entre o comboio e a Mafrense, muito melhor organizada e com melhores
itinerários.
Para muitos, o 25 de Abril acabou por
ser uma espécie de tábua de salvação para algumas empresas de transportes, ou
melhor dito, o 26 de Abril.
Existe uma verdade absoluta sobre a
razão porque o sector dos transportes de passageiros e de carga foi nacionalizado em Portugal.
Não tem somente a ver com a opção de
sistema, mas principalmente porque o sector estava grandemente endividado e os
maiores grupos não tinham já viabilidade económica, apenas se iam sustentando
na natureza coerciva do regime fascista, na protecção das industrias que o
regime preconizava e nos baixos salários que praticavam.
Com a criação do projecto da Rodoviária
Nacional, empresa pública (RNEP), deu-se uma primeira e talvez única tentativa
de um governo em Portugal ter pensado e desenvolvido um plano de transportes
que iria libertar o País dum sector que estava demasiadamente cativo das
decisões locais de cada operador e da solvabilidade dos itinerários das
carreiras regulares. A RNEP não iria seguir esse caminho, mas construir um
verdadeiro serviço público de transportes, respeitando e preenchendo a Constituição recentemente criada sobre o direito à mobilidade.
Num primeiro plano, houve um ambiente de
abandono e de negação por parte dos patrões, quando as primeiras
nacionalizações se iniciaram. Comissões de trabalhadores foram criadas,
reuniões foram feitas, propostas realistas foram apresentadas ao patronato mas
estes nunca as aceitariam. Por exemplo, nas palavras do Engenheiro Travassos,
um dos sócios do grupo Claras Transportes, sobre se era possível manter a
empresa como CRL, com os trabalhadores quotizados como sócios, a resposta foi
clara, “ trabalhadores são trabalhadores, não são patrões”.
Nas pequenas empresas o ambiente era
mais controlado, havia um ethos de
propriedade muito identificado com o patrão ou a família deste, o tal mito
criado de que o patrão era um gajo porreiro.
Havia manobras de chantagem por parte do patrões e das forças reaccionárias que
ainda subsistiam e as comissões de trabalhadores que se desenvolveram em
algumas empresas eram mais comissões de patronato do que de trabalhadores.
No plano político o bloco mais forte
tinha ficado a norte do País, com uma série de pequenos industriais do sector a
organizar uma associação que os representasse politicamente. Um pequeno grupo
desse empresários iniciou o processo de criação de uma associação à qual, mais
tarde, muitos outros aderiram, passando
a controlar a associação ANTROP, como a vanguarda
de um retorno á normalidade, ou seja às privatizações.
Humberto Pedrosa tem o mérito de ter
feito passar a sua Barraqueiro desapercebida, de não ter ainda ligações com os
grupos que foram nacionalizados e desse modo ter-se livrado de uma
nacionalização forçada. Vangloria-se, aliás, de ter apenas debatido com alguns
dos seus trabalhadores essa possibilidade – chega a revelar que a Barraqueiro
não foi nacionalizada por apenas um voto - criando outro mito, o de que,
afinal, os trabalhadores tinham tido a liberdade
de escolher o que quiseram e assim mantiveram Pedrosa á frente da empresa.
Mas, a razão por não ter sido
nacionalizada tem mais a ver com o tombo político que o País deu do que por
meras razões democráticas ou de
aritmética. A sua dimensão também foi importante para não ter sido
nacionalizada.
A criação da ANTROP animou alguns destes
empresários, deu-lhes um novo alento e, a partir daí, uma estratégia foi
desenhada que foi pura e simplesmente reverter as nacionalizações e ganhar o controlo
do sector novamente.
No entanto, Humberto Pedrosa tinha
outros planos em mente. Individualmente, queria ser ele a controlar o sector,
não com um punhado de coronéis do norte, que apenas viam uma realidade regional
e nacional, mas ele sozinho.
Para isso havia que não só ter dinheiro
como também cultivar amigos na política e no poder. Procurou uma aliança com
Salvador Caetano para combater a recém nacionalizada UTIC e alargou a sua área
de influência aos governos do Bloco Central e da Aliança Democrática, fazendo
pressões para a liberalização do sector e para alterar a lei das privatizações.
2. A Rodoviária Nacional
Deixemos a Barraqueiro um pouco e vamos
apresentar a noiva, para compreendermos a história deste casamento.
A RNEP começou a operar em 1976. Junho e
o início desse ano não foram famosos. Não houve sinergia nem tempo para criar
um modelo de operações próprio e o modelo que se adoptou foi o que se usava nos
Claras Transportes. A centralização da empresa em Lisboa, dividida depois por
centros de Passageiros, significava que a gestão da empresa não era acessível e
que o aparelho sistémico era enorme e de difícil direcção.
A empresa apresentava fragilidades que
tinha herdado das empresas que haviam sido nacionalizadas para lhe dar lugar.
Uma frota decadente, a par de uma péssima política de manutenção,, diferentes
formas de trabalhar e uma agressiva competição entre as empresas anteriormente
privadas, resultou numa rivalidade entre os trabalhadores que demorou bastante
tempo a ser ultrapassada, para além de uma concorrência feroz por parte das
empresas que não haviam sido alvo da nacionalização.
A empresa nunca recebeu a injecção de
capital público que seria esperada pela venda de obrigações públicas, não houve
investimento inicial, contando a empresa apenas com transferências do orçamento
de Estado, com base em previsões de dívida e para fazer frente a pagamento de
salários e a fornecedores.
Em 1979 a empresa estava já em apuros
financeiros, remeteu o projecto de dispensa de cobradores temporária em algumas
carreiras, esperando fazer frente aos orçamentos deficitários que sempre
apresentou, sobrevivendo cada vez com mais dificuldade, não recebendo dos
Governos as devidas dotações, criando uma fama de buraco orçamental que foi
explorado até ao limite pelas forças políticas que se coligaram para autorizar,
mais tarde, a sua privatização.
No plano laboral, a empresa, gerida por direcções nomeadas politicamente pelos governos, procurava controlar uma massa
de trabalhadores que estava espalhada pelo País e que literalmente parava e
bloqueava o País.
Com o passar dos anos, os conflitos
sociais agravaram-se, com o abandono do sistema que tinha estado na base da
criação da empresa, com o desinvestimento na empresa e com um ataque frontal
aos direitos dos trabalhadores, constantes do seu Acordo de Empresa (AE),
representando melhores condições de trabalho do que o seu contra-parte do sector
privado, representado pela ANTROP.
Greves eclodiram, plenários, marchas
resultantes das negociações falhadas sobre salários e matéria laboral, a
empresa paralisava deixando os passageiros sem alternativas de transporte o que
deixava o governo demasiado fragilizado e exposto à força dos trabalhadores e à
sua organização sindical.
3. O Plano
Desde os primeiros momentos após a
contra-revolução que a Rodoviária Nacional se manifestou por ser uma pedra no
sapato dos governos do bloco central
e do arco governativo que governa
Portugal desde o 25 de Novembro.
Os trabalhadores dos transportes, sendo
uma classe com alguma organização e representatividade nas organizações
sindicais, sempre pautaram a sua participação na sociedade de uma forma activa,
não só na defesa dos seus interesses e resolução dos seus próprios problemas,
mas solidários com as reivindicações e problemas de todos os outros
trabalhadores.
Sendo uma empresa que operava em todo o
espaço nacional, era nos autocarros da Rodoviária que se discutiam todos os assuntos que diziam respeito ao povo Português e neles se sabia, tinha-se
conhecimento e se transportava esse conhecimento. Havia também uma generosidade
e humanidade vincada pela necessidade do trabalho em equipa dos trabalhadores
da Rodoviária que depressa compreenderam que não deviam nada ao patronato e que,
enquanto trabalhadores, tinham direito à retribuição do seu trabalho e ao
respeito pela sua dignidade.
E eram inicialmente unidos, todos tinham
a ganhar por estarem juntos e unidos e fazerem deles as lutas dos outros.
Assim, não foi de estranhar que os
trabalhadores da Rodoviária Nacional, e pela primeira vez em Portugal, se
mostrassem solidários com lutas em outros sectores, com os camponeses das
Unidades Colectivas, as greves dos operários que afinal eram transportados por
esses mesmos trabalhadores. Era uma questão da mais elementar justiça quando se
compreende que a sociedade somos todos nós e os problemas dos outros são,
afinal, os problemas de todos os trabalhadores.
É claro que o poder começou a tentar
arranjar uma solução para este contra-poder que se estava a criar, baseado
unicamente no colectivo e na união de trabalhadores. E é aqui que voltamos a
saber que a Barraqueiro ainda...existia!
Houve três etapas definidas para
derrotar a Rodoviária Nacional. Estas etapas foram definidas em campo
governamental e somente uma pessoa fez parte de todas elas. Chamava-se Viana Baptista e foi Ministro dos Transportes dos governos AD.
Em 1976 o Engenheiro José Viana Baptista sai da TAP por convite para tomar o lugar de assessor para os transportes dos
primeiros governos constitucionais. Convidado por Rui Vilar, Viana Baptista sabe bem ao que vai e com quem pode contar.
A primeira Etapa, encontrar um grupo
privado que entrasse em competição com a Rodoviária nacional.
Humberto Pedrosa, depois do 25 de Abril,
por motivos de sobrevivência profissional, começou a cultivar uma série de amizades com várias figuras dos partidos que ele achava que podiam defender os
seu interesses e travou conhecimento com Viana Baptista, logo se criando uma uma
empatia enorme, não só pessoal, como em relação a objectivos que ambos
partilhavam. Ambos detestavam a Rodoviária Nacional, que viam como uma afronta
ao desenvolvimento dos negócios no sector dos transportes em Portugal e um
perigo em relação aos direitos dos trabalhadores que poderiam contagiar o sector
privado. Aliás, uma situação que vinha a acontecer sem que a ANTROP pudesse
fazer grande coisa, a não ser protelar datas de assinaturas do acordo vertical
de trabalho do sector.
O competidor estava então encontrado. A
Barraqueiro e Humberto Pedrosa.
A segunda etapa foi a ligação com
quadros intermédios da Rodoviária Nacional.
Quando a empresa foi formada, para
preencher posições de carácter técnico, foram abertos concursos que tiveram uma
forte adesão, permitindo a entrada na empresa e no sector de muitos jovens que
se tinham acabado de formar, muitos deles oriundos do Instituto Superior Técnico,
onde Viana Baptista tinha ligações.
Estes quadros jovens, em conjunto com
quadros que tinham transitado das empresas nacionalizadas e que tinham perdido
estatuto social dentro dessas empresas devido a não serem protegidos pelas suas
chefias, foram o alvo principal de Humberto Pedrosa e de Viana Baptista, além de
muitos outros.
A terceira etapa foi a propaganda e
desinformação que a empresa sofreu.
Um pouco à imagem do que aconteceu com a
CP, TAP e outras empresas que o tubarão quer abocanhar, um arrazoado de
desinformação sobre dívidas, manutenção, vencimentos de trabalhadores, sai para
a comunicação social com vista a preparar os Portugueses para que as empresas
sejam vistas como existências negativas em vez de externalidades.
Esta campanha foi fomentada pelo governo
AD e seguintes, unicamente com o objectivo de destruir a empresa e desmotivar
os trabalhadores nas suas lutas.
Viana Baptista esteve no governo até 1983
e, nesse tempo, preparou com Humberto Pedrosa o desenvolvimento que havia de
levar à privatização da empresa, não como seria do interesse dos Portugueses,
mas sim como Pedrosa queria, privatizada por partes.
Depois, com o passar do tempo chegou Cavaco Silva e a privatização avançou conforme já tinha sido preparada
pelo governo AD, como tinha sido permitida pelo governo do Bloco Central, e
depois PS, com a lei das privatizações e claro, a RNIP, Rodoviária Nacional
Investimentos e Participações SA apareceu.
Interessante referir que a pressa em apagar o célebre logo da Rodoviária Nacional (RN a vermelho e três bolas
verdes) foi tanta que em Bucelas, assim que houve luz verde do governo, era
meia-noite e andavam três dos normais vassalos (Tio e Sobrinho e o outro,
alguma malta saberá de quem falo) a colar um grande quadrado autocolante com
RNIP inscritos para tapar o dito e saudoso logótipo, com o São Pedro e a Maria
José a olhar de longe, com olhares de objectivos cumpridos (O Orlando já andava
em outros voos nessa altura).
No entanto, e apesar do encaixe que a
Barraqueiro passou a receber dos governos, que em vez de pagaram as dotações à
Rodoviária Nacional, como era de lei, pagavam á Barraqueiro para substituir carreiras paralisadas por virtude de conflitos laborais, como infelizmente se veio a tornar
uma normalidade, tal era o ataque feroz aos trabalhadores, era preciso mais
dinheiro para garantir que, começando o processo de privatização, com ofertas
publicas de venda, as obrigações tornadas acções fossem adquiridas pelo grupo deixando uma pequena parte disponível para outros accionistas disfarçadas de
como sendo para os trabalhadores.
Para disfarçar, outros accionistas apareceram ficando com outros interesses que a Barraqueiro não quis ou que não
tinha interesse. Só num caso a Barraqueiro foi batida, e por um erro cometido
nas propostas. Foi o caso do CEP (Cop) 5, que foi adquirido pela Stagecoach Inglesa, que só ficou dois
anos por não conseguir operar devido ao cerco que a Barraqueiro lhe moveu, até
internamente, com os tais quadros que a Barraqueiro tinha assegurado e vendeu a
um velho amigo de Humberto Pedrosa, um coronel do Brasil pouco conhecido por
aqui, chamado Jacob Barata, que é uma figura detestada no Brasil e que acabou
por ficar com aquela zona, primeiro através da compra da VIMECA privada e
depois negociando com a Barraqueiro para ter acesso à operação da zona,
adquirir toda a restante zona redenominando Scotturb.
Para tudo isto a Barraqueiro precisava
de dinheiro, que não tinha, mas que sabia onde arranjar. Apesar de poder estar
a pôr em risco a sua proposta ao passar a ser testa de ferro para outros grupos
que não podiam investir naquela fase em Portugal. Havia a possibilidade do Espírito Santo, outro dos amigos, mas já havia um peso enorme da Barraqueiro no
ES e outras decisões foram tomadas, mais arrojadas.
Aqui surgem outros amigos de Humberto
Pedrosa, os amigos Franceses que estavam também em idêntica expansão aproveitando a liberalização do mercado Francês forçada por Mitterrand. Falamos
claro está da Veolia ou, melhor, Vivendi ou, ainda melhor, Compagnie Generale des Eaux e o Credit Lyonnais, antes deste implodir
quase que arrastando o Grupo Barraqueiro atrás. No entanto, a Vivendi lá salvou
a coisa e tudo saiu bem e recomendado. Haverá quem pense que a VEOLIA apenas
aparece há dois ou três anos em Portugal, mas não é bem assim. A VEOLIA é apenas
uma operação cosmética de mudança de nome.
Havia ainda, muitas propriedades que
pertenciam à empresa e que foram delapidadas em negócios pouco claros que depressa
se desfizeram dum conjunto de espaços, garagens, prédios, terrenos, que tinham
o interesse dos amigos Franceses e de mais alguns amigos internos que
dificilmente escondiam o garfo e a faca, prontos que estavam para o banquete.
4. Hoje
Todos estes operadores, seja em Portugal
ou outros Países onde se instalaram, apostaram nos baixos salários, no atropelo
permanente dos direitos dos trabalhadores, na exploração exaustiva das longas
jornadas de trabalho acima do que é legalmente
aceitável, na redução da massa salarial, do número de trabalhadores e no outsourcing.
O aumento dos passes sociais, a redução
das cadências dos serviços, o inicio dos serviços mais tarde e o encerramento
mais cedo, o não respeito pelo transporte público e o pouco retorno social de
uma empresa que tanto tem recebido dos Portugueses é uma das suas imagens de
marca, que muito oportunamente se faz colar a grandes eventos mas que os cobra
bem.
No entanto, ao contrário da falecida
Rodoviária Nacional, a quem nunca foi dada a oportunidade, todas estas empresas
que se apoderaram da Empresa, renovaram as frotas de veículos e continuam a ter
o que de mais novo se produz, não só para apoiarem o Salvador Caetano mas os
outros construtores de modelos do melhor que se faz na Europa, mas pago a
baixos salários.
Hoje, a Barraqueiro é um enorme grupo,
centralizado nos Pedrosas e num grupo pequeno desses quadros que mostram
lealdade ao patrão. Outros tantos, depois de terem servido, foram descartados
para posições menos importantes e, em alguns casos, desapareceram do sector
porque só está no sector quem a Barraqueiro quer.
Não só nos transportes rodoviários! A
Barraqueiro hoje está nos sectores ferroviários e agora nos aéreos, apesar de todos os que conhecem a Barraqueiro e Humberto Pedrosa saberem que só está no
grupo que comprou a TAP por duas razões. Para dar cobertura ao Americano e para
quebrar os trabalhadores, “ para pôr a casa em ordem” como é vulgar ouvir-se
dizer.
Como todas as empresas, este será o auge
da Barraqueiro, uma empresa que andou sempre às costas de alguém e que
sobreviveu parasitando uma grande empresa, a Rodoviária Nacional, que arrancou
parasitando outra grande empresa, Comboios de Portugal e que agora mais uma vez
se aproveita dos capitais públicos que pertencem ao povo Português para seu
interesse privado.
Diz o povo que não há mal que perdure
nem bem que sempre dure. Para o Povo, o mal não perdurará mais tempo, estas
empresas acabam por comer mais do que têm de barriga e esta especialmente, com
os pés de barros que tem, só sobrevirá enquanto os ventos que soprarem do governo
lhes forem de feição. Por isso, um dia, esperemos, o bem para os Pedrosas
acabará, como acabou para os Espíritos Santos.
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