quarta-feira, 9 de março de 2016

Os afectos de Marcelo!

Um dos traços mais característicos das cerimónias da tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, como 5º Presidente da República no período do pós-25 de Abril de 1974, foi a ausência total de elementos do povo.

Quer em frente à Assembleia da República, quer em frente ao Palácio de Belém, passando por outros locais onde o evento – que mereceu honras de prime time das televisões e rádios nacionais, quer primeiras páginas de jornais e revistas – foi gritantemente visível o desprezo com que o povo acolheu o presidente dos afectos.

Tal demonstra, por parte do povo e de quem trabalha, um crescente elevar da consciência do que é que representam, de facto, os afectos que Marcelo pretende distribuir durante este seu mandato de 5 anos.

Se é certo que as muletas do governo – PCP, BE e Verdes – precisam de tempo para verificar se o que Marcelo diz se concretiza, chegando Jerónimo de Sousa ao dislate de afirmar que só a prática revelará se as declarações não passarão de intenções, aos trabalhadores e ao povo português não restarão muitas dúvidas àcerca do alcance do discurso de posse de Marcelo:

·        Cumprir e fazer cumprir a Constituição. Uma constituição revista e constantemente depurada dos seus princípios fundadores, populares e, ademais, constantemente rasgada – à sorrelfa ou às claras!

·        Assegurar que serão respeitados todos os tratados subscritos por Portugal – leia-se, pelos sucessivos governos vende pátrias – com os novos senhores coloniais, o imperialismo germânico e as instituições por este controladas ou influenciadas, como sejam a Comissão e o Parlamento Europeu, o BCE e o FMI.

·        O que pressupõe, da parte de Marcelo, da aceitação do princípio de que deverá continuar a ser o povo a pagar uma dívida que não contraiu e da qual não retirou qualquer benefício.

·        Revelando que Marcelo está de acordo com os tratados coloniais que remetem Portugal para a condição de colónia ou protectorado, mormente o Tratado da União Bancária e o Tratado Orçamental – imposto pela aliança nacional de PS, PSD e CDS/PP.

·        Afirmando o seu acordo em que Portugal se mantenha no euro, uma moeda que capturou, a par da adesão, primeiro à CEE e, depois, à União Europeia, a nossa soberania e independência nacional, ao mesmo tempo que permitiu a destruição do nosso tecido produtivo.

·        Pressupõe, ainda, o discurso de tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, que está de acordo com a política que levou o país a perder a sua autonomia e independência no que respeita a vertentes tão importantes e fundadoras da nossa independência nacional, como sejam a política orçamental e cambial.

Ao contrário de todos os salafrários – mesmo aqueles que compõem a chamada esquerda formal que está no parlamento -, o povo não precisará de 5 anos de execução do mandato para perceber que Marcelo é apenas a outra face da mesma moeda. Cavaco era o imbecil de Boliqueime, trauliteiro e conflituoso. Marcelo é o comentador dominical, o professor de direito reaccionário, o beato hipócrita e piegas, disposto a distribuir afectos.

Uma espécie de retorno aos tempos do seu pai e último governador colonial de Moçambique, em que os democratas, patriotas e anti-fascistas se tinham que confrontar, nas prisões da repressão fascista, com a figura do pide bom que fazia aquela cena de teatro ensaiado com a figura do pide mau numa vã tentativa de quebrar a resistência dos que caíam nas suas malhas.


O militante bloguista Luis Júdice

4 comentários:

  1. Força Luis continua o belo trabalho nesse teu blog.
    JLA

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  2. Belíssimo trabalho do Luís, vou coloca-lo no meu livro de leituras marxistas, o tablet.

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  3. Completamente certeiro, como eu aliás tinha comentado na minha página...afectos canalhas...

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