Hoje foi dia de a Maria de Lurdes poder receber as três
visitas que o regulamento do Estabelecimento Prisional de Tires permite, dois dias por semana - às terças e sábados.
Também foi a primeira vez que três elementos do Grupo “Liberdade
Para a Maria de Lurdes” puderam entrar juntos. O Mario Gomes – que já a tinha
visitado outras duas vezes – o Luis Júdice e o João Grazina.
A Maria de Lurdes, igual a si mesma! Forte, resiliente, com
uma memória, uma eloquência e uma assertividade à prova de bala, consegue
transmitir ao Grupo essa força. E isto apesar de o tempo dela ser diferente do
dos seus visitantes. Ela, depois da visita que tem a duração de apenas uma
hora, volta a estar confinada na cela, sem qualquer das mordomias básicas – computador, internet, smartphone, etc. – que os
seus visitantes dão por adquiridas.
Esta mulher, artista, intelectual, investigadora, mesmo
assim, pensa mais nos outros do que nela própria. Continua a afirmar que
considera que a sua luta tem de estar contextualizada na luta mais geral contra
a prepotência, a arrogância, a corrupção que grassa em todo o aparelho do
estado, incluindo a justiça.
Ela sabe que o sistema quer dobrar a sua capacidade de
resistir. E essa vocação repressiva revela-se nos mais ínfimos pormenores
quando analisamos os regulamentos e as práticas em ambiente prisional.
Desde não permitir o uso de relógio a reclusas e visitantes,
para que a noção de tempo se desfragmente e descontextualize, até reprimir com
o famigerado isolamento – por vezes por tempo indeterminado – as reclusas que
tenham tido o descaramento de se
envolverem em práticas sexuais condenadas por uma moral medieval, cínica e
hipócrita – e, ademais, anti-constitucional -, tudo concorre para oprimir, para
reprimir, para descaracterizar, desde logo as reclusas, mas também quem as
visita.
Voltemos ao tempo que para a Maria de Lurdes não é o mesmo
que para qualquer um de nós que está no gozo da sua – ainda que aparente –
liberdade. Hoje, a articulação entre os interesses da Maria de Lurdes, a frente
cívica que a apoia e a frente jurídica que, para além desse apoio, define a
estratégia da sua defesa, conseguiu tranquilizar a Maria de Lurdes e criar uma
energia positiva enorme, quer nela, quer em quem a apoia.
Imperou a assertividade, o bom senso, a consciência de que
só com a articulação entre estas três frentes
se poderá vislumbrar uma luz no final do túnel e conseguir que o tempo da Maria
de Lurdes volte a acertar com o nosso tempo.
Tempo de luta, sem desfalecer.
ResponderEliminar