sábado, 22 de outubro de 2016

Maria de Lurdes, uma questão de Tempo e de Modo!

Hoje foi dia de a Maria de Lurdes poder receber as três visitas que o regulamento do Estabelecimento Prisional de Tires permite, dois dias por semana - às terças e sábados.

Também foi a primeira vez que três elementos do Grupo “Liberdade Para a Maria de Lurdes” puderam entrar juntos. O Mario Gomes – que já a tinha visitado outras duas vezes – o Luis Júdice e o João Grazina.

A Maria de Lurdes, igual a si mesma! Forte, resiliente, com uma memória, uma eloquência e uma assertividade à prova de bala, consegue transmitir ao Grupo essa força. E isto apesar de o tempo dela ser diferente do dos seus visitantes. Ela, depois da visita que tem a duração de apenas uma hora, volta a estar confinada na cela, sem qualquer das mordomias básicas – computador, internet, smartphone, etc. – que os seus visitantes dão por adquiridas.

Esta mulher, artista, intelectual, investigadora, mesmo assim, pensa mais nos outros do que nela própria. Continua a afirmar que considera que a sua luta tem de estar contextualizada na luta mais geral contra a prepotência, a arrogância, a corrupção que grassa em todo o aparelho do estado, incluindo a justiça.

Ela sabe que o sistema quer dobrar a sua capacidade de resistir. E essa vocação repressiva revela-se nos mais ínfimos pormenores quando analisamos os regulamentos e as práticas em ambiente prisional.

Desde não permitir o uso de relógio a reclusas e visitantes, para que a noção de tempo se desfragmente e descontextualize, até reprimir com o famigerado isolamento – por vezes por tempo indeterminado – as reclusas que tenham tido o descaramento de se envolverem em práticas sexuais condenadas por uma moral medieval, cínica e hipócrita – e, ademais, anti-constitucional -, tudo concorre para oprimir, para reprimir, para descaracterizar, desde logo as reclusas, mas também quem as visita.

Voltemos ao tempo que para a Maria de Lurdes não é o mesmo que para qualquer um de nós que está no gozo da sua – ainda que aparente – liberdade. Hoje, a articulação entre os interesses da Maria de Lurdes, a frente cívica que a apoia e a frente jurídica que, para além desse apoio, define a estratégia da sua defesa, conseguiu tranquilizar a Maria de Lurdes e criar uma energia positiva enorme, quer nela, quer em quem a apoia.


Imperou a assertividade, o bom senso, a consciência de que só com a articulação entre estas três frentes se poderá vislumbrar uma luz no final do túnel e conseguir que o tempo da Maria de Lurdes volte a acertar com o nosso tempo.

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