quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O que sucedeu à Maria de Lurdes pode ocorrer com qualquer um de nós!

O caso Maria de Lurdes tem de ser visto no contexto da situação a que chegou a justiça em Portugal. Um dos poucos sectores em que o movimento revolucionário gerado pelo 25 de Abril de 1974 não penetrou.

Não que nos outros sectores – da economia, das finanças, da política, da administração pública, etc. – o espírito do 25 de Abril, não se esteja a esvair, para não afirmar que já nada mais resta dele do que um apontamento para o trabalho académico de alguns historiadores.

A Justiça continua, pois, a assentar num pressuposto corporativista herdado do regime salazarista e fascista. Pouco ou nada evoluiu no sistema. Laborinho Lúcio, aliás, influenciou toda uma nova geração de magistrados quando, à frente do CEJ (Centro dos Estudos Judiciários), defendeu uma praxis justicialista.

Hoje, prende-se para investigar. Hoje, o juiz, se entender que não deve recorrer a especialistas de outras valências – sejam elas quais forem – pode decidir segundo o entendimento que considerar mais conveniente e adequado à interpretação que faz das provas.

Por exemplo, no caso da Maria de Lurdes, o juiz que decidiu suspender a sentença de 3 anos de prisão, caso ela anuísse em receber tratamento e seguimento psicológico, fê-lo baseado na sua convicção pessoal , na convicção de que ela era uma desequilibrada, e não baseado nalgum parecer científico da área da saúde mental.

É por isso que é convicção de muitos que o caso Maria de Lurdes é defensável, não só para benefício da própria, mas para defesa de todos aqueles que, como ela, foram e estão a ser injustiçados por praxis desta natureza. Praxis que persistem numa sociedade que se afirma pelos direitos humanos, pela liberdade de expressão e opinião e pela democracia.

Quando perguntam aos que se empenham nesta luta pela Liberdade para a Maria de Lurdes porque o fazem, a resposta só pode ser, porque se nada fizermos, amanhã pode suceder o mesmo a qualquer um de nós!

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