quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Pela unidade na luta de todos os trabalhadores do sector da saúde!




Ouvida esta 4ª feira na Comissão Parlamentar da Saúde sobre o seu entendimento àcerca da greve cirúrgica que os enfermeiros iniciaram a 22 de Novembro e se prolongará, pelo menos, até ao final do corrente ano, a ministra da Saúde Marta Temido tentou inverter o ónus da responsabilidade dos efeitos da greve para os enfermeiros, classificando-a de “preocupante” e afirmando provocatóriamente que a luta dos enfermeiros se traduz numa “...greve cruel, porque se vira contra os fracos...”!!!

Assinalamos, porém, que a luta na área da saúde – e de defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) – não é apenas dos enfermeiros. Outras classes profissionais neste sector têm partido para a luta e demonstram o seu profundo repúdio para com a estratégia de desprezo para com a saúde e os seus utentes que este governo – tal como o anterior – têm manifestado, desprezo que se reflecte nas sucessivas Leis do Orçamento que têm parido.
 
Existem traços comuns em todas as lutas que neste momento se travam no sector da saúde. Desde os médicos aos enfermeiros – da área da cirurgia ou do IPO, dos centros de saúde às unidades hospitalares -, dos optometristas, dos técnicos de diagnóstico à notícia hoje avançada da confirmação da demissão dos 10 médicos directores das Urgências do Hospital D. Estefânia, em Lisboa.

E que traços são esses?:

·         Desde logo a exigência de mais meios humanos, financeiros e de equipamento, para dotar o Serviço Nacional de Saúde com os meios necessários à prestação de serviços de saúde dignos e eficientes para quem o procura;
·         Denunciando que não só não tem sucedido qualquer programa de financiamento, desde o memorando de entendimento com a tróica assinado pelo PS, PSD e CDS, como, pelo contrário, se tem registado um dramático desinvestimento no SNS;
·         Depois, a exigência de PROGRESSÃO na carreira, congelada à décadas, o que cria uma onda de desmotivação dramática e a massiva fuga de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde para outros países que melhor acolhimento, quer financeiro, quer de progressão, lhe proporcionem.


Tal como noutros sectores – desde os transportes à habitação, passando pelo ambiente e estratégia portuária e aeroportuária, entre muitos outros -, o todo poderoso ministro das finanças, Mário Centeno, dita os montantes que cada ministério – e, no caso vertente, o Ministério da Saúde – pode alocar aos seus orçamentos.

E a regra é cristalina – todos os recursos para pagar a dívida e o serviço da dívida, sendo que para a saúde, a educação, a habitação, o emprego, os transportes, etc., só poderão ser alocados os fundos que restem!
 
Portanto, se falamos de “crime” e de políticas que se viram “contra os pobres”, é disto que estamos a falar. Da hipocrisia com que Centeno anuncia e se congratula com o pagamento da parte remanescente da dívida ao FMI, no valor de 4,7 mil milhões de euros, ao mesmo tempo que restringe o financiamento do SNS, abortando a possibilidade de médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e auxiliares de enfermagem (pomposamente designados de técnicos operacionais) terem direito a uma carreira profissional digna e serviços dotados em meios – materiais e humanos – que assegurem a eficiência do SNS.

Neste contexto, é de bradar aos céus a afirmação de Marta Temido de que o governo está cá para defender os interesses de 10 milhões de habitantes e não de 9 mil enfermeiros cirúrgicos!!!

Para aqueles que, como eu, sempre defenderam que, tendo transformado uma dívida privada em dívida pública, ela passou a ser ilegítima, ilegal e imoral, as lutas no sector da saúde deveriam confluir para um caudal único e os seus protagonistas e lideranças deveriam envidar todos os seus esforços para a unidade na acção contra os ditames orçamentais que impedem que as suas exigências , mais que legítimas e justas, sejam atendidas.

Não deve, não pode ser o povo a pagar uma dívida que não contraiu, nem dela retirou qualquer benefício. E é o que está a acontecer. Meia dúzia de “iluminados” – sobretudo apoiados e protegidos por Cavaco Silva – locupeletaram-se com dezenas de milhar de milhões de euros – hoje considerados créditos mal parados – que o poder deseja ver agora pagos por quem trabalha e nada teve a ver com essas dívidas.
 
Tal como não devem os profissionais dos diferentes sectores da saúde deixar-se levar ao engano pelo canto da sereia dos pescadores de águas turvas. Quer o canto daqueles que, no passado recente, quando protagonizaram o governo de coligação da direita com a extrema direita – PSD e CDS -, tutelado pelo palermóide de Boliqueime, levaram ao colapso do SNS e promoveram intensamente a privatização da saúde.

Quer o canto daqueles que, hoje na geringonça , se sentem confortáveis em levar a cabo a mesmíssima política de direita do anterior governo, desta feita com um manto diáfano de esquerda e defendendo o principio de défice 0 ditado pela tróica!


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