VIVA
O MARXISMO E O COMUNISMO !
Faleceu na madrugada do dia 22 de Fevereiro de 2019, a dois
dias de completar 80 anos de idade, o nosso querido camarada Arnaldo Matos,
proeminente comunista marxista - reconhecido quer a nível nacional, quer a
nível internacional -, dirigente histórico do PCTP/MRPP , o Partido Comunista dos Trabalhadores
Portugueses/Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, partido do
qual foi Secretário-Geral entre 1970 e 1979, cargo que abandonou
voluntariamente para se dedicar à advocacia.
Natural da Vila de Santa Cruz, numa zona rural da Madeira,
nessa vila efectuou a instrução primária, ao mesmo tempo que – dadas as
dificuldades materiais da família – auxiliava o pai no pequeno estabelecimento
comercial que este possuía. Com pouco tempo para estudar e sem possibilidades
de frequentar o Liceu do Funchal, efectuou o antigo 5º ano estudando em casa,
ao mesmo tempo que continuava a trabalhar. Completou o antigo Curso
Complementar no Liceu do Funchal, em 1958, o agitado ano das eleições
presidenciais, tendo então criado, juntamente com os colegas, um movimento de
apoio ao General Humberto Delgado (1906-1965), e sido incumbido de escrever o
respectivo Manifesto.
Inscreveu-se, depois, na Faculdade de Direito de Coimbra
mas, em 1961, foi incluído no grupo de mil e quinhentos estudantes enviados
para Mafra, a fim de combaterem, como oficiais milicianos, na guerra
colonial-fascista que, entretanto, se tinha desencadeado em Angola.
Integrado numa Companhia de Caçadores Especiais, foi
mobilizado para Macau, onde estabeleceu uma relação próxima com Ramalho Eanes –
de quem era alferes -, a qual viria a retomar durante o período pós-25 de Abril
de 1974.
A estadia em Macau foi fundamental para consolidar a sua
formação política pois, o facto de a censura ser praticamente inexistente
naquela antiga colónia portuguesa, proporcionou-lhe o acesso a literatura
marxista, nomeadamente a oriunda da vizinha República Popular da China, numa
época em que se vivia o auge do conflito sino-soviético, que viria a formar a
sua convicção da necessidade de se dar uma luta sem quartel ao revisionismo
para que o marxismo e a revolução comunista e operária pudessem ter lugar, quer
em Portugal, quer no resto do mundo.
Transferido em 1964 para Moçambique, após o início da guerra
de libertação levada a cabo pela FRELIMO naquela ex-colónia, regressou a
Portugal no ano seguinte, inscrevendo-se na Faculdade de Direito de Lisboa, a
fim de concluir o curso – embora sempre a trabalhar.
Em 1968, participou na fundação da Esquerda Democrática
Estudantil (EDE), criada na sequência da primeira manifestação em Portugal
contra a Guerra do Vietname, organização que intervirá nas lutas estudantis de
1969 em Lisboa, assim como na campanha eleitoral para a Assembleia Nacional,
realizada nesse ano, apelando à não participação nas eleições, na época
consideradas uma fraude. Ainda em 1969, à frente de uma lista com o lema “Ao
Trabalho”, e que se apresentava “contra a burocracia (e) contra o hermetismo”,
conquistou a direcção da Associação Académica da Faculdade de Direito de
Lisboa, derrotando a lista apoiada pelos revisionistas do PCP.
Num período marcado pelo movimento revolucionário que se
gerou em França – o 28 de Maio de 1968
-, Arnaldo Matos foi designado como delegado daquele movimento em Portugal. Foi
o óbvio reconhecimento internacional da sua liderança no seio do movimento
estudantil e universitário em Portugal, onde chegou a ser eleito, em 1961, para
Secretário Nacional dos Estudantes Portugueses.
A síntese destas experiências está patente na decisão,
tomada a 18 de Setembro de 1970, numa casa da Estrada do Poço de Chão, em
Benfica, Lisboa, de fundar o Movimento Reorganizativo do Partido do
Proletariado (MRPP), de orientação maoísta, juntamente com Fernando Rosas, João
Machado e Vidaúl Froes Ferreira, tendo sido eleito Secretário-Geral.
Armado da teoria marxista e das experiências práticas
vivenciadas durante as lutas estudantis, no movimento democrático anti-fascista
e anti-colonialista, o Partido, sob a direcção do camarada Arnaldo Matos, foi o
principal responsável político pelas acções de massas que, antes do 25 de Abril
de 1975, se opunham, nas ruas, contra a guerra colonial, sob as palavras de
ordem “Guerra do Povo à Guerra Colonial!” e “Transformar a Guerra-Colonial em
Guerra Civil Revolucionária”. Depois do 25 de Abril, à frente do Comité
Central, o camarada Arnaldo Matos dirigiu a luta de soldados e marinheiros sob
a bandeira de “Nem mais um Soldado para as Colónias”.
Ficaram célebres as manifestações dirigidas pela RPAC
(Resistência Popular Anti-Colonialista), sobretudo na Praça do Chile, em
Lisboa, onde pela primeira vez os manifestantes ousaram contra-atacar com
barras de ferro os esbirros da PIDE e da Polícia de choque que, surpreendidos
pela ousadia, coragem e combatividade dos manifestantes, bateram em retirada.
Uma postura que entrava em contradição antagónica com o “pacifismo” e a
colaboração com o regime fascista de Salazar e Marcelo, propostas pelos
revisionistas do PCP e que demonstrava ser possível opor-se e derrubar o
regime, em vez de se enredar pelas lamentações paralisadoras dos revisionistas
àcerca da “longa noite do fascismo”.
Durante algum tempo, o camarada Arnaldo Matos conseguiu
manter uma vida dupla, a de dirigente partidário e a de advogado numa empresa
multinacional, a SHELL. Foi, no entanto, obrigado a passar à clandestinidade a
fim de não ser preso pela PIDE/DGS. Graças a um seu conhecimento da Faculdade
de Direito – o Major Aventino Teixeira, que tinha sido colocado na Escola
Prática de Administração Militar (EPAM), no Lumiar, em Lisboa, e se dispusera
então a estudar Direito -, Arnaldo Matos conseguiu encontrar o que se pode
considerar o “esconderijo ideal” para quem era procurado pela PIDE/DGS – o
quartel!
A seguir ao 25 de Abril de 1974, como o MRPP se manteve numa
semi-clandestinidade, o camarada Arnaldo Matos era apresentado como “delegado
do Comité Lenine” (designação para o Comité Central). A decisão de manter o Partido nessa semi-clandestinidade prendia-se com o facto
de, por um lado, nos dias seguintes ao golpe de estado, e apesar de o MRPP ter
liderado nas ruas o movimento que exigia a prisão dos esbirros da PIDE/DGS –
ficaram famosas as palavras de ordem “Morte aos pides” e “Os pides morrem na rua!”
–, esta polícia política do sistema fascista ter sobrevivido praticamente
incólume e impune e, por outro, não ter emergido, graças ao recuo e às ilusões
impostas pelos revisionistas do PCP e seus satélites (UDP e outros), do
movimento revolucionário que entretanto se gerou, uma alteração qualitativa do
modo de produção e das relações de produção capitalistas dominantes.
Em 28 de Maio de 1975, o camarada Arnaldo Matos foi um dos
432 militantes do MRPP presos após o assalto às suas sedes, por tropas do
Comando Operacional do Continente (COPCON). Será na sequência destes
acontecimentos que o MRPP passará a apresentá-lo como “Grande Dirigente e
Educador da Classe Operária”, exigindo a sua libertação. Denominação que o
camarada Arnaldo Matos sempre repudiou, não obstante nunca se tivesse oposto à
sua utilização na imprensa partidária.
A evasão, em Junho de 1975, do Hospital Militar Principal, à
Estrela, em Lisboa – tendo, contudo, o MRPP asseverado que fora “libertado pelo
povo” -, para onde tinha sido transferido vindo da Prisão de Caxias, ocorreu
num clima de grande levantamento popular a exigir a sua libertação e pouco
depois de, um pouco por todo o país, terem surgido os célebres murais do MRPP,
onde predominavam o amarelo e o vermelho, alguns dos quais reclamavam a sua
libertação imediata. Esse levantamento popular de massas a exigir a sua
libertação impediu a liquidação física do camarada que os social-fascistas
tinham em vista.
Logo após a sua evasão, o MRPP organizou o maior comício da
sua história, a 18 de Julho de 1975, que fez transbordar a praça de toiros do
Campo Pequeno, em Lisboa, no qual o camarada Arnaldo Matos avançou com as
célebres palavras de ordem “A Revolução tem de avançar a Todo o Vapor” e “A
Vossa Tarefa é tomar o poder, será que ides hesitar?”, que marcaram o ambiente
político daquela época.
Um discurso onde, atacando a política de revisionistas e
social-fascistas de todos os quadrantes – desde o PCP à UDP (hoje integrante do
Bloco de Esquerda) -, demonstrou que não era com nacionalizações nem, muito
menos, com golpes fascistas e contra-golpes social-fascistas, que os operários
e os trabalhadores portugueses assegurariam a vitória da revolução e do
socialismo, mas sim criando e consolidando um verdadeiro poder operário e
popular, assente nos Comités de Trabalhadores de fábricas e empresas, nas
Comissões de Moradores, nos Comités de Soldados e Marinheiros, e outras
estruturas do poder popular, que deviam exercer o seu controlo operário sobre
toda a vida política e económica do país e das fábricas e locais de trabalho
onde haviam sido eleitos.
Quando se deram os eventos de 25 de Novembro, em que as
forças democráticas se opuseram com sucesso ao golpe social-fascista em
preparação, com a clarividência política de um marxista que sabe interpretar, a
cada momento, à luz da análise da luta de classes, quais as alianças que a
classe operária e o seu Partido de vanguarda deve estabelecer, o camarada
Arnaldo Matos levou o MRPP a apoiar a candidatura do General Ramalho Eanes à
Presidência da República, candidatura que teve o condão de unir todo o campo
democrático e patriótico.
Foi, aliás, essa mesma clarividência e coragem que o
camarada Arnaldo Matos demonstrou ao, anos mais tarde – e contra a tendência
geral que se havia formado no seio do Comité Central do PCTP/MRPP–, apoiar a
candidatura à Presidência da República, em 2006, do poeta Manuel Alegre (apoio
que renovou em 2011). Uma vez mais para, com o seu contributo, trabalhar para a
unidade de todas as forças democráticas contra o campo fascista – protagonizado
por Cavaco Silva – e contra a manobra de diversão do PCP, responsável pela
eleição do palermóide de Boliqueime, por dividir o campo democrático e fazer
desviar votos da única candidatura, a de Manuel Alegre, que se lhe podia opor.
Num Congresso realizado em Lisboa, a 26 de Dezembro de 1976,
o MRPP transformou-se no Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses
(PCTP), tendo Arnaldo Matos mantido o cargo de Secretário-Geral do qual, no entanto, se viria a demitir em 25 de Maio de 1979.
Arnaldo Matos fundamentou a sua demissão no facto de, embora
formalmente fosse o Secretário-Geral, não eram “nem as concepções teóricas, nem
a ideologia, nem a linha política, nem a táctica, nem as concepções de
organização” que defendia, as que geralmente se aplicavam “no conjunto do
Partido e no fundamental da sua actividade”. A partir de então, considerou-se
apenas um militante comunista que temporariamente não se podia dedicar à vida
do Partido, afirmando, no entanto, que regressaria à actividade
político-partidária logo que tal lhe fosse possível.
E foi o que aconteceu em 2015. Confrontado com a acção de
uma linha liquidacionista que havia tomado de assalto o Partido e comprometido
um dos fundamentos marxistas que tinha estado na base da sua fundação - isto é, uma
intensa ligação às massas, um aprofundar e consolidar da organização, assente
nos princípios do centralismo democrático e um constante estudo das obras
marxistas, que permitisse que o Partido se constituísse como quartel-general da
classe operária e dos trabalhadores na condução da revolução comunista,
operária, -, dirigiu uma nota ao Comité Central do PCTP/MRPP que despoletou a
demissão de todos os elementos do seu Comité Permanente.
Revelador de que Arnaldo Matos foi desde sempre a ossatura
ideológica do Partido, são os importantes contributos que recentemente prestou
para um melhor entendimento das razões que levaram ao fracasso da Revolução
Socialista de Outubro, na União Soviética, e da Revolução Democrática ocorrida
em 1949 na China de Mao. No plano interno do Partido, a sua vigilância
revolucionária tem sido uma constante. Foi sempre vigoroso na denúncia dos
desvios à linha de massas, de estudo do marxismo e de reforço da sua
organização.
A firmeza com que defendeu essa linha política nas reuniões
que dirigiu para a constituição das listas de candidatos para as eleições que
brevemente terão lugar – europeias, legislativas e regionais –, e em que o
Partido apresentará candidaturas próprias, são uma prova da consciência que tinha de que
os liquidacionistas podem ter sido corridos do Partido, mas a corrente
liquidacionista ainda se insinua no seu seio.
As suas “Teses da Urgeiriça” são um documento essencial para
que os comunistas de todo o mundo compreendam porque é necessário voltar-se aos
fundamentos marxistas originais para que se assegure não terem lugar novos
desvios àquilo que Marx e Engels tão sabiamente demonstraram à classe operária
e à humanidade ser necessário seguir para se alcançar a vitória da revolução comunista em todo o mundo,a abolição
das classes sociais e o fim da exploração do homem pelo homem.
HONRA! OUSAR LUTAR PELA SUA MEMÓRIA!
ResponderEliminarHonra e Glória Eternas
ResponderEliminarao querido Camarada ARNALDO MATOS!