Ao longo de toda a pandemia, Legault não parava de apresentar números de
pôr os cabelos em pé. Ninguém morria de cancro, de diabetes, etc.? Era tudo
COVID? Eu pensava que era um nevão, mas a maioria dos quebequenses acreditava
nele, e até o venerava! Legault não podia estar errado, não podia mentir?
Tinha-se tornado um santo?
Alguns dos meus vizinhos deixaram de falar comigo! Eu já não tinha o
direito de discordar? Era ilegal ter uma opinião contrária à de Legault. Numa
democracia? Havia bloqueios por todo o lado, vacinas obrigatórias, máscaras
obrigatórias; mesmo que não fosse Halloween?
Mas isso já não está a funcionar para Legault. Os quebequenses reaprenderam
a contar. O evangelho de Legault já não funciona. François Legault defendeu-se,
a 18 de Junho de 2024, na Assembleia Nacional, contra a invenção de números
quando o ministro federal Marc Miller se recusou a relacionar a crise da
habitação com o afluxo de imigrantes temporários.
“Basta colocar a responsabilidade nas costas dos imigrantes!”, declarou o
ministro federal da Imigração, em resposta às perguntas dos jornalistas, à
margem da reunião semanal do gabinete de Justin Trudeau, em Otava.
“François Legault está a inventar números. Está a inventar uma causalidade
(entre a crise da habitação e o NÚMERO de imigrantes temporários)”, insistiu
Marc Miller.
François Legault respondeu que era contabilista? Isso quer dizer alguma
coisa? Os números podem ser manipulados como se quiser. Durante a pandemia de
COVID-19, François Legault conseguiu mesmo prever quantos novos casos de
COVID-19 iriam surgir no dia seguinte. Isso é muito bom!
Noutra questão, François Legault disse a Patrick Roy, que o estava a
entrevistar, que o pior que poderia acontecer ao Quebeque seria o fracasso de
um terceiro referendo sobre a soberania.
É uma tese perfeitamente defensável, desde que se tenha em conta o PREÇO
pago pelas derrotas de 1980 e 1995, quando François Legault era contabilista do
PQ?
François Legault tem medo da soberania, como todos os líderes soberanistas.
Ele é... o problema!
“Um povo não perde a sua independência sem pagar o PREÇO”, anuncia Mathieu
Bock-Côté, um notório soberanista, no Journal de Montréal de 19 de Junho de
2024. Sem nos dar uma solução, é claro. Pierre Bourgault tinha A solução. Era
simples. “SEJA POSITIVO!”
Como São François Legault, que gosta de brincar com os números e nos diz
que somos uns falhados. Ele calculou os prós e os contras e decidiu o nosso
destino, outra vez! Mas eu, o anglófono, rejeitei como Pierre Bourgault o único
verdadeiro separatista, que não tinha medo das palavras e dos números.
Era uma vez, Ernest Mallette, um puro laine québécois, meu pai, que me
telefonou para me avisar que ia fazer passar um mau bocado a René Lévesque!
Surpreendido, perguntei-lhe:
“Conheces René Lévesque?
“Sim, conheço-o há muito tempo e vou dar-lhe uma tareia!
Conhecendo o meu pai, um sindicalista de temperamento explosivo, não o
teria perdido por nada deste mundo. Aceitei ir com ele. O meu pai era um
separatista, ponto final. Era a favor da SEPARAÇÃO do Quebeque do Canadá, ponto
final! Os líderes do PQ, tal como hoje, eram cobardes. Diziam: “Talvez...” O
que enfureceu o meu pai. E depois, segundo o meu pai, René Lévesque tinha
cometido o pior sacrilégio de todos ao mudar a palavra separatista para
soberanista, um gesto derrotista. Ele nunca o aceitaria.
Chegámos a uma casa cheia no bairro operário de Saint-Henri, em Montreal, e
imediatamente Ernest Mallette se levantou e chamou a René Lévesque um traidor
do seu povo. Isto provocou imediatamente uma zaragata generalizada! O meu pai
não foi o único a ficar indignado.
Mas as altas instâncias do PQ já tinham tomado a triste decisão, às
escondidas. E, desde então, temos a espada de Dâmocles a pairar sobre nós,
ameaçando uma vitória muito possível, mesmo com 60%!
Os soberanistas cometem sempre o mesmo erro (de cálculo), como François
Legault. Não querem obter o voto dos anglófonos? Um anglófono não é um inglês!
Esse é o grande erro que sempre cometeram. Os escoceses já fizeram um referendo
e estão a preparar outro, que vão ganhar. Os irlandeses ganharam contra o
Império Britânico em 1920. Eh Índia, também ganharam, etc. Todos os povos de
língua inglesa! Barbados saiu recentemente da Commonwealth britânica, sem
derramamento de sangue!
Os americanos ganharam a sua independência! Foi inglês contra inglês!
E vou mais longe do que isso. Posso garantir-vos que se houvesse hoje um
referendo em todo o Canadá para sair da Commonwealth britânica, o lado do SIM
ganharia. Mas isso é outra história.
Durmam bem também!
John Mallette
O Poeta Proletário
Fonte: LEGAULT MENTEUR – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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