sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quando a “solução” não passa de distracção!


Boaventura Sousa Santos é mais um daqueles palavrosos “opinadores” que, após uma simples análise ao “diagnóstico” que fazem e às “soluções” que preconizam se percebe que a sua acção, mais do que benéfica para a luta dos trabalhadores e do povo, constitui uma real “ distracção” quanto às tarefas que estes têm pela frente e que implicam uma luta dura e prolongada.

1.       A análise da dívida, do que ela representa como instrumento de dominação de uma potência sobre os demais países, como concepção ideológica para facilitar a transferência de activos e empresas públicas estratégicas – de preferência a preços de saldo – para as mãos dos grandes grupos financeiros e bancários, escapa-lhe. E, então, como todos os que com ele partilham a ideia de que, ainda assim, há que “renegociar” e “reestruturar” uma dívida que não foi o povo que contraiu, nem dela beneficiou, troca as causas pelos efeitos e, tal D. Quixote eivado de romantismo político, considera que os maus da fita são os Borges e os Moedas, desviando o combate do seu eixo fundamental que é o do derrube deste governo e a expulsão dos seus patrões da tróica germano-imperialista, que aqueles servem, e da constituição de um governo democrático patriótico.

2.       É por não entender que a dívida e a posição que se tomar quanto a ela é que é diferenciadora, que Boaventura Sousa Santos, e outros, não compreendem que um partido como o PS, que subscreveu o memorando com a tróica germano-imperialista nunca poderia fazer parte de uma solução que venha de encontro aos interesses dos trabalhadores e do povo que estão sujeitos a um autêntico genocídio fiscal, precisamente pelo facto de esse memorando estar a ser, caninamente, aplicado pelo governo de serventuários PSD/CDS. Como não compreende, também, o alcance de uma afirmação paradigmática de Seguro, quando, questionado sobre se reduziria impostos se este governo fosse demitido ou derrubado e ele fosse eleito primeiro ministro, respondeu que “não posso prometer isso”!

3.       É por não entender como se tem comportado a chamada “esquerda parlamentar” que Boaventura Sousa Santos não compreende que a solução não passa por uma operação matemática de acordos entre partidos do “arco parlamentar”, mas por uma muito mais abrangente frente, que envolve partidos parlamentares e não parlamentares, plataformas cidadãs, personalidades e intelectuais, um vasto conjunto de indivíduos democratas e patriotas, isto é, uma frente que aglutine várias camadas populares, quer as que viram roubados os seus salários e o seu trabalho, quer as que viram assaltadas as suas pensões e reformas, quer os que se vêm confrontados com a falência dos seus micro, pequenos e médios negócios, quer todos aqueles a quem este governo tem cerceado o acesso à saúde  à educação, aos transportes, à cultura, etc., todos aqueles a quem tem sido roubado o futuro, diminuindo ou eliminando várias prestações sociais que eram conquistas sofridas de várias décadas de lutas levadas a cabo por operários, camponeses  trabalhadores, jovens, intelectuais.

4.       Não se pode branquear, portanto, o papel do PS neste processo. Este é um partido que, apesar de se afirmar de esquerda – e todos nós acreditarmos que é sincera e sentida pela esmagadora maioria dos seus simpatizantes essa condição – despoletou o processo que levou à assinatura do memorando de entendimento com o FMI/FEEF/BCE, claramente orientado para servir os interesses da nova fuhrer Merkel e dos grandes grupos financeiros e bancários. Iludir esta questão, é iludir que as “dívidas soberanas” se tornaram excelentes negócios e, mais do que isso, no processo de acumulação capitalista, elas dão melhores garantias do que o investimento em sectores produtivos.

5.       É iludir, ainda, que a haver “reestruturação” ou “renegociação” da dívida, isso é reconhecer que os credores lideram o processo e dele esperam sempre retirar vantagens, tal como denuncia Eric Toussaint. Aparte este facto, é também dizer aos cerca de 3 milhões de elementos do povo a viver abaixo do limiar da pobreza e aos cerca de milhão e meio de desempregados, aos precários, aos reformados e pensionistas, que, a consequência dessa “renegociação/reestruturação” será, sempre, a de que eles serão sempre chamados a pagar uma dívida que não contraíram, nem foi contraída para seu benefício…só que com mais tempo!
6.     
            Não é, portanto, este o caminho a seguir. O caminho a seguir é o da constituição de uma ampla frente democrática patriótica – e não apenas uma unidade “matemática” da esquerda -, caldeada na acção e na luta por objectivos precisos:

·         Derrube do governo dos serventuários Coelho e Passos e de todos aqueles que com ele compactuaram;
·         Expulsão da tróica germano-imperialista do nosso país e constituição de um Governo Democrático Patriótico que leve a cabo um programa de recuperação do nosso tecido produtivo e dos activos e empresas públicas que, entretanto, tiverem sido privatizadas;
·         Suspensão do pagamento da dívida até que uma auditoria independente e cidadã dê resposta a questões tais como: quanto devemos, a quem devemos e porque é que devemos. De certeza que os trabalhadores e o povo português, quando se concluir tal auditoria, dirão sem qualquer hesitação: NÃO PAGAMOS!
·         Intervenção estatal na banca com o recurso, se necessário, à ocupação dos bancos pelas forças militares;
·         Preparação para uma eventual saída do euro;
·         Plano de aproveitamento das nossas vantagens geo-estratégicas.

É isto que Boaventura Sousa Santos não diz, porque a sua agenda não constitui uma solução, mas sim uma distracção!

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