Boaventura Sousa Santos é mais um daqueles palavrosos
“opinadores” que, após uma simples análise ao “diagnóstico” que fazem e às
“soluções” que preconizam se percebe que a sua acção, mais do que benéfica para
a luta dos trabalhadores e do povo, constitui uma real “ distracção” quanto às
tarefas que estes têm pela frente e que implicam uma luta dura e prolongada.
1. A
análise da dívida, do que ela representa como instrumento de dominação de uma
potência sobre os demais países, como concepção ideológica para facilitar a
transferência de activos e empresas públicas estratégicas – de preferência a
preços de saldo – para as mãos dos grandes grupos financeiros e bancários,
escapa-lhe. E, então, como todos os que com ele partilham a ideia de que, ainda
assim, há que “renegociar” e “reestruturar” uma dívida que não foi o povo que
contraiu, nem dela beneficiou, troca as causas pelos efeitos e, tal D. Quixote
eivado de romantismo político, considera que os maus da fita são os Borges e os
Moedas, desviando o combate do seu eixo fundamental que é o do derrube deste
governo e a expulsão dos seus patrões da tróica germano-imperialista, que
aqueles servem, e da constituição de um governo democrático patriótico.
2. É
por não entender que a dívida e a posição que se tomar quanto a ela é que é
diferenciadora, que Boaventura Sousa Santos, e outros, não compreendem que um
partido como o PS, que subscreveu o memorando com a tróica germano-imperialista
nunca poderia fazer parte de uma solução que venha de encontro aos interesses
dos trabalhadores e do povo que estão sujeitos a um autêntico genocídio fiscal,
precisamente pelo facto de esse memorando estar a ser, caninamente, aplicado
pelo governo de serventuários PSD/CDS. Como não compreende, também, o alcance
de uma afirmação paradigmática de Seguro, quando, questionado sobre se
reduziria impostos se este governo fosse demitido ou derrubado e ele fosse
eleito primeiro ministro, respondeu que “não posso prometer isso”!
3. É
por não entender como se tem comportado a chamada “esquerda parlamentar” que
Boaventura Sousa Santos não compreende que a solução não passa por uma operação
matemática de acordos entre partidos do “arco parlamentar”, mas por uma muito
mais abrangente frente, que envolve partidos parlamentares e não parlamentares,
plataformas cidadãs, personalidades e intelectuais, um vasto conjunto de
indivíduos democratas e patriotas, isto é, uma frente que aglutine várias
camadas populares, quer as que viram roubados os seus salários e o seu trabalho,
quer as que viram assaltadas as suas pensões e reformas, quer os que se vêm
confrontados com a falência dos seus micro, pequenos e médios negócios, quer
todos aqueles a quem este governo tem cerceado o acesso à saúde à educação, aos
transportes, à cultura, etc., todos aqueles a quem tem sido roubado o futuro,
diminuindo ou eliminando várias prestações sociais que eram conquistas sofridas
de várias décadas de lutas levadas a cabo por operários, camponeses
trabalhadores, jovens, intelectuais.
4. Não
se pode branquear, portanto, o papel do PS neste processo. Este é um partido
que, apesar de se afirmar de esquerda – e todos nós acreditarmos que é sincera
e sentida pela esmagadora maioria dos seus simpatizantes essa condição –
despoletou o processo que levou à assinatura do memorando de entendimento com o
FMI/FEEF/BCE, claramente orientado para servir os interesses da nova fuhrer
Merkel e dos grandes grupos financeiros e bancários. Iludir esta questão, é
iludir que as “dívidas soberanas” se tornaram excelentes negócios e, mais do
que isso, no processo de acumulação capitalista, elas dão melhores garantias do
que o investimento em sectores produtivos.
5. É
iludir, ainda, que a haver “reestruturação” ou “renegociação” da dívida, isso é
reconhecer que os credores lideram o processo e dele esperam sempre retirar
vantagens, tal como denuncia Eric Toussaint. Aparte este facto, é também dizer
aos cerca de 3 milhões de elementos do povo a viver abaixo do limiar da pobreza
e aos cerca de milhão e meio de desempregados, aos precários, aos reformados e
pensionistas, que, a consequência dessa “renegociação/reestruturação” será,
sempre, a de que eles serão sempre chamados a pagar uma dívida que não contraíram, nem foi contraída para seu benefício…só que com mais tempo!
6.
Não é, portanto, este o caminho a seguir. O caminho a seguir é o da constituição de uma ampla frente democrática patriótica – e não apenas uma unidade “matemática” da esquerda -, caldeada na acção e na luta por objectivos precisos:
Não é, portanto, este o caminho a seguir. O caminho a seguir é o da constituição de uma ampla frente democrática patriótica – e não apenas uma unidade “matemática” da esquerda -, caldeada na acção e na luta por objectivos precisos:
·
Derrube do governo dos serventuários Coelho e
Passos e de todos aqueles que com ele compactuaram;
·
Expulsão da tróica germano-imperialista do nosso
país e constituição de um Governo Democrático Patriótico que leve a cabo um
programa de recuperação do nosso tecido produtivo e dos activos e empresas
públicas que, entretanto, tiverem sido privatizadas;
·
Suspensão do pagamento da dívida até que uma
auditoria independente e cidadã dê resposta a questões tais como: quanto
devemos, a quem devemos e porque é que devemos. De certeza que os trabalhadores
e o povo português, quando se concluir tal auditoria, dirão sem qualquer
hesitação: NÃO PAGAMOS!
·
Intervenção estatal na banca com o recurso, se
necessário, à ocupação dos bancos pelas forças militares;
·
Preparação para uma eventual saída do euro;
·
Plano de aproveitamento das nossas vantagens
geo-estratégicas.
É isto que Boaventura Sousa Santos não diz, porque a sua
agenda não constitui uma solução, mas sim uma distracção!
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