O tiro que saiu pela culatra a António Costa
Versando o tema “Impacto
urbanístico, social e habitacional das propostas” de intervenção na Colina de Santana apresentadas pela ESTAMO
à apreciação da CML, decorreu ontem a 3ª e penúltima Sessão de um Ciclo de Debates sobre a Colina
de Santana que, apesar de organizados pela Assembleia Municipal de Lisboa, merecem o acordo e pleno conhecimento de António Costa.
Acreditando
que este seria mais um caso de favas
contadas para António Costa e o seu executivo camarário, e que estaria
garantido o sucesso da sua acção de manipulação e branqueamento da gigantesca
operação de especulação imobiliária que pretendem levar a cabo naquela que
classificámos como a Colina de Ouro, as coisas não estão
a correr conforme o esperado para o imperador
de Lisboa.
É
que, em todas as sessões até agora realizadas, a maioria dos intervenientes não
só tem demonstrado um profundo conhecimento, quer do sector da saúde, quer do
urbanismo ou do património cultural, como tem sido crítica das intenções da
actual vereação, demonstrando estar
bastante conscientes do que está por detrás desta manobra de criar condições
para o aparecimento, em pleno centro de Lisboa, de uma espécie de Quinta da Marinha. Mas, pelos vistos, o
tiro está a sair pela culatra para António Costa.
Uma das intervenções mais paradigmáticas desta 3ª Sessão foi
a do Engº S. Pompeu Santos. Começando
por considerar que, ao abordar as propostas da Estamo para a Colina de Santana,
somos confrontados com várias perplexidades, o supracitado orador elenca várias
delas:
·
“Em 2008-2010 o Governo de então, a pretexto
de arranjar receitas para reduzir o
défice, vendeu os
hospitais à Estamo, uma empresa do próprio Estado, por 125
milhões de euros, com a ideia de construir
posteriormente um novo hospital,
invocando que os edifícios
têm grandes despesas de manutenção. Ora, depois de
vendidos, os encargos
passaram a ser ainda bem superiores, pois o Estado passou
a pagar uma renda anual de 6 milhões de euros.
Assim, como um novo hospital
nunca estará disponível
antes de 2018-2020, até lá o Estado paga
em rendas à
Estamo mais de metade do que recebeu.
·
Entretanto, foi sendo preparada a
construção do novo hospital, com um custo total
previsto de 600 milhões de
euros, através de uma “PPP”, a qual acarreta
para o
Estado uma renda anual duns 30 milhões de euros.
Portanto, o Estado desfaz-se dos
hospitais actuais porque
têm muita despesa e avança para a construção de um novo
hospital, em que o encargo
será muito superior. Mas, o Governo de agora tem
dúvidas; anulou a “PPP” e
mandou estudar soluções alternativas. Aliás, nunca foram
apresentados estudos
credíveis que demonstrem que a opção de substituir os
hospitais existentes pelo
novo hospital é a melhor.
·
Por outro lado, e muito antes de saber
se o Estado vai avançar para a construção
do novo hospital, a Estamo
mandou fazer estudos urbanísticos com vista à
promoção imobiliária nos
locais dos hospitais e entregou os pedidos de
licenciamento na Câmara.
Isto é criar um facto consumado, uma pressão, para não
dizer chantagem,
inadmissível sobre o próprio Estado.”
Para concluir que, “…aliás, o
argumento de que os hospitais estão velhos, que não têm condições, que estão a
cair de podres, para justificar a construção de um hospital novo, é falacioso. De
facto, os hospitais saem dali, fazem-se obras, incluindo novas construções, e
aparecem lá hotéis e
condomínios de luxo, tudo num “brinquinho”. Então, porque é
que não se fazem nos
hospitais existentes as obras necessárias para os pôr como
novos? Além disso, há as
dezenas, senão centenas de milhões de euros e
equipamentos nos hospitais
existentes, que são deitados à rua!”.
Concluindo que as propostas da Estamo vão contra o interesse
público, este cidadão apresentou uma Proposta de Recomendação, cujo conteúdo publicitamos e subscrevemos:
1-
“Suspensão imediata dos processos de licenciamento
em curso na Câmara.
2-
Reversão para o Estado dos hospitais
vendidos à Estamo, com o pagamento à
Estamo dos valores de
aquisição (obviamente, as rendas já pagas cobrem os juros do
capital investido).
3-
Suspensão do processo de construção do
novo hospital.
4-
Realização de um levantamento detalhado
das necessidades dos hospitais
existentes, em termos de
melhoria de equipamentos e de instalações, bem como de
outros equipamentos que
possam ser instalados nos hospitais já devolutos.
5-
Realização de um inquérito com vista à
identificação de eventuais irregularidades nos
processos de decisão
relativos à construção do novo hospital e ao encerramento dos existentes.”
É preciso não esquecer que este afã de António Costa
constitui mais um episódio na política de bloco
central e deve-se a uma aliança que estabeleceu com o governo de traição
nacional, PSD/CDS, que vê neste modelo que António Costa quer implementar para
a Colina de Santana mais uma oportunidade para consolidar o seu programa de privatização
da saúde, ao mesmo tempo que justifica
a sua opção ideológica de menos estado
para abandonar as responsabilidades deste na gestão do património
arquitectónico e cultural.
Tal como havíamos referido em artigos anteriores há que
isolar António Costa e a sua política oportunista, impondo que, não só os
pontos acima referidos sejam levados de imediato à prática, como um amplo e
democrático debate seja levado a cabo sobre temas tão importantes para os
cidadãos de Lisboa como a saúde, o urbanismo e a política de preservação do seu
património – que é também património nacional e da humanidade.
Caro Luis Júdice, um reparo: As 5 sessões de Debates Temáticos sobre a Colina de Santana não são organizadas pela CML, mas sim pela AML - Assembleia Municipal de Lisboa. O Presidente da CML, António Costa, foi previamente informado pela Presidente da AML, Helena Roseta, da sua intenção de promover na AML, sob o nome "Debater Lisboa" uma série de debates abertos à intervenção do público sobre temas do interesse dos Lisboetas. Existe um site da AML em suporte aos debates, que pode ser acedido aqui http://debaterlisboa.am-lisboa.pt/000000/1/index.htm
ResponderEliminarA realização deste debate sobre a Colina de Santana foi aprovada pela Conferência de Representantes da AML no dia 12 de Novembro 2013, por proposta da Presidente da AML, tendo o respectivo formato e calendário sido fechados em reunião da mesma instância no dia 3 de Dezembro de 2013. Ao longo das várias sessões, organizadas por temas - neste caso saúde, urbanismo, património - as mesas são organizadas por convite da presidente da AML, incluindo oradores que podem ser sugeridos pelas diferentes bancadas da AML. O público interveniente inscreve-se na véspera através do site Debater Lisboa. No final do debate haverá uma sessão de conclusões e propostas a submeter à Assembleia Municipal de onde sairá uma deliberação da AML sobre a questão em debate. De toda a intenção e processo de organização destes novos debates da AML teve o Presidente da CML conhecimento prévio. Tendo sido sua opinião, antes da eleições, e conhecendo o propósito público de Helena Roseta de organizar um primeiro debate sobre este tema, que os PIPs para os projectos da Colina de Santana ficassem suspensos até estar terminada a série de debates públicos.
Cara Luisa
ResponderEliminarMuito agradeço a sua nota rectificatica ao meu artigo supra. Mas, como deverá concordar, o que assinala não altera em nada o conteúdo e as conclusões a que chego no meu artigo,
Reafirmam, aliás, que apesar de o autor material da convocação não ser a CML, mas sim a AML, todo o processo é do conhecimento de António Costa e, mais do que isso, é uma forma que serve os intentos deste em branquear e caucionar as suas intenções relativamente à Colina de Santana, tal como têm vindo a ser denunciadas.