À burguesia sempre a
aterrorizou todo e qualquer movimento cultural não alinhado com a ideologia que
mais lhe convém. Isto é, a cultura da
conformação, do elogio da corrupção, da desistência, da conciliação de
interesses de classe antagónicos, uma cultura
que esteja associada à legitimação de um sistema de exploração do homem pelo
homem, uma cultura que assenta na
menorização do debate franco, aberto e democrático.
E se dantes acreditava que com
uma simples fogueira podia queimar os instrumentos de libertação da classe
operária, dos trabalhadores, dos povos, dos intelectuais progressistas, levando
à paralisia da sua organização e vontade de lutar por um mundo melhor, e
desviando-os do caminho a seguir para derrubar o sistema que os oprime, hoje a
burguesia torna mais subtil e sofisticada essa destruição.
Já em 1966 o cineasta francês
François Truffaut, baseado no romance de Ray Bradbury, realizou o filme Fahrenheit
451, no qual se retratava um bombeiro que, tal como Hitler e o seu
inestimável Goebels acreditavam, tinha o dever de destruir todos os livros
subversivos, impondo como única informação a que o povo poderia ter acesso o
que a comunicação social por si
dominada – rádios, televisões, jornais, mas também grandes editores e livreiros
que possuiem o monopólio editorial e da distribuição livreira – vomita
diariamente, isto é, toda a sorte de entulho ideológico paralizante.
Ora, onde persiste um governo
isolado do povo, que sonha proibir a cultura e o acesso ao conhecimento, a
liberdade de pensamento, há que destruir aqueles que persistem em servir ao
povo os livros da subversão, a informação esclarecida para transformar o
isolamento do governo no seu derrube.
Entretido na sua estratégia de
poupança que visa demonstrar que, estivesse o PS no poder
a seguir este modelo que tem sido imposto à cidade de Lisboa, o país e o povo
ganhariam mais e a política de
austeridade teria os dias contados, António Costa que tem da cultura a
mesmíssima visão que Passos Coelho, isto é, quando alguém pronuncia a palavra
dá-lhe imediatamente um tiro, tem feito vista
grossa ao que se passa e à possibilidade real de o património cultural que
representam as livrarias da cidade de Lisboa sofrerem uma implosão
irreversível.
É certo que só o derrube deste
governo de traição nacional permitirá que sobrevivam e tenham continuidade
livrarias que pugnam por colocar à disposição do povo os instrumentos para que
um pensamento livre e democrático se expresse. Mas, não menos certo é que, entretanto,
um forte e dinâmico movimento democrático e patriótico se deve levantar e
exigir da Câmara Municipal de Lisboa e de todos os órgãos do poder a
salvaguarda de um património que é pertença do povo de Lisboa, mas também do
povo português.
Movimento que deve questionar
de forma firme e decidida as razões
que impediram, por exemplo, a chamada esquerda
parlamentar de suscitar a fiscalização sucessiva da Lei dos Despejos – a
famigerada NRAU ou Lei nº31/2012 cuja petição corre na internet (http://www.peticaopublica.com/?pi=P2013N38336)
– que tem sido o principal, mas não único, coveiro destas livrarias citadinas.
Para que um dia destes não sejamos confrontados com mais um MacDonald´s onde
antes existia um espaço de cultura e conhecimento.
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