domingo, 21 de julho de 2013

Um manifesto contra o encerramento das Livrarias de Lisboa

Como se pode ler no Manifesto contra o desastroso encerramento das Livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa, várias são as livrarias que já encerraram – a Livraria Portugal, a Livraria Guimarães, a Livraria Barateira e a Livraria Camões – e outras estão “em vésperas de fechar” – a Livraria Olissipo e a Livraria Artes e Letras, se não mesmo a provecta Livraria Lello -, “vítimas da especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada natural das lojas de luxo”.

À burguesia sempre a aterrorizou todo e qualquer movimento cultural não alinhado com a ideologia que mais lhe convém. Isto é, a cultura da conformação, do elogio da corrupção, da desistência, da conciliação de interesses de classe antagónicos, uma cultura que esteja associada à legitimação de um sistema de exploração do homem pelo homem, uma cultura que assenta na menorização do debate franco, aberto e democrático.

E se dantes acreditava que com uma simples fogueira podia queimar os instrumentos de libertação da classe operária, dos trabalhadores, dos povos, dos intelectuais progressistas, levando à paralisia da sua organização e vontade de lutar por um mundo melhor, e desviando-os do caminho a seguir para derrubar o sistema que os oprime, hoje a burguesia torna mais subtil e sofisticada essa destruição.

Já em 1966 o cineasta francês François Truffaut, baseado no romance de Ray Bradbury, realizou o filme Fahrenheit 451, no qual se retratava um bombeiro que, tal como Hitler e o seu inestimável Goebels acreditavam, tinha o dever de destruir todos os livros subversivos, impondo como única informação a que o povo poderia ter acesso o que a comunicação social por si dominada – rádios, televisões, jornais, mas também grandes editores e livreiros que possuiem o monopólio editorial e da distribuição livreira – vomita diariamente, isto é, toda a sorte de entulho ideológico paralizante.

Ora, onde persiste um governo isolado do povo, que sonha proibir a cultura e o acesso ao conhecimento, a liberdade de pensamento, há que destruir aqueles que persistem em servir ao povo os livros da subversão, a informação esclarecida para transformar o isolamento do governo no seu derrube.

Entretido na sua estratégia de poupança que visa demonstrar que, estivesse o PS no poder a seguir este modelo que tem sido imposto à cidade de Lisboa, o país e o povo ganhariam mais e a política de austeridade teria os dias contados, António Costa que tem da cultura a mesmíssima visão que Passos Coelho, isto é, quando alguém pronuncia a palavra dá-lhe imediatamente um tiro, tem feito vista grossa ao que se passa e à possibilidade real de o património cultural que representam as livrarias da cidade de Lisboa sofrerem uma implosão irreversível.

É certo que só o derrube deste governo de traição nacional permitirá que sobrevivam e tenham continuidade livrarias que pugnam por colocar à disposição do povo os instrumentos para que um pensamento livre e democrático se expresse. Mas, não menos certo é que, entretanto, um forte e dinâmico movimento democrático e patriótico se deve levantar e exigir da Câmara Municipal de Lisboa e de todos os órgãos do poder a salvaguarda de um património que é pertença do povo de Lisboa, mas também do povo português.

Movimento que deve questionar de forma firme e decidida as razões que impediram, por exemplo, a chamada esquerda parlamentar de suscitar a fiscalização sucessiva da Lei dos Despejos – a famigerada NRAU ou Lei nº31/2012 cuja petição corre na internet (http://www.peticaopublica.com/?pi=P2013N38336) – que tem sido o principal, mas não único, coveiro destas livrarias citadinas. Para que um dia destes não sejamos confrontados com mais um MacDonald´s onde antes existia um espaço de cultura e conhecimento.




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