A divulgação pública da demissão de Vítor Gaspar vem
confirmar a tendência que afirmámos no artigo ontem publicado - “As 10 propostas de Seguro”, cuja releitura
aconselho em http://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.pt/2013/07/as-10-propostas-de-seguro.html
– de que uma intensa luta se está a travar no seio da burguesia, opondo os
sectores mais enfeudados à tróica germano-imperialista e aos grandes grupos
financeiros e bancários aos sectores da burguesia nacional, mais ligados à
produção industrial e à agricultura, e a uma vasta camada da pequena burguesia
que está a pôr-se em bicos dos pés para abocanhar os restos do banquete
orçamental.
Luta que, no entanto, não obscurece a contradição principal
e antagónica que é a que opõe os referidos sectores da burguesia à classe
operária, aos trabalhadores e ao povo português em geral. É que de um lado da
barricada, com contradições, é certo, mas no plano formal (meramente quanto ao
tamanho da fatia do bolo orçamental que caberá a cada um deles), estão os
vários sectores da burguesia, unidos em torno de um programa e um memorando que
acorrenta o povo português a uma dívida que não contraiu, e o país à condição
de protectorado ou sub-colónia, sobretudo do imperialismo germânico.
A saída de Gaspar só pode ser entendida como parte do acordo
que os diferentes sectores da burguesia estão a negociar entre si para fazerem
frente – uma vez mais com base na política de bloco central – ao crescendo da mobilização, do empenho e energia
para a luta pelo derrube deste governo de traição nacional protagonizada pela
classe operária e pelo povo, cujos episódios mais recentes foram a Greve dos
Professores e a Greve Geral do passado dia 27 de Junho, na qual estiveram
empenhadas as duas Centrais Sindicais – CGTP e UGT – e vários sindicatos
independentes. Uma luta que todos eles temem porque resultará na constituição
de um governo democrático patriótico que, para além de suspender de imediato o
pagamento da dívida, preparará o país para a saída do euro e da União Europeia.
Agora podemos perceber melhor os rasgados elogios que PSD e
CDS fizeram às 10 propostas de Seguro. Em política não existem coincidências. Algumas propostas de Seguro foram toleradas
pela coligação que sustenta o governo de traição nacional, mostrando assim a
esta oposição que, se for bem
comportada e colaborante com a questão essencial do pagamento da dívida e a inevitável
política de austeridade, não há qualquer problema. Até pelo contrário - deste
modo, o PS deixa de ter fundamento para pedir a demissão do governo e pode ser
que a fatia do bolo que lhe couber leve um reforço de dose.
Desiludam-se! Não é pelo facto de apostarem numa ministra refundada do arsenal gasparista – Maria Luis Albuquerque - , não será por terem uma 5ª coluna ao seu serviço – o PS – que a burguesia e os seus representantes contarão com o abrandamento da imparável luta pelo derrube deste governo que os trabalhadores e o povo português há muito encetaram.
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