Uma colina que
derrubará o novo Imperador de Lisboa!
Numa tentativa pífia de encobrir e branquear o crime que se
prepara para cometer quanto à Colina de Santana – e que oportunamente
denunciámos no artigo Colina
de Ouro (http://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.pt/2013/08/a-colina-de-ouro.html)-,
António Costa, promove um debate a
quatro tempos, cuja agenda se resume a:
·
1ª Sessão,
ocorrida na passada terça-feira, dia 10 de Dezembro de 2013, às 18h00, com o título “O ponto
em que nos encontramos”, e
que visava, segundo a organização, dar conhecimento das propostas de
intervenção na Colina de Santana apresentadas pela ESTAMO à apreciação da CML.
·
2ª
Sessão – dia 14 de
Janeiro de 2014, às 18h00, terá como
tema o
“Impacto das propostas no acesso da População a cuidados de Saúde”
“Impacto das propostas no acesso da População a cuidados de Saúde”
·
3ª
Sessão – ocorrerá a 21
de Janeiro de 2014, pelas 18h00, e
versará o
“Impacto urbanístico, social e habitacional das propostas”
“Impacto urbanístico, social e habitacional das propostas”
·
4ª
Sessão – a 4 de
Fevereiro de 2014, pelas 18h00,
analisará o
“Impacto das propostas na memória e identidade histórica da Colina de Santana”
“Impacto das propostas na memória e identidade histórica da Colina de Santana”
·
5ª
Sessão – e última, a 11 de Fevereiro de
2014, às 18h00, pretende a organização chegar
a “Conclusões e propostas a submeter à Assembleia Municipal”
Ora
bem, a avaliar pela qualidade dos intervenientes e pela crítica demolidora
expressa nas suas intervenções, as coisas não estão a correr exactamente como
pretenderia o reconduzido patrão da Praça do Município ou, se quisermos ser mais
objectivos, do novo imperador de Lisboa!
Bem
sintonizados com o seu chefe, os membros da mesa preparavam-se para se
centrarem no futuro da Colina de Santana e dos projectos urbanísticos que têm
levantado enorme polémica. A maioria dos vinte intervenientes no debate, no
entanto, tinham um entendimento diverso.
Desde
logo de que os sucessivos PDMs que, desde os tempos de Jorge Sampaio, vêm sendo
aplicados sobre Lisboa, têm sequestrado a capital por parte dos interesses dos
grandes grupos imobiliários e do patobravismo, estratégia que tem levado à
expulsão de uma média de 10 mil lisboetas por ano da capital que regista um
nível demográfico próximo do de 1930!
Apesar
de quererem fugir como o diabo da cruz a que se discutisse o passado, era disso
que a esmagadora maioria dos participantes queria precisamente falar. Da
decisão de desactivar os hospitais instalados na Colina de Santana,
comprometendo, por um lado, o direito dos lisboetas a terem acesso à saúde e,
por outro, o que tais projectos implicam no que concerne a salvaguarda do
património arquitectónico e imaterial da dita colina.
Bem
que tentou o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do
Tejo (ARS-LVT), Luis Cunha Ribeiro, no que foi secundado por essa sinistra
figura que no actual executivo camarário é vereador do Urbanismo da CML, Manuel
Salgado, a grafonola presidencial, um
mentiroso compulsivo, defender o argumento de que o fecho desses hospitais –
Instituto Gama Pinto, S. José, Capuchos, Desterro, Santa Marta e o já encerrado
Miguel Bombarda – e a sua concentração num novo hospital em Marvila, já havia
sido decidido há mais de uma década.
Tiveram
azar no argumento escolhido pois, na assistência estavam vários médicos,
enfermeiros e munícipes que fizeram questão de, ao intervirem, demonstrarem que
os argumentos da vereação e do presidente da ARS-LVT não colam e de que não
aceitam a ideia de que o projecto do referido novo hospital seja um facto
consumado e, muito menos, um benefício
para os munícipes que necessitem de cuidados de saúde.
Perante
a defesa entusiasta da criação do novo Hospital de Lisboa Oriental por parte de
Luís Cunha Ribeiro, que não escondeu a sua ambição de encerrar o mais
rapidamente possível os hospitais ainda em funcionamento na Colina de Santana,
ou a tosca tentativa de desviar a discussão do seu centro, protagonizada por
Manuel Salgado, com uma referência à grande
resiliência da Colina de Santana e dos antigos conventos que sobreviveram
ao terramoto de 1755 e onde hoje funcionam os referidos hospitais, um dos
intervenientes fez questão de responder a tal dislate com a afirmação de que,
de facto, “…a Colina de Santana resistiu a tudo menos a Manuel Salgado”.
Aliás,
vários foram os intervenientes, médicos, enfermeiros ou utentes dos serviços de
saúde que esses hospitais prestam, que defenderam que “…ainda vamos a tempo de
parar” e que “…a saúde não tem de ser corrida do centro de Lisboa”.
Acrescentamos nós que, insistindo António Costa e o seu executivo camarário na prossecução
destes objectivos será mais curial correr com ele do que aceitar o crime que se
prepara para executar.
Ficou
claramente evidenciado não existirem razões
médicas que justifiquem o encerramento destes hospitais, tendo a médica
Elsa Soares – que trabalhou em S. José e Santa Marta – relembrado os “elevados
investimentos feitos em instalações e equipamentos” num passado recente, mais
ainda quando é o próprio director da ARS-LVT, Luis Cunha Ribeiro, a reconhecer
que o hospital projectado para Marvila é de …dimensão média! O que, necessáriamente, implicará uma dramática perda
de qualidade na prestação de cuidados médicos e de saúde à população de Lisboa.
Quanto
à preocupação de preservar o património arquitectónico e imaterial da Colina de
Santana, face à ameaça de virem a ser construídos condomínios de luxo, hotéis de charme e silos auto em toda aquela zona, numa tentativa de criar uma espécie
de Quinta da Marinha no centro urbano
da capital, a historiadora Adélia Caldas questionou-se quanto ao sentido que
faz, numa cidade cada vez mais envelhecida, obrigar os utentes do serviço
nacional de saúde “a irem a caminho de Marvila, na periferia”.
Intervenção
que mereceu forte aplauso foi, também, a do Engº António Brotas que, para além
de não vislumbrar em “…nenhuma cidade da Europa esta ânsia de acabar com os
hospitais antigos”, afirmou que a melhor forma de impedir a degradação dos
edifícios onde tais hospitais estão instalados é …”mantê-los no seu
funcionamento normal”!
Retivemos
a afirmação de Fátima Ferreira que denunciou sem qualquer hesitação que “…este
projecto é um verdadeiro atentado ao património nacional” que “…só um apátrida
é que pode estar de acordo com ele”. E nem a água na fervura colocada por
Simoneta Luz Afonso, ex-presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e hoje
deputada municipal eleita pelo PS, afirmando que o que seria importante era
preservar o “património imaterial e móvel…ligado à longa história da saúde e da
medicina”, produziu o efeito desejado pela actual vereação que é o de, com esta
série de debates branquear o crime de lesa património, o ataque ao direito à
saúde, que está prestes a cometer e pretende justificar com a realização destes debates.
E
nem a manipulação e a mentira, recorrentes em Manuel Salgado, conseguiram que
os presentes e intervenientes neste primeiro debate aceitassem aquilo que ele defende como sendo “uma grande
oportunidade para reabilitar o centro da cidade”, apesar da garantia que deu de
que os “edifícios com grande valor patrimonial” seriam transferidos, “na
totalidade ou em grande parte” para o município.
Garantias que, a avaliar pela nebulosa que paira em torno de projectos
concretos para a Colina de Santana, ainda concitam mais e fundadas certezas
quanto ao golpe que está em preparação por parte da vereação de urbanismo e do
executivo da CML.
Basta
atender às informações vagas prestadas pela personagem em questão de que, sendo
a Estamo a única dona dos terrenos em
questão, tal dispensaria que se tivesse de “…tratar com vários proprietários” e
tornar “…mais fácil encontrar soluções de conjunto que interessem à cidade”,
assegurando que “nenhum dos projectos em cima da mesa prevê o surgimento de
centros comerciais ou condomínios de luxo”, havendo, bem pelo contrário, o
“desejo de que as novas habitações que ali venham a surgir sejam acessíveis”!
Produzir
tais afirmações no contexto da tentativa de extinguir uma empresa como a EPUL –
que ainda assim era um dos poucos travões à especulação imobiliária e à
promoção e construção de habitação acessível , sobretudo para jovens - ou da nova Lei das Rendas é tentar deitar
areia para os olhos dos munícipes de uma capital que continua sequestrada pelos
interesses dos grandes grupos imobiliários e financeiros e pelo patobravismo e
que urge, por todos os meios, resgatar!
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