O povo tem de se desembaraçar das malhas que a lei tece para proteger os
traidores!
Foi com uma calma a raiar a arrogância que Aguiar Branco, o
ministro da defesa do governo de traição nacional Coelho/Portas, anunciou esta
6ª feira, 13 de Dezembro, que o seu gabinete havia entregue no DCIAP e no
Tribunal de Contas toda a documentação que, segundo ele, comprova a transparência do processo que levou à
sub-concessão de parte dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ENVC) e ao
despedimento de 609 operários e trabalhadores daquela empresa.
Esta aparente calma e arrogância só podem significar que
décadas de poder do bloco central e
de dança de cadeiras entre os
partidos do arco da governação – PS e
PSD – armadilharam todo o edifício legislativo, de forma a que a traição
nacional, o compadrio e a corrupção ganhassem estatuto institucional e se
tornassem intocáveis.
Isto leva a que um qualquer Miguel de Vasconcelos, face à
legislação produzida por um batalhão de escritórios de advogados, com delegação
fixa no parlamento, através da figura de alguns deputados de proa pagos a peso
de ouro pelos contribuintes que o estado rouba sem travão, e na maior das legalidades, pense sempre estar a salvo
de ver criminalizada a sua condenável actividade.
O mesmo se passa em relação a uma empresa como a Martifer que, mesmo à beira da
falência, com um passivo que ultrapassa em muito os 300 milhões de euros e é
alvo de processos a reclamar créditos de dezenas de fornecedores (alguns deles
em risco de falência por causa disso), desde que tenham sido cumpridos os trilhos sinuosos da transparência legislativa, pode candidatar-se e ganhar o concurso
internacional para a sub-concessão dos terrenos e equipamentos dos ENVC.
Tudo isto sem que se questione quem, no quadro industrial
europeu, tem interesse na liquidação dos estaleiros navais portugueses; sem que
seja possível inferir qualquer comportamento criminoso do facto de o estado de direito estar a caucionar a
capitalização de uma empresa privada à beira da falência; ou sem que nesse
mesmo estado de direito ninguém
considere no mínimo estranho que o ministro Aguiar Branco e o seu gabinete de
advocacia prestem, ou tenham prestado, consultadoria legal à Martifer!
A presente legislação está armadilhada de forma a que,
sabendo-se que uma norma comunitária europeia impõe que dentro de, no máximo,
dois anos qualquer navio mercante, para se habilitar a navegar em águas deste
continente, tenha que equipar os seus navios com duplo casco, ninguém possa
acusar de traição nacional, de lesa pátria, a acção de um governo que está
empenhado na destruição dos estaleiros navais portugueses onde laboram
operários altamente especializados, num sector que se reconhece proporcionar elevadas
mais-valias e que estaria habilitado a aceitar este tipo de operação.
É pelo facto de o quadro legal e jurídico estar assim
armadilhado que um energúmeno como Aguiar Branco pode ameaçar com
processos-crime qualquer democrata ou patriota que se atreva a questionar que interesses está ele, e o governo de traição
nacional que integra, a defender e porque é que se escuda atrás de uma lei que,
pelos vistos, impede que a sua prática seja criminalizável e o seu
comportamento anti-patriótico questionável e condenável.
É preciso quebrar este ciclo vicioso em que, na teia legislativa, uma malha serve para encobrir outra, de tal
forma que o resultado final é o de que, enquanto o pilha galinhas é sempre condenado, humilhado e constituído como
exemplo e bode expiatório de uma justiça que se quer cega e para todos, numa
outra qualquer malha da mesma teia se assegura que a grande
criminalidade, o crime de colarinho
branco, passa sempre impune.
Mesmo assim sendo, há que exigir que, no caso concreto dos
ENVC, o Ministério Público investigue a série de actos de corrupção e de pura
vigarice e leve a julgamento os seus responsáveis. Não há que ter ilusões
quanto ao alcance da acção dos tribunais, mas é a exigência acima formulada que
permitirá tornar ainda mais clara a aliança dos governantes com os agentes da
corrupção e com os interesses do grande capital e do imperialismo que apostam
na liquidação da indústria naval em Portugal, bem como permitirá denunciar a
cumplicidade que o Ministério Público tem revelado com este tipo de crimes
contra o povo trabalhador e a independência nacional.
Quando em 1640, a 1 de Dezembro, Os Quarenta Conjurados
lideraram um processo revolucionário, patriótico, que colocou um ponto final na
anulação da independência de Portugal, a legislação vigente servia os
interesses dos Filipes de Espanha, tal como presentemente serve os interesses
do directório europeu e de quem ele serve, o imperialismo germânico. É por isso
que, tal como no passado, tal legislação não pode constituir qualquer travão à
revolta popular e à restauração da soberania nacional!
E nem o facto de o governo de traição nacional
Coelho/Portas, tutelado por Cavaco, ter tentado apagar da memória colectiva do
povo este episódio vital da história de Portugal, eliminando o feriado
comemorativo dos acontecimentos que levaram à restauração da soberania e
independência nacional, livrará os novos Miguéis de Vasconcelos de terem o mesmo
destino do seu antepassado - a defenestração!
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