No preciso momento em que estas linhas estão a ser escritas,
mais de 4 dezenas de projectos imobiliários hoteleiros se iniciaram ou estão em
fase de acabamento em plena baixa
pombalina lisboeta.
Se, mercê de 4 décadas de executivos camarários liderados, à
vez, a sós e coligados, por TODOS os partidos do arco parlamentar – nos quais pontificaram PS, PSD e CDS – mais de
metade da população foi expulsa da capital, registando hoje Lisboa os índices
demográficos de 1931, desta nova febre do ouro que resulta do negócio do turismo, mais umas dezenas de milhar de
munícipes verão acelerado o já iminente processo da sua expulsão.
Respaldado em afirmações tão imbecis como criminosas
produzidas por Manuel Salgado, que justifica
o facto de os hotéis estarem a germinar no
centro de Lisboa, porque o capital flui
para onde identifica oportunidades de
negócio, agora se começa a perceber a gigantesca fraude retórica de António
Costa e do seu executivo imperial,
quando fingia combater a nova Lei das
Rendas, desenhada por Assunção Cristas e imposta pelo governo de traição
nacional PSD/CDS que integra.
Sem a imposição do articulado fascista constante de tal lei
não teria sido possível efectuar, ao preço da uva mijona, centenas de despejos e chegado a dezenas de acordos de indemnização que estão a
levar a baixa lisboeta a uma
autêntica desertificação de moradores e comerciantes tradicionais, ao mesmo
tempo que a tríade mafiosa de PS, PSD e CDS/PP exulta com a cadeia de valor que ajudou a criar.
Com aquele ar seráfico e imbecil que caracteriza os
vendidos, Manuel Salgado, delfim do imperador António Costa, exibe com grande
agrado e satisfação a sua confiança
de que a progressão do negócio do turismo
não é uma fatalidade mais, mas sim do mais puro
ouro para uma cidade que teve à frente do seu executivo camarário, ao longo
das últimas 4 décadas partidos como o seu que levaram à destruição da indústria
e à quebra de mais de 50% do seu PIB.
Executivos que, por virtude dessa destruição, impuseram à
capital um modelo de gestão assente
na especulação imobiliária, no turismo, na caça às multas, transformando a
cidade num enorme parque de estacionamento, capturada pela invasão automóvel e
assente numa migração massiva da sua população para a periferia, a par de um
criminoso abandono, desleixo e destruição, quer de edifícios, quer de jardins e
árvores.
E o que acontecerá quando o tal capital que Salgado diz não
investir sem ter feito as suas contas,
concluir que os turistas deixam de se interessar por uma cidade na qual só poderão
conviver entre eles, pois os seus cidadãos foram obrigados a migrar por causa
deles e da oportunidade de negócio criada
para eles e por eles?
Como a ganância do lucro é a única alma que reconhecem e amam, os detentores do capital farão o que
sempre fizeram: mastigar, deglutir tudo o que puderem e cuspir o que
considerarem já não lhes servir para nada. Entretanto, toda uma população de residentes
e comerciantes foi expulsa do centro da cidade.
Mas, não só! É já um clássico comportamento dos mercados, em
sociedades dominadas pelo sistema capitalista que, onde o turismo exponencia,
exponenciam os preços, pois a procura aumenta e a oferta exulta, pois pode
assim obter lucros acrescidos. A acompanhar este fenómeno, no entanto, teremos
trabalhadores a quem são pagos salários de miséria para estarem dispostos a
cumprir cargas horárias que se compaginam com os tempos da escravatura e os
cidadãos de Lisboa em geral a sofrerem o aumento brutal de bens e serviços
cujos preços passarão a alinhar pelo poder de compra dos turistas abastados que
passam a visitar a cidade aos magotes.
Agora que se candidatou à liderança do PS e, até, a primeiro
ministro, melhor podemos compreender porque é que António Costa, no seu passeio pelas primárias do seu partido,
não quis discutir uma linha que fosse sobre qual o programa que defende para o país, uma medida que
fosse a favor dos interesses do povo e de quem trabalha, uma medida que fosse
que assegure a independência e soberania de Portugal.
Porque, no essencial, o seu programa é o de toda a direita e
a única diferença é que o seu desejo é o de a liderar e não o de ser
secundarizado.
A Lei das Rendas, tal
como a Lei que, ainda no âmbito do governo de Sócrates foi apresentada,
discutida e aprovada pelo PS no parlamento para beneficiar amplamente os Fundos
Imobiliários e entregar ainda mais Lisboa à especulação imobiliária e ao
patobravismo.
A visão e o modelo de gestão assente na eficácia
que esteve por detrás da extinção da EPUL,
do projecto de ampliação do Hospital da Luz que levará à destruição do mais
moderno e bem apetrechado Quartel de Bombeiros da capital, da venda de terrenos
no Aeroporto de Lisboa a preços de saldo, etc., são paradigmáticos de que, bem
pode Costa e os seus apaniguados vestirem a pele de cordeiro que os seus
intentos serão, tal como os de Coelho, Portas e Cavaco, de lobos sedentos em
sugar o sangue dos trabalhadores e do povo.
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