I
Rota da Seda – alguns factos históricos
Fruto do estabelecimento de uma
série de rotas interligadas através do sul da Ásia, originalmente utilizadas
para o comércio da seda entre o Oriente e a Europa, alguns historiadores
referem que a Rota da Seda começou a ser desenhada e implementada a partir do
oitavo milénio antes de Cristo (aC).
Registos históricos existem,
porém, que assinalam que ela foi estabelecida pela dinastia Han da China
(206 aC – 220 dC), que assegurou a sua protecção e estabilidade até à sua
primeira fase de declínio. Uma segunda Pax Sinica (paz chinesa), ocorreu
entre os anos da época de Cristo de 618 e 917 – durante a dinastia Tang – que
ajudou a Rota da Seda a atingir o que se designou por ser a sua idade
de ouro.
A Rota da Seda Continental
dividia-se em duas rotas – a do sul e a do norte. A do norte atravessava o Leste
Europeu, na Península da Crimeia, no mar de Mármara, chegando aos
Balcãs e, por fim, a Veneza, tendo os mercadores, pelo caminho, fundado várias
cidades em países como a Bulgária. A do sul, percorria o Turcomenistão, a Mesopotâmia
e a Anatólia, dividindo-se, nesta região, em rotas que se dirigiam para
Antioquia (na Anatólia meridional, banhada pelo Mediterrâneo), o Egipto e o
Norte de África.
Apesar dos altos e baixos que se
foram registando ao longo da sua história e que levaram ao declínio da sua
actividade e importância por largos períodos, o que é certo é que a última
linha de caminho de ferro ligada à Rota da Seda contemporânea foi
completada em 1992, quando o troço Almaty – Urunqui foi
inaugurado.
Já a Rota da Seda Marítima
estendia-se da China Meridional (actualmente Filipinas, Brunei, Sião e
Malaca), até destinos como o Ceilão, a Índia, a Pérsia, o Egipto, a Itália e
Portugal, até mesmo a Suécia.
Tais rotas possibilitaram o
transporte dos carregamentos que se realizavam num e noutro sentido, em viagens
que demoravam aproximadamente 4 meses, transporte que era assegurado por
animais de grande porte que haviam sido domesticados pelos antigos povos do
deserto do Sahara, entre os quais os camelos, que passaram a integrar as caravanas
que calcorreavam esses percursos e rotas.
A Rota da Seda foi crucial
para a ocorrência de um significativo desenvolvimento económico, político e
cultural e para o florescimento de grandes civilizações como no Egipto Antigo,
na Mesopotâmia, na China, Pérsia, Índia e, até, Roma. E ajudou seguramente a
criar as condições para o chamado mundo moderno. Muitas caravanas já
cruzavam a Rota da Seda 200 anos antes de Cristo.
Conectando Chang’an (actual
Xi’an), no actual território da República Popular da China, até Antioquia, na
Ásia Menor (actual Turquia), a Rota da Seda expandiu a sua
influência até ao território onde actualmente existem as Coreias e ao Japão,
constituindo-se como a maior rede comercial do chamado mundo antigo.
A Rota da Seda teve, pois,
um papel político, religioso, cultural e económico preponderante. A conquista
do Egipto pelos romanos em 31 aC, possibilitou à Roma Imperial aceder ao
comércio e comunicação regular com a Índia, o Sudoeste Asiático, o Sri Lanka, o
Médio Oriente, a África e a Europa, florescendo o seu intercâmbio comercial a
níveis nunca antes registados.
Mais tarde, o tráfego de ideias e
costumes que tal rota proporcionava, levou a que surgissem inovações como o
papel e a pólvora, se conhecessem tradições e idiomas de várias regiões até
então desconhecidas para uns e para outros, se difundissem religiões como o
budismo e o cristianismo.
Componente interactiva de um
sistema unificado, a Rota da Seda foi a infraestrutura
mercantil e cultural que articulou entidades até então isoladas, criando a
primeira experiência de globalização
conhecida pelo homem de então.
Com o colapso do Império Romano
e, posteriormente do Império Romano do Oriente – mais conhecido por Império
Bizantino – os romanos deixaram de ser uma força dominante na
articulação da Rota da Seda e da sua vida comercial, política e cultural.
O mesmo sucederia ao Império
Mongol dos séculos XIII e XIV, apesar de ter sido considerado na época
o único império que teve o domínio exclusivo da Rota da Seda. Unidos sob
o comando de Genghis Khan, os mongóis eram grandes cavaleiros e manejavam arcos
e flechas como nenhum outro povo, sendo conhecidos pela extrema violência e
terror que espalhavam.
Mas foi a dominação mongol que permitiu
a reabertura da Rota da Seda, agora sob a Pax Mongólica, tornando-a mais
segura e muito melhor, construindo enormes armazéns em todas as grandes cidades
e oásis, nos parques de caravanas, para guardar mercadorias e permitir aos
mercadores viajantes trocar de montaria e seguir viagem com animais frescos e
com maior energia.
Após a morte de Genghis Khan
assistiu-se à fragmentação do Império Mongol , tendo a parte
oriental do mesmo ficado sob a domínio de Kublai Khan que acabou por conquistar
a China inteira. Nos postos criados pelos mongóis estabeleceu-se um sistema
bancário, de modo a que um viajante pudesse depositar o seu dinheiro num posto
e recuperá-lo noutro. Foi assim que surgiu o papel-moeda, uma eficiente
invenção dos chineses, usada pelos mongóis.
Foram os mongóis que introduziram tecnologia e rapidez de
informação nessa grande estrada onde havia troca de idéias, crenças, cultura e
não apenas produtos e matéria prima. Muitas nacionalidades e grupos religiosos
estabeleceram residência na China, o Taoísmo, Budismo e até o Cristianismo
floresceram sob a Pax Mongólica.
Não há dúvida de que, a reboque de tão grande intercâmbio de
pessoas, as doenças também se espalharam, como o sarampo, a varíola e a
sífilis. A peste negra, que se espalhou pela Europa, teve origem na China e
devastou diversos países.
Costuma dizer-se que no governo de Kublai Khan muitos
europeus foram até a China, tendo o mais famoso deles sido Marco Polo que ,
segundo se conta terá saído de Veneza aos 17 anos com o pai e um tio, e que até
terá visitado o palácio de verão de Kublai Khan, o famoso Xanadu (existem
muitas dúvidas acerca da veracidade dessa história).
Com o declínio do império mongol
e a expansão marítima das potências europeias, assiste-se ao declínio da
importância do comércio da Rota da Seda. A cobiça pelas
riquezas orientais já tinha levado a várias tentativas de chegar ao Oriente por
via marítima – considerada uma rota mais segura, rápida e económica - ,
desalojando a República de Veneza do lugar preponderante que tinha no comércio
internacional, sendo a cidade/estado que mais ganhava com o negócio.
A descoberta do caminho marítimo
para a Índia, em meados do século XVI, protagonizada pelo navegador português
Vasco da Gama, assegurou um domínio do mar Arábico e do Oceano Índico que, ao
abrigo do Tratado de Tordesilhas, estavam vedados aos navios da outra potência
marítima da época, a frota de Espanha.
Através de uma rede de
fortalezas, entrepostos e capitanias, e utilizando Goa e Macau para dar suporte
ao seu comércio com o Japão e a orla costeira da China, Portugal passou a ter
grande influência e poder sobre o comércio internacional, ao mesmo tempo que
passou a ser um cobiçado alvo das grandes potências económicas e militares da
época.
II
A Nova Rota da Seda
Tirando partido da antiga
formulação, a República Popular da China tenta agora revitalizar o uso destas
rotas, propondo a um vasto conjunto de países – que representam mais de 60% do
PIB mundial -, uma Nova Rota da Seda, com o objectivo claro de tentar reverter o
chamado processo de globalização -
isto é, a fase suprema do capitalismo, o imperialismo – a seu favor, anulando
ou suprimindo as potências que têm exercido um domínio imperial sobre o mundo e
que, com a chamada guerra comercial
que declararam, pretendem isolar e bloquear aquele país asiático.
Com outras potências
imperialistas a tentar uma reconfiguração global que melhor sirva os interesses
de cada uma delas, mormente o imperialismo americano que tenta dar corpo a
tratados de cooperação e livre-comércio como o Trans-Pacific
Partnership (TPP) e o Transatlantic Trade and Investment
Partnership (TTIP), o presidente da República Popular da China, Xi
Jiping, anuncia o Cinturão Económico da Rota da Seda em Setembro de 2013, numa
visita ao Cazaquistão para, no mês seguinte, durante a cimeira da ASEAN
que teve lugar na Indonésia, anunciar a Nova Rota da Seda Marítima que seria
suposto chegar à Europa e ao Norte de África.
Quando em 2014 a Republica
Popular da China assumiu a coordenação bianual da CICA (Conference on
Interaction and Confidence Building Measures in Asia), volta a insistir na
idéia, como forma de reconectar países
que partilhavam um passado comercial comum, anunciando que seriam postos em
marcha projectos de ferrovia que possibilitassem o transporte de mercadorias de
e para a Europa, transporte de gás com a Rússia e de corredores económicos com
a península indostânica.
Para dar suporte financeiro a
todos os projectos, é criado em 2014 o Asian Infrastructure Investment Bank (
AIIB ), um banco de investimentos que agrega uma coligação de cerca de 60 países e que tem como missão alicerçar
megaprojectos de infraestruturas nas áreas das telecomunicações, energia e
transportes.
No entanto só em 2015 é que o
projecto Nova Rota da Seda começa a ser implementado, prevendo:
Com uma dívida acumulada 3 vezes
superior ao seu PIB, um notório abrandamento da sua economia – habituada desde
há muitos anos a sucessivos e significativos crescimentos -, um aumento dos
salários e uma diminuição das exportações, sobretudo devido ao aumento de
tarifas aduaneiras impostas pelos EUA ao abrigo da guerra comercial que aquela superpotência imperialista declarou ao
país, a China vê-se obrigada a reagir, se quiser estancar a sangria que se faz
sentir na sua economia e produção industrial. A título de exemplo, refira-se
que Fevereiro do corrente ano registou, pelo oitavo mês consecutivo, uma quebra
nas vendas de viaturas.
Claro que tudo isto contribui
para que o plano da China para reduzir a sua dívida fique comprometido e não
passe do papel, enquanto os seus vizinhos – como o Japão – começam já a sofrer
as consequências desta situação.
A recente batalha que se trava
entre os EUA e a China em torno da tecnologia móvel 5G, e que já levou à tomada de reféns
canadianos na China como forma de pressionar o governo do Canadá a libertar a
herdeira do patrão da Huawei que está retida neste país a
pedido dos EUA por um alegado crime fiscal, não constitui, apenas e tão só, um
episódio no novo nível de confrontação imperialista já que todas as partes
envolvidas admitem que o que está em causa é, verdadeiramente, o papel
dominante que cada um dos intervenientes quer desempenhar no mercado mundial.
III
Portugal, a Rota da Seda e o assegurar
da Independência Nacional
Da diversidade de
Memorandos/Contratos assinados entre Portugal e a República Popular da China,
destacamos os seguintes:
De assinalar, ainda, outros
acordos igualmente importantes que foram assinados:
Acordos que o PCTP/MRPP entende que, se não passarem
do papel e do plano das intenções ou, pior, não resistirem à cobardia endémica
do governo PS e suas muletas do PCP/BE/Verdes em se oporem, de forma firme e
resoluta, ao imperialismo americano e aos imperialistas europeus (que já
manifestaram a sua oposição a estes acordos) – com o germânico à cabeça –, a
classe operária, os trabalhadores e o povo português devem correr com eles e
colocar no seu lugar quem defenda, de facto, a implementação destes acordos.
Avançar, por em prática e
consolidar tais acordos exigirá, necessariamente, um rápido programa político e
económico que promova a restauração do nosso tecido produtivo, destruído,
precisamente, por imposição, primeiro da CEE e, depois, pela UE e pelo euro
que, sendo uma moeda forte para uma economia fraca como a portuguesa, capturou
Portugal e o povo português na armadilha da dívida
soberana e forçou a venda de todos os activos estratégicos que permitissem
um plano de desenvolvimento económico independente e soberano. E do que falamos
quando propomos a restauração do nosso tecido produtivo?:
Será esta cooperação, insistimos,
fundada no respeito pela independência de cada país e na reciprocidade dos
benefícios a retirar da parceria que, a par da:
que a classe operária e o povo
português terão de exigir que se realize.
Tudo isto, claro, em oposição ao
que, primeiro a CEE e, depois a UE, nos impuseram, isto é, a destruição do
nosso tecido produtivo e a completa desarticulação da nossa economia e sector
financeiro e bancário, capturando a nossa independência orçamental, aduaneira,
fiscal, monetária, cambial e bancária.
Tendo em linha de conta estes
pressupostos, no contexto da guerra
comercial que neste momento se trava entre as diferentes potências
imperialistas, pode a assinatura e implementação deste acordos ser entendido
como um apoio expresso por Portugal a um dos protagonistas dessa contenda?
Claro que não!
Portugal tem de fazer assentar a
sua política externa no princípio de que qualquer relação que estabeleça com
outros países deve assentar no princípio do respeito pela independência
nacional e da reciprocidade de vantagens das parcerias que, de livre vontade,
decidiram estabelecer.
O PCTP/MRPP defende que Portugal adira a todos os tratados e
estabeleça todos os contratos que, com base naqueles princípios, se traduzam
num maior, mais abrangente e continuado financiamento à actividade económica do
país, que permita o seu enriquecimento sustentável, assegurando um nível de
vida mais elevado e condigno para a classe operária e os trabalhadores.
Do mesmo modo, o PCTP/MRPP bate-se e bater-se-á pela
saída de Portugal da União Europeia e do euro, por considerar que são
instrumentos que capturam a liberdade, a autonomia e o progresso do nosso país,
facilitando o processo de colonização de Portugal pelas potências imperialistas
europeias, com o imperialismo germânico à cabeça.
Potências imperialistas essas que
se utilizaram do euro e das quotas impostas a Portugal – na indústria,
agricultura e pescas, etc. – como meio de impor ao país o lugar na divisão de trabalho europeia que melhor
sirva os interesses dessas potências, empobrecendo o povo e paralisando a
actividade económica de Portugal.
Nesta perspectiva, o PCTP/MRPP considera que os 17 Memorandos/Contratos, assinados durante uma cerimónia
realizada na Sala dos Espelhos do Palácio Nacional de Queluz, em Dezembro de
2018, na presença do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, e do
1º ministro António Costa, podem constituir instrumentos bilaterais para uma
cooperação, desde que assente nos já enunciados princípios do respeito pela
independência nacional de cada um dos países intervenientes e da reciprocidade
das vantagens.
Ao mesmo tempo, Portugal pode e
deve aproveitar esta oportunidade para sacudir a canga da condição de colónia que o imperialismo
germânico lhe impôs, com a prestimosa colaboração dos lacaios e traidores que,
a sós ou coligados, governam o país há mais de 40 anos – isto é, TODOS os
partidos do chamado arco parlamentar,
do PS ao PSD, passando pelas muletas de uns e de outros, CDS/PP e
PCP/BE/Verdes.
Desde que não se repita um
passado de ganância, agressão e guerra para esbulhar as riquezas de outros
povos e nações, este modelo da Nova Rota da Seda pode constituir-se
como uma saída para a profunda crise política, económica, moral e cultural em
que toda a sorte de oportunistas fez mergulhar Portugal, a classe operária, os
trabalhadores e o povo português.
Podre Portugal...
ResponderEliminarPortugal, como a séculos passados, podia outra vez voltar a ser o maior porto de entrada, de mercadorias e passageiros vindos do do Asia, Medio Oriente, Africa e Americas...como em
Mas os Politicos Dr's Tugas nada valem….
A Península Ibérica possui uma bitola diferente da europeia, o que tem vindo a prejudicar o nosso país e a Espanha, pois a exportação e importação dos produtos provenientes dos nossos portos e restante território são afectadas por este grave problema porque os comboios de mercadorias não podem circular livremente para a Europa.
As consequências económicas derivadas deste facto têm sido muito importantes e agravar-se-ão ainda mais, no futuro, com a integração europeia, caso não sejam tomadas as medidas adequadas. Tentaremos analisar a melhor estratégia para solucionar esta situação, quando ja for tarde.
Dizem que na Itália para resolver o problema, pequenos "Portos de Pesca", em poucos anos tornaram-se em Portos para "Mega Porta-Contentores" que deviam passar por Portugal mas como a Bitola Ibérica não é compatível ...passa para Itália!
ACORDEM NOBRE POVO....
Um excelente testo, obrigado uma vez mais pela a tua sempre atenção nesta matérias que são desconhecidas por muitos de nos..
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