No “debate” ocorrido ontem na
Assembleia da República, onde, como se sabe, os diferentes partidos do “arco
parlamentar” se entretêm a discutir o sexo dos anjos, e a dar a primazia ao
acessório em vez de à substância das coisas, Passos Coelho fez, uma vez mais,
uma arrebatada defesa de que a dívida e a crise geradas pelo sistema
capitalista, que servem os interesses dos grandes grupos financeiros e
bancários, sobretudo alemães, deve ser paga pelos trabalhadores e pelo povo
que, segundo o personagem, devem seguir o exemplo dele, Coelho, que pertence a
“uma raça de homens que paga o que deve”!
Se Coelho considera que deve
alguma coisa e, mais do que isso, que tem a obrigação de a pagar, ele lá saberá
as razões por que faz tais afirmações! Se é por virtude dos benefícios e
“favores” que obteve, enquanto gestor da Tecnoforma ou por se ter locupletado
com os fundos europeus para a formação de trabalhadores camarários, alguns
deles, sabe-se agora, nunca chegaram a concretizar-se, não sendo irrelevante,
quando se discute uma Lei Geral do Orçamento para 2013 que agrava ainda mais o
roubo dos salários e do trabalho, os despedimentos, a fome e a miséria, é
tentar lançar “areia para os olhos” daqueles que são, precisamente, chamados a
pagar uma dívida que não contraíram e de que não beneficiaram – os
trabalhadores e o povo!
Afunilar a questão da dívida
para uma questão de “ética” pessoal e “moral dos costumes”, como faz Coelho,
tem como único objectivo escamotear a natureza da dívida, quem foram, de facto,
os seus responsáveis, como é que a dívida se torna um instrumento que permite
às nações industrializadas da Europa subjugarem os países onde, sagazmente, ao
longo da últimas décadas, e em nome da “solidariedade europeia”, o imperialismo
germânico induziu a destruição do tecido produtivo – aumentando a sua
dependência e endividamento -, reproduzindo, hoje, as relações típicas dos
regimes coloniais, isto é, dentro do continente europeu haverem países
fornecedores de matéria-prima ou reservatórios de mão-de-obra barata, países
receptores de produtos industriais acabados, com elevadas incorporações de
mais-valia e países dominadores, imperialistas, com uma elevada capacidade
industrial e tecnológica instalada que lhes permite sujeitar outros à condição
de colónias ou protectorados.
Enquadrada, ainda, nessa
patética táctica, de “fulanizar” o debate, e desviar a discussão dos seus
pressupostos políticos para o patamar da defesa da “dignidade pessoal”, está o
descabelado ataque que Coelho endereçou a Jerónimo de Sousa, secretário-geral
do PCP, por este, na sua intervenção acerca do que se conhece – que é pouco –
das intenções do governo de traição PSD/CDS em fazer abater sobre os
trabalhadores e o povo português um ainda maior pacote de medidas terroristas e
fascistas, ter considerado um roubo aquilo que a futura Lei do Orçamento Geral
do Estado para 2013, e o orçamento rectificativo para este final de 2012,
contemplam, classificando de “apelo à violência” a sua intervenção.
Claro que os trabalhadores e o
povo português têm consciência de que tais acusações de Coelho não são
endereçadas a Jerónimo de Sousa e ao PCP – que se prestaram de imediato, quer
no hemiciclo da assembleia, quer nos seu corredores – a esclarecer que eles são
contra a violência nas lutas dos trabalhadores. O alvo de Coelho são os
operários e trabalhadores que se preparam para, na próxima greve geral – e
recorrendo a todas as greves gerais ou sectoriais que sejam necessárias -,
afrontar a violência com que o governo se prepara para implementar novas
medidas que implicam um ainda maior empobrecimento, que agravam ainda mais as
suas já miseráveis condições de vida, que agravam o desemprego e a precariedade,
reunindo, assim, as condições para o derrube do seu governo de lacaios e serventuários
dos interesses da tróica germano-imperialista.
É a luta da classe operária,
dos trabalhadores, das massas populares que Coelho teme! Não as “diatribes”
discursivas deste ou daqueloutro representante dos grupos da chamada “esquerda
parlamentar”, pois ele sabe que “palavras leva-as o vento”, mas a luta na ruas,
nas fábricas, nos locais de trabalho e nos bairros, essa sim, se for
consequente, corajosa e combativa, se tiver um programa mínimo, baseado em
princípios, a nortear as suas lutas, levará ao derrube do governo Coelho/Portas
e à constituição de um governo democrático patriótico.
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