A promiscuidade entre o estado burguês e os grandes grupos financeiros,
as grandes corporações capitalistas e o capital privado em geral é uma
constante de há muito conhecida e denunciada a nível planetário. Mas, nunca tal
promiscuidade atingiu um ponto tão elevado como o que actualmente se vive,
exceptuando os regimes fascistas que emergiram na Alemanha, em Itália,
Portugal, no Japão e outros países, e que resultaram do casamento dos
interesses das grandes corporações com o estado burguês e capitalista.
E, se além-fronteiras esse casamento já se reflecte na substituição de primeiros-ministros,
como foi o caso de Papademos na Grécia, e de Monti em Itália, ambos homens de
mão da Goldman Sachs, “técnicos” transformados em executores do programa da
tróica germano-imperialista para a transferência, a preços de saldo, dos
activos, sectores e empresas estratégicas públicas de relevância estratégica
para uma economia que se queira independente e ao serviço do povo e de quem
trabalha, em Portugal exemplos não faltam de que o sistema também germinou e se
desenvolveu.
Um dos exemplos mais paradigmáticos, mas não o único, nem tão pouco o
mais relevante, é o de António Borges, um autêntico corsário da época moderna.
Contratado pelo governo dos traidores Passos e Portas para dirigir e coordenar
a “Comissão Liquidatária” de tudo o que resta de activos, sectores e empresas
públicas que ainda faltava transferir para as mãos dos grandes grupos
financeiros e bancários, tudo isto “justificado” pelo princípio de que o
estado, “como pessoa de bem” que é, tem de assumir os seus compromissos, este
personagem “foi”, também ele, um quadro da Goldman Sachs e representante do FMI
para a Europa.
Pois, este personagem, que verberou vezes sem conta o “despesismo” em
que assentaram as necessidades eleitorais de todos os partidos do “arco do
poder”, na sua ânsia de abocanhar o poder e melhor explorar as classes
trabalhadores e o povo, com especial incidência para o governo de Sócrates, que
se “indignou” contra o “buraco negro” em que as PPP’s se tornaram, está prestes
a aceitar o convite do Grupo Jerónimo Martins lhe endereçou para liderar o
projecto da saúde da sua empresa, já que estão interessados em investir neste
sector, naquilo que se pode considerar um gritante conflito de interesses com
as funções que o corsário Borges desempenha na supracitada “Comissão
Liquidatária”.
Mas, como a ganância pelos vistos não tem limites, o mesmo personagem
firmou um contrato de consultadoria, através da sua empresa privada – a António
Borges & Diogo Lucena (ABDL) - com a PARPÚBLICA, a holding do sector
empresarial do estado, precisamente para prestar serviços de consultadoria nas
áreas dos planos de privatizações, na redução do impacto do sector empresarial
público sobre a banca, na reestruturação do sector empresarial do estado – onde
se inclui o sector financeiro -, bem como prestar assessoria na renegociação de
Parcerias Público-Privadas – vulgo PPP’s – e, finalmente, propor a configuração
de novos modelos de parceria. Pela amostra do que acima ficou denunciado, já se
pode imaginar como a promiscuidade entre negócios privados e “interesses
públicos” se vão casar aqui e o nome da noiva passar a incluir o apelido
Borges!
Mas, se são o seu “patrão” Passos e o seu bobo da corte Relvas a dar o
exemplo, o que se poderia esperar de diferente? É que é preciso ter presente
que este governo, para além de serventuário dos interesses da tróica
germano-imperialista, para além de ser representante dos grandes grupos
financeiros e bancários, sobretudo alemães, é também um “comité de negócios”
para favorecer os interesses que detêm em empresas privadas que vários dos seus
membros – de forma directa, através de familiares ou “testas de ferro” –
continuam, em manifesta incompatibilidade com as leis que os seus partidos,
hipocritamente fizeram aprovar no parlamento burguês, a deter e a desenvolver.
Um exemplo disso mesmo é a Tecnoforma, empresa “gerida” por
Passos e tutelada por Relvas quando este foi secretário de estado da
Administração Local do governo liderado por Durão Barroso, empresa que
“surpreendentemente” abocanhou 82% do valor das candidaturas aprovadas a
empresas da região centro para implementar programas de formação profissional
destinados a funcionários das autarquias dessa região e 26% das candidaturas
privadas a nível nacional.
Este programa, implementado com fundos europeus, que viu a luz do dia
pela mão do governo Guterres, tinha como “beneficiários” os 278 municípios da
parte continental de Portugal, numerosas juntas de freguesia, associações de
municípios, empresas municipais, sindicatos, associações profissionais e outras
entidades sem fins lucrativos. Foi um fartar vilanagem. O dinheiro fluía e
continua a fluir, as “trocas de favores” proporcionaram e continuam a
proporcionar, cada vez mais, o “enriquecimento ilícito” a muitos e a
aprendizagem que era suposto ter dado frutos…foi o que se viu!
E são estes “arautos” dos bons costumes, das boas práticas e da “ética”
de respeitar os compromissos que, depois de terem delapidado o país, de lhe
terem destruído o seu tecido produtivo e agravado os factores de dependência do
exterior, os mesmos que nos vêm impor medidas terroristas e fascistas que
obriguem os trabalhadores e o povo português a pagar uma dívida que não
contraíram, nem dela foram beneficiários.
É precisamente por isto que não só é vital a unidade de todas as forças
democráticas e de esquerda para derrubar este governo vende-pátrias, como é
necessário que o governo democrático patriótico que vier a ser constituído
suspenda de imediato a dívida e o serviço da dívida, proceda ao imediato
controlo da banca e implemente um programa de recuperação do nosso tecido
produtivo, ao mesmo tempo que retire o maior aproveitamento da situação
geoestratégica única de Portugal.
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