Mais um “professor” de
economia, desta vez da “insuspeita” universidade católica (que tem produzido
das mais eminentes figuras pardas que ocuparam o cargo de ministro das finanças
e da economia dos sucessivos governos PS e PSD), João César das Neves, vem
afirmar, em entrevista ao jornal de Negócios, que foi o “Tribunal
Constitucional que desgraçou o país” e que “…em democracia Portugal nunca
conseguirá controlar a despesa”!
E como chega a personagem em
questão a tão “brilhante”, quão “científica”, conclusão? Primeiro porque, diz,
“ao impedir o corte de salários e pensões, que representam 70% da despesa”, o
TC “…obrigou a subir impostos, o que estrangulou a economia, que é quem paga os
salários”! O imbecil tenta escamotear que os salários são a moeda de troca para
o pagamento da única mercadoria que os trabalhadores têm para vender ao
patronato capitalista: a sua força de trabalho, braçal ou intelectual.
Tenta escamotear, ainda, que,
quando a burguesia se refere à “despesa” que o aparelho de estado burguês tem
de “suportar”, se refere, sobretudo, à parte da colecta de impostos que o
estado burguês se vê compelido a dedicar a serviços e apoios sociais que foram
conquistados, à custa de duras e prolongadas lutas, pelos trabalhadores e pelo
povo, mas para as quais estes contribuem sem qualquer escapatória possível,
seja através do IRS, da TSU ou do IVA.
Isto é, os serviços de
educação, saúde, transportes, segurança social (onde se incluem os subsídios de
doença ou de desemprego), as reformas e pensões, etc, para os quais o
“professor” pretende fazer passar a ideia, como aliás o faz Gaspar Dixit e
quejandos, que o acesso a estes serviços se faz por “bondade” do estado e não
pelo facto de terem sido previamente pagos, através dos impostos que são
obrigados a pagar, pelos trabalhadores e pelo povo que a eles tem necessidade
de aceder.
Quando tenta fazer passar a
ideia de que os trabalhadores e o povo o que querem é “almoços à borla”, o que
César das Neves está a amplificar são as fantasias de uma classe – a burguesia
capitalista – que o que pretende mesmo com as medidas terroristas e fascistas
que tem vindo a aplicar, a mando da tróica germano-imperialista, é arrecadar os
impostos que servem para implementar aqueles programas sociais e, conjuntamente
com uma massiva transferência de activos e empresas públicas estratégicas,
facilitar, ainda mais, a acumulação capitalista.
É por isso que César das
Neves conclui que “…se o ministro Vítor Gaspar, no seu segundo orçamento, com
maioria absoluta, vasta experiência técnica e sob ameaça da tróica, não obtém
melhor do que isto”, é porque, em definitivo, “…em democracia Portugal nunca
conseguirá controlar a despesa pública”!
Embora afirmando que, se
Portugal reagir como o fez em 1890 (ano em que contraiu uma dívida cujo
pagamento terminou em 2005!), o que espera o país é o abismo, segundo esta
“eminência” o que devemos adoptar é o modelo seguido em 1978 e 1983 (anos em
que decorreram outros “programas” de “resgate” do FMI), escamoteando que
naquela época possuíamos um instrumento – a política cambial – ao qual estamos
agora impedidos de recorrer para valorizar ou desvalorizar a moeda consoante os
nossos interesses.
Ou seja, César das Neves,
querendo ir mais longe do que a sua “mentora”, Manuela Ferreira Leite, que
chegou a vaticinar a “suspensão da democracia” para se sair da crise, apenas
conseguiu ser a versão patética da voz da dona, revelando, uma vez mais, que no
que respeita a massa cinzenta, os seus neurónios entram com alguma frequência
em curto-circuito.
Numa situação em que é
manifesto o equilíbrio de forças entre a revolução e a contra-revolução, e
perante sinais que evidenciam que, se a ruptura desse equilíbrio não se
efectuar a favor da revolução, a alternativa poderá ser a de a contra-revolução
se reorganizar e impor um governo do tipo bonapartista ou fascista, torna-se
necessário e urgente uma ofensiva no combate político, que una todos os que
puderem ser unidos em torno de um programa mínimo que passe pela suspensão
imediata do pagamento da dívida, pela execução de um plano de desenvolvimento
ao serviço dos trabalhadores e do povo, pela saída do euro e a reposição do
escudo se tal se afigurar necessário, pelo controlo do sistema bancário.
Para que tal programa mínimo
seja possível de executar há, contudo, que derrubar este governo de traição
PSD/CDS, escorraçar com o Coelho e com o Portas, bem como com toda a sorte de
lacaios ao serviço da tróica germano-imperialista, impondo um governo
democrático patriótico que se encarregue de cumprir tal desiderato.
É precisamente isto que
estará em jogo, também, na greve geral do próximo dia 14 de Novembro, e em
todas as greves gerais e sectoriais que sejam necessárias para que tais
objectivos sejam alcançados.
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