quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Nem Césares…nem bonapartes de pacotilha!


Mais um “professor” de economia, desta vez da “insuspeita” universidade católica (que tem produzido das mais eminentes figuras pardas que ocuparam o cargo de ministro das finanças e da economia dos sucessivos governos PS e PSD), João César das Neves, vem afirmar, em entrevista ao jornal de Negócios, que foi o “Tribunal Constitucional que desgraçou o país” e que “…em democracia Portugal nunca conseguirá controlar a despesa”!

E como chega a personagem em questão a tão “brilhante”, quão “científica”, conclusão? Primeiro porque, diz, “ao impedir o corte de salários e pensões, que representam 70% da despesa”, o TC “…obrigou a subir impostos, o que estrangulou a economia, que é quem paga os salários”! O imbecil tenta escamotear que os salários são a moeda de troca para o pagamento da única mercadoria que os trabalhadores têm para vender ao patronato capitalista: a sua força de trabalho, braçal ou intelectual.

Tenta escamotear, ainda, que, quando a burguesia se refere à “despesa” que o aparelho de estado burguês tem de “suportar”, se refere, sobretudo, à parte da colecta de impostos que o estado burguês se vê compelido a dedicar a serviços e apoios sociais que foram conquistados, à custa de duras e prolongadas lutas, pelos trabalhadores e pelo povo, mas para as quais estes contribuem sem qualquer escapatória possível, seja através do IRS, da TSU ou do IVA.

Isto é, os serviços de educação, saúde, transportes, segurança social (onde se incluem os subsídios de doença ou de desemprego), as reformas e pensões, etc, para os quais o “professor” pretende fazer passar a ideia, como aliás o faz Gaspar Dixit e quejandos, que o acesso a estes serviços se faz por “bondade” do estado e não pelo facto de terem sido previamente pagos, através dos impostos que são obrigados a pagar, pelos trabalhadores e pelo povo que a eles tem necessidade de aceder.

Quando tenta fazer passar a ideia de que os trabalhadores e o povo o que querem é “almoços à borla”, o que César das Neves está a amplificar são as fantasias de uma classe – a burguesia capitalista – que o que pretende mesmo com as medidas terroristas e fascistas que tem vindo a aplicar, a mando da tróica germano-imperialista, é arrecadar os impostos que servem para implementar aqueles programas sociais e, conjuntamente com uma massiva transferência de activos e empresas públicas estratégicas, facilitar, ainda mais, a acumulação capitalista.

É por isso que César das Neves conclui que “…se o ministro Vítor Gaspar, no seu segundo orçamento, com maioria absoluta, vasta experiência técnica e sob ameaça da tróica, não obtém melhor do que isto”, é porque, em definitivo, “…em democracia Portugal nunca conseguirá controlar a despesa pública”!

Embora afirmando que, se Portugal reagir como o fez em 1890 (ano em que contraiu uma dívida cujo pagamento terminou em 2005!), o que espera o país é o abismo, segundo esta “eminência” o que devemos adoptar é o modelo seguido em 1978 e 1983 (anos em que decorreram outros “programas” de “resgate” do FMI), escamoteando que naquela época possuíamos um instrumento – a política cambial – ao qual estamos agora impedidos de recorrer para valorizar ou desvalorizar a moeda consoante os nossos interesses.

Ou seja, César das Neves, querendo ir mais longe do que a sua “mentora”, Manuela Ferreira Leite, que chegou a vaticinar a “suspensão da democracia” para se sair da crise, apenas conseguiu ser a versão patética da voz da dona, revelando, uma vez mais, que no que respeita a massa cinzenta, os seus neurónios entram com alguma frequência em curto-circuito.

Numa situação em que é manifesto o equilíbrio de forças entre a revolução e a contra-revolução, e perante sinais que evidenciam que, se a ruptura desse equilíbrio não se efectuar a favor da revolução, a alternativa poderá ser a de a contra-revolução se reorganizar e impor um governo do tipo bonapartista ou fascista, torna-se necessário e urgente uma ofensiva no combate político, que una todos os que puderem ser unidos em torno de um programa mínimo que passe pela suspensão imediata do pagamento da dívida, pela execução de um plano de desenvolvimento ao serviço dos trabalhadores e do povo, pela saída do euro e a reposição do escudo se tal se afigurar necessário, pelo controlo do sistema bancário.

Para que tal programa mínimo seja possível de executar há, contudo, que derrubar este governo de traição PSD/CDS, escorraçar com o Coelho e com o Portas, bem como com toda a sorte de lacaios ao serviço da tróica germano-imperialista, impondo um governo democrático patriótico que se encarregue de cumprir tal desiderato.

É precisamente isto que estará em jogo, também, na greve geral do próximo dia 14 de Novembro, e em todas as greves gerais e sectoriais que sejam necessárias para que tais objectivos sejam alcançados.

Sem comentários:

Enviar um comentário