quinta-feira, 3 de abril de 2014

BPI: Safar-se Enquanto É Tempo...

Quem ainda se der ao desperdício de escutar os paspalhões do governo de traição nacional Coelho/Portas, haverá de julgar que nunca terá sido tão promissora como agora a situação financeira do País: a Tróica estará de saída, os mercados estarão mais calmos e colaborantes, os juros da dívida pública estarão a baixar...
O único problema que ainda subsiste, mas também em vias de solução, segundo afiançam, é saber se saímos desta alhada, em que nos meteram com a assinatura de programa de resgate, pela via limpa, como tem estado a achar o primeiro-ministro, ou pela via cautelar, como tem estado a defender o inquilino de Belém.
Sabemos bem que a realidade é muito outra: a dívida é insustentável e impagável, a austeridade e empobrecimento do povo português continuarão por mais trinta ou quarenta anos (Cavaco o disse) e, por essa altura, Portugal terá menos dois milhões e meio de habitantes (os serviços de estatística o dizem), estando então em vias de desaparecer do mapa.
Há sempre, todavia, cidadãos com dúvidas sobre quem terá razão, se os palhaços reaccionários do governo ou a crua realidade dos factos.
Uma boa maneira de dissipar todas as dúvidas é olhar para o que fazem os banqueiros.
Ontem, em conferência de imprensa, o presidente da comissão executiva do BPI (Banco Português de Investimento) veio dar uma prestimosa ajuda aos cidadãos que têm dúvidas, eliminando-as completamente, embora não fosse exactamente esse o seu intuito.
Fernando Ulrich, o tal presidente da comissão executiva do BPI, veio dizer que o banco tinha concluído – tudo se processou sem que ninguém se apercebesse!... – a venda de metade da dívida pública portuguesa e italiana, de médio e de longo prazo, detida pelo BPI.
Às escondidas, Ulrich tinha conseguido vender, até ao fim de Março do ano corrente, por 850 milhões de euros, metade da dívida pública portuguesa em poder do banco, e, por 487,5 milhões de euros, metade da dívida soberana italiana existentes nos seus cofres.
Sem que ninguém desse por isso, Ulrich tinha enfiado noutros o barrete de 1 337,5 milhões de euros em dívida soberana, que escaldava nas mãos e nos bolsos dos accionistas.
O que é verdadeiramente cómico em tudo isto é que o presidente da comissão executiva, ele mesmo, confessou aos accionistas do banco que o BPI tinha perdido naquela operação a absurda quantia de 135,2 milhões de euros!...
Para Ulrich, com aquele prejuízo escandaloso, a venda tinha, mesmo assim, constituído um enorme sucesso para o BPI e para os seus accionistas.
Ou seja: desfazer-se dos títulos da dívida soberana portuguesa (e italiana), mesmo com um enormíssimo prejuízo, tinha constituído um acto de gestão genialíssimo.
E porquê genialíssimo? Porque aqueles títulos da dívida pública portuguesa (deixemos de lado a italiana, que ao nosso caso não interessa), atendendo à insustentabilidade e impagabilidade da dívida, estavam em vias de valer zero.
Ulrich sabe – e neste passo não se pode considerar que seja burro – que aqueles títulos, em cada dia que passa, vão perdendo valor, até se transformarem em papéis que não valerão cheta.
E vejam bem como o homem soube aliar a esperteza de espírito à rapidez de pés e de mãos: em fins de 2012, a dívida soberana portuguesa e italiana detida pelo BPI tinha o valor nominal de 2,675 mil milhões de euros e representava 6% dos activos do banco; mas, três meses depois apenas, em fins de Março de 2014, e em consequência da esperteza e celeridade de Ulrich, a dívida soberana portuguesa e italiana já só representava 3% dos activos do banco, no montante nominal de 1,4 mil milhões de euros.
Claro, o homem perdeu naquela operação sorrateira 132,5 milhões de euros; mas quanto iria perder no futuro se, à socapa, as não tivesse vendido agora?!
Quando o banqueiro vê, de um lado, uns cidadãos que dizem querer reestruturar a dívida através de cortes nos juros, dehaircuts (cortes) no capital e de prorrogação de prazos de pagamentos, e, de outro lado, outros cidadãos que realmente não querem que se pague a dívida e até exigem a saída imediata do Euro e a reinstituição do Escudo, quando o banqueiro está perante um quadro destes o que se pode esperar que ele faça senão desfazer-se a qualquer preço da dívida e fugir?
E querem saber mais? Ulrich pensa utilizar os 1,3375 milhar de milhões de euros, sacados na venda em bolsa de metade da dívida soberana detida, para pagar o empréstimo de 3 mil milhões de euros que o Estado emprestou ao BPI com dinheiro recebido da Tróica, para recapitalizar o banco, praticamente falido à data, com a grave exposição em que ficou perante a dívida soberana portuguesa e italiana, entre outras.
A pressa do chairman do BPI em libertar-se de uma dívida ao Estado, a juro baixo e para mais que só se venceria em 2017, mostra que o gestor bancário o que verdadeiramente teme, acima de tudo, é a tomada do banco pelo Estado português, no dia em que este decidir sair do Euro.
E não se ficou por aqui o Ulrich; foi mesmo ao ponto de aconselhar publicamente Nuno Amado, chairman do BCP, a vender também e da mesma maneira a dívida soberana portuguesa detida entre os seus activos e perante a qual está exposto, bem como a vender o banco que o BCP detém na Polónia (Banco Millennium) e a reembolsar o mais rapidamente possível o empréstimo concedido pelo estado ao banco de Jardim Gonçalves para recapitalização...
Se os bancos portugueses se estão a desfazer-se a qualquer preço da dívida soberana portuguesa que detêm em carteira, é porque sabem muito bem que correm o risco de não receberem um único cêntimo de toda ela, se demorarem na venda.
Se os banqueiros estão à rasca, então é porque o país não é o paraíso de que falam Coelho e Portas!
E não se esqueçam que Ulrich foi aquele gajo que há uns tempos perorou nas televisões, referindo-se à política de austeridade imposta pela Tróica, que o País “ai aguenta, aguenta”.
Pois o senhor gajo já sabe agora que o País não aguenta, não!... E que não vai pagar a dívida, não!... E que vai sair do Euro, sim!...
E perante isto, permitam-me que lhes pergunte: haverá ainda uma só alma neste mundo que, contemplando esta manobra sorrateira e desesperada dos banqueiros portugueses, acredite na saúde financeira da nossa economia?! Eu acho que não!

                                                                                                                                      Espártaco

Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/1033-bpi-safar-se-enquanto-e-tempo

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