sábado, 21 de abril de 2012

Warren Buffet: um multimilionário suicida prevenido!

Existem pretensos suicidas que para chamar a atenção vão para a porta dos hospitais suicidar-se, para que possam ser alvo de rápida reanimação, não vá alguma coisa correr mal e eles… morrerem mesmo! É o caso de Warren Buffet e seus pares no clube dos multimilionários que, no ano transacto, anunciaram a sua disposição em contribuir para a redução das dívidas soberanas, estando dispostos a ser onerados nos seus impostos, para que tal desiderato fosse alcançado e, assim, a crise e os seus efeitos sobre os trabalhadores e os povos pudessem ser aliviados!
Na época, foi com pompa e circunstância que os órgãos de comunicação social noticiaram profusamente a bondade de tal reclamação, havendo até uma certa esquerda – em Portugal, nomeadamente a chamada esquerda parlamentar que se deixou enganar pelo engodo de tanta bondade – que foi apanhada a fazer a festa, lançar os foguetes e apanhar as canas, cantando hossanas a Buffett e classificando a sua atitude como a prova de que haveria um capitalismo hediondo e selvagem e outro de rosto humano, como seria o caso de Buffet.
Agora que o senado norte-americano anunciou que não aceitava – como seria de esperar – tão bondosa oferta, convirá recordar o que nessa altura escrevemos sobre a iniciativa de Warren Buffett e suas intenções, até para que, quem nos lê, possa tirar pelo menos duas conclusões: a primeira é de que quando a esmola é grande o pobre desconfia, e a segunda é de que toda e qualquer oferta feita pela classe que oprime os trabalhadores e o explora, só pode ser um presente envenenado! Então aqui vai, com a proposta de que leiam, ou releiam, aquilo que então denunciámos acerca da bondade de Buffett e seus pares:
“Naquilo que se pode considerar uma jogada de antecipação, o multimilionário Buffett, que pertence a um grupo de grandes capitalistas politicamente esclarecidos e que toma as suas decisões de negócio com base numa avaliação constante das condições políticas, quer num dado país, quer no âmbito global, produziu declarações que alguns menos atentos consideraram de surpreendentes para um indivíduo que pertence ao restrito grupo mundial da alta finança. Disse o personagem que o governo americano necessitava de perder o medo de taxar mais as grandes fortunas e os grandes grupos financeiros e bancários, como é o caso dele e de outros que ele classifica de “gente honesta” (Notícias de última hora: 16 grandes fortunas francesas, naquilo que aparenta ser um "efeito dominó" das declarações de Buffet, vieram exigir que o governo francês aumente as taxas que recaem sobre as suas fortunas e actividades).
Ele, como outros, começa a compreender que aquilo que se convencionou designar por política neoliberal, mas que não passa do velho e conhecido sistema capitalista na sua fase suprema que é o imperialismo (a que pomposamente agora insistem chamar globalização), tem vindo a polarizar as contradições entre a acumulação da riqueza nas mãos de uns poucos e o campo dos explorados, onde se incluem milhões de precários, desempregados e pessoas sem qualquer perspectiva de uma vida digna. E compreende que isso pode ser mau para o negócio. Quer porque essas políticas, como se está a verificar um pouco por todo o mundo, estão a provocar uma preocupante recessão, quer, sobretudo, porque essas políticas estão a merecer um crescendo de contestação em todo o lado.
E essa contestação, que normalmente era travada e desviada dos seus objectivos revolucionários por uma esquerda reformista e oportunista, agora não está a aceitar esses travões, está demasiado sem controlo para o gosto da burguesia e do grande capital. E é isso que Buffett quer, por antecipação, acautelar. Fazendo, precisamente, concessões a essa pseudo esquerda que badala que a reforma fiscal, sob sistema burguês é uma bandeira de luta revolucionária, tentando, assim, desviar a atenção do que é essencial.
É que esta crise do capitalismo já não é sómente estrutural, nem conjuntural. É terminal! Na medida em que só a substituição das relações de produção capitalistas por relações de produção socialistas é que resolverá a contradição dos nossos tempos, aquela que opõe a natureza social do trabalho à apropriação privada da riqueza gerada por ele. Não há nenhuma reforma, fiscal ou de outra natureza que aplaque a revolução que há-de cumprir esse desiderato, isto é, acabar com a exploração do homem pelo homem.
Seja por iniciativa de Buffet e seus pares, seja por iniciativa dos governos, que mais não são do que gestores do grande capital, seja … por acção de um hipotético governo económico europeu, se o capital financeiro e as grandes fortunas passassem a ser taxadas, tal medida em nada alteraria as condições de exploração a que a classe operária e os povos de todo o mundo estão sujeitos.
Em Portugal, tal medida poderia agradar, quanto muito, a Francisco Louçã e aos seus pares do Bloco de Esquerda que há muito iludem a classe operária e os trabalhadores portugueses com a sua reforma fiscal, afirmando que duma melhor distribuição da colecta fiscal redundaria maior justiça social, escamoteando que não seria esta alteração que mudaria a natureza da exploração capitalista sobre os trabalhadores.”
A verdade, no entanto, é como o azeite, e vem sempre à superfície. A decisão do senado norte-americano em não aceitar aumentar as taxas sobre as fortunas, vem comprovar que a mentira de Buffet…tinha perna curta! Afinal, o seu desejo não era nada convidar a sua classe, a burguesia, a cometer um hara-kiri colectivo! O objectivo era, tão só, substituir a inevitável luta de classes como motor da história pela colaboração inter classista! Caso para dizer…a montanha pariu um rato!

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