Lutar é a única
saída para quem trabalha, não um obstáculo!
A
propósito de um
texto que anda a
circular na internet, em especial nas redes sociais, e que pretende ser uma
resposta a todos os que dizem que são contra greve e/ou a violência como forma
de luta que proporcionou as conquistas de direitos aos trabalhadores, é
importante que o assunto seja devidamente enquadrado para que, apesar de o
método utilizado ser bastante apelativo e imaginativo, seja também eficaz.
No seu
afã egoísta e criminoso de implementar o caótico processo de acumulação
capitalista, que só visa o sacrossanto lucro não importa à custa do quê nem de
quem e que só beneficia o detentor do capital e dos meios de produção, a
burguesia tende a fazer-se “esquecida” do facto de o único artífice da criação
de riqueza, o único produtor de mais-valia, é aquele que não tendo a posse
desses meios – por enquanto – nem do capital – financeiro, bancário ou
industrial – tem para vender a sua força de trabalho braçal ou intelectual,
força essa que é a única geradora da riqueza que, afinal, é ilegitimamente
apropriada pela burguesia e o capital.
E é este
“esquecimento” que leva os operários e os camponeses, os trabalhadores e o povo
em geral, ao longo dos últimos séculos, a disporem-se a organizar-se e a lutar,
por vezes com recurso à violência, para fazer face à violência que a burguesia
e as suas forças repressivas sobre eles faz abater, para que uma parte das
mais-valias por si criadas sejam destinadas a proporcionar-lhes uma vida digna,
os meios que lhes assegurem a subsistência quando eles, ou algum elemento da
sua família, por doença ou invalidez ou, pura e simplesmente, por terem sido
lançados no desemprego, tiverem ficado sem meios de subsistência.
Não
fosse, portanto, esta luta secular, por vezes violenta e sangrenta, entre o
TRABALHO e o CAPITAL, e viveríamos em autêntica barbárie e obscurantismo. Não
fora os operários, os camponeses, os trabalhadores em geral, disporem-se a
organizar-se e a lutar para impor os seus direitos e a burguesia e o seu
sistema capitalista teriam acumulado capital “em roda livre” sobre os cadáveres
de quem produz as mais-valias que permitem tal processo de acumulação.
Se esta
contradição é uma evidência para um importante sector do mundo do trabalho,
precisamente o sector mais consciente, cada vez mais numeroso, não menos certo
é o facto de que, cada vez que se torna necessário convocar e realizar uma
Greve Geral ou uma manifestação contra a presença da nova führer Merkel ou
contra os seus inspectores coloniais (o correspondente aos antigos “inspectores
do cacimbo” quando o regime salazarista mantinha o sistema colonial), cada vez
que um novo surto de contestação, indignação ou luta justa se desencadeia, seja
para salvaguardar as conquistas alcançadas à custa de muito suor, sangue e
lágrimas, seja para levar os trabalhadores a imporem à burguesia novas
conquistas, muitos trabalhadores, também eles explorados, muitos deles em
situação de precariedade extrema, cedem à manipulação que a burguesia – através
dos meios de comunicação de que é detentora – opera sobre as suas consciências,
acabando por alinhar na condenação de qualquer tipo de luta, sobretudo
lamentando os “inconvenientes” pessoais que estas lhes acarretam.
Quando
confrontados com este tipo de comportamentos – e não devemos alimentar mais
ilusões, pois, para derrubar este governo e impor a constituição de um Governo
Democrático Patriótico, muitas greves serão necessárias realizar, muitas lutas
serão necessárias travar, muitas delas com recurso à violência revolucionária
que se contraponha à violência contrarrevolucionária – os trabalhadores mais
conscientes, organizados e mobilizados para a necessidade de lutar para
conseguir obter, manter ou consolidar as conquistas a que têm direito, devem,
com alguma paciência e muita firmeza, colocar a esses seus companheiros,
explorados tal como eles, a questão de saber se eles estão dispostos a
prescindir dos direitos que as lutas que o movimento operário e popular foi assegurando
ao longo de séculos.
E, de
forma clara e incisiva, devem confrontar esses seus companheiros, por enquanto
iludidos - pelo menos a esmagadora maioria que é recuperável, não perdendo
tempo com a minoria fervorosamente adepta do campo do inimigo de classe e
confabulada com ele -, com o elencar das principais conquistas que, se fossem
coerentes, ao manifestarem-se contra as greves que as possibilitaram no
passado, delas deveriam abdicar:
·
Desde
logo, e à cabeça, o direito à Greve;
·
Mas,
também, o direito a ter opinião e a defendê-la em público sem receio de ser
perseguido, preso ou morto por virtude de a defender;
·
O
direito às 40 horas de trabalho semanais (8 horas diárias), e em alguns casos
horários inferiores a este, passando a concordar que lhe seja imposta a jornada
de 15 horas diárias que vigorava anteriormente a esta conquista;
·
O
direito ao descanso semanal, passando a estar de acordo em trabalhar de domingo
a domingo, tal como acontecia antes das lutas que levaram à imposição desta
conquista;
·
O
direito aos subsídios de férias, de Natal, ao subsídio de doença, de
Maternidade, de Doença, de Desemprego, a maioria deles indispensáveis ao
aumento da esperança média de vida de que hoje beneficiamos, conquistas
alcançadas, também elas, à custa de sucessivas greves e paralisações, com a
acção dos piquetes de greve a oporem-se aos fura-greves e às forças da
repressão que os apoiavam muitas das vezes de forma violenta;
·
O
direito à Saúde, à Educação e à Justiça que, apesar de serem hoje alvo de um
ataque sem precedentes que visa a sua privatização e a dificultação do acesso
aos mesmos por parte dos trabalhadores e do povo, e seus familiares, foram
conquistas arrancadas à burguesia à custa de muita luta, entre as quais as que
obrigaram ao recurso da greve, sendo que hoje, se desejamos manter e ampliar
tais direitos e conquistas, devemos prosseguir e aprofundar essas lutas. Estão
esses companheiros dispostos a abdicar da educação para os seus filhos, da
saúde para eles e seus familiares, bem como de uma justiça independente, que
essas lutas proporcionaram?
Muitos
mais direitos, muitas mais conquistas, poderiam ser elencadas. Mas, o que é
urgente, o que é importante, com paciência, com firmeza, evidenciar perante
todos os trabalhadores que estão iludidos quanto ao meio que os levará a obter
uma vida com dignidade, é que a burguesia nada deu de mão beijada a quem
trabalha. É necessário responsabilizar os sindicatos que, por laxismo,
oportunismo ou capitulação perante o inimigo de classe, foram desertando de uma
das principais funções para que foram criados: elevar a consciência dos
trabalhadores e prepará-los para a necessidade de enquadrar todas as suas lutas
na luta mais geral, aquela que levará à destruição de uma sociedade assente na
exploração do homem pelo homem.
Um excelente texto...lutar por derrubar este governo é o caminho mais que urgente. Lutar por um governo democrático patriótico é mais que premente.
ResponderEliminarMuito bom e muito necessário ler/reler/divulgar pois parece que os ventos adversos estão a levar as pessoas à loucura de quererem transformar a luta política e ideológica em jogos de poder mais ou menos sombrios.
ResponderEliminarÉ o que farei. Divulgar.