No seu afã de acumular capital e enriquecer à custa do
trabalho, a burguesia e os governos que a representam, ao longo da história do
capitalismo, têm tido o cuidado de reservar uma parte da mais valia resultante
desse trabalho para assegurar que os trabalhadores se reproduzam, isto é,
tenham filhos que prossigam a cadeia de venda da única mercadoria que possuem –
a sua força de trabalho.
As designações proletário e proletariado que Marx começou a
utilizar definiam, precisamente, esse desiderato. Ao operário, para além de
produzir as mais-valias que possibilitam a acumulação capitalista, os
detentores do capital, a burguesia, reservava outra tarefa, a de assegurar uma
prole que replicasse a cadeia de exploração e assegurasse que o ciclo de
acumulação do capital não fosse quebrado.
O que tem de novo a situação que hoje se vive no nosso país,
mercê das políticas de traição nacional levadas a cabo pelos serventuários
Coelho e Portas, que custe o que custar
querem obrigar o povo a pagar uma dívida que não contraiu, nem dela beneficiou,
é que já nem o papel de replicador de mão de obra motiva a burguesia que, com
absoluto desdém, insensibilidade e arrogância, prefere atirar para a miséria, a
fome e mesmo a morte, milhões de
trabalhadores e elementos do povo.
Quando esta camarilha PSD/CDS – e a anterior, do PS chefiada
pelo agora comentador Sócrates – queriam fazer crer que a crise da dívida e do défice se tinham ficado a dever ao facto de os trabalhadores e o
povo português terem estado a viver acima
das suas possibilidades, fomos claros na denúncia de que tal crise se
devera às trafulhices jurídico-políticas das PPP’s e à massiva destruição do
nosso tecido produtivo para favorecer os interesses dos grandes grupos
económicos, financeiros e bancários, com os alemães à cabeça.
Tal como fomos claros a demonstrar porque e como é que as dívidas soberanas constituem um
excelente negócio para os grandes grupos financeiros e bancários, cujos
interesses são assegurados por uma tróica que, é cada vez mais evidente para os
trabalhadores e para os povos da Europa – incluindo Portugal –, tem nos lucros
que obtém à custa de juros faraónicos que impõe uma renda que é tanto mais
apetecível, quanto as dívidas forem IMPAGÁVEIS e se prolongarem pela
eternidade, à custa do sangue, do suor e das lágrimas dos povos, à custa da
perda de soberania das nações que se vêem obrigadas a sacrificar os seus activos e empresas estratégicas no altar da dívida.
A recente decisão do ECOFIN, à saída da última reunião em
Dublin, na Irlanda, confirma de forma cristalina e meridiana – mesmo para os
mais cépticos e ingénuos –
precisamente este facto. Com a pretensa caridade
de prolongar os prazos – ou, como gostam de pomposamente referir, as maturidades – dos pagamentos dos empréstimos contraídos de 13 para 20
anos, os grandes grupos financeiros e bancários meteram ao bolso com essa generosidade… 7 mil milhões de euros!
Está bem de ver que, cada euro de lucro resulta em mais desemprego, agravamento
das condições de acesso à saúde e à educação para o povo, cortes nas chamadas prestações sociais, maior facilitação
dos despedimentos, roubo dos salários e do trabalho.
Há mais de dois anos que vimos a denunciar que é uma
miserável provocação afirmar que vivemos
acima das nossas possibilidades, quando as políticas terroristas e
fascistas que o governo de traição nacional PSD/CDS têm imposto, provocaram a
maior taxa de desemprego jamais registada em Portugal e levaram ao
empobrecimento de, segundo as estatísticas mais conservadoras, 3 milhões de elementos do povo. Na altura, quando revelámos estes números, merecemos as mais
assanhadas críticas, não só por parte dos serventuários Coelho e Portas, mas da
“esquerda parlamentar” que nos acusou de alarmistas
e nos criticou o exagero.
É por isso que marchas contra o empobrecimento não passarão
– como a exigência de mudanças de política, sem que se mude o
essencial, que é o poder e os interesses capitalistas que serve – de lamurias inconsequentes, se não se enquadrarem na absoluta necessidade de se convocarem
o número de greves gerais nacionais, mais prolongadas do que aquelas que têm
ocorrido até agora, que sejam necessárias, até que o objectivo político do
derrube deste governo – uma reclamação democrática e patriótica – tenha sido
alcançado.
Só um governo democrático patriótico que suspenda de
imediato o pagamento da dívida e dos juros, um governo que implemente a
recuperação do tecido produtivo destruído e ponha em marcha um criterioso plano
de investimentos produtivos, um governo que retire as devidas vantagens da
posição geoestratégica única do nosso país, poderá assegurar o emprego, a
erradicação da fome e da miséria e uma política de independência nacional baseada nas relações com todas as nações do mundo na base da igualdade e das
vantagens recíprocas.
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