Quando
uma colectividade se substitui às obrigações do estado!
Herdeira do Atlético da Encarnação, foi fundada há quase um quarto de século a ADCEO – Associação
Desportiva e Cultural da Encarnação e Olivais -, em Lisboa, uma colectividade
que sempre se pautou pelo ecletismo nas actividades em que se envolve e se
empenha, que vão desde a cultura ao desporto, passando pelas actividades
lúdicas e de recreação até ao apoio social.
A equipa de
reportagem do LUTA POPULAR foi recebida pelo Sr. Francisco Teófilo, um vice-presidente
dinâmico e combativo, justamente orgulhoso da obra feita, que informou estar
prevista a construção de um museu – onde funcionará, também, uma sala
recreativa – e uma biblioteca.
Inserida num
complexo com cerca de 10 mil metros quadrados de área, a ADCEO é considerada
uma Instituição de Utilidade Pública que, segundo o seu vice-presidente, tem
“despesas dos diabos”, mas que, tal como acontece com outras colectividades, “o
estado ignora as obras sociais”, apesar de saber que estas “ desenvolvem grande
obra social, poupando muito dinheiro ao estado”!
Passando pelo
mesmo tipo de problemas que a generalidade das colectividades de Lisboa, e de
todo o país, mesmo assim a ADCEO, que possui um anfiteatro com capacidade para
cerca de 400 espectadores, acolhe uma Companhia de Teatro profissional – a Arte
D’Encantar – que tem encenado e levado a palco várias peças de teatro para
serem representadas sobretudo para alunos do 8º e 9º anos, que muito as têm
apreciado.
Com a
dinamização cultural sempre presente nos seus objectivos, a ADCEO desenvolve o
ensino da música tradicional e popular portuguesa. Mas, para além desta
actividade cultural, a colectividade organiza várias modalidades desportivas
que vão desde o futebol ao basquete e voleibol, passando pelo judo, karaté,
Krav Maga, jiujitsu, ginásio, ginástica e ténis de mesa. Nesta última
modalidade, a ADCEO já formou, inclusive grandes campeões. Uma escola de ténis
com pergaminhos e que foi reaberta há pouco tempo.
No futebol,
cerca de 300 jovens treinam nas suas instalações, sendo uma das poucas
colectividades que organiza e treina uma equipa feminina nesta modalidade.
Mas não é só com
os jovens que se preocupa a direcção da ADCEO. Para os sócios cuja faixa etária
se situa entre os 40 e os 70 e mais anos, a colectividade promove aulas de
manutenção e ginástica apropriadas à condição física de cada um e promove
torneios, por exemplo, de sueca e de
snooker.
Não beneficiando
praticamente de nenhum apoio do estado, apesar de se substituir a ele em muitas
das funções sociais a que está obrigado – fazendo-o poupar aos seus cofres
muito dinheiro -, a ADCEO recebe grande apoio por parte da Junta de Freguesia
de Santa Maria dos Olivais (futura freguesia dos Olivais), pois os rendimentos
que obtêm da cobrança de quotas – cujo valor é de 2€ - são manifestamente
insuficientes para assegurar as diferentes actividades em que a colectividade
está envolvida e empenhada.
Além do mais,
com cerca de 1.800 sócios, só cerca de 800 pagam quotas e, para as aulas ou
sessões de manutenção, os preços praticados são considerados “sociais”, isto é,
de valor substancialmente reduzido.
Visto que na
zona da Encarnação e dos Olivais existe um grande movimento associativo, a
ADCEO está actualmente interessada em trabalhar com a Junta de Freguesia e as
outras colectividades da zona, no sentido de haver uma melhor articulação na
diferenciação da oferta para os habitantes, para que ela seja a mais
diversificada possível.
A ADCEO é
inquilina do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana) e, se é
certo que até agora não foi afectada pela famigerada Lei dos Despejos, não
menos certo é que tem despesas mensais de 2.500€ com electricidade e 500€ com
água.
Ora, tal como
afirmou – em jeito de autocrítica – o vice-presidente da ADCEO, para a colectividade
poder adaptar e alargar a sua oferta às necessidades da população da zona e aos
desafios que hoje se colocam, são necessários vários tipos de apoios, que vão
desde a formação de quadros para as colectividades – praticamente inexistentes
-, passando pela atribuição de subsídios que permitam às colectividades
articular programas culturais e desportivos com as escolas, até ao
financiamento directo para a manutenção, melhoramento e obras de requalificação
do espaço que a colectividade gere.
Iniciativas como
a do “Zé que não faz falta”, que teve a brilhante ideia de mandar construir umas hortas junto aos terrenos da ADCEO, terrenos
esses que ficam junto à 2ª Circular, podem ser muito coloridas e mediáticas,
mas teme-se que os legumes colhidos venham a ter, com toda a certeza, um grande
sabor a poluição.
Já uma iniciativa como criar, na zona dos Olivais, uma Universidade Sénior, parece à direcção da
ADCEO, e nós corroboramos e apoiamos, muito menos poluente e de utilidade assegurada. Assim como consolidar e levar à
prática um projecto em que há muito a colectividade se empenha de solicitar o usufruto do direito de superfície ou, mesmo, a
atribuição da propriedade por usocapião dos terrenos onde está actualmente
instalada terá, certamente, muito maior utilidade do que a iniciativa do Zé!
Mais um exemplo de como urge uma política democrática patriótica
para resgatar a capital de um sequestro de mais de três décadas levado a cabo
por sucessivos executivos camarários onde participaram, a sós ou coligados uns
com os outros, todos os partidos do chamado arco
parlamentar.
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