quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A foice e o martelo são o símbolo da libertação da exploração por parte da humanidade!

Uma das consequências da destruição do tecido produtivo que sucessivos governos do PS e do PSD, com o CDS por vezes a reboque, se prestaram a executar para servir os interesses dos grandes grupos financeiros, bancários e industriais europeus – com os alemães à cabeça -, foi a dramática diminuição demográfica da classe operária – mais de 20% -, a migração de mais de 700 mil pequenos e médios agricultores e assalariados rurais, que provocou uma desertificação das zonas rurais do país e o desemprego para mais de 30 mil trabalhadores ligados ao sector das pescas.

Um número considerável de intelectuais e personalidades democratas e patriotas, sobretudo das camadas mais jovens, alguns deles arrogando-se pertencer à esquerda política, vêm demonstrando uma absoluta ausência de perspectiva histórica quanto à evolução da situação política em Portugal – e não só – ao longo das últimas quatro décadas.

Por isso, não compreendem porque é que os marxistas-leninistas que integram e se organizam em torno do PCTP/MRPP, persistem, coerentemente, em ostentar no seu símbolo a foice, o martelo e a estrela. São sectores que consideram mesmo que, não fora esse fantasma ideológico e estando supostamente de acordo com a esmagadora maioria das posições que defendemos – tais como a do não pagamento da dívida e da saída do euro -, mais fácil e exponencial seria a adesão às mesmas por parte das grandes massas e, consequentemente, mais rapidamente alcançaríamos um dos propósitos tácticos pelo qual nos batemos há vários actos eleitorais – a eleição de um ou mais deputados para a Assembleia da República, de representantes autárquicos ou deputados ao Parlamento Europeu.

A estes aliados temos de responder com alguma calma, mas com firmeza que estes são princípios políticos não negociáveis, não por qualquer  birra ou desmando intelectual, mas porque assentam numa análise científica e marxista da realidade da luta de classes, luta que continua a ser o motor da história. Temos de lhes explicar que, se abríssemos mão destes princípios então, os mesmos que agora tanto nos criticam por persistirmos neles, teriam toda a razão em nos classificar como partidos sem coluna vertebral, arrivistas e seguidistas, apenas interessados na defesa dos seus privilégios e sinecuras, como todos aqueles que já condenam, mormente os partidos do "arco parlamentar".

Temos de lhes fazer ver que a chamada classe média – na qual se incluem vastos sectores da pequena burguesia - em nada beneficiou do decréscimo demográfico da classe operária nem do facto de, não se tendo verificado a reforma agrária – muito por virtude da traição da direcção política do PCP, mas não só - se ter verificado (e continua a aprofundar-se) a desertificação e abandono dos campos. Bem pelo contrário, hoje constatam que os seus privilégios de classe estão a ser sacrificados no altar de uma dívida soberana que nenhuma das classes referenciadas – operários, camponeses, trabalhadores de serviços, pequenos e médios proprietários, industriais, agrícolas, comerciais ou prestadores de serviços - contraiu ou dela tirou qualquer benefício.

Os nossos aliados têm de compreender que lutar pelo derrube deste governo de traição nacional e pela constituição de um governo democrático patriótico é a única saída para que se possa recuperar o tecido produtivo destruído e construir um novo paradigma de economia, soberana e independente, ao serviço dos trabalhadores e do povo.

Têm de compreender que tal paradigma só será possível de alcançar com a reindustrialização do país, apetrechando-o com uma indústria moderna – desde a exploração mineira à indústria de construção e reparação naval, passando pela actividade portuária e ferroviária -, bem como com uma agricultura mecanizada, extensiva e aproveitando meios como o Alqueva, isto é, com a recuperação do tecido produtivo destruído por mais de 3 décadas de adesão, primeiro à CEE e , depois, à UE, assim como por virtude da adesão ao marco travestido de euro.

Têm de compreender que, enquanto não se produzir o crescimento demográfico de operários e assalariados rurais, o ciclo de dependência da indústria alemã, da agricultura francesa e da frota pesqueira espanhola não mais deixará de crescer, ao ponto do endividamento crescente e impagável que hoje se vive acabar por destruir a própria classe média, destruição de que ainda só está a experimentar um vislumbre, até porque o genocídio fiscal de que o povo está a ser alvo só agora se começa verdadeiramente a fazer sentir.


Não é, pois, a foice e o martelo – símbolos da aliança operário-camponesa, nem a estrela que representa o internacionalismo proletário que deve fazer temer estes jovens intelectuais, estes democratas e patriotas, alguns deles reclamando-se de esquerda. O que os deve deixar alerta e dispostos para o combate é um sistema que sobrevive à custa da exploração do homem pelo homem. O que os deve manter empenhados e dispostos a lutar é a resolução da contradição cada vez mais antagónica entre a natureza social do trabalho e a apropriação privada da riqueza por ele gerada.

Sem comentários:

Enviar um comentário