Uma das consequências da destruição do tecido produtivo que
sucessivos governos do PS e do PSD, com o CDS por vezes a reboque, se prestaram
a executar para servir os interesses dos grandes grupos financeiros, bancários
e industriais europeus – com os alemães à cabeça -, foi a dramática diminuição
demográfica da classe operária – mais de 20% -, a migração de mais de 700 mil
pequenos e médios agricultores e assalariados rurais, que provocou uma desertificação
das zonas rurais do país e o desemprego para mais de 30 mil trabalhadores
ligados ao sector das pescas.
Um número considerável de intelectuais e personalidades
democratas e patriotas, sobretudo das camadas mais jovens, alguns deles
arrogando-se pertencer à esquerda
política, vêm demonstrando uma absoluta ausência de perspectiva histórica
quanto à evolução da situação política em Portugal – e não só – ao longo das
últimas quatro décadas.
Por isso, não compreendem porque é que os
marxistas-leninistas que integram e se organizam em torno do PCTP/MRPP, persistem, coerentemente, em ostentar no seu símbolo a foice, o
martelo e a estrela. São sectores que consideram mesmo que, não fora esse fantasma ideológico e estando
supostamente de acordo com a
esmagadora maioria das posições que defendemos – tais como a do não pagamento
da dívida e da saída do euro -, mais fácil e exponencial seria a adesão às
mesmas por parte das grandes massas
e, consequentemente, mais rapidamente alcançaríamos um dos propósitos tácticos
pelo qual nos batemos há vários actos eleitorais – a eleição de um ou mais
deputados para a Assembleia da República, de representantes autárquicos ou
deputados ao Parlamento Europeu.
A estes aliados temos de responder com alguma calma, mas com
firmeza que estes são princípios políticos não
negociáveis, não por qualquer birra ou desmando intelectual, mas porque assentam numa análise científica e
marxista da realidade da luta de classes, luta que continua a ser o motor da história. Temos de lhes explicar que, se abríssemos mão destes princípios então, os mesmos que agora tanto nos criticam por persistirmos neles, teriam toda a razão em nos classificar como partidos sem coluna vertebral, arrivistas e seguidistas, apenas interessados na defesa dos seus privilégios e sinecuras, como todos aqueles que já condenam, mormente os partidos do "arco parlamentar".
Temos de lhes fazer ver que a chamada classe média – na qual se incluem vastos sectores da pequena
burguesia - em nada beneficiou do decréscimo demográfico da classe operária nem
do facto de, não se tendo verificado a reforma agrária – muito por virtude da
traição da direcção política do PCP, mas não só - se ter verificado (e continua a aprofundar-se) a desertificação e abandono dos campos. Bem pelo contrário, hoje constatam que os seus privilégios de
classe estão a ser sacrificados no altar de uma dívida soberana que nenhuma das classes referenciadas – operários,
camponeses, trabalhadores de serviços, pequenos e médios proprietários,
industriais, agrícolas, comerciais ou prestadores de serviços - contraiu ou
dela tirou qualquer benefício.
Os nossos aliados têm de compreender que lutar pelo derrube
deste governo de traição nacional e pela constituição de um governo democrático
patriótico é a única saída para que se possa recuperar o tecido produtivo
destruído e construir um novo paradigma de economia, soberana e independente,
ao serviço dos trabalhadores e do povo.
Têm de compreender que tal paradigma só será possível de
alcançar com a reindustrialização do
país, apetrechando-o com uma indústria moderna – desde a exploração mineira à
indústria de construção e reparação naval, passando pela actividade portuária e
ferroviária -, bem como com uma agricultura mecanizada, extensiva e
aproveitando meios como o Alqueva, isto é, com a recuperação do tecido
produtivo destruído por mais de 3 décadas de adesão, primeiro à CEE e , depois,
à UE, assim como por virtude da adesão ao marco travestido de euro.
Têm de compreender que, enquanto não se produzir o
crescimento demográfico de operários e assalariados rurais, o ciclo de
dependência da indústria alemã, da agricultura francesa e da frota pesqueira
espanhola não mais deixará de crescer, ao ponto do endividamento crescente e
impagável que hoje se vive acabar por destruir a própria classe média, destruição de que ainda só está a experimentar um
vislumbre, até porque o genocídio fiscal de que o povo está a ser alvo só agora
se começa verdadeiramente a fazer sentir.
Não é, pois, a foice e o martelo – símbolos da aliança
operário-camponesa, nem a estrela que representa o internacionalismo proletário
que deve fazer temer estes jovens intelectuais, estes democratas e patriotas,
alguns deles reclamando-se de esquerda. O que os deve deixar alerta e dispostos
para o combate é um sistema que sobrevive à custa da exploração do homem pelo
homem. O que os deve manter empenhados e dispostos a lutar é a resolução da
contradição cada vez mais antagónica entre a natureza social do trabalho e a
apropriação privada da riqueza por ele gerada.
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