E de repente, eis que o executivo de Coelho e Portas,
tutelado por Cavaco, para além de anunciar um autêntico milagre económico, se vê bafejado por um outro milagre, aquele que se traduz no abandono da exigência por parte da
chamada esquerda parlamentar do derrube deste governo de serventuários
ao serviço dos interesses de um directório europeu capturado pelo imperialismo
germânico e seus propósitos de, sem necessidade de disparar um único tiro – ao
contrário do que aconteceu com Hitler –, dominar e subjugar a Europa.
A inconsequência, a incoerência, a fraquíssima consistência
intelectual de largos sectores da pequena-burguesia, particularmente uma certa
“inteligentsia” ou auto-intitulada intelectualidade
, constantemente em pânico com a ameaça que sobre ela paira de ser proletarizada, virtude das cíclicas
crises do capitalismo, revela-se na procura permanente de salvadores por tudo o que é sítio.
Assim aconteceu quando o marketing político explorou os dotes
de uma esquerda americana encabeçada
por Obama e teorizada, no capítulo da
economia política, por Paul Krugman. Na Europa, face à entente Merkel/Sarkozy – com este a prestar-se a ser o
saltapocinhas de serviço da nova fuher – o surgimento de François Hollande
animou mesmo as hostes mais à esquerda
que chegaram a anunciar que era chegado o momento de a chanceler ser colocada
no seu devido lugar.
A montanha, está bem de ver, pariu um rato. Obama não deixou
de ser o executor de todas as mais fatídicas e sanguinolentas políticas do
imperialismo americano, Paul Krugman advoga que para sair da crise os países
sob tutela, seja do FMI a sós, seja
da tróica germano-imperialista, só têm como saída a desvalorização dos salários
em mais de 30% e Hollande, para além de se estar a revelar um autêntico rabo de saias, é o novo salta-pocinhas
da fuher Merkel…nada de novo a ocidente, portanto!
São os mesmos que, basbaques, anunciam revoluções pela net e consideram o Google como a nova plataforma para as revoluções mundiais, sejam elas violeta, de veludo ou mesmo
de…cortiça! São os mesmos que se prestam a passear as suas frustrações e
fantasmas por toda a sorte de falanges fascistas e a buscar refúgio em regimes que reponham a ordem.
Como não acreditam que a luta de classes é o motor da história, nem sequer acreditam
que eles próprios pertencem a uma classe ou sector de classe, não percebem que
a burguesia não brinca em serviço e
que se está absolutamente nas tintas para os seus constantes lamentos, agitar
de mãos ao alto e apelos ao pacifismo, ou
se deixar sensibilizar pela sua indignação
contra os cortes nos salários, a facilitação e embaratecimento dos
despedimentos, a promoção da precariedade, da fome e da miséria, a destruição
do tecido produtivo e a venda a retalho de tudo o que é activo e empresa
pública estratégica.
A burguesia, quando sente ameaçada a sua sacrossanta
propriedade, os seus lucros e interesses, não hesita em mandar para cima do
povo e dos trabalhadores toda a sua máquina repressiva. Pode promover cortes e austeridade em tudo e mais alguma coisa.
Mas, no que toca a olear a máquina da repressão abre generosamente os cordões à
bolsa, sabendo que nenhum apelo infantil do tipo os polícias e os soldados são
filhos do povo , fará as forças repressivas virar as armas contra os seus
interesses e o estado que os acarinha e sustenta.
Para estes eternos românticos
da revolução, organização, disciplina,
estratégia e táctica, objectivos, direcção organizada, são autênticos
pesadelos. E nem sequer se pasmam quando verificam que esta sua permanente
hesitação, esta sua recorrente fuga para
a frente, esta sua endémica incoerência redunda, fatalmente, na deserção
cobarde, sempre alegando que este povo não merece o seu esforço! Bem que gritam
O Povo unido jamais será vencido quando
o que está em causa é que O Povo
Vencerá! Se se mobilizar e organizar
em torno de princípios justos e coerentes, se se preparar para uma luta dura e
prolongada, se ousar lutar, para ousar vencer!
Face à ocupação de que
Portugal está a ser alvo por parte de uma tróica que mais não constitui do que
um instrumento ao serviço dos apetites imperiais e colonizadores de uma
potência como a Alemanha, face ao presente alinhamento de classes e interesses
de classe, à correlação de forças entre si e quanto ao que as une e ao que as
divide, a única saída para os trabalhadores e o povo português é, pois, o
derrube deste governo de serventuários, de traição nacional, e a constituição
de um governo democrático patriótico que saiba pôr em marcha um programa que congregue
e reflicta os interesses daquelas classes e sectores de classe que, neste
momento, têm em comum a exigência da suspensão do pagamento de uma dívida que
não contraíram e da qual nada beneficiaram, a recuperação do tecido produtivo
destruído, único garante da recuperação da nossa independência e unidade
nacional, único garante de que o país estancará a sangria do desemprego, da
precariedade, da fome e da miséria, único garante de que Portugal e o povo
português conquistarão a sua liberdade e alcançarão a verdadeira democracia.
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