Existem por aí muitos intelectuais
de esquerda, libertários e anarquistas, ou simplesmente eternos opinadores
de pacotilha, que levam a vida a trocar a forma pelo conteúdo. Estão no
mesmíssimo patamar daqueles que acreditam no pai natal ou nos milagres de
Fátima!
Ou seja, ao abordarem o momento político actual e ao dizerem
que os membros do governo não sabem aquilo que fazem ou que são uns garotos, estão a destilar o mesmo tipo
de ópio que a religião destila e a assumir o mesmo papel que ela assume de
paralisar, de inebriar, a consciência da classe operária, dos trabalhadores e
do povo.
A equipa que integra o executivo governamental, e desde logo
os seus principais protagonistas – Cavaco, Coelho e Portas – sabem bem ao que
vêm. Querem e executam, uma vezes com grande mestria, outras de forma
atabalhoada, o programa que lhes foi ditado pela tróica germano-imperialista –
o famigerado Memorando de Entendimento
que PS, PSD e CDS canina e subservientemente subscreveram.
Um programa – convém repeti-lo à exaustão se necessário -
que tem o beneplácito do PS de Seguro. Um programa cujo objectivo assentou na
destruição do tecido produtivo de Portugal, em vender, a preços de saldo, os activos
e empresas estratégicas que permitiriam moldar uma estratégia económica e
financeira autónoma e em alocar todos os recursos financeiros para o pagamento
de uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer
benefício.
Não é por inépcia ou por não saberem governar, que Coelho e Passos, tutelados por Cavaco, vão
sucessivamente produzindo e executando legislação que leva ao empobrecimento de
quem trabalha e a gerar a maior taxa de desemprego e precariedade de que há
memória. Não é por serem uns garotos
que desviam monumentais verbas para pagar essa dívida e os seus faraónicos
juros de sectores que deveriam estar ao serviço do povo, como são a saúde, a
educação, os transportes ou as prestações sociais mais diversas.
Não é por não terem atributos técnicos que impuseram o
embaretecimento e a facilitação dos despedimentos, que estão a roubar o salário
e o trabalho a centenas de milhar de trabalhadores da função pública e do
sector privado, nem muito menos as pensões e reformas, assim como estão a
proceder a dramáticos aumentos em tudo o que sejam produtos e serviços básicos
para o povo e quem trabalha.
Não é, certamente, porque não sabem o que estão a fazer que
decidem avançar com uma lei sobre as rendas que vai provocar um massivo despejo,
sobretudo da população mais idosa. Até porque, ao mesmo tempo, criam legislação
que isenta de IMI e IMT fundos imobiliários especulativos que, quer por virtude
dos aumentos das rendas – residenciais e não residenciais – , quer por estarem
isentados daqueles impostos, engordam todos os dias os seus lucros e conseguem
transformar as grandes cidades – nomeadamente Lisboa – no paraíso de luxo para
condomínios fechados e hotéis de charme, a serem vendidos a troco de golden visas a qualquer faccínora originário
de outros continentes que pretenda lavar dinheiro corrupto ou obter licença
permanente para circular no espaço europeu.
Como não se poderá atribuir à inépcia ou fraca qualidade
técnica da equipa governamental – desta e das que a precederam -, o facto
de estarem a transformar Portugal, no âmbito da divisão de trabalho na Europa a
que sujeitaram o país, primeiro com os acordos com a CEE e, depois, através dos
sucessivos Tratados com a União Europeia, numa qualquer “Malásia” da Europa com
mão de obra baratinha, pouco qualificada e dócil, para satisfação dos grandes
grupos económicos, financeiros e industriais europeus, com os alemães à cabeça.
Este tipo de vozes e opiniões o que visam é escamotear que
as contradições que se manifestam na sociedade derivam de uma luta de classes –
o verdadeiro motor da história -, luta e contradições que se estão a
intensificar e a radicalizar e que, necessáriamente, redundarão numa nova
relação de forças entre a burguesia e o seu sistema político, capitalista e
imperialista, e a classe operária, os trabalhadores e seus aliados, em Portugal
e no mundo inteiro.
E é necessário isolar estes oportunistas rapidamente porque
estão a dar a entender que, sendo o problema de inépcia e fraca qualidade técnica, bastaria mudar os personagens
por pessoal mais competente para que a situação de crise, de dívida e de recessão se
resolvessem a favor do povo, sem necessidade de se alterar o sistema que produz
e promove os fenómenos políticos, económicos e sociais a que esse sistema
capitalista caduco conduz, transformando Seguro no novo D. Sebastião regressado
em qualquer bruma da memória…desfocada!
É necessário isolar estes pontos de vista, pois são os
mesmos que querem que o povo aceite que o problema não está na dívida como
instrumento que eterniza a chantagem, a humilhação, o empobrecimento e o
denegar da independência nacional, mas sim numa nunca explicada parte ilegítima da mesma.
Os mesmos que escamoteiam o facto de que, num quadro em que
Portugal viu destruído o seu tecido produtivo e se vê obrigado a importar mais
de 80% daquilo que necessita para suprir as necessidades básicas do povo e
gerar economia, a dívida aumentará crescentemente, o que, combinado com o juros
usurários que são praticados e a ausência de uma política cambial e fiscal
autónomas, a torna…IMPAGÁVEL!
Os mesmos que escamoteiam o facto de a actual crise da
dívida e do défice, para além de assentar nos factores combinados – e levados a
cabo durante mais de 3 décadas por PS e PSD, com o CDS pela trela – da
destruição do tecido produtivo nacional, redundou na venda dos principais
activos e empresas públicas que retiram a Portugal a capacidade de articular
uma estratégia económica e financeira independentes, que sirva as necessidades
do povo e de quem trabalha e assegure a independência nacional.
Os mesmos que aceitaram livrar-se do escudo para aceitar
aderir a um espaço onde pontifica uma
moeda como o euro – que mais não é do que o marco travestido –, moeda que
retirou a Portugal a sua autonomia fiscal e cambial, sujeitando o país às
flutuações que mais convêm a potências como
Alemanha, moeda que impôs que toda a política de preços – sobretudo os
dos produtos e serviços essenciais para o povo – passassem a alinhar pelos
preços praticados nas potências mais desenvolvidas da Europa, sobretudo os
praticados na Alemanha que, exportando mais de 40% daquilo que produz para o
mercado europeu, não vislumbra qualquer vantagem de ter no euro/marco uma moeda
fraca.
É tudo isto que, em vésperas de apresentação de mais uma Lei
Geral do Orçamento do Estado que prossegue a hecatombe fiscal que este governo
de vende pátrias tem levado a cabo contra o povo, tem de estar presente na
mente da classe operária, dos trabalhadores, dos pequenos e médios empresários
ameaçados de ruína. Porque, só tendo isto em mente assegurarão a frente
democrática patriótica que é vital estabelecer para derrubar um governo que
mais não tem feito do que impor as medidas terroristas e fascistas que melhor
servem os seus patrões da tróica germano-imperialista, exaurindo de recursos
Portugal e levando a um dramático empobrecimento o povo e quem trabalha.
Sem comentários:
Enviar um comentário