domingo, 13 de outubro de 2013

Em política não existem milagres, nem a inépcia justifica as decisões que se tomam!

Existem por aí muitos intelectuais de esquerda, libertários e anarquistas, ou simplesmente eternos opinadores de pacotilha, que levam a vida a trocar a forma pelo conteúdo. Estão no mesmíssimo patamar daqueles que acreditam no pai natal ou nos milagres de Fátima!

Ou seja, ao abordarem o momento político actual e ao dizerem que os membros do governo não sabem aquilo que fazem ou que são uns garotos, estão a destilar o mesmo tipo de ópio que a religião destila e a assumir o mesmo papel que ela assume de paralisar, de inebriar, a consciência da classe operária, dos trabalhadores e do povo.

A equipa que integra o executivo governamental, e desde logo os seus principais protagonistas – Cavaco, Coelho e Portas – sabem bem ao que vêm. Querem e executam, uma vezes com grande mestria, outras de forma atabalhoada, o programa que lhes foi ditado pela tróica germano-imperialista – o famigerado Memorando de Entendimento que PS, PSD e CDS canina e subservientemente subscreveram.

Um programa – convém repeti-lo à exaustão se necessário - que tem o beneplácito do PS de Seguro. Um programa cujo objectivo assentou na destruição do tecido produtivo de Portugal, em vender, a preços de saldo, os activos e empresas estratégicas que permitiriam moldar uma estratégia económica e financeira autónoma e em alocar todos os recursos financeiros para o pagamento de uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício.

Não é por inépcia ou por não saberem governar, que Coelho e Passos, tutelados por Cavaco, vão sucessivamente produzindo e executando legislação que leva ao empobrecimento de quem trabalha e a gerar a maior taxa de desemprego e precariedade de que há memória. Não é por serem uns garotos que desviam monumentais verbas para pagar essa dívida e os seus faraónicos juros de sectores que deveriam estar ao serviço do povo, como são a saúde, a educação, os transportes ou as prestações sociais mais diversas.

Não é por não terem atributos técnicos que impuseram o embaretecimento e a facilitação dos despedimentos, que estão a roubar o salário e o trabalho a centenas de milhar de trabalhadores da função pública e do sector privado, nem muito menos as pensões e reformas, assim como estão a proceder a dramáticos aumentos em tudo o que sejam produtos e serviços básicos para o povo e quem trabalha.

Não é, certamente, porque não sabem o que estão a fazer que decidem avançar com uma lei sobre as rendas que vai provocar um massivo despejo, sobretudo da população mais idosa. Até porque, ao mesmo tempo, criam legislação que isenta de IMI e IMT fundos imobiliários especulativos que, quer por virtude dos aumentos das rendas – residenciais e não residenciais – , quer por estarem isentados daqueles impostos, engordam todos os dias os seus lucros e conseguem transformar as grandes cidades – nomeadamente Lisboa – no paraíso de luxo para condomínios fechados e hotéis de charme, a serem vendidos a troco de golden visas a qualquer faccínora originário de outros continentes que pretenda lavar dinheiro corrupto ou obter licença permanente para circular no espaço europeu.

Como não se poderá atribuir à inépcia ou fraca qualidade técnica da equipa governamental – desta e das que a precederam -, o facto de estarem a transformar Portugal, no âmbito da divisão de trabalho na Europa a que sujeitaram o país, primeiro com os acordos com a CEE e, depois, através dos sucessivos Tratados com a União Europeia, numa qualquer “Malásia” da Europa com mão de obra baratinha, pouco qualificada e dócil, para satisfação dos grandes grupos económicos, financeiros e industriais europeus, com os alemães à cabeça.

Este tipo de vozes e opiniões o que visam é escamotear que as contradições que se manifestam na sociedade derivam de uma luta de classes – o verdadeiro motor da história -, luta e contradições que se estão a intensificar e a radicalizar e que, necessáriamente, redundarão numa nova relação de forças entre a burguesia e o seu sistema político, capitalista e imperialista, e a classe operária, os trabalhadores e seus aliados, em Portugal e no mundo inteiro.

E é necessário isolar estes oportunistas rapidamente porque estão a dar a entender que, sendo o problema de inépcia e fraca qualidade técnica, bastaria mudar os personagens por pessoal mais competente para que a situação de crise, de dívida e de recessão se resolvessem a favor do povo, sem necessidade de se alterar o sistema que produz e promove os fenómenos políticos, económicos e sociais a que esse sistema capitalista caduco conduz, transformando Seguro no novo D. Sebastião regressado em qualquer bruma da memória…desfocada!

É necessário isolar estes pontos de vista, pois são os mesmos que querem que o povo aceite que o problema não está na dívida como instrumento que eterniza a chantagem, a humilhação, o empobrecimento e o denegar da independência nacional, mas sim numa nunca explicada parte ilegítima da mesma.

Os mesmos que escamoteiam o facto de que, num quadro em que Portugal viu destruído o seu tecido produtivo e se vê obrigado a importar mais de 80% daquilo que necessita para suprir as necessidades básicas do povo e gerar economia, a dívida aumentará crescentemente, o que, combinado com o juros usurários que são praticados e a ausência de uma política cambial e fiscal autónomas, a torna…IMPAGÁVEL!

Os mesmos que escamoteiam o facto de a actual crise da dívida e do défice, para além de assentar nos factores combinados – e levados a cabo durante mais de 3 décadas por PS e PSD, com o CDS pela trela – da destruição do tecido produtivo nacional, redundou na venda dos principais activos e empresas públicas que retiram a Portugal a capacidade de articular uma estratégia económica e financeira independentes, que sirva as necessidades do povo e de quem trabalha e assegure a independência nacional.

Os mesmos que aceitaram livrar-se do escudo para aceitar aderir a um espaço onde pontifica uma moeda como o euro – que mais não é do que o marco travestido –, moeda que retirou a Portugal a sua autonomia fiscal e cambial, sujeitando o país às flutuações que mais convêm a potências como  Alemanha, moeda que impôs que toda a política de preços – sobretudo os dos produtos e serviços essenciais para o povo – passassem a alinhar pelos preços praticados nas potências mais desenvolvidas da Europa, sobretudo os praticados na Alemanha que, exportando mais de 40% daquilo que produz para o mercado europeu, não vislumbra qualquer vantagem de ter no euro/marco uma moeda fraca.


É tudo isto que, em vésperas de apresentação de mais uma Lei Geral do Orçamento do Estado que prossegue a hecatombe fiscal que este governo de vende pátrias tem levado a cabo contra o povo, tem de estar presente na mente da classe operária, dos trabalhadores, dos pequenos e médios empresários ameaçados de ruína. Porque, só tendo isto em mente assegurarão a frente democrática patriótica que é vital estabelecer para derrubar um governo que mais não tem feito do que impor as medidas terroristas e fascistas que melhor servem os seus patrões da tróica germano-imperialista, exaurindo de recursos Portugal e levando a um dramático empobrecimento o povo e quem trabalha.

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