O que muda em Lisboa
após vitória de António Costa?
Numa perspectiva de fundo, de substância, nada muda. Lisboa continuará a ser
uma capital sequestrada pelos interesses dos grandes grupos financeiros e
imobiliários e pelo patobravismo, uma cidade caótica e invadida pelo automóvel,
abandonada e sujeita ao desleixo, com um enorme índice de prédios degradados, sujeita à destruição e falta de manutenção dos seus
espaços verdes – jardins, árvores, canteiros, etc.
Continuará a ser uma cidade em que a vereação apostará num
Plano Director Municipal – que à semelhança dos anteriores – continuará a
expulsar da cidade, a um ritmo de cerca de 10 mil por ano, milhares de
lisboetas, ao mesmo tempo que cria as condições para que Lisboa se torne um
paraíso para a especulação imobiliária e o surgimento de condomínios de luxo e
hotéis de charme.
Continuará a ser uma cidade de onde a indústria foi expulsa,
o PIB desceu mais de 50% e as receitas assentam nas multas, nos emolumentos, na
perseguição e repressão dos pequenos comerciantes, no IMI e no IMT. Será uma
das poucas – se não a única – cidade europeia em que o povo não tem o total
usufruto das margens do seu rio que foi sequestrado por uma organização feudal
que dá pelo nome de Administração do Porto de Lisboa.
Do ponto de vista formal, apenas aumentará a arrogância, o
despotismo, a mentira, a que a vereação de António Costa, coadjuvada pelo Zé
que não faz falta e a Helena Roseta que mente sem piedade aos moradores dos
bairros degradados da capital, recorre desde que, em 2007, assumiu o poder no
executivo da Câmara Municipal de Lisboa. Assim como aumentará, potencialmente, a corrupção e o compadrio.
E, no entanto, agora que se conhecem os resultados
definitivos das eleições autárquicas em Lisboa, convém que os
marxistas-leninistas não se deixem influenciar, nem pela onda vitoriosa do PS, nem pela vaga
derrotista tão cara a alguns sectores da pequena-burguesia e de uma certa
intelectualidade que não compreende que o movimento não é tudo e que não se
pode tomar a parte pelo todo!
Se é certo que o PS reclama ter ganho as 24 freguesias de
Lisboa e ter obtido a maioria absoluta na Câmara Municipal da capital – com
50,91% dos votos expressos -, não menos certo é que não alcança a mesma proeza nem na Assembleia Municipal, nem
nas Assembleias de Freguesia, onde obteve, respectivamente, 42,34% e 40,05% dos
votos expressos. No entanto, não vale a pena escamotear que, de 2009 para 2013,
o PS e particularmente o António Costa, perderam 6.947 votos, uma tendência, aliás, que se observou em todo o país onde, apesar da vitoriosa jornada eleitoral, o PS perdeu, em relação a 2009, 273.638 votos!
Facto mais assinalável ainda é a abstenção que se cifrou em
cerca de 55%! Isto é, dos 507.495
inscritos, apenas votaram 228.682 lisboetas, o que indica que, de facto, o que
a renovada vereação de António Costa
representa são 50,91% daqueles que se dispuseram a exercer o seu direito de
voto, isto é… 22,9% da população da
capital!
Mas, nem com esta retumbante
vitória, nem com a hecatombe sofrida
por PSD e CDS, a sós ou coligados, a nível autárquico nacional – onde perderam
a direcção de algumas câmaras municipais icónicas e a direcção da Associação de
Municípios -, quer António Costa, quer Seguro, fizeram qualquer menção às
consequências que, ainda assim, se deveriam retirar desses resultados para o
governo de traição nacional de Coelho e Portas, e para o seu tutor Cavaco, isto
é, o seu derrube, a suspensão do pagamento de uma dívida que não foi contraída pelo
povo, nem o povo retirou dela qualquer benefício e a constituição de um governo
democrático patriótico que prepare Portugal para a saída do euro e da União
Europeia.
O PCTP/MRPP foi o único partido que em Lisboa aumentou a sua
expressão eleitoral, tendo registado aumentos não só em termos percentuais –
27,43% -, como em número de votantes – de 1.866 para 2.378. Isto apesar de a sua
candidatura, quer na capital, quer por todo o país, como vai sendo habitual,
ter sido discriminada em relação às dos partidos do arco parlamentar e, entre estes e sobretudo, aos partidos do arco da governação (central ou
autárquica), mormente PS e PSD.
Existe um mandato popular para resgatar Lisboa do sequestro
a que todos os partidos do arco
parlamentar – a sós ou coligados – sujeitaram Lisboa. Os candidatos que
integraram as listas autárquicas do PCTP/MRPP – militantes, simpatizantes,
amigos do partido ou independentes – são os guardiões desse mandato, são os únicos que se apresentam com as mãos e a cara lavadas. O seu
compromisso foi e será o de fazerem valer a estratégia que tal mandato encerra.
E só o conseguirão se ousarem continuar a lutar, para ousar vencer. E, vão consegui-lo com a perseverança na justeza da estratégia que propõem para que Lisboa se transforme numa capital europeia, dinâmica, moderna e progressiva!
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