domingo, 29 de setembro de 2013

O discurso ignóbil de um provocador encartado

Falando numa acção de campanha eleitoral em Santarém, o primeiro-ministro Passos Coelho atribuiu o facto de as taxas de juro dos últimos empréstimos contraídos pelo Estado estarem a subir continuamente, aproximando-se já dos 8%, àquilo que designou de “preconceito dos mercados” relativamente a Portugal e aos portugueses. “Aqueles que durante muitos anos se comportaram mal, acabam por ser alvo da suspeita dos próprios mercados”, rematou.

            Assim, depois de nos últimos dois anos ter operado nos salários dos trabalhadores um corte médio superior a 15%, de se preparar para completar um corte de valor idêntico nas pensões de reforma, de aumentar o IRS em mais de 30% e de reduzir brutalmente as despesas públicas com a saúde, a educação e a segurança social, o governo de traição nacional PSD/CDS, pela boca do seu chefe, vem agora dizer que aqueles que foram cruelmente espoliados e submetidos a uma vil existência de fome e desemprego devem continuar a sê-lo ainda com mais intensidade, que os sacrifícios que lhes foram impostos são ainda insuficientes e que é por isso que os “mercados” estão a cobrar taxas de juro exorbitantes nos empréstimos que realizam ao Estado português.

            No espaço de um mês, o Coelho veio dizer duas coisas aparentemente contraditórias. Primeiro, num discurso proferido em meados de Agosto, afirmou que os “mercados” recompensaram o país pelos sacrifícios suportados pela população, pondo a economia a crescer. Depois, no mencionado discurso em Santarém, vem dizer que os “mercados”afinal não acreditam no país e que é necessário manter e incrementar as medidas terroristas de austeridade sobre o povo. De facto, não existe nenhuma contradição entre as duas declarações referidas. Dentro da lógica em que se move o Coelho, o seu governo e a sua classe, a condição necessária para o crescimento da economia é o agravamento incessante da exploração e da miséria dos trabalhadores.

            Passos Coelho tem a fibra de um fascista, daqueles que, com um sorriso nos lábios, dizem às suas vítimas que o sofrimento e a desgraça a que estão sujeitos são o que elas merecem e são o que as espera para o resto dos seus dias. Os “mercados” de que este provocador fala são um eufemismo para designar os bancos e os grandes grupos financeiros para onde são canalizados os rendimentos e os recursos roubados aos trabalhadores e ao povo. Os “preconceitos dos mercados” que este sacripanta invoca são a voracidade insaciável do grande capital e do imperialismo germânico e é o desprezo absoluto pela vida dos que tudo produzem e a quem tudo é negado, desde as necessidades mais básicas até aos direitos mais elementares.

            Não há que ter contemplações com Passos Coelho e o seu governo. É imperioso derrubá-los, sem esperar pelo período normal de eleições, em 2015. Os trabalhadores e as suas organizações, em unidade com todos os sectores democráticos e patrióticos da população, devem urgentemente desencadear todas as formas de luta que sejam necessárias para cumprir esse objectivo. Só assim se criarão as condições indispensáveis à construção de uma alternativa, um governo democrático patriótico dotado de um programa de desenvolvimento da economia, de independência nacional, de promoção dos direitos dos trabalhadores e de progresso e bem-estar para o povo.



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