Quem ouviu as declarações de Cavaco Silva proferidas
durante o discurso que efectuou aquando da entrega dos Prémios de Visão
atribuídos este ano a quatro entidades do Nepal pela Fundação Champalimaud,
diria que este está em rota de colisão com Passos Coelho, um serventuário que
ocupa a chefia do governo de traição nacional, que de facto aquele tutela e
chefia.
Aparentemente, afirmar que “a luta contra a pobreza e
a exclusão social deve estar presente na agenda dos responsáveis políticos”,
conflitua com o que Coelho afirmou numa conferência promovida pelo Diário
Económico, em Lisboa, durante a qual defendeu que Portugal só conseguiria sair
da actual crise …empobrecendo!
Àparte a estafada rotina do polícia bom –
protagonizado por Cavaco – e do polícia mau – protagonizado por Coelho – o que
ambos estão a reconhecer é que a estratégia que o imperialismo germânico ditou
a ambos, e ambos caninamente prosseguem na sua imposição ao povo português, não
só não é de agora que está a ser implementada, como tem os seus dias contados.
Ambos estão a reconhecer que este empobrecimento
derivou de uma estratégia que o bloco
central – formado por PS e PSD – levam há décadas a cabo, querendo agora,
Cavaco e Coelho, que seja implementado um novo
ciclo de crescimento para “lutar contra a pobreza”, que as políticas
levadas a cabo pelo seu governo provocou.
Mas, antes de nos debruçarmos sobre a impossibilidade
de haver crescimento enquanto se
permanecer amarrado ao pagamento de uma dívida ilegal, ilegítima e odiosa,
teremos que esclarecer que a implementação da estratégia germano-imperialista começou
a ser imposta há muitos anos atrás, no período em que Cavaco – que, recorde-se,
foi o primeiro ministro que mais tempo esteve no poder, mais precisamente 10
anos! – levou a cabo, ao serviço dos grandes grupos económicos, financeiros e
industriais europeus, uma sistemática destruição do nosso tecido produtivo, em
nome da subsidiaridade e da solidariedade europeia.
Foi durante o seu mandato que se destruiu a
siderurgia, a indústria naval, a metalurgia e metalomecânica, o sector mineiro,
tudo em nome de que, agora que Portugal estava debaixo do grande chapéu de chuva da solidariedade europeia, deveria abrir mão desses activos,
destruindo-os, pois a indústria alemã tinha maior capacidade industrial e
poderia colocar esses produtos de forma mais económica e diversificada do que
Portugal.
Os mesmos argumentos que levaram ao abandono dos campos,
pois a França poderia proporcionar produtos agrícolas mais baratos, de maior
qualidade e variados e à destruição da nossa frota pesqueira, pois a Espanha
poderia fornecer o pescado a preços mais competitivos.
Tudo parte de uma estratégia para facilitar, por um
lado, a alguns sectores da burguesia portuguesa uma melhor e mais rápida
acumulação de capital – à custa de subsídios que receberam da CEE, não para
modernizar, equipar e tornar mais competitiva a nossa indústria, as nossas
pescas e a nossa agricultura, mas sim para destruir a nossa capacidade
produtiva - e, por outro, a que, tal como sempre havíamos denunciado, primeiro
a CEE e, depois a União Europeia, entrassem por Portugal adentro e o viessem a
transformar naquilo que hoje é – um protectorado, uma colónia, sobretudo da
Alemanha que domina todas as instituições do chamado espaço europeu e impôs o marco travestido de euro a praticamente
toda a comunidade europeia.
Quando Coelho afirma que “…não vale a pena fazer
demagogia…nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo…”, está, pela primeira vez, a dizer a verdade. Isto é,
que a estratégia da Alemanha, que os seus serventuários em Portugal aceitaram
executar – primeiro Sócrates, depois Cavaco, Coelho e Portas - quando levou
alguns países a aceitar a destruição dos seus tecidos produtivos, a privatizar,
a vender a preços de saldo, muitas das suas empresas e activos estratégicos,
era precisamente a de os empobrecer para que, para além de proporcionarem
maiores superavits industriais à
Alemanha, pudessem fornecer a esta potência com apetites imperiais uma mão
de obra barata, intensiva e pouco qualificada que substituísse o incómodo de procurar mão de obra escrava
e dócil nas distantes paragens asiáticas.
Ao reconhecer, primeiro, que “sendo o próximo ano
(2014 – nota da redacção) o mais duro do ajustamento…” e que “…não será o
último” e, depois, que o empobrecimento a que se refere se deve ao facto de “…o
nosso Produto Interno Bruto (PIB)…” estar a cair, o traidor Coelho está a
reconhecer que a receita que estes serventuários querem aplicar, só redundará
em maior empobrecimento, fome, miséria e desemprego para o povo e quem trabalha,
pois esta é cada vez mais uma dívida que propositadamente cresce e
propositadamente se quer … IMPAGÁVEL!
E ela é impagável porque resulta de uma estratégia que
lhes foi ditada, precisamente por aqueles que se encarregaram, através da
imposição do modelo de destruição do tecido produtivo português e da adesão a
uma moeda que mais não é do que o marco travestido, a fazer com que Portugal
tenha passado a ter de importar mais de 80% daquilo que consome e necessita
para criar economia, aprofundadando
assim o ciclo de endividamento numa espiral imparável e fazendo com que a
dívida se constitua como instrumento de chantagem e domínio sobre o nosso país,
comprometendo a sua independência nacional.
Claro que, para quem tem da política uma visão de
serventuário, como é o caso de Cavaco, Coelho ou Portas, a única estratégia a
seguir será a de facilitar a acumulação de capital dos grandes grupos
financeiros e económicos – com os alemães à cabeça – dispondo-se, por um lado,
a fazer o povo pagar os faraónicos juros que estes cobram e, por outro, a
vender-lhes a retalho e a preços de saldo tudo o que é activo e empresa estratégica,
ao mesmo tempo que lavra legislação facilitadora e embaretecedora dos
despedimentos, que rouba os salários, o trabalho e as pensões e reformas, isto
é, produz todo um quadro legislativo que visa que seja o povo a pagar uma
dívida que não contraiu e da qual não retirou qualquer benefício.
Ao contrário do que Cavaco e Coelho afirmam, para que
Portugal recupere “um trajecto de crescimento económico” e não caia ainda mais
na armadilha e na chantagem “do buraco orçamental em que as medidas restritivas
(um eufemismo para medidas terroristas e fascistas – nota da redacção) retro alimentam consecutivamente a perda de competitividade e a recessão
económica”, a solução não está no pagamento desta dívida ilegal, ilegítima e
odiosa, mas precisamente na recusa do seu pagamento. Tal só poderá ser conseguido
por um governo democrático patriótico, a constituir na sequência do derrube
deste governo de traição nacional.
Um governo que, para além da recusa do pagamento da
dívida, prepare a saída de Portugal do euro e da União Europeia – precisamente
os instrumentos que levaram à sua actual condição de protectorado do imperialismo
germânico – e ponha em marcha um plano de investimentos criteriosos que leve,
por um lado, à recuperação do tecido produtivo destruído e, por outro, ao
aproveitamento da nossa posição geoestratégica única. Este é, além do mais, o
único caminho para assegurar que reconquistamos e consolidamos a independência
nacional e o bem estar do povo e de quem trabalha.
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