quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cavaco e Coelho: O reconhecimento de que ser serventuário não tem saída!

Quem ouviu as declarações de Cavaco Silva proferidas durante o discurso que efectuou aquando da entrega dos Prémios de Visão atribuídos este ano a quatro entidades do Nepal pela Fundação Champalimaud, diria que este está em rota de colisão com Passos Coelho, um serventuário que ocupa a chefia do governo de traição nacional, que de facto aquele tutela e chefia.

Aparentemente, afirmar que “a luta contra a pobreza e a exclusão social deve estar presente na agenda dos responsáveis políticos”, conflitua com o que Coelho afirmou numa conferência promovida pelo Diário Económico, em Lisboa, durante a qual defendeu que Portugal só conseguiria sair da actual crise …empobrecendo!

Àparte a estafada rotina do polícia bom – protagonizado por Cavaco – e do polícia mau – protagonizado por Coelho – o que ambos estão a reconhecer é que a estratégia que o imperialismo germânico ditou a ambos, e ambos caninamente prosseguem na sua imposição ao povo português, não só não é de agora que está a ser implementada, como tem os seus dias contados. Ambos estão a reconhecer que este empobrecimento derivou de uma estratégia que o bloco central – formado por PS e PSD – levam há décadas a cabo, querendo agora, Cavaco e Coelho, que seja implementado um novo ciclo de crescimento para “lutar contra a pobreza”, que as políticas levadas a cabo pelo seu governo provocou.

Mas, antes de nos debruçarmos sobre a impossibilidade de haver crescimento enquanto se permanecer amarrado ao pagamento de uma dívida ilegal, ilegítima e odiosa, teremos que esclarecer que a implementação da estratégia germano-imperialista começou a ser imposta há muitos anos atrás, no período em que Cavaco – que, recorde-se, foi o primeiro ministro que mais tempo esteve no poder, mais precisamente 10 anos! – levou a cabo, ao serviço dos grandes grupos económicos, financeiros e industriais europeus, uma sistemática destruição do nosso tecido produtivo, em nome da subsidiaridade e da solidariedade europeia.

Foi durante o seu mandato que se destruiu a siderurgia, a indústria naval, a metalurgia e metalomecânica, o sector mineiro, tudo em nome de que, agora que Portugal estava debaixo do grande chapéu de chuva da solidariedade europeia, deveria abrir mão desses activos, destruindo-os, pois a indústria alemã tinha maior capacidade industrial e poderia colocar esses produtos de forma mais económica e diversificada do que Portugal.

Os mesmos argumentos que levaram ao abandono dos campos, pois a França poderia proporcionar produtos agrícolas mais baratos, de maior qualidade e variados e à destruição da nossa frota pesqueira, pois a Espanha poderia fornecer o pescado a preços mais competitivos.

Tudo parte de uma estratégia para facilitar, por um lado, a alguns sectores da burguesia portuguesa uma melhor e mais rápida acumulação de capital – à custa de subsídios que receberam da CEE, não para modernizar, equipar e tornar mais competitiva a nossa indústria, as nossas pescas e a nossa agricultura, mas sim para destruir a nossa capacidade produtiva - e, por outro, a que, tal como sempre havíamos denunciado, primeiro a CEE e, depois a União Europeia, entrassem por Portugal adentro e o viessem a transformar naquilo que hoje é – um protectorado, uma colónia, sobretudo da Alemanha que domina todas as instituições do chamado espaço europeu e impôs o marco travestido de euro a praticamente toda a comunidade europeia.

Quando Coelho afirma que “…não vale a pena fazer demagogia…nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo…”, está, pela primeira vez, a dizer a verdade. Isto é, que a estratégia da Alemanha, que os seus serventuários em Portugal aceitaram executar – primeiro Sócrates, depois Cavaco, Coelho e Portas - quando levou alguns países a aceitar a destruição dos seus tecidos produtivos, a privatizar, a vender a preços de saldo, muitas das suas empresas e activos estratégicos, era precisamente a de os empobrecer para que, para além de proporcionarem maiores superavits industriais à Alemanha, pudessem fornecer a esta potência com apetites imperiais uma mão de obra barata, intensiva e pouco qualificada que substituísse o incómodo de procurar mão de obra escrava e dócil nas distantes paragens asiáticas.

Ao reconhecer, primeiro, que “sendo o próximo ano (2014 – nota da redacção) o mais duro do ajustamento…” e que “…não será o último” e, depois, que o empobrecimento a que se refere se deve ao facto de “…o nosso Produto Interno Bruto (PIB)…” estar a cair, o traidor Coelho está a reconhecer que a receita que estes serventuários querem aplicar, só redundará em maior empobrecimento, fome, miséria e desemprego para o povo e quem trabalha, pois esta é cada vez mais uma dívida que propositadamente cresce e propositadamente se quer … IMPAGÁVEL!

E ela é impagável porque resulta de uma estratégia que lhes foi ditada, precisamente por aqueles que se encarregaram, através da imposição do modelo de destruição do tecido produtivo português e da adesão a uma moeda que mais não é do que o marco travestido, a fazer com que Portugal tenha passado a ter de importar mais de 80% daquilo que consome e necessita para criar economia, aprofundadando assim o ciclo de endividamento numa espiral imparável e fazendo com que a dívida se constitua como instrumento de chantagem e domínio sobre o nosso país, comprometendo a sua independência nacional.

Claro que, para quem tem da política uma visão de serventuário, como é o caso de Cavaco, Coelho ou Portas, a única estratégia a seguir será a de facilitar a acumulação de capital dos grandes grupos financeiros e económicos – com os alemães à cabeça – dispondo-se, por um lado, a fazer o povo pagar os faraónicos juros que estes cobram e, por outro, a vender-lhes a retalho e a preços de saldo tudo o que é activo e empresa estratégica, ao mesmo tempo que lavra legislação facilitadora e embaretecedora dos despedimentos, que rouba os salários, o trabalho e as pensões e reformas, isto é, produz todo um quadro legislativo que visa que seja o povo a pagar uma dívida que não contraiu e da qual não retirou qualquer benefício.

Ao contrário do que Cavaco e Coelho afirmam, para que Portugal recupere “um trajecto de crescimento económico” e não caia ainda mais na armadilha e na chantagem “do buraco orçamental em que as medidas restritivas (um eufemismo para medidas terroristas e fascistas – nota da redacção) retro alimentam consecutivamente a perda de competitividade e a recessão económica”, a solução não está no pagamento desta dívida ilegal, ilegítima e odiosa, mas precisamente na recusa do seu pagamento. Tal só poderá ser conseguido por um governo democrático patriótico, a constituir na sequência do derrube deste governo de traição nacional.


Um governo que, para além da recusa do pagamento da dívida, prepare a saída de Portugal do euro e da União Europeia – precisamente os instrumentos que levaram à sua actual condição de protectorado do imperialismo germânico – e ponha em marcha um plano de investimentos criteriosos que leve, por um lado, à recuperação do tecido produtivo destruído e, por outro, ao aproveitamento da nossa posição geoestratégica única. Este é, além do mais, o único caminho para assegurar que reconquistamos e consolidamos a independência nacional e o bem estar do povo e de quem trabalha.

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